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terça-feira, 11 de setembro de 2018

CONHECENDO E DISSEMINANDO A MENSAGEM (VII) – Clóvis Silveira Góis Júnior


4.7. O Êxodo


            Aquela igreja foi aos poucos se esvaziando em decorrência de vários fatores, principalmente da busca por melhorias financeiras. Já em 1923, boa parte dos componentes da família França Batista se deslocara para a região de Sapucaieira (Ilhéus) em busca de desbravar as matas para introdução de agricultura de subsistência que iria permitir a introdução de víveres e consequente sustentação dos filhos e agregados. Dentre aqueles desbravadores é importante realçar os seguintes nomes: Pedro França Batista e sua esposa Ernestina França Batista; Lúcio França Batista e sua cônjuge, Maria Rosa; e José Francisco Araújo e sua companheira, Jovina França Batista. Esta evasão não deixou de minar a força adventista de Boqueirão.

            Chegando a Ilhéus, reuniram-se em locais distintos até chegar ao ambiente da atual congregação, Simiro (1923 a 1928), Itapoã (1928 a 1930) e Sapucaieira (1930 em diante).  Tendo em vista a rejeição inicial por parte dos índios nativos, as conversões locais se arrastaram de forma lenta. O templo que existe atualmente foi inaugurado em 26 de dezembro de 1970, permanecendo como grupo até 1985, quando em nove de dezembro passou à categoria de igreja. Atualmente, uma numerosa congregação aguarda o momento certo para comemorar o centenário da chegada do Adventismo à região.

            Até 1929, onze anos depois do primeiro batismo, ainda encontramos registros da permanência de igreja de Boqueirão nas publicações oficiais. O South American Bulletin, editado nos Estados Unidos, em 1929, vol.5, número 6, em nota escrita por E. H. Wilcox, demonstra também a inconstância do homem à terra, sempre em busca de melhores lugares para continuar a luta pelo sustento e manutenção da vida:

                                        “O trabalho prosperou e cresceu.  E
                                        até breve havia uma igreja de 40
                                         membros num lugar conhecido como
                                         Boqueirão. Hoje a igreja não é tão
                                         grande, pois alguns membros se
                                          mudaram para outras partes, onde
                                            hoje outras Escolas Sabatinas têm
                                            surgido. Alguns mudaram-se para a
                                             cidade de Itabuna, onde hoje temos a
                                             desenvolver um trabalho próspero”.

            João Roberto Ramos saiu da localidade na década de 30, com grande parte dos filhos e netos.

            Concomitantemente às conferências realizadas na cidade de Itabuna em 1925, o pastor Gustavo Storch realizou trabalho evangelístico no Boqueirão, quando teve “o privilégio de batizar dez preciosas almas”.

            Tempos depois , em virtude do êxodo dos irmãos em busca das zonas urbanas ou mesmo outros locais rurais que os sustentassem melhor com suas respectivas famílias, aquela primitiva comunidade de crentes foi dissipada. Nada mais restava dos tempos áureos.

            Uma jovem senhora, irmã Avelina Marques (filha de Francina Evangelista dos Santos), residente em Boqueirão, tendo adquirido um exemplar do livro O Grande Conflito, vendido pelo colportor Generoso de Oliveira, promoveu a leitura comunitária para sua família,  vizinhos e trabalhadores rurais, o que gerou novo ânimo e interesse da maioria, tendo sido reavivados os cultos sabáticos da localidade. A igreja foi reativada e adoração acontecia na residência de Anatálio Batista (filho de Pedro Batista), o qual, também, era responsável pela direção do grupo. Esta segunda leva de adventistas também deixou a região. Hoje não existe um único representante de nossa igreja no Boqueirão.


(A GÊNESE DO ADVENTISMO GRAPIÚNA Cap. 4.7.)
Clóvis Silveira Góis Júnior

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MORRE NO RIO DE JANEIRO, AOS 95 ANOS, O ACADÊMICO, JURISTA, SOCIÓLOGO E ESCRITOR HELIO JAGUARIBE.


O Acadêmico, jurista, sociólogo e escritor Helio Jaguaribe faleceu na noite do dia 9 de setembro, domingo, em sua residência, no bairro de Copacabana, no Rio de Janeiro, vítima de falência múltipla dos órgãos. Seu corpo será velado na Sala dos Poetas Românticos, no Petit Trianon, a partir das 10 horas de quarta-feira, dia 12. O sepultamento está previsto para o mesmo dia, às 15 horas, no Mausoléu da Academia Brasileira de Letras, no Cemitério São João Batista, em Botafogo. O Acadêmico deixa viúva, Maria Lucia Charnaux Jaguaribe, e cinco filhos, Anna, Roberto, Claudia, Beatriz e Isabel.

O Presidente da ABL, Marco Lucchesi, assim que foi informado do falecimento do Acadêmico, determinou que a bandeira da Academia fosse hasteada a meio mastro e afirmou: “Helio Jaguaribe foi um dos últimos grandes intérpretes de nosso país. Estudou o Brasil para transformá-lo, mediante uma abordagem desenvolvimentista, com a fundação do Iseb (Instituto Superior de Estudos Brasileiros), nos anos cinquenta”.

Marco Lucchesi disse, ainda, que “para Helio Jaguaribe, ação e pensamento permanecem indissociáveis, como Darcy Ribeiro e Celso Furtado, que o precederam na cadeira 11 da Academia Brasileira de Letras. Cientista político de alta erudição e consciência vigilante, deixou obra vasta e criativa. Cito apenas dois títulos: A dependência político-econômica da América Latina, verdadeiro clássico na área, e Um estudo crítico da história, divisor de águas da interpretação do processo histórico publicado em nosso país. Homem de gestos largos e entusiasmado, Helio continua vivo pelas virtudes de sua obra, saudosa do futuro”.

Nono ocupante da Cadeira nº 11 da ABL, Helio Jaguaribe foi eleito em 3 de março de 2005, na sucessão de Celso Furtado, e recebido em 22 de julho de 2005, pelo Acadêmico Candido Mendes de Almeida.

Helio Jaguaribe de Mattos, academicamente conhecido como Helio Jaguaribe, nasceu no Rio de Janeiro, em 23 de abril de 1923, diplomando-se em Direito, em 1946, pela Pontifícia Universidade Católica desta cidade. Em 1952, iniciou, com um grupo de jovens cientistas sociais, um projeto de estudos para a reformulação do entendimento da sociedade brasileira, fundando o Instituto Brasileiro de Economia, Sociologia e Política (Ibesp), de que foi Secretário Geral e Diretor da revista do Instituto, Cadernos de Nosso Tempo, de relevante influência no Brasil e na América Latina.

Em 1956, teve a iniciativa de promover a constituição do Instituto Superior de Estudos Brasileiros (Iseb), uma instituição de altos estudos, do Ministério da Educação e Cultura, no campo das Ciências Sociais, do qual foi designado Chefe do Departamento de Ciência Política. Exonerando-se de ambas as funções em 1959, por discordância com mudanças na orientação do Instituto. Passou, então, alguns anos colaborando, sem vínculos permanentes, com diversas instituições acadêmicas, no Brasil e no exterior.

Em 1964, depois de pública condenação do golpe militar, afastou-se do país e foi lecionar nos Estados Unidos: de 1964 a 1966, na Universidade de Harvard; de 1966 a 1967, na Universidade de Stanford; e de 1968 a 1969, no MIT – Massachusets Institute of Tecnology.

Retornando ao Brasil em 1969, ingressou no Conjunto Universitário Cândido Mendes onde, por alguns anos, foi Diretor de Assuntos Internacionais. Com a fundação do Instituto de Estudos Políticos e Sociais, em 1979, foi designado Decano do novo Instituto, função que exerceu até 2003. Nessa data, completando 80 anos, propôs sua substituição por um scholar mais jovem, o professor Francisco Weffort, ex-Ministro da Cultura do Governo Fernando Henrique Cardoso, que foi escolhido para o cargo. A Helio Jaguaribe foi conferido o título de Decano Emérito e, nessa qualidade, continuou ativamente suas pesquisas no Instituto.

Por sua contribuição às Ciências Sociais, aos estudos latino-americanos e à análise das Relações Internacionais, recebeu o grau de Doutor Honoris Causa da Universidade de Johannes Gutenberg, de Mainz, RFA (em 1983); da Universidade Federal da Paraíba (em 1992); da Universidade de Buenos Aires (em 2001). Em 1996 foi agraciado, por sua contribuição às Ciências Sociais, com a Grã-Cruz da Ordem Nacional do Mérito Científico. Em 1999, o Ministério da Cultura conferiu-lhe, por sua contribuição ao desenvolvimento cultural do país, a Ordem do Mérito Cultural.

10/09/2018


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ATÉ QUANDO, JUSTO SENHOR, DEUS DAS VINGANÇAS? (II) – Pe. David Francisquini


11 de setembro de 2018

♦  Padre David Francisquini *

No artigo anterior, com o mesmo título em epígrafe, prometi voltar ao assunto do aborto. Apenas para recordar um ponto importante, torno a citar Santo Agostinho, quando trata dos homens que se movem por amor a Deus e aqueles que se movem por amor egoístico, colocando entre este último o pretenso “direito” da mulher de decidir sobre o seu próprio corpo no caso do aborto.

Com efeito, é com interesse — e muita preocupação — que vimos acompanhando o desenrolar da ação (ADPF 442), proposta pelo Partido Socialismo e Liberdade (PSOL), pedindo a descriminalização do aborto até a 12ª semana de gestação. Não preciso dizer que se tal proposta for aprovada as portas da legislação brasileira ficarão escancaradas para todo tipo de aborto.

Para esse Partido Socialista — na verdade radicalmente comunista —, a lei em vigor viola os princípios fundamentais. Na minha formação sacerdotal, estudei ciências naturais, ética, filosofia, sociologia e, é claro, teologia dogmática e moral, não sendo difícil, portanto, perceber a inconsistência desta ação.

Pela mesma razão, entendo a completa impossibilidade de juízes — máxime os da Suprema Corte — julgarem procedente a ação desse partido político libertário, que prega a liberdade para tudo e para todos, menos para o nascituro inocente e indefeso. É um verdadeiro absurdo sustentar o “direito fundamental da mulher” de tirar a vida de um ser gerado em seu próprio ventre.

Constitui uma gravíssima ofensa a Deus e à própria dignidade da mulher atribuir-lhe o direito de matar seu filho. Só num mundo muito decadente alguém ousaria sustentar o contrário. Se for admitido hoje o princípio de que se pode tirar a vida de uma pessoa inocente pelo simples fato de ela não ser desejada, assistiremos amanhã à matança de qualquer pessoa que venha a prejudicar o nosso egoísmo.

Em passado recente, esta macabra história tornou-se realidade em inúmeras ditaduras, na Europa e em outras partes do mundo. Jesus Cristo ensinou que “haveis de chorar e de lamentar, enquanto o mundo há de se alegrar: vós estareis tristes, mas a vossa tristeza se converterá em gozo”.

Quando a mulher está para dar à luz, ela fica naturalmente preocupada. Mas sua aflição se transforma em alegria com o nascimento do filho. É uma imagem de Cristo ressurreto, que veio à luz no domingo da Ressurreição. Ele, no seio da terra, representa uma criança no ventre materno, e assim como Ele ressurgiu dos mortos, também a criança virá à luz do mundo.

Na sua epístola aos efésios (cap. 5, 22-33), São Paulo trata da sublimidade do matrimônio, comparando-o coma união de Cristo com a Igreja. Se o marido é a cabeça da mulher, Cristo é a cabeça da Igreja. Cristo ama a Igreja e se entrega a Ela para torná-La mais resplandecente e gloriosa.
Como Jesus Cristo ama a Igreja, assim o marido deve amar a sua esposa como se fosse o seu próprio corpo, porque ninguém aborreceu a sua própria carne. Antes, ele a nutre e cuida dela como Cristo procede em relação à sua Igreja, pois somos membros de seu Corpo Místico. O aborto é a violação do princípio da relação entre Cristo e a Igreja, o esposo e a esposa. Mais. Enquanto São Paulo fala de luz, de santo, de imaculado e sem rugas, o aborto fala de destruição, de trevas, de morte e de corrupção.

O fruto do primeiro momento de um relacionamento entre um homem e uma mulher se chama embrião. Ele contém em grau pequeno um ser vital que não tardará a nascer homem ou mulher. Afirmar, em nome da dignidade da mulher, que ela pode eliminar a seu bel-prazer a vida de um filho gerado em seu ventre, contraria rotundamente os princípios mais elementares da racionalidade e da sanidade mental. O livro do Eclesiastes narra que o abortado é como algo que não conheceu a luz do sol, não teve o seu nome ilustrado entre os vivos; sobretudo, não foi levado à pia batismal.

O Profeta Isaías narra o horror daqueles que morrem na guerra pelo fio da espada, cujos corpos estendidos por terra são pisoteados pelos cavalos e pelos guerreiros, comparando-os aos abortados que não têm sepultura nem honra. Com efeito, a situação do abortado é pior que a do morto na guerra, sem lar, sem o aconchego da família nem sepultura. E o abortado foi morto por uma pena capital imposta por lei humana…

Ancorada em bons teólogos e no Catecismo da Santa Igreja, a moral católica nos ensina que só é lícito matar alguém em legítima defesa da própria vida ou numa guerra justa, ou ainda no cumprimento de uma execução penal ditada por um tribunal legitimamente constituído. Nenhuma autoridade, por mais soberana que imaginar se possa, poderá autorizar ou legitimar tal prática.

A expectativa dos brasileiros é a de que os juízes do Supremo Tribunal Federal julguem com reta consciência esta questão, não se deixando influenciar por pressões daqueles que defendem a cultura da morte, nem mesmo por alguma convicção ideológica própria que vá nesse sentido, mas que pautem seu voto na lei natural, na Lei de Deus e na Constituição brasileira, que garantem o direito à vida desde a concepção.

Em oração e sempre vigilantes, rogamos a Nossa Senhora Aparecida que proteja o Brasil do pecado do aborto que brada aos céus e clama a Deus por vingança. Que os brasileiros sejam obedientes aos preceitos de Deus, que nunca desampara seus filhos.

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* Sacerdote da Igreja do Imaculado Coração de Maria — Cardoso Moreira (RJ).


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