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domingo, 8 de janeiro de 2017

COVARDIA E MEDO - Carlos Heitor Cony

Covardia e medo


Em crônica da semana retrasada, lembrei que o ex-presidente Jânio Quadros chamou de "poltrão" o ano que então se acabava. Ele próprio não sabia que era também um poltrão, daí que renunciou sete meses depois de ter tomado posse na Presidência da República, dando o pontapé inicial à ditadura militar.

Para ser sincero, eu desconfiava que "poltrão" era alguma coisa pejorativa, mas não sabia bem o seu significado. Fui depois ao mestre Aurélio e verifiquei que a palavra significava covarde e medroso. Certamente, ela pode ter significados piores. Mesmo assim se deve classificar como poltrão o ano que passou.

Um ano que foi medroso e covarde. Não teve medo de rebaixar o Brasil à condição de país quase falido e certamente de país onde a corrupção se instalou oficiosamente. No passado, o Brasil era considerado o país do café, de Pelé e de Carmen Miranda. Hoje é o país da corrupção e da violência urbana.

Para ter direito a ser considerado "poltrão" no sentido que lhe deu o mestre Aurélio, o ano também foi covarde, não tomando as medidas que foram prometidas na campanha de dona Dilma e Temer. Dou um exemplo: quando nomeou Lula para a Casa Civil, para livrá-lo da Lava Jato, ela voltou atrás sem coragem de enfrentar a oposição generalizada que provocou.

Parente próximo da covardia, 2016 marcou o país que deixou de ser do futuro para se tornar o país de um presente escandaloso e com perspectivas sombrias. Sendo uma República Federativa, tem agora grandes Estados (Rio, Minas, Rio Grande do Sul etc.) em petição de miséria, sem pagar seus funcionários e fornecedores.

Jânio Quadros renunciou porque tentou proibir as brigas de galo e os biquínis das mulheres. Junto com os votos de próspero Ano-Novo, espero que o governo atual não repita a "poltronice" do ex-presidente.

Folha de S.Paulo (RJ), 01/01/2017




Carlos Heitor Cony - Quinto ocupante da Cadeira nº 3 da ABL, eleito em 23 de março de 2000, na sucessão de Herberto Sales e recebido em 31 de maio de 2000 pelo acadêmico Arnaldo Niskier.

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O CRÂNIO DE HELENA - Marco Lucchesi

O crânio de Helena 


O ano mais longo de nossa história arrasta-se teimoso por 2017 adentro. Como o pesadelo que nos precipita num beco sem saída. E, no entanto, seguimos despertos, num misto de esperança e desencanto, a enfrentar a lide serpentária dos Três Poderes, com sua parcela de Napoleões de fachada na restauração do país, de que saímos todos com decrescente espessura moral.

Uma sede ininterrupta de mídia e visibilidade parece ter contaminado os inquilinos da República, desde o processo de impedimento, sobre o qual me pronunciei mais de uma vez. Seja como for, é preciso encontrar uma saída, entre os que defendem honestamente o diálogo para sair das vísceras do labirinto. E a solução passa pelos coletivos e colegiados da política. Nenhuma autoridade deve tomar para si a tarefa messiânica de redimir o país, como um Preste João, escondido num teatro de sombras, no qual o tempo desvela seu antigo fulgor.

Há um populismo difuso, no Brasil e nas democracias ocidentais, a que nem sequer o Judiciário está imune, como é fácil concluir nesses dois últimos anos ruidosos, com avanços inquestionáveis, mas com retrocessos infelizes, do raro equilíbrio da balança ao desprezo das garantias constitucionais. Houve quem argumentasse assim: casos excepcionais demandam medidas excepcionais, que foi a expressão mais perigosa que ouvimos ano passado.

O projeto contra o abuso de autoridade do senador Renan Calheiros deflagrou o embate entre Legislativo e Judiciário, com um protagonismo irresponsável de ambas as partes, como se fosse uma disputa colonial, em mútuo desrespeito ao sistema democrático. O desfecho do caso do senador Renan e da Mesa Diretora do Senado traduzem a temperatura de nossas instituições, cujos representantes imaginam-se czares que exaram decretos.

Do Planalto, evidentemente, não digo palavra. O senhor Temer tem revelado a sua estatura, no exato papel de pastor eficaz ao tanger a perigosa “hidra” do PMDB, que, com seus múltiplos tentáculos, adquiriu na última década outro perfil, que o distingue da era Ulysses. O senhor Temer governa para o PMDB. E assim nos encontramos muito perto do dragão e longe de São Jorge.

O ano só começará de verdade quando o diálogo pleno encontrar não apenas os canais adequados, na sociedade civil, como também interlocutores que compreendam a distância para 2018, à medida que não arrefecem a crise econômica e a devastadora corrupção. O diálogo se impõe porque somos todos brasileiros. Um país, não um mercado com índice Dow Jones.

Leio no “Diálogo dos mortos”, de Luciano de Samósata, no segundo século de nossa era, o encontro no inferno entre Hermes e Menipo, em meio a um cenário de ossos ilustres, que os poetas cantaram quando ainda eram corpos. Ele pede ao deus que aponte quem é Helena de Troia. Tal como nós, que hoje caminhamos às cegas e corremos o risco de perder o rosto republicano do Brasil. Não queremos ouvir de Hermes a resposta do ano que deveria terminar: “Este crânio é Helena”.

O Globo, 04/01/2017





Marco Lucchesi - Sétimo ocupante da cadeira nº 15 da ABL, eleito em 3 de março de 2011, na sucessão de Pe. Fernando Bastos de Ávila , foi recebido em 20 de maio de 2011 pelo Acadêmico Tarcísio Padilha.

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REVELADO MANUSCRITO INÉDITO DE CLARICE LISPECTOR

Revelado manuscrito inédito de Clarice Lispector


Fora os papéis guardados no arquivo de sua família, os manuscritos de Clarice Lispector são muito raros em coleções privadas. Com a fama cada vez maior da escritora e o número crescente de admiradores no exterior existe inclusive uma grande procura por seus documentos de parte de universidades, e Instituições, e colecionadores estrangeiros.
Por Pedro Corrêa do Lago

A página manuscrita aqui reproduzida contém uma frase belíssima que não chegou à versão publicada de A Hora da Estrela e que menciona Macabéa, talvez uma de suas personagens mais famosas. São apenas três frases:
“Macabéa não sabia como se defender da vida numa grande cidade. Ela que tinha um sonho impossível: o de um dia possuir uma árvore. Que árvore, que nada: não havia nem grama sob os seus pés”.

No final de sua vida Clarice andava anotando coisas em pedacinhos de papel, cheques, guardanapos e até mesmo maços de cigarros. Uma de suas secretárias vivia guardando os pedaços no envelope, e nesta página manuscrita aparece uma menção em outra letra para identificar o fragmento – provavelmente na caligrafia de sua enfermeira/assistente Siléa Marchi: “(Macabéa quando vem para o Rio)”. Clarice sofrera muito com as sequelas do incêndio que quase lhe custara a mão com que escrevia. Nos últimos anos estava bastante fraca, e o ferimento na mão também explica a letra pouco legível.

Sua editora principal era sua grande amiga Olga Borelli, que ajudou Clarice a organizar suas últimas grandes obras-primas como “Água Viva”, “A Hora da Estrela”, assim como o póstumo “Sopro de Vida”. A recente biografia de Clarice por Benjamin Moser cita Olga Borelli comentando o método editorial da grande escritora:

“Respirar junto, é respirar junto … Porque existe uma lógica na vida, nos acontecimentos, como existe num livro. Eles se sucedem, é tão fatal que seja assim. Porque se eu pegasse um fragmento e quisesse colocar mais adiante, eu não encontraria onde colocar. É como um quebra-cabeça. Eu pegava os fragmentos todos e ia juntando, guardava tudo num envelope. Era um pedaço de cheque, era um papel, um guardanapo […] Eu tenho algumas coisas em casa ainda, dela, e até com cheiro de batom dela. Ela limpava o lábio e depois punha na bolsa […] de repente, ela escrevia uma anotação. Depois de coletar todos estes fragmentos, comecei a perceber, comecei a numerar. Então, não é difícil estruturar Clarice, ou é infinitamente difícil, a não ser que você comungue com ela e já tenha o hábito da leitura.”

Esse manuscrito inédito de grande interesse para a obra de Clarice me foi comunicado por seu atual detentor.


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O CACTO E A LAGARTA

Deus não falha...


Certa vez, um homem pediu a Deus uma flor e uma borboleta. Mas Deus lhe deu um cacto e uma lagarta. O homem ficou triste, pois não entendeu o porquê do seu pedido vir errado. Daí pensou: também, com tanta gente para atender… E resolveu não questionar.

Passado algum tempo, o homem foi verificar o pedido que deixou esquecido. Para sua surpresa, do espinhoso e feio cacto havia nascido a mais bela das flores e a horrível lagarta transformou-se em uma belíssima borboleta.

Deus sempre age certo. O seu caminho é o melhor, mesmo que aos nossos olhos pareça estar dando tudo errado. Se você pediu a Deus uma coisa e recebeu outra, confie. Tenha a certeza de que Ele sempre dá o que você precisa, no momento certo.

Nem sempre o que você deseja, é o que você precisa. Como Ele nunca erra na entrega de seus pedidos siga em frente sem murmurar ou duvidar. O espinho de hoje, será a flor de amanhã!

Bom dia!



Enviado do meu smartphone Samsung Galaxy.


(... sem menção de autoria)

PALAVRA DA SALVAÇÃO (8)

Epifania do Senhor - Domingo 08/01/2017

Anúncio do Evangelho (Mt 2,1-12)

— O Senhor esteja convosco.
— Ele está no meio de nós.
— PROCLAMAÇÃO do Evangelho de Jesus Cristo + segundo Mateus.
— Glória a vós, Senhor.

Tendo nascido Jesus na cidade de Belém, na Judeia, no tempo do rei Herodes, eis que alguns magos do Oriente chegaram a Jerusalém, perguntando: “Onde está o rei dos judeus, que acaba de nascer? Nós vimos a sua estrela no Oriente e viemos adorá-lo”.
Ao saber disso, o rei Herodes ficou perturbado, assim como toda a cidade de Jerusalém.
Reunindo todos os sumos sacerdotes e os mestres da Lei, perguntava-lhes onde o Messias deveria nascer. Eles responderam: “Em Belém, na Judeia, pois assim foi escrito pelo profeta: E tu, Belém, terra de Judá, de modo algum és a menor entre as principais cidades de Judá, porque de ti sairá um chefe que vai ser o pastor de Israel, o meu povo”.
Então Herodes chamou em segredo os magos e procurou saber deles cuidadosamente quando a estrela tinha aparecido. Depois os enviou a Belém, dizendo: “Ide e procurai obter informações exatas sobre o menino. E, quando o encontrardes, avisai-me, para que também eu vá adorá-lo”.
Depois que ouviram o rei, eles partiram. E a estrela, que tinham visto no Oriente, ia adiante deles, até parar sobre o lugar onde estava o menino.
Ao verem de novo a estrela, os magos sentiram uma alegria muito grande.
Quando entraram na casa, viram o menino com Maria, sua mãe. Ajoelharam-se diante dele, e o adoraram. Depois abriram seus cofres e lhe ofereceram presentes: ouro, incenso e mirra.
Avisados em sonho para não voltarem a Herodes, retornaram para a sua terra, seguindo outro caminho.


— Palavra da Salvação.
— Glória a vós, Senhor.


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Ligue o vídeo abaixo e acompanhe a reflexão do  Pe. Gilmar Margotto:

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JESUS, A ESTRELA QUE NOS CONDUZ

Tendo Jesus nascido em Belém da Judeia, três magos se dispuseram a peregrinar para visitá-lo e prestar-lhe homenagem, oferecendo-lhe os mais preciosos presentes, símbolos da missão e do destino do Salvador: ouro (sua realeza), incenso (sua divindade) e mirra (sua humanidade sofredora).

A estrela conduziu os magos até o menino e eles transbordaram de alegria. Por sua vez, o rei Herodes e seus auxiliares mais próximos se perturbaram com a chegada de um concorrente. Jesus, desde seu nascimento, provoca diferentes reações entre quem o aceita e quem o rejeita.

A Epifania significa a manifestação de Deus a todos os povos. O Cristo veio para todas as pessoas e todas as nações, mas nem todos o aceitam e o recebem. A exemplo dos magos, guiados pela estrela, vamos nos pôr a caminho, indo ao encontro daquele que é o motivo de nossa alegria. Alegremo-nos com os peregrinos, pois Deus veio a nós e estabeleceu sua morada em nosso meio.

“O dia em que Cristo, Salvador do mundo, se manifestou pela primeira vez aos pagãos, temos de celebrá-lo com todas as honras e sentir lá no fundo de nosso coração a mesma alegria que sentiram os três magos quando, estimulados e guiados pela estrela, puderam adorar, contemplando com seus próprios olhos o rei do céu e da terra, em quem haviam previamente crido em virtude unicamente de promessas” (são Leão Magno).

Acolhendo o ensinamento transmitido pelos magos, desalojemo-nos de nosso comodismo e deixemo-nos conduzir pela estrela. Ela iluminará nossa caminhada ao longo deste ano, sob a proteção de Maria – especialmente neste Ano Mariano – e sob as bênçãos do Menino recém-nascido. Ele é a razão de nossa alegria e esperança no decurso de toda a jornada.

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“Hoje far-nos-á bem repetir a pergunta dos Magos: ‘Onde está o rei dos judeus que acaba de nascer? Vimos a sua estrela no Oriente e viemos adorá-lo’ (Mt 2,2). Somos chamados, sobretudo num tempo como o nosso, a procurar os sinais que Deus oferece, cientes de que se requer o nosso esforço para os decifrar e, assim, compreender a vontade divina. Somos desafiados a ir a Belém encontrar o Menino e sua Mãe. Sigamos a luz que Deus nos oferece! É uma luz pequenina.
(…) Aquela luz pequenina é a luz que irradia do rosto de Cristo” (papa Francisco).

Pe. Nilo Luza, ssp


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