Depois de uma manhã bastante trabalhosa, para descansar as
escondidas do administrador, o trabalhador rural procurou uma grota numa
pirambeira para relaxar, deitou-se e dormiu tranquilamente, depois de tomar uma
cachacinha e saborear sua farofa com carne seca.
Passadas algumas horas, com um grande susto, foi acordado
com uma pancada da cabeça, por algo que despencara da árvore.
Pulou assustado, olhou para o chão e viu um grande ovo de
chocolate, rachado em duas partes. Em princípio ficou apavorado e procurou em
sua volta quem havia atirado tal objeto. Mas, não vendo ninguém, olhou para
cima e, muito espantado, viu que o cacaueiro estava carregado de ovos de páscoa
(desembrulhados, é claro!). Ele, mais assustado ainda, esfregou os olhos para
dar uma maior firmeza a sua visão, tornando a olhar para cima, constatou a
árvore coberta de ovos, não só em seu tronco, como em diversos galhos.
-Meu Deus, será que estou doido ou é um milagre? Exclamou
ele em voz alta, ainda não acreditando no que via.
Meio desconfiado, pegou um pedaço do ovo que havia caído em
sua cabeça e, com certo medo, enfiou na boca para experimentar o sabor e
constatar a realidade. E, para sua maior surpresa, o gosto era uma delícia, com
uma textura de alta qualidade.
Já desfeito o susto inicial, deu um pequeno sorriso e ficou
a matutar o que teria acontecido com aquele cacaueiro, pois os outros estavam
todos normais, somente aquele apresentava uma frutificação tão saborosa e
estranha. Curiosamente, aquele pedaço de roça fora ele mesmo que havia plantado
tempos atrás, mas, pela localização ser muito acidentada, nunca tinha voltado
ali para verificar o crescimento ou desenvolvimento daquelas mudas que lhe
foram mandadas pelo patrão. Mas, o curioso é que todas as mudas foram iguais e
somente aquele tinha degenerado com relação aos frutos.
Depois de pensar bastante o que fazer, se colheria para ele
e ficaria calado ou se contava ao administrador. Então, colocou a memória para
funcionar, procurando lembrar-se do dia em que fez o tal plantio. Caboclo de
boa memória, num sobressalto, lembrou-se que, no dia em que estava enterrando
às mudas, ele encontrou uma galinha morta bem no pé da cova e aproveitou para
empurrá-la para dentro, fazendo o plantio e a ave serviria de adubo.
-Só pode ter sido isso! Disse ele em voz baixa. E ao mesmo
tempo pensou: Houve uma mistura das características da galinha com a do cacau e
o resultado foi a árvore produzir ovos de páscoa. Vou imediatamente passar essa
minha experiência para o pessoal da Ceplac e lá eles poderão aprimorar, colocar
papel de seda e uma fitinha, pois aí os ovos já sairão embalados e prontos para
vender. E ainda tem mais, se os cientistas forem expertos, já nos saquinhos das
mudas colocarão castanhas, passas, amendoins, frutas cristalizadas, farinha de
trigo, etc. e, quem sabe se não teremos mudas que produzam, além dos ovos de
páscoa com vários sabores, alguns deliciosos panetones?
Esse trabalhador rural fez uma carta para o departamento de
genética do órgão, já se passaram dois anos e ninguém foi na fazenda para
comprovar o fato e colocar em prática esse novo tipo de clone. Talvez essa seja
a solução para todos os nossos problemas regionais.
Infelizmente não posso declinar o nome do trabalhador, mas,
posso afirmar que ele nunca mais comprou ovos de páscoa, manda para os amigos e
guarda a sete chaves, bem camuflado, seu cacaueiro encantado.
Antonio Nunes de Souza, escritor
Membro da Academia Grapiúna de Letras-AGRAL
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