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quarta-feira, 18 de setembro de 2019

A SALVAÇÃO DA LAVOURA! - Antonio Nunes de Souza


Depois de uma manhã bastante trabalhosa, para descansar as escondidas do administrador, o trabalhador rural procurou uma grota numa pirambeira para relaxar, deitou-se e dormiu tranquilamente, depois de tomar uma cachacinha e saborear sua farofa com carne seca.

Passadas algumas horas, com um grande susto, foi acordado com uma pancada da cabeça, por algo que despencara da árvore.

Pulou assustado, olhou para o chão e viu um grande ovo de chocolate, rachado em duas partes. Em princípio ficou apavorado e procurou em sua volta quem havia atirado tal objeto. Mas, não vendo ninguém, olhou para cima e, muito espantado, viu que o cacaueiro estava carregado de ovos de páscoa (desembrulhados, é claro!). Ele, mais assustado ainda, esfregou os olhos para dar uma maior firmeza a sua visão, tornando a olhar para cima, constatou a árvore coberta de ovos, não só em seu tronco, como em diversos galhos.

-Meu Deus, será que estou doido ou é um milagre? Exclamou ele em voz alta, ainda não acreditando no que via.

Meio desconfiado, pegou um pedaço do ovo que havia caído em sua cabeça e, com certo medo, enfiou na boca para experimentar o sabor e constatar a realidade. E, para sua maior surpresa, o gosto era uma delícia, com uma textura de alta qualidade.

Já desfeito o susto inicial, deu um pequeno sorriso e ficou a matutar o que teria acontecido com aquele cacaueiro, pois os outros estavam todos normais, somente aquele apresentava uma frutificação tão saborosa e estranha. Curiosamente, aquele pedaço de roça fora ele mesmo que havia plantado tempos atrás, mas, pela localização ser muito acidentada, nunca tinha voltado ali para verificar o crescimento ou desenvolvimento daquelas mudas que lhe foram mandadas pelo patrão. Mas, o curioso é que todas as mudas foram iguais e somente aquele tinha degenerado com relação aos frutos.

Depois de pensar bastante o que fazer, se colheria para ele e ficaria calado ou se contava ao administrador. Então, colocou a memória para funcionar, procurando lembrar-se do dia em que fez o tal plantio. Caboclo de boa memória, num sobressalto, lembrou-se que, no dia em que estava enterrando às mudas, ele encontrou uma galinha morta bem no pé da cova e aproveitou para empurrá-la para dentro, fazendo o plantio e a ave serviria de adubo.

-Só pode ter sido isso! Disse ele em voz baixa. E ao mesmo tempo pensou: Houve uma mistura das características da galinha com a do cacau e o resultado foi a árvore produzir ovos de páscoa. Vou imediatamente passar essa minha experiência para o pessoal da Ceplac e lá eles poderão aprimorar, colocar papel de seda e uma fitinha, pois aí os ovos já sairão embalados e prontos para vender. E ainda tem mais, se os cientistas forem expertos, já nos saquinhos das mudas colocarão castanhas, passas, amendoins, frutas cristalizadas, farinha de trigo, etc. e, quem sabe se não teremos mudas que produzam, além dos ovos de páscoa com vários sabores, alguns deliciosos panetones?

Esse trabalhador rural fez uma carta para o departamento de genética do órgão, já se passaram dois anos e ninguém foi na fazenda para comprovar o fato e colocar em prática esse novo tipo de clone. Talvez essa seja a solução para todos os nossos problemas regionais.

Infelizmente não posso declinar o nome do trabalhador, mas, posso afirmar que ele nunca mais comprou ovos de páscoa, manda para os amigos e guarda a sete chaves, bem camuflado, seu cacaueiro encantado.

  
Antonio Nunes de Souza, escritor
Membro da Academia Grapiúna de Letras-AGRAL
                                     
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ACADÊMICO CARLOS NEJAR LANÇA SEU NOVO ROMANCE “OS DEGRAUS DO ARCO-ÍRIS”


O Acadêmico e poeta Carlos Nejar lança o seu mais novo romance, Os degraus do arco-íris, pela Editora Cepe, no dia 19 de setembro, quinta-feira, a partir das 19h00 na Livraria da Travessa em Ipanema (R. Visconde de Pirajá, 572 - Rio de Janeiro).
O Acadêmico
O acadêmico construiu uma obra importante em vários gêneros – na poesia, no romance, no teatro, no conto e na criação para o público infantojuvenil. Em seu Esconderijo da Nuvem, um eu lírico retorna ileso de cada confronto com o mistério da morte.
É considerado pelo crítico Gustav Siebenmann um dos 37 escritores-chave do século do período compreendido entre 1890 a 1990.
Entre as dezenas de livros publicados, Riopampa - O Moinho das Tribulações recebeu o Prêmio Machado de Assis pela Fundação Biblioteca Nacional e O poço dos milagres o Prêmio da Associação Paulista de Críticos de Artes de Prosa Poética.
Escritor, poeta, tradutor, crítico e ficcionista gaúcho, traduzido em várias línguas, é estudado nas universidades do Brasil e do exterior.

05/09/2019



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