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quarta-feira, 19 de julho de 2017

CORAL DA CAPELA SISTINA LEVA O EVANGELHO À CORÉIA DO SUL

Em seis cidades e na catedral de Seul onde o Papa rezou pela paz e reconciliação da Península da Coreia
18 JULHO 2017


(ZENIT – Roma, 18 Jul. 2017).- O Coral da Capela Sistina concluiu sua primeira turnê de concertos na Coréia do Sul, onde se apresentou em seis cidades, entre elas Daejeon, Gwangju e Busan. E na Catedral de Myeongdong, em Seul, onde o Papa rezou pela paz e reconciliação da Península da Coreia”.

O Cardeal Arcebispo de Seul, Dom Andrew Yeom Soo-jung, observou que era significativo que a apresentação inicial do coral fosse na Catedral de Myeongdong, em Seul. O coro entoou cantos gregorianos e a polifonia de Giovanni Pierluigi di Palestrina, compositor do século XVI.

“Eu desejo que o público sinta o amor e a paz de Deus através das vozes celestiais do coro”, disse o cardeal.

O coro sob a direção do maestro salesiano, Mons. Massimo Palombella conta com uns 50 cantores entre adultos e vozes brancas. “O Coral da Capela Sistina se apresenta fora do Vaticano para divulgar o Evangelho”, indicou Palombella. “Espero que nossas apresentações na Coréia tornem-se uma chance para os católicos coreanos crescerem em sua fé e que nossa presença aqui ajude os não-crentes a conhecer Deus”, disse.

A Conferência Episcopal da Coreia convidou o coral no âmbito da comemoração do terceiro aniversário da visita do Papa Francisco à Coreia do Sul.



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TERRAS DE ITABUNA - Cacau e política

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Cacau e política


            Carlos Sousa teimava com Tourinho que dizia: “Você acha que se pode governar um município com o espírito intransigente de Henrique Alves, a pose do mulato Liguori, a imposição de Godofredo Almeida, a teimosia de Zezinho Kruschewsky, a esperteza de Adolfo Leite e a peraltice do rábula Laudelino Lorens?

            A discussão tomava vulto. Carlos Sousa não era político, mas tinha as suas simpatias por Henrique Alves. Felizmente, quando a coisa marchava para azedar-se entre os dois velhos amigos, passou Filadelfo Almeida e convidou Carlos Sousa para ouvir no grêmio uma conferência sobre cacau, que ele ia pronunciar com citações do livro do Coronel F. R. Hul, gerente da estrada de ferro. E leu o histórico do cacaueiro, “originário das regiões tropicais da América Central e do Sul”. O cacau selvagem é comum nas bacias do Orinoco e Amazonas. Segundo De Condol a árvore se acha em cultura desde três a quatro milhares de anos. Os Astecas, do México e os Incas, do Peru, apreciavam a bebida do chocolate muito antes de Colombo descobrir o Novo Mundo. Conta Bernal Diaz Del Castillo que, em 1519, acompanhou Cortez na Conquista do México, que numa festa “de vez em quando traziam-lhe, numa xícara de forma de copo, de ouro puro, uma bebida feita de cacau e as mulheres serviam esta bebida com grande cerimônia”. “Caixas de chocolate e fardos de chocolate vermelho, formavam uma parte das receitas reais do México, e Montezuma tinha em depósitos acumulados mais de 40 mil fardos de cacau, que era recebido como tributo. E o conselheiro de Carlos V, ao voltar da América, escreveu que a moeda corrente entre esses povos era a fruta do cacau. Do dinheiro podia fazer-se bebida para o rei e preferiam essa moeda, à de ouro ou à de prata, como menos  prejudicial ao espírito e mais proveitosa ao corpo.”

            E daí por diante, o conferencista continuou a falar sobre o cacau, as suas virtudes, a necessidade das classes se juntarem em associações, para melhor defenderem os seus interesses amesquinhados pelos especuladores. E citou as palavras do Engenheiro Joaquim Baiana que, em 1904, já explicava que a lavoura só encontraria salvação através do cooperativismo. De outra forma, caminharia para insucessos financeiros e mesmo para a escravidão. O exemplo estava na cara. Eles, os lavradores, produziam, eram donos das riquezas, mas estas eram controladas, absorvidas pelos intermediários. Infelizmente a classe vivia dormindo, absorvida numa espécie de catalepsia, mesmo insensível ao sofrimento. E continuou: “A seiva da especulação tem mais vitalidade, nesta terra, que a seiva do cacaueiro que sustenta tudo isso. A Rua da Jaqueira, ninho e coito dos ‘partidistas’ tem mais expressão no domínio econômico, que a coletividade agrícola. No passado, os cultivadores do cacau bebiam o chocolate em taças de ouro, no presente, os lavradores bebem água, que apanham nos ribeirões, nas folhas do próprio cacaueiro, por não possuírem um copo de vidro”.

            Netuno, o “deus”, saiu pelo mundo, dando aos outros deuses sementes do cacau. Naquele tempo, os deuses cultivavam o cacau, hoje os seus cultivadores são os sofredores das matas desta terra. Mas, os deuses da exploração ainda não desapareceram, eles vivem entre nós, são os do “caxixe”, da roubalheira, arranchados na Rua da Jaqueira, comprando cacau a baixo preço e vendendo com lucros fabulosos. Precisamos reagir contra semelhante estado de coisas, verdadeiramente injusto e monstruoso. Necessitamos de criar cooperativas, um instituto, um órgão de defesa da grande classe.

            Ao terminar a sua conferência foi muito aplaudido. Aquele Filadelfo tinha tintas de orador e de socialista, disse um dos presentes.

            Francisco Benício dos Santos gostou bastante da conferência. Era um homem trabalhador, honrado, cumpridor dos seus deveres e estava sempre ao lado das boas causas. Apoiava os movimentos de sentido coletivo, que tratassem do bem geral, e sentia pelo próximo uma afeição espiritual, como se cada cidadão fosse um seu irmão, nesta passagem provisória da terra, como bem dizia o Moura Teixeira...

            Depois da conferência, que teve sucesso, os assistentes cumprimentaram o orador e se dirigiram para um bar, na antiga Rua da Lama.

            No bar, pediram cerveja. Ainda a conversa se demorou um pouco sobre a conferência, depois descambou para a política. E citaram o Zezinho Kruchewsky, novamente candidato a intendente e, agora, por impossível que parecesse, apoiado pelo grupo que o traiu, em 1915.

            O mundo dá muitas voltas e em cada encruzilhada existe uma surpresa.

            Carlos Sousa, que ouvia a conversa, deu seu palpite:

            - O mundo dá voltas, mas Gileno Amado só não roda sozinho o mundo Itabunense, porque existe Henrique Alves. Com este ele não pode, é no duro. Chefe contra chefe, homem contra homem.

            E a discussão prolongou-se, e as garrafas de cerveja foram-se amontoando e as mulheres chegando.

            Passava de meia-noite, quando o grupo se dispersou, uns convencidos de que o chefe era mesmo Gileno Amado, outros que era Henrique Alves.

            Entre esses dois homens a opinião pública Itabunense se dividia, forte e muitas vezes exaltada.


(TERRAS DE ITABUNA – Capítulo XX)

Carlos Pereira Filho

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SUICÍDIOS NA JUVENTUDE. POR QUÊ?

18 de julho de 2017
Paulo Henrique Américo de Araújo


No vocabulário de expressões modernas surgiu mais uma novidade: o jogo da “Baleia Azul”.

Ao contrário do que o nome “Baleia Azul” sugere, não há inocência por detrás de tal brincadeira. Ela pode até levar um jovem ao suicídio, caso a vítima aceite os desafios propostos por um desconhecido online, controlador do jogo.

No mês de maio último, a polícia encontrou alguns adolescentes à beira de uma rodovia no Distrito Federal1. Chorando de desespero, eles procuravam cumprir a última etapa da “baleia azul”: atirar-se na frente de um ônibus em alta velocidade!

Em outros casos, não houve tempo de salvar a vítima.

A onda do macabro jogo é provavelmente passageira e parece que vai saindo “de moda”. Mas um assunto de maior vulto relaciona-se diretamente com ele. Por que adolescentes suicidam-se cada vez mais?


Calculando a dimensão do problema

Segundo recente artigo da BBC Brasil2, um estudo baseado em dados oficiais do Sistema de Informações de Mortalidade (SIM), do Ministério da Saúde, revela dados preocupantes. A primeira informação: considerando toda a população brasileira, entre 1980 e 2014, houve um aumento de 60% na taxa de suicídios.

Quanto aos dados relativos à população jovem, o mesmo artigo reproduz o que diz o estudo: “Em 1980, a taxa de suicídios na faixa etária de 15 a 29 anos era de 4,4 por 100 mil habitantes; chegou a 4,1 em 1990 e a 4,5 em 2000”. Já no período entre 2002 e 2014, a taxa subiu de 5,1 para 5,6 por 100 mil habitantes. O estudo conclui: “Assim, entre 1980 a 2014, houve um crescimento de 27,2%” na taxa de suicídios, considerando a mesma faixa de idade.

Para se ter uma ideia mais concreta do que tais números representam, a mesma pesquisa mostra que em 2014, houve, somente no Brasil, 2.898 suicídios de jovens de 15 a 29 anos.

Insisto, pois a questão se impõe: por que tantos jovens acabam com a própria vida?

É importante fazer notar, antes de tudo, que o artigo citado tenta fornecer algumas respostas à pergunta acima, usando declarações de diversos sociólogos e psicólogos. Segundo esses especialistas, “o problema é normalmente associado a fatores como depressão, abuso de drogas e álcool, além das chamadas questões interpessoais, violência sexual, abusos, violência doméstica e bullying”.

De fato, podemos encontrar tais causas por detrás dos suicídios. Contudo, o que impele um jovem a usar drogas, por exemplo, ou o que ocasiona sua depressão? Qual é a raiz da violência doméstica?

A falta da noção do sofrimento na vida


O mais fundo do problema reside, sem dúvida, na decadência moral generalizada do mundo contemporâneo. Essa decadência afeta diretamente a constituição da família. Se a família se desfaz, é inevitável a propensão do jovem para as drogas e a violência, de um lado; e sua menor capacidade, por outro lado, de suportar as dificuldades quotidianas, cujo desfecho pode ser a depressão.

Há mais um fator, ignorado pelo artigo da BBC: o mundo contemporâneo oferece sem cessar múltiplos divertimentos e prazeres. Sendo a juventude o grupo que mais deveria se “beneficiar” deles, a lógica conclui que, quanto mais jovem, maior o desejo de aproveitar a vida e, portanto, mais afastada a hipótese de suicídio.

Contudo, não é o que ocorre na prática. E aqui fica desmascarada uma grande ilusão de nossos dias: quanto mais gozo da vida, mais felicidade. Se assim fosse, deveria haver menos suicídios, sobretudo entre os jovens.

Volto ao jogo da “Baleia Azul”. Supostamente, jovens conectados à internet têm diante de si possibilidades ilimitadas de entretenimento. Diversões fáceis e constantes, sempre mais almejadas. No banquete frenético de diversões aparece outra: um jogo de desafios cada vez mais ousados. O último deles termina em suicídio.

Assim, a saturação dos prazeres leva à frustração, a qual, por sua vez, provoca a busca intensa de novidades e entretenimento. Diversões, festas e jogos em demasia… decepção, desespero, suicídio!

E não adianta dizer que os suicídios atingem jovens das classes baixas ou com menos oportunidades na vida. O artigo mencionado demonstra que jovens considerados de elite, como estudantes de medicina, pertencem também às estatísticas de suicídio. E não nos esqueçamos do grande número de viciados em drogas entre a juventude das classes mais altas.

Revela-se aqui uma das maiores causas do suicídio juvenil: a hipertrofia dos prazeres — incentivada pela grande mídia e pela pedagogia moderna, como o ensino da chamada Ideologia de Gênero —, que além de rejeitarem e negarem a ideia do sofrimento e, por conseguinte, do pecado, criam um circuito de ilusões na mente dos jovens. O pecado leva a outro pecado, e como consequência surge o fantasma dos problemas de consciência, sofrimento interior… suicídio!

A admirável lição de Santa Teresinha

O que fazer diante dessa constatação? Talvez uma rápida lição de santidade deite um pouco de luz nessas sombras.

Abro a famosa História de uma Alma, autobiografia de Santa Teresinha do Menino Jesus, e leio o seguinte trecho sobre sua juventude: “Tudo, ao redor de mim, era alegria e felicidade; eu era festejada, acariciada, admirada, numa palavra, [...] minha vida foi semeada só de flores… Confesso que esta vida tinha encantos para mim”3.

A “pequena santa” de Lisieux reconhece os atrativos e os prazeres da juventude. Mas logo adiante — algo negado à juventude moderna — vem a reflexão serena e coerente: “Aos dez anos o coração deixa-se facilmente fascinar, por isso considero uma grande graça não ter ficado em Alençon; os amigos que tínhamos aí eram muito mundanos, [...] Não pensavam bastante na morte e, no entanto, a morte veio visitar um grande número de pessoas jovens, ricas e felizes, que conheci!!!”.

Eis aí uma lição a ser ensinada aos jovens de hoje. Os momentos de felicidade são transitórios e muitas vezes ilusórios. A vida não se constitui só de prazeres. E estes devem ser moderados e regulados segundo a moral. É necessário ter diante de si as dificuldades e os sofrimentos de todos os dias. Saber enfrentá-los reverte-se em eficaz remédio contra a frustração, o desespero, e, por fim, o suicídio.


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Notas: 
Manuscritos autobiográficos, 2ª edição, Cotia – SP, 1960, p. 100.


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