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quarta-feira, 25 de setembro de 2019

CHICLETE DE BOLA - Jorge Luiz Santos

Lembro-me, como se fosse hoje, do prazer lúdico que tinha ao comprar o chiclete de bola, para fazer a coleção das estórias do personagem chamado Bolinha. Naquela época, tornar-se o seu colecionador era a expectativa de toda a garotada. Não nos interessava pelo produto em si, mas pelas estórias inteligentes e pela beleza dos cenários, grafados em cores vivas que as figurinhas traziam.

Quantas vezes também não o fiz e nem vi jogarem o chiclete de bola fora, guardando com todo o carinho aquelas figurinhas coloridas que vinham na sua embalagem, impressas num pedaço de papel? Felizmente com isto a venda do produto não deixava de crescer e o seu consumo de fato não ocorria, livrando-se a meninada do grau de risco que o seu uso indiscriminado poderia representar. Por inteligência das partes, fabricante e consumidor passavam assim a ser beneficiados: o primeiro, com a alta margem de lucro dos produtos vendidos; o segundo, com a preservação da saúde e o prazer das estórias e das cenas mágicas, daquela poderosa arte literária e visual.

Nos locais dos jogos de futebol e de gude, houve uma repentina mudança de hábito, cuja frequência foi reduzida significativamente. A quantidade de crianças que jogavam bolas de borracha e de vidro passou a ser menor, diante da grande fascinação criada pelo marketing do novo lançamento do referido produto.

Os pais dos meninos o tempo todo eram cobrados, no sentido de liberarem recursos, para eles adquirirem a famosa goma de mascar. O custo de cada unidade era pequeno, mas a infinidade da oferta das figurinhas lançadas no mercado de todo o país, tornava este entretimento tanto lucrativo quanto oneroso.

A disputa pelas figurinhas era acirrada. A garotada não fazia a revenda, nem trocavam as figurinhas que lhes interessavam porque esse negócio poderia decidir, a favor do outro, o resultado da competição. Havia pressão na hora de comprar o chiclete de bola, ficando o atendimento das lojas que o vendiam congestionado, na luta pela aquisição da referida mercadoria. O problema era que cada menino comprava uma certa quantidade do produto e nela poderia estar a figurinha de que precisava, para se tornar o ganhador da disputa. De qualquer modo, sabia-se que a vitória dependia da sorte de cada um, mas havia sempre a preocupação de ser o primeiro da fila e de comprá-lo logo.

 - Eu sou o primeiro da fila; ninguém se atreva, passando na minha frente! – dizíamos.

Como é praxe de todo o entretimento, o fabricante do chiclete de bola também promovia eventos. O menino que adquirisse primeiro todas as figurinhas que encerrasse uma determinada estória, seria o vencedor, ganhando uma viagem no balão mágico da empresa, que o faria decolar, para o mundo encantado do seu garoto propaganda.

Livros do Autor:
- A Ruas das Amélias e outras crônicas. Ed. Viseu 2018.
- A Criação da Criatura. Ed. Viseu 2019


Jorge Luiz Santos.
Advogado e cronista. Itabuna - Bahia

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Setembro 2019


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