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quarta-feira, 20 de fevereiro de 2019

SUA ÚNICA BRIGA - Cyro de Mattos


Só brigou uma vez no internato. Foi com um menino que jogava de ponta-esquerda no time de camisa branca. Jogando como lateral direito no time de camisa azul, ele dava uma marcação implacável àquele menino gago, troncudo, baixo, braços musculosos. Em compensação era menor do que ele, que sempre se antecipava para tomar a bola dele, um atacante arrojado, precisando ser marcado de perto.

Era um duelo à parte entre os dois quando o time de camisa azul enfrentava o de camisa branca.

Na última partida, o marcador e o atacante chocaram-se na lateral do campo, temeu-se que os dois contendores tivessem se machucado gravemente. Houve bate-boca, dedo em riste no rosto, da próxima vez eu lhe quebro a canela, jogadores dos dois times apartaram os dois para evitar a briga. Terminado o jogo, com o sangue ainda quente, atracaram-se, a briga não continuou por mais tempo porque o Irmão Já-Morreu trilou o apito várias vezes, pedindo a seguir que os dois rivais lhe acompanhassem.

Adiante, no campo vazio, sem grama, improvisado no terreno arenoso, localizado entre a parede alta de um dos pavilhões do pavimento térreo, de um lado, e um muro, no outro com uma tela aramada, também alta, na frente e fundo, o Irmão Já-Morreu ordenou:

- Agora podem brigar à vontade. Ninguém vai apartar.

A briga demorou mais de uma hora. Nos lances com murros desfechados um ao outro, procurou evitar que o rival agarrasse o seu corpo. Se isso acontecesse, seria derrubado, e, no chão, dominado, certamente ia ser massacrado pelo rival, sem ter a mínima chance para vencer a briga.

A certa altura da briga renhida, os brigões mostravam cansaço, um se agarrava ao outro para não cair, mas nenhum deles recuava, pensando em correr. Até que de tão cansados com os golpes desfechados, os dois desabaram ao mesmo tempo, cada um caiu para um lado. E ali mesmo ficariam desacordados, sem forças para levantar, não fosse o Irmão Já-Morreu que jogou um balde de água para despertar os brigões, ainda com o sangue quente.


Cyro de Mattos é poeta e ficcionista. Detentor de prêmios literários importantes e, entre eles, o Afonso Arinos da Academia Brasileira de Letras, Associação dos Críticos Literários de São Paulo, Nacional de Poesia Ribeiro Couto (UBE-RJ), Internacional Maestrale Marengo d’Oro, Itália, duas vezes, Menção Honrosa do Jabuti, Nacional Pen Clube do Brasil e Nacional Cidade de Manaus. Publicado em oito idiomas.

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QUANDO O GENERAL SE DESCOLA DA TROPA - Marcos Machado


20 de Fevereiro de 2019
♦  Marcos Machado

 Contrariando o verdadeiro papel do chamado 4º. Poder, que é o de coadjuvar o Estado na procura do “bem comum”, a mídia de esquerda — das poucas armas que restam ao PT — vem reproduzindo com “torcidas”, más interpretações e futricas quaisquer desavenças ou comentários menos felizes provenientes de membros do governo, logo agora que o Brasil começa a reatar-se consigo mesmo.

 Posto esse princípio fundamental, que é a procura do “bem comum”, passemos à questão do aborto na entrevista concedida pelo general Mourão ao jornal “O Globo” (1º-3-19):

“A questão do aborto também é algo que tem que ser bem discutido, porque você tem aquele aborto no qual a pessoa foi estuprada, ou a pessoa não tem condições de manter aquele filho. Então talvez aí a mulher tivesse que ter a liberdade de chegar e dizer ‘preciso fazer um aborto’. Minha opinião como cidadão, não como membro do governo, é de que se trata de uma decisão da pessoa.”

Palavras sem dúvida censuráveis, das quais “O Globo” — useiro e vezeiro na arte de explorar e distorcer entrevistas (“’Aborto deve ser uma decisão da mulher’, diz o vice-presidente”) — se utilizou em detrimento da boa imagem do próprio governo e em benefício da agenda petista e antifamília. Mas isso só foi possível porque o general se descolou do sentimento geral da tropa…

A esquerda autêntica tem uma mentalidade, e não um conjunto de opiniões desconexas, pela qual ela sempre defende o aborto, e nunca a propriedade privada ou a família. Nos 13 anos de pesadelo petista, assistimos à investida furiosa a favor da ideologia de gênero, das invasões rurais e urbanas, do aborto e da agenda homossexual. Há, portanto, um nexo profundo entre destruir a família e perseguir a propriedade, como reza a teoria marxista.

O caráter marcadamente conservador, familiar e, portanto, de direita, ficou patente nas grandes demonstrações populares que tomaram as ruas das principais cidades brasileiras a partir de 2015. Ficou patente na campanha presidencial de Jair Bolsonaro a defesa dos valores familiares e da propriedade privada, bem como a orientação da política externa brasileira “sem viés ideológico” esquerdista. Os discursos de posse do Presidente e de Ernesto Araújo foram tomados como uma confirmação do cumprimento das promessas de que o Brasil se livrou da agenda petista, que incluía o aborto.

Como o filho pródigo que volta à casa paterna, ou São Paulo a caminho de Damasco, com o novo governo o Brasil livrou-se do despenhadeiro petista para retomar as esperanças de cumprir seu papel conservador, anticomunista e pró-família em âmbito não apenas latino-americano, mas mundial.

Segundo o princípio da democracia, o eleitor é o mandante e os representantes eleitos são os mandatários que recebem dele uma procuração específica para executar a sua vontade. No presente caso, a vontade de um povo conservador, antipetista e pró-família. A força das redes sociais conservadoras aí está: vigilante, atuante e disposta a servir o Brasil. Já tivemos um exemplo de quão viva permanece essa reação anticomunista na rejeição da infeliz viagem de uma comissão de Parlamentares do PSL à China vermelha. Não é fazendo concessões à esquerda que se edificará o novo Brasil. General, a tropa é antiabortista!


“A missão providencial do Brasil consiste em crescer dentro de suas próprias fronteiras, em desdobrar aqui os esplendores de uma civilização genuinamente católica. Nossa índole meiga e hospitaleira, a pluralidade das raças que aqui vivem em fraternal harmonia, o concurso providencial dos imigrantes que tão intimamente se inseriram na vida nacional, e mais do que tudo as normas do Santo Evangelho, jamais farão de nossos anseios de grandeza um pretexto para jacobinismos tacanhos,para racismos estultos, para imperialismos criminosos. Se algum dia o Brasil for grande, sê-lo-á para bem do mundo inteiro.

“Explorai, senhores do poder temporal, as riquezas de nossa terra; estruturai segundo as máximas da Igreja, que são a essência da civilização cristã, todas as nossas instituições civis. Deus jamais é tão bem servido, quanto se César se porta como seu filho. E, senhores, em nome dos católicos do Brasil, eu vo-lo afianço, César jamais é tão grande, como quanto é filho de Deus”. *

Nem concessões à esquerda nem atentados contra a família e a propriedade nos afastarão de nossa missão providencial. Pelo contrário, seguindo a lei natural e as vias da Civilização Cristã, se construirá um Brasil autêntico, forte e coeso, para exemplo e edificação de nossas irmãs latino-americanas e o bem do mundo inteiro.

O Cristo Redentor e Nossa Senhora Aparecida nos mantenham alertas e fortes na defesa e no fortalecimento dos pilares da civilização, a tradição, a família e a propriedade.
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