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quinta-feira, 17 de maio de 2018

UM DIA NO MOINHO – Paulo Coelho


Minha vida, no momento presente, é uma sinfonia composta de três movimentos distintos: "muitas pessoas", "algumas pessoas", e "quase ninguém". Cada um deles dura aproximadamente quatro meses por ano, se misturam com frequência durante o mesmo mês, mas não se confundem.

"Muitas pessoas" são os momentos em que estou em contacto com o público, os editores, os jornalistas. "Algumas pessoas" acontece quando vou para o Brasil, encontro meus amigos de sempre, caminho na praia de Copacabana, vou a um ou outro acontecimento social, mas geralmente fico em casa.


Entretanto, minha intenção hoje é divagar um pouco sobre o movimento "quase ninguém". Neste momento a noite já caiu neste povoado de 200 pessoas nos Pirineus, cujo nome prefiro manter em segredo, e onde comprei há pouco tempo um antigo moinho transformado em casa. Acordo todas as manhãs com o cantar do galo, tomo meu café e saio para caminhar entre as vacas, os cordeiros, as plantações de milho e de feno. Contemplo as montanhas, e - ao contrário do movimento "muitas pessoas" - jamais procuro pensar em quem sou. Não tenho perguntas, nem respostas, vivo por inteiro no momento presente, entendendo que o ano tem quatro estações (sim, pode parecer óbvio, mas às vezes nos esquecemos disso), e eu me transformo como a paisagem ao redor.

Neste momento, não me interessa muito o que acontece no Iraque ou no Afeganistão: como qualquer outra pessoa que vive no interior, as notícias mais importantes são as ligadas à meteorologia. Todos os que habitam a pequena cidade sabem se vai chover, fazer frio, ventar muito, já que isso afeta diretamente suas vidas, seus planos, suas colheitas. Vejo um fazendeiro cuidando do seu campo, nos desejamos "bom dia", discutimos as previsões do tempo, e continuamos a fazer o que estávamos fazendo - ele em seu arado, eu em minha longa caminhada.

Volto, olho a caixa de correio, ali está o jornal da região: há um baile no vilarejo vizinho, uma conferência em um bar de Tarbes - a cidade grande, com seus 40 mil habitantes - os bombeiros foram chamados porque uma lixeira foi queimada durante a noite. O tema que mobiliza a região é um grupo acusado de cortar os plátanos de uma estrada rural, porque causaram a morte de um motociclista; esta notícia rende uma página inteira e vários dias de reportagens a respeito do "comando secreto" que está querendo vingar a morte do rapaz, destruindo as árvores.

Deito-me ao lado do regato que corre no meu moinho. Olho os céus sem nuvens neste verão aterrador, com 5 mil mortos apenas na França. Levanto-me e vou praticar kyudo, a meditação com arco e flecha, que toma mais uma hora do meu dia. Já é hora de almoçar: faço uma refeição ligeira e de repente noto que lá em uma das dependências da antiga construção está um objeto estranho, com tela e teclado, conectado - maravilha das maravilhas - com uma linha de altíssima velocidade, também chamada de DSL. Sei que, no momento em que apertar um botão daquela máquina, o mundo virá ao meu encontro.

Resisto o quanto posso, mas o momento chega, meu dedo toca o comando "ligar", e aqui estou de novo conectado com o mundo, as colunas dos jornais brasileiros, os livros, as entrevistas que precisam ser dadas, as notícias do Iraque, do Afeganistão, os pedidos, o aviso que o bilhete de avião chega amanhã, as decisões a adiar, as decisões a tomar.

Trabalho por várias horas, porque foi o que escolhi, porque é essa a minha lenda pessoal, porque um guerreiro da luz sabe que tem deveres e responsabilidades. Mas no movimento "quase ninguém" tudo que está na tela do computador é muito distante, da mesma maneira que o moinho parece um sonho quando estou nos movimentos "muitas pessoas" ou "algumas pessoas".

O sol começa a se esconder, o botão é desligado, o mundo volta a ser apenas o campo, o perfume das ervas, o mugido das vacas, a voz do pastor que traz de volta suas ovelhas para o estábulo ao lado do moinho.

Pergunto-me como posso passear em dois mundos tão diferentes em apenas um dia: não tenho resposta, mas sei que isso me dá muito prazer, e estou contente enquanto escrevo estas linhas.

Diário do Nordeste, 12/05/2018


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Paulo Coelho - Oitavo ocupante da Cadeira nº 21 da ABL, eleito em 25 de julho de 2002 na sucessão de Roberto Campos e recebido em 28 de outubro de 2002 pelo Acadêmico Arnaldo Niskier.

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ITABUNA CENTENÁRIA REFLETINDO: Vá aos encontros felizes



“Vá aos encontros felizes...

 Pode ser complicado, difícil, caro.

Pode ser uma viagem longa. Vá!

Tem festa de 85 anos da tia? Vá!

Aniversário do filho do amigo? Vá!

 Encontro de 20 anos da formatura? Vá!

Amigo secreto das amigas, casamento do primo? Vá!

Pega o carro, o ônibus, o avião...

Pega carona!

Fica no hotel, na tia, na pensão!

Parcela a passagem!

Dá um jeito!

Sabe por que?

 Porque nos encontros tristes você irá. Quando alguém morre todos vão.

Por protocolo, por obrigação ou por amor (e dor).

As pessoas vão, se esforçam.

Pedem folga, cancelam a reunião, transferem as entregas. 

E todos se reúnem e se abraçam e choram juntos. E é bonito isso. E é bom que seja assim.

Mas é bom que seja assim também nos momentos felizes.

É bom estar junto nas comemorações, nas conquistas, nas festas que brindam a vida!

Dando risada, relembrando histórias, deixando-se levar pela alegria despretensiosa dos momentos bons.

Assim vamos juntando as peças na melhor coleção que a vida tem a oferecer:

A dos encontros felizes!"


(Recebi via WhatsApp sem menção a autoria)

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PALIATIVO NACIONAL! - Antonio Nunes de Souza!


Paliativo nacional!

Estamos a vinte e poucos dias para a fantástica Copa do Mundo de Futebol, evento que movimenta o globo terrestre de ponta a ponta, mesmo sendo uma festa de apenas trinta e poucas seleções, que foram contempladas através de disputas acirradas entre uma grande maioria de países que praticam tal esporte, profissionalmente, ou até amadoristicamente!

Logicamente, a partir de ontem que foi oficializada a lista dos jogadores que participarão, as conversas em todos os ambientes, sempre se voltam para tal assunto, já que é o nosso esporte favorito e, nossa seleção, por ser composta dos maiores jogadores do mundos em suas posições, sempre é vista e esperada, mais uma nova conquista de campeã mundial!

Esse evento, tranquilamente, serve de paliativo para o povo em geral que, sem dúvida alguma, esquece-se das suas grandes necessidades de sempre, dando um bom descanso aos políticos, preocupando-se em comprar suas camisas amarelas, ou tira-las dos baús as antigas, para vestidos transitarem pela cidade, mostrando as suas performances de grandes torcedores!

Os políticos, por suas vezes, aproveitam as comemorações, colocando telões nos bairros, ajudando a enfeitar as ruas das comunidades, querendo agradar a todos com a preocupação de conseguir mais votos para suas reeleições. E, como sempre, conseguem, pois nosso povo é ordeiro e, infelizmente, não dá o valor real ao seu digno voto!

Teremos um mês de junho privilegiado com os festejos da Copa, São João e São Pedro, culminando com o dois de julho Independência da Bahia, comemorada maravilhosamente na cidade Histórica e Patrimônio Cultural da Humanidade, Cachoeira!

Logicamente, com essas comemorações, não deixarão de movimentar o comércio formal e informal, teremos muitos foguetórios nas vitórias e muitas tristezas nos empates e nas derrotas, mas, como sempre, nossa seleção sempre chega as finais e já foi campeã por diversas vezes. Assim sendo, nessa copa, com uma escalação de garotos jovens, estamos cheios de esperanças. E, se não der certo dessa vez, afogaremos nossas mágoas nos festejos juninos tomando nosso tradicional e saboroso licor de Jenipapo!


Antonio Nunes de Souza, escritor.
Membro da Academia Grapiúna de Letras-AGRAL

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