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quinta-feira, 13 de abril de 2017

TRAIDA PELA MEMÓRIA - Zuenir Ventura

Traída pela memória

Em recente seminário na Universidade de Harvard, em Massachusetts, nos Estados Unidos, a ex-presidente Dilma voltou a ser traída pela memória ao declarar que foi “vítima de dois golpes: a prisão e a tortura durante a ditadura, e o impeachment”. A comparação é um despropósito retórico que não condiz com os fatos. No primeiro episódio, nos anos 70, ela sentiu na carne o que é de fato um golpe sem aspas. Sofreu tanta violência na prisão, e com tanta bravura, que seus torturadores a apelidaram de “Joana d’Arc da subversão”. No segundo, através de instrumento constitucional, ela foi condenada no Senado (61 votos a favor e 20 contra) por crimes de responsabilidade fiscal.

Apesar da perda do mandato, ela continuou com o direito de disputar eleições, votar, ocupar postos na administração pública e a ter regalias como viagens ao exterior levando quatro assessores, além de palanques para denunciar o “golpe” e até falar mal da Justiça e do juiz Sérgio Moro, como fez agora. Tudo sem risco de represália (me lembrei de Jango em Paris, em 1961, temendo voltar para, como vice, assumir a Presidência no lugar de Jânio, que havia renunciado. Como era correspondente, fui seu improvisado intérprete para a imprensa francesa, com a perigosa possibilidade de mudar o destino do país: qualquer palavra mal traduzida poderia servir de pretexto para os militares anteciparem o que fizeram três anos depois, com muitos tanques e fuzis). 

Em Harvard, Dilma criticou o “uso político” da Lava-Jato e mandou um recado velado ao juiz de Curitiba, que falaria em seguida. “Me preocupa muito que mudem as regras do jogo democrático”, afirmou, para confessar o que realmente teme: “Me preocupa que prendam o Lula”. Com a cabeça cheia de teorias persecutórias, ela vê nisso não uma hipótese que cabe à Justiça aceitar ou não, soberanamente, mas uma espécie de conspiração urdida especialmente para evitar o que ela já considera “uma possibilidade concreta”: a eleição do líder petista em 2018.

Em tempo. Antes que a onda paranoica me acuse de golpista, lembro mais uma vez que fui contra o impeachment de Dilma, não por ser um “golpe”, mas por temor ao que poderia vir depois.

Leitores estão reclamando da ausência de Alice neste espaço. É que ela anda às voltas com o livro que, acha, a levará à ABL. Ainda mais que Vilaça lhe garantiu seu voto. Ele é o grande acadêmico a quem ela se refere assim: “Um amigo de meu avô e meu admirador”. Não sei como cabe tanta pretensão numa linda cabecinha de 7 anos.

O Globo, 12/04/2017


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Zuenir Ventura - Sétimo ocupante da Cadeira n.º 32 da ABL, eleito no dia 30 de outubro de 2014, na sucessão do Acadêmico Ariano Suassuna, e recebido no dia 6 de março de 2015, pela Acadêmica Cleonice Berardinelli.


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É UMA GUERRA DE RELIGIÃO – Roberto de Mattei

12 de abril de 2017
Roberto de Mattei (*)

Atentado terrorista perpetrado por islamitas em igreja, no Domingo de Ramos (9-4-17), na cidade egípcia de Tanta

Os massacres de Tanta [foto acima] e Alexandria são um brusco chamado à realidade para o Papa Francisco, na véspera de sua viagem ao Egito. Os atentados no Oriente Médio e na Europa não são desastres naturais, evitáveis com encontros ecumênicos, como o que o Pontífice terá em 28 de abril com o Grande Imã de Al-Azhar, mas são episódios que nos lembram a existência na Terra de divisões ideológicas e religiosas profundas que só podem ser remediadas pelo retorno à verdade. E a primeira verdade a recordar, se não se quiser mentir para si mesmo e para o mundo, é que os autores dos atentados do Cairo, como de Estocolmo e de Londres, não são desequilibrados ou psicopatas, mas portadores de uma visão religiosa que desde o século VII combate o Cristianismo. Não só a Europa, mas o Ocidente e o Oriente cristão, definiram ao longo dos séculos a sua própria identidade defendendo-se de ataques do Islã, que nunca renunciou à sua hegemonia universal.

Diversa é a análise do Papa Bergoglio, que na homilia do Domingo de Ramos reiterou sua proximidade com aqueles que “sofrem com um trabalho de escravos, sofrem com os dramas familiares, as doenças [...] Sofrem por causa das guerras e do terrorismo, por causa dos interesses que se movem por detrás das armas que não cessam de matar”. Erguendo os olhos por cima do papel, o Papa acrescentou que reza também pela conversão do coração “daqueles que fabricam e traficam as armas”. O Papa repetiu o que tem declarado muitas vezes: não é o Islã em si mesmo, e nem o seu desvio que ameaça a paz do mundo, mas os “interesses econômicos” dos traficantes de armas. Na entrevista com o jornalista Henrique Cymerman, publicada no diário catalão “La Vanguardia” em 12 de junho de 2014, O Papa Francisco disse: “Descartamos toda uma geração para manter um sistema econômico que não se sustenta mais, um sistema para sobreviver deve fazer a guerra, como sempre fizeram os grandes impérios. Mas, já que não se pode fazer a terceira guerra mundial, então se fazem guerras locais. O que isso significa? Que se fabricam e vendem armas e, assim, fazendo os balanços das economias idólatras, as grandes economias mundiais que sacrificam o homem aos pés do ídolo de dinheiro, obviamente se curam.”

O Papa não parece acreditar que se possa escolher entre viver e morrer para realizar um sonho político ou religioso. O que moveria a História seriam os interesses econômicos, que antes eram os da burguesia contra o proletariado, e hoje são os das multinacionais e dos países capitalistas contra “os pobres da terra”.

A essa visão dos acontecimentos, que provém diretamente do economicismo marxista, contrapõe-se atualmente a geopolítica do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, e do presidente da Federação Russa, Vladimir Putin. Trump e Putin redescobriram os interesses nacionais dos seus respectivos países, e no tabuleiro do Oriente Médio travam uma dura partida no jogo diplomático e midiático, não excluindo transpô-la para o plano militar. O Islã agita por sua vez o espectro da guerra religiosa no mundo.

Quais são as palavras que, na véspera da Santa Páscoa, os fiéis esperam do Chefe da Igreja Católica? Esperamos ouvi-lo dizer que as verdadeiras causas das guerras não são nem de ordem econômica, nem de ordem política, mas acima de tudo de ordem religiosa e moral. Que as guerras têm suas origens mais profundas nos corações dos homens e sua raiz última no pecado. Que foi para redimir o mundo do pecado que Jesus Cristo sofreu a sua Paixão, que é agora também a Paixão de uma Igreja perseguida em todo o mundo.

Na oração pela paz que compôs em 8 de setembro de 1914, assim que eclodiu o primeiro conflito mundial, Bento XV exortou a implorar privada e publicamente “a Deus, árbitro e dominador de todas as coisas, para que, lembrando-se de sua misericórdia, afaste este flagelo da ira com o qual faz justiça pelos pecados dos povos. Imploremos que, nas nossas orações, nos assista e ajude a Virgem Mãe de Deus, cujo felicíssimo nascimento, que celebramos neste mesmo dia, refulja para o transviado gênero humano como aurora da paz, devendo Ela dar à luz Aquele no qual o eterno Pai queria reconciliar todas as coisas ‘ao preço do próprio sangue na cruz, restabeleceu a paz a tudo quanto existe na terra e nos céus’ (Col. 1, 20)”.

É um sonho imaginar que um Papa venha a dirigir à humanidade palavras deste quilate, em uma situação internacional tempestuosa como a que vivemos hoje?

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(*) Fonte: “Il Tempo”, Roma, 10-4-2017. Matéria traduzida do original italiano por Hélio Dias Viana.

http://www.abim.inf.br/e-uma-guerra-de-religiao/#.WO8TEfkrLIV


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AFASTA DE MIM ESSE CÁLICE, PAI - Mírian Warttusch

Afasta de mim esse cálice, Pai


Jesus pergunta ao Pai, olhos postos no firmamento:
"Meu Deus, meu Deus, por que me abandonastes?"
Neste martírio que me faz sangrar em sofrimento,
À minha própria sorte, por que Tu me entregastes?!

"Afasta de mim esse cálice, Pai", por piedade!
Não tenho mais forças; e se prolonga o sofrimento...
São momentos de dor que sofro pela humanidade,
Meu último suspiro parece estar preso aqui dentro!

-O corte da lança no Teu peito está doendo em mim!
Também me doem as Tuas chagas, carne viva...
Imaginavas que sozinho sofrerias tanto assim?
O amor deixa marcas profundas e significativas.

Tu não me encontras quando olhas para o alto,
Imaginando que de Ti não sinto pena ou tenho dó.
É o nosso mesmo coração que bate em sobressalto...
Não percebes Filho, que Eu e Tu, somos um só?

Momento de partida, e Deus acode Seu Filho tão amado,
Sofrendo as mesmas dores, chorando o mesmo pranto...
"O verbo se fez carne", cumpriu-se o Seu legado,
Unem-se agora, o Pai, o Filho e o Espírito Santo!

Mírian Warttusch

 
"Leia o livro 'A Cabana' de William P. Young
para saber mais do maravilhoso encontro do personagem Mackenzie com a Santíssima Trindade"

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Obra apresenta caminhos da escultura brasileira a partir de 1950

Escultura Contemporâneas no Brasil - Reflexões em dez percursos será lançado no Palacete das Artes no próximo dia 19 de abril



O Palacete das Artes será o cenário escolhido para o lançamento do Escultura Contemporânea no Brasil – Reflexões em Dez Percursos, que acontece no próximo dia 19 de abril, a partir das 19 horas. A obra é resultado de três anos de intensa pesquisa do professor e curador carioca Marcelo Campos e será lançada pela Editora Caramurê. A publicação mapeia a produção escultórica brasileira a partir dos anos 1960 sob dez critérios temáticos.

A princípio a ideia era se fazer um livro com um pequeno grupo de escultores mas Campos, a partir de um primeiro levantamento, aceitou o desafio de trabalhar um contorno conceitual mais abrangente o que resultou em uma obra de fôlego, com suas 420 páginas e 300 ilustrações. “Não existe no Brasil uma obra com esse porte sobre o tema e só conseguimos realizar este projeto por conta da coragem e talento do Marcelo Campos” comenta o editor Fernando Oberlaender. O patrocínio é da Global Participações em Energia S.A. (GPE), através da Lei de Incentivo à Cultura do MinC.

“Decidi fazer uma pesquisa mais extensa, olhando para artistas e obras canônicas, trabalhos que estabeleceram ou consolidaram mudanças de paradigma”, explica o autor. “Percebi, nesse levantamento, vertentes conceituais que me chamaram a atenção e optei por essa configuração”, completa.  

Ao todo foram 200 artistas listados num primeiro apanhado, dos quais Marcelo selecionou 91 escultores. Eles foram relacionados em dez capítulos-conceito, a partir do que o autor chama de “sintoma”: a reunião de “parentescos, células, lugares de encontro, onde a junção das poéticas as torna firmemente históricas”, ele define na introdução do livro.

A organização não segue um cronograma temporal, nem o critério que reúne artistas e obras em movimentos ou grupos. Campos buscou a ampliação do raio de busca para além dos eixos geográficos tradicionais da produção artística brasileira. O mapeamento desses artistas e de seus trabalhos se distribuiu nos temas do recorte curatorial. Esses conceitos estabelecem diálogo não só com a forma, mas com os olhares socioculturais, como na psicologia e na antropologia. E, dessa maneira, aprofundam-se na análise contextual dessa produção artística que se propõem a analisar.

Entre os temas, "Apropriação conceitual, imagéticas populares”, que apresenta um olhar da cultura, dos usos e saberes populares, "Paisagem, casa e jardim”, que faz uma ligação com a arquitetura e a paisagem, “Tecnologia, mídias, comunicação”, que a criação que se dedica às máquinas, ao movimento, a cinetismos de todo tipo e "A infância, o brinquedo”, a influência dos brinquedos, o lugar da infância com materiais plásticos extraviados, sujeitos ao toque, a cores, à acumulação, aos guardados pueris.

Campos inclui ainda no volume alguns dos escultores modernos, como Brennand e Felícia Leiner, em atividade nos anos 1950 nas vanguardas concretistas e neoconcretistas. “De certo modo, a inserção das esculturas de Felicia Leiner, por exemplo, demonstra as possíveis relações com trabalhos de Celeida Tostes e Ernesto Neto, conjugando algo da historiografia mais recente”, revela o autor.

Marcelo Campos é Professor Adjunto do Departamento de Teoria e História da Arte do Instituto de Artes da UERJ e Doutor em Artes Visuais pelo PPGAV da EBA/UFRJ. Atualmente, é diretor da Casa França-Brasil, no Rio de Janeiro.  Desenvolve estudos sobre arte, cultura brasileira, antropologia e identidade nacional. É autor de Um canto, dois sertões:  Bispo do Rosário e os 90 anos da Colônia Juliano Moreira (MBrac/Azougue Editorial, Rio de Janeiro, 2016); Emmanuel Nassar: engenharia cabocla (Museu de Arte Contemporânea de Niterói/MAC, Niterói, 2010).

Serviço 

Lançamento da Escultura Contemporânea no Brasil – Reflexões em Dez Percursos
Autor: Marcelo Campos
Data do Lançamento: 19 de Abril (Quarta-Feira)
Horário:  às 19 horas, no Palacete das Artes (R. da Graça, 284 - Graça)
Editora Caramurê
Evento Aberto ao público


Edison da Luz
O Rei da Força do Conhecimento
Coleção Particular
Foto: Josué Ribeiro

Juraci Dórea
Projeto Terra, 2002
Escultura do Canto da Cerca São Gonçalo dos Campos/Ba
Madeira e couro.
Acervo do artista
Foto: Juraci Dórea

Juarez Paraíso
Parque Infantil, Hospital Aliança, 2000. (Detalhe)
Foto: Josué Ribeiro

Ayrson Heráclito
Bori - oxumaré, 2011
Foto: Ayrson Heráclito

Ayrson Heráclito
“Segredos Internos” 1994 a 2009.
Foto: Ayrson Heráclito

Bel Borba
Oxum, 2014
Foto: Bel Borba

Ramiro Bernabó
Gato do Mato, 2008
Foto: Mush Emmons

Rubem Valentin
Vista das esculturas
Templo de Oxalá, 1977
Madeira e acrílico
Foto: Josué Ribeiro


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