(Conclusões de um observador de casais)
Uma de
minhas fantasias mais recorrentes era a de me sentar em um café de Paris com
mesas na calçada. Ficaria ali escrevendo; não sobre economia, mas sim um
romance. Ou, quem sabe, poesia, ou mesmo um tratado filosófico. De vez em
quando, ergueria os olhos para apreciar as garotas passando.
Já não
tenho essa fantasia. Vez por outra, porém, saio para comer num restaurante com
mesas na calçada, na rua que leva ao Kennedy Center, em Washington. Não tento
escrever nada. Em vez disso, observo os passantes.
Mas não me
concentro nas garotas. O que observo são os casais, particularmente as
mulheres. Não são glamourosas. Nada têm de Marilyn Monroe. Algumas são bonitas,
mas muitas poderiam ser consideradas sem graça. Como estão indo em direção ao
Kennedy Center para o teatro, a ópera ou um concerto, suponho que estejam acima
da média em termos culturais. Em outros aspectos, porém, são pessoas comuns.
No
entanto, para o homem que lhe dá a mão ou o braço, essa mulher nada tem de
“comum”. Ela é o mundo inteiro para ele.
Está no
Livro do Gênese: “O Senhor Deus disse: ‘Não é bom que o homem esteja só; vou
dar-lhe uma ajuda que lhe seja adequada.’” E, assim, Deus “fez a mulher”. Ali
não diz que Ele a fez bonita ou inteligente, ou com qualquer outra
qualificação. Deus criou a mulher comum.
E por que
essa mulher comum tem tanto valor para o homem? Por três razões:
Em
primeiro lugar, ela é um corpo que o aquece na cama. E aqui não me refiro à
atividade sexual. Esta é importante, mas falo de algo – se isso é possível –
ainda mais primitivo: o contato humano.
Quando um
bebê chora no berço, ele não está interessado em conversar ou em ganhar uma
aliança de ouro. Ele quer é ser abraçado e acariciado. Os adultos também
precisam desse contato físico. Precisam aconchegar-se, em busca de calor e
conforto, em um mundo indiferente e frio. A mulher e o homem comuns fazem isso
pelo outro.
Mas
conversar também é importante esses casais muitas vezes vêm conversando há 30
anos ou mais. Talvez você pense que não tenham mais nada a dizer. Eles, porém,
falam com o outro de uma forma como não falam com mais ninguém. Ele pode
comentar sobre algo bom que fez sem temer que ela pense que está se gabando.
Pode contar com o interesse a compreensão dela.
O
principal propósito desse tipo de conversa não é transmitir informações. A
ideia é dizer: “Estou aqui e sei que você também está.”
Em
terceiro lugar, a mulher satisfaz a necessidade do homem de sentir-se
necessário. Se ninguém precisa de você, qual o sentido de sua presença aqui?
Outras pessoas – patrões, alunos, leitores – podem dizer que precisam de você.
Entretanto, nesses relacionamentos, todos podem ser substituídos a um
determinado preço. Mas, para sua mulher, você não é substituível por nada no
mundo. Isso lhe dá a autoestima de que precisa para enfrentar o dia-a-dia.
Por isso,
essa mulher “comum” – igual a milhões de outras – tem enorme valor para esse
homem. E, embora eu tenha escrito estas observações sob um ponto de vista
masculino, não penso que o relacionamento seja unilateral. Ao contrário, tenho
certeza de que é recíproco.
Talvez
você esteja se perguntando: “Como pode saber de tudo isso? Você é apenas um
economista, um homem dos números. Não é nem conselheiro sentimental.” É
verdade. Mas minha mulher e eu já subimos a rua em direção ao Kennedy Center
muitas vezes.
(Reader’s Digest – SELEÇÕES. Fevereiro 2000)
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