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segunda-feira, 12 de junho de 2017

JUNHO - MÊS DE MACHADO DE ASSIS (VI)

Círculo vicioso


Bailando no ar, gemia inquieto vaga-lume:
“Quem me dera que eu fosse aquela loira estrela
Que arde no eterno azul, como uma eterna vela!”

Mas a estrela, fitando a lua, com ciúme:
“Pudesse eu copiar-te o transparente lume,
Que, da grega coluna à gótica janela,
Contemplou, suspirosa, a fronte amada e bela”

Mas a lua, fitando o sol com azedume:
“Mísera! Tivesse eu aquela enorme, aquela
Claridade imortal, que toda a luz resume”!

Mas o sol, inclinando a rútila capela:
“Pesa-me esta brilhante auréola de nume…
Enfara-me esta luz e desmedida umbela…
Por que não nasci eu um simples vagalume?”


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Machado de Assis


Joaquim Maria Machado de Assis

Biografia


Poeta, romancista, novelista, contista, cronista, dramaturgo, ensaísta e crítico, nasceu e morreu na cidade do Rio de Janeiro, respectivamente, em 21/06/1839 e 29/09/1908. Sua obra tem raízes nas tradições da cultura europeia e transcende a influência das escolas literárias nacionais.

Filho de um pintor de casas mestiço de negro e português, após a morte da mãe foi criado pela madrasta, também mestiça. Adoentado, epiléptico, gago e de figura trivial, encontrou emprego como aprendiz de tipógrafo aos 17 anos de idade, começando a escrever durante seu tempo livre. Em breve, começou a publicar obras românticas. Colaborou regularmente na imprensa carioca.

Sua obra divide-se em duas fases, uma romântica e outra parnasiano-realista, quando desenvolveu seu inconfundível estilo desiludido, sarcástico e amargo. O domínio da linguagem é sutil e o estilo é preciso, reticente. O humor pessimista e a complexidade do pensamento, além da desconfiança na razão (no seu sentido cartesiano e iluminista), fazem com que se afaste de seus contemporâneos. A galeria de tipos e personagens que criou revela o autor como um mestre da observação psicológica.

Em 1869 Machado era um típico homem de letras brasileiro bem sucedido, confortavelmente amparado por um cargo público e num feliz casamento com uma culta senhora, Carolina Augusta Xavier de Novais. Naquele ano, a doença fê-lo afastar-se temporariamente de suas atividades e, na sua volta, publica um livro extremamente original, pouco convencional para o estilo da época — "Memórias Póstumas de Brás Cubas" (1881) —, que, juntamente com "O Mulato" (de Aluísio de Azevedo), constitui o marco do realismo na literatura brasileira. Das "Memórias" provém aquele pensamento do personagem que julga-se feliz por não ter deixado descendentes que perpetuassem o legado da miséria humana.

Publicou ainda mais dois romances de sua famosa tríade, "Quincas Borba" (1891) e "Dom Casmurro" (1899). Estes livros, ao lado de suas histórias curtas ("Histórias da Meia Noite", "Papéis Avulsos", "Histórias Românticas", "Histórias sem Data", "Várias Histórias", "Páginas Recolhidas", "Relíquias de Casa Velha", "Contos Fluminenses", "Crônicas") fizeram sua fama como escritor.

Urbano, aristocrata, cosmopolita, reservado e cínico, ignorou questões sociais como a independência do Brasil e a abolição da escravatura. Passou ao longe do nacionalismo, tendo ambientado suas histórias sempre no Rio, como se não houvesse outro lugar. O mundo natural virtualmente inexiste em seu trabalho. Escreve com profundo pessimismo e desilusão que seriam insuportáveis se não estivessem disfarçados sob o manto da ironia e do humor inteligente. Foi o principal responsável pela fundação da Academia Brasileira de Letras e seu primeiro presidente; permaneceu nesta qualidade até sua morte.

O Machado poeta é menos conhecido e apreciado, apesar de sua primeira manifestação literária ter sido feita justamente com uma poesia ("Ela", publicado na "Marmota Fluminense"), aos 16 anos de idade.

Publicou quatro livros de poesia. "Crisálidas" (1864) e "Falenas" (1870) mostram nítida influência de Castro Alves, com alguma pregação dos ideais de liberdade. Em "Americanas" (1875) as influências alencarinas são patentes, e o próprio Machado vale-se do recurso da metalinguagem externa em uma importante advertência inicial de que o assunto do livro não era unicamente os aborígenes brasileiros. "Ocidentais" (1901) já mostra elementos do realismo: ironia, niilismo, recuperação do tempo perdido.

É a referência clássica da literatura brasileira, considerado o maior escritor do país e um mestre da língua.




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SÉRIE “MPB NA ABL” DE JUNHO APRESENTA O SHOW ‘TOM: O VOO LIVRE DE UM PÁSSARO BRASILEIRO”

A série “MPB na ABL” de junho apresenta, na Academia Brasileira de Letras, o show “Tom: o voo livre de um pássaro brasileiro”, Jobiniando – Orquestra Carioca de Choro, com Marinho Boffa (piano e arranjos) e Marcos Sacramento (voz). A produção é de Didu Nogueira e contará com as participações dos músicos Afonso Machado (bandolim, arranjos e direção musical), Tiago Machado (violão), Alceu Maia (cavaquinho), Zé Luis Maia (contrabaixo), Dirceu Leite (sopros) e Georgia Câmara (bateria). Entrada franca.

A Orquestra Carioca de Choro (OCC) foi criada para apresentar as muitas formas de se interpretar o choro. Segundo o produtor Didu Nogueira, “o virtuosismo dos instrumentistas, bem como a capacidade de improvisação dos executantes, é a característica determinante e diferenciada na execução do Choro. A OCC tem uma formação all stars, com um repertório que passeia entre Pixinguinha, Jacob do Bandolim, Sivuca, Dominguinhos e Tom Jobim, entre outros”.

De acordo com os críticos, Marcos Sacramento tem o poder de emocionar o público e é, por muitos, considerado um cantor completo. Em seu último álbum, “Autorretrato”, o cantor e compositor realiza uma retrospectiva de seus principais sucessos e “entrega sua voz ao público”. “Um cantor moderno, capaz de incorporar todas as conquistas dos que o precederam e acrescentar suas próprias bossas “, disse dele o jornalista Ruy Castro.

Maestro, pianista, compositor e arranjador, Marinho Boffa participou de cinco edições do Free Jazz Festival, ao lado de Antonio Adolfo, Raul Mascarenhas, Mauro Senise, Nico Assumpção e Ricardo Silveira. Sua carreira internacional conta com shows no Japão, em quatro edições dos Encuentros Internacionales de Jazz de Radio Clasica. 
Realizou três concertos com a Orquestra Sinfônica da Universidade do Chile, tocando obras de sua autoria. Diretor musical e arranjador de Joe Vasconcellos, com quem participou do Festival Internacional de la Canción de Viña del mar, e em mais de 50 concertos no Chile, Argentina, Uruguai, Colômbia e República Dominicana. Fez as orquestrações das músicas de Luiz Avellar para o filme “Tainá 3 – A origem” e regeu a Orquestra Nacional de Praga, durante as gravações. Realizou palestras de música popular e clássica no Projeto Concertos do Nordeste.

Repertório: Wave, (Tom Jobim); Sabiá (Tom Jobim/Chico Buarque); Eu te Amo (Tom Jobim/Chico Buarque); Chovendo na Roseira (Tom Jobim); Flor do Mato (Tom Jobim); Falando de Amor (Tom Jobim); Janelas Abertas (Tom Jobim/Vinicius de Moraes); Modinha (Tom Jobim/Vinicius de Moraes); Luiza (Tom Jobim); Insensatez (Tom Jobim/Vinicius de Moraes); Corcovado (Tom Jobim); Foi a noite (Tom Jobim/Newton Mendonça); Dindi (Tom Jobim/Aloysio de Oliveira); Triste (Tom Jobim); Garota de Ipanema (Tom Jobim/Vinicius de Moraes); Chega de Saudade (Tom Jobim/Vinicius de Moraes).

07/06/2017



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ORAÇÃO - Wagner Albertsson

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ORAÇÃO
  

MEU DEUS, EM NOME DE JESUS,
OBRIGADO POR ESTE DIA
QUE RENASCE.
QUE HOJE SEJA UM DIA MARAVILHOSO
PARA MIM E PARA TODOS
QUE  ACREDITAM VERDADEIRAMENTE
EM TI, OH JEOVÁ.
QUE EU SEJA ÚTIL PARA ALGUÉM
TANTO EM PALAVRAS QUANTO EM AÇÕES.
FAÇA-ME CADA DIA
SER UMA PESSOA MELHOR
E PERDOE AS MINHAS FALHAS
E PECADOS,
POIS CONTINUO SENDO 100% CARNE
DIANTE DOS TEUS OLHOS SANTOS.  



WAGNER ALBERTSSON

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CERRADOS E CACAUAIS – Sonia Coutinho

Cerrados e Cacauais


            O ônibus freia bruscamente, parece que um animal atravessava a estrada, em meio à escuridão. Alguns passageiros acordam, estremunhados, mas Renato não tinha conseguido dormir um só instante, a mente girando um carrossel de recordações cada vez mais antigas.

            Os primeiros tempos na cidadezinha onde nasceu, quando a Segunda Guerra Mundial estava pela metade. Sua família tinha um rádio e, quando o conflito terminou, todos saíram correndo e gritando pelas ruas. A guerra, para eles, era uma coisa distante, quase inverossímil, mas, agora que tinha acabado, sentiam que uma nova era ia começar. Aquela noite, em comemoração, foram acesos muitos fogos de artifício.

            Talvez seja essa, pensando bem, imagina Renato, a única lembrança de alegria coletiva daquele período. O resto são visões sombrias, uma pequena cidade cercada de florestas, onde o índio continuava uma presença misteriosa e ameaçadora, coisa atemorizante se inserindo no cotidiano das pessoas, como se todos esperassem um ataque iminente, mas sempre adiado.

            Já menino de sete ou oito anos, quando sua família se mudou para a capital do Estado, reencontrou aquela região – a Região Cacaueira – na psicologia de todos os seus parentes. Aquele sentido trágico e fatalista da vida, resultante, segundo concluiu, da imprevisibilidade das safras, das possíveis pragas, o preço do cacau, decidido sempre em outra parte (fatores internacionais de mercado etc.), tudo  coisas completamente incontroláveis e remotas para os moradores da região. Que, às vezes, estavam bem de dinheiro só para, poucos meses depois, quase mendigarem alguma coisa para comer. Tinha chovido demais, dera a mela, a podridão parda, a safra estava inutilizada. O peso da Moira, como na mitologia grega.

            Fora isso, tudo que conseguia lembrar-se daqueles primeiros anos da sua vida eram cenas disparatadas e dispersas – a mulher-aranha de um espetáculo circense, a avó espírita que “dava passes” e “recebia o caboclo”. Além de recantos escuros, muitos recantos escuros,  uma escuridão vinda de sob as árvores de grande floresta que abrigava os cacaueiros.


(“O JOGO DE IFÁ”)

Sonia Coutinho
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Sônia Coutinho nasceu em Itabuna, em 1939, e era filha do poeta simbolista Nathan Coutinho (1911-1991). Teve 11 livros publicados e traduziu outros 3.

Seu primeiro livro, "O Herói Inútil", foi lançado em 1964, em Salvador, pela Editora Macunaíma. Romancista, contista e tradutora, Sonia ganhou duas vezes o Prêmio Jabuti de Literatura. Em 1979, com "Os Venenos de Lucrécia", e em 1999, com "Os Seios de Pandora".

Em 2006, a escritora recebeu o Prêmio Clarice Lispector, da Biblioteca Nacional, para o melhor livro de contos com "Ovelha Negra" e "Amiga Loura". Entre outros títulos da autora, destaque para "Uma Certa Felicidade", "Mil Olhos de Uma Rosa" (2001), "O Caso Alice" (1991) e "O Jogo de Ifá" (2001).

Em 1994 ganhou o título de mestre em teoria da comunicação com a tese-ensaio "Rainha do Crime — Ótica Feminina no Romance Policial”.

Faleceu  no dia 24 de agosto de 2013.

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‎ DIA DOS NAMORADOS – Oscar Benício dos Santos


Dia dos Namorados

“Romeu – Senhora, eu juro pela lua que prateia o arvoredo 

Julieta - Não jure pela lua, que é inconstante e muda todo mês...” *

  
Esses velhos namorados

também guardam o seu Dia,
embora agora casados
ou viúvos, todavia. 

Pois ainda são amados

e o amor não os sacia,
só querem ser bafejados
por ele, que os vigia. 

Santo Antônio de Lisboa,

casa a moça e a “coroa”,
sem nenhuma distinção. 

Protege a união dos casados

e torna os viúvos alados
– pra que voem à paixão!


*Shakespeare


Oscar Benicio Dos Santos

Faz. Guanabara


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