3 de novembro de 2017
Há um claro movimento, até meio desesperado, em prol de uma
alternativa de “centro” (e coloco aspas porque, no fundo, todas as opções
apresentadas até agora são de esquerda, não de centro mesmo). Esse foi o tema
do meu vídeo desta semana. O nome de Luciano Huck é o mais cotado
para ser o “Macron brasileiro”. Eis aí a prova de que esse “centro” é
totalmente de esquerda: Macron era do governo socialista de Hollande!
A revista Veja, cada vez mais esquerdista (a ponto de quase
levar à falência a CartaCapital), foi a mais escancarada nessa estratégia do
establishment nacional em busca de seu Macron. Na capa desta semana, estampou a
urgente necessidade de se encontrar o centro salvador:
Ou seja, a narrativa está dada: no extremo à esquerda, Lula,
no extremo à direita, Bolsonaro, e no centro moderado o espaço a ser preenchido
por alguém. Quem? Dória, Alckmin, Huck, Meirelles?
Fica claro que esse “centro”
tem toda pinta de esquerda.
Centro, no Brasil, é o PMDB, nosso “poder moderador”. Serve
para impedir que o Brasil vire a Venezuela, mas também para não permitir que
vire o Chile. Com instinto de sobrevivência, o PMDB colocou seu parceiro PT
para escanteio, e ensaia uma “ponte para o futuro”. É verdade que dar
“continuidade” às reformas (que não saíram do papel ainda) é crucial, como
lembra Rogério Werneck em sua coluna de hoje:
O que mais importa, no momento, é como o centro do espectro
de forças políticas deverá se apresentar na disputa presidencial. Por sorte, já
há sinais de que os principais pré-candidatos de centro perceberam, afinal, que
o mais prudente, tendo em vista o que lhes espera, à esquerda e à direita, é
unir forças e tentar construir uma ampla coalizão, multipartidária, em torno de
um deles.
Não se pode subestimar as enormes dificuldades envolvidas
nesse desafio. Mas não há como deixar de enfrentá-las. E parece a cada dia mais
claro que a única argamassa que pode dar solidez a uma coalizão tão ampla e
heterogênea — que vá de tucanos “cabeças pretas”, de um lado, à tropa de choque
de Temer, do outro — é o compromisso comum com a manutenção, no próximo mandato
presidencial, da política que vem sendo levada à frente pela equipe econômica
do atual governo. Política que Lula vem prometendo, país afora, desmantelar.
É isso que estará em jogo em 2018. E não há tempo a perder.
Respeito a opinião do meu antigo professor, mas gostaria de
trazer um contraponto. Se o objetivo é mesmo o centro moderado reformista,
então, em primeiro lugar, é preciso deixar claro que os nomes até aqui
aventados são de esquerda, não de centro. Em segundo lugar, uso o conceito de
física para me auxiliar aqui: para ter o centro como vetor resultante,
então é preciso votar na direita.
Sim, porque não vamos esquecer que a extrema-esquerda esteve
no poder pelos últimos 14 anos! O governo Temer foi uma leve guinada ao
centro. Mas depois de tanto tempo de esquerdismo radical, sem falar dos tempos
esquerdistas dos tucanos, parece evidente que o Brasil vem sendo sufocado há
tempo demais pelo excesso de esquerdismo.
Quem é realmente moderado, centrista, precisa entender o
conceito de movimento pendular. Nosso pêndulo extrapolou para a esquerda.
Logo,
para colocá-lo de volta ao centro, não basta ir de centro, menos ainda de
um “centro” claramente esquerdista. É preciso ir de direita, para que a síntese seja
mais de centro.
A França esquerdista, depois do socialista Hollande,
resolveu apostar no “centro” de Macron, um esquerdista que surgiu do nada e era
do governo do próprio Hollande. Prometeu muitas reformas.
Onde estão? Entendo o
medo com aquela turma nacionalista de Marine Le Pen, mas daí a constatar que o
“centro” realmente vai fazer diferença é uma longa distância. A França continua
mergulhada no caos esquerdista.
Já os Estados Unidos, depois de oito anos de esquerdismo
radical com Obama, não foi de “Macron”, não escolheu Marco Rubio ou Jeb Bush, e
sim Donald Trump. “Ah, ele é muito radical”, dizem os “moderados”. Mas talvez
seja justamente o remédio amargo necessário para regressar com o pêndulo ao
centro, já que o Partido Democrata se radicalizou demais à esquerda. O país
precisava de alguém que enfrentasse esse establishment e essa hegemonia
“progressista”.
Portanto, não compartilho desse medo todo da direita, como a
turma “moderada” que busca desesperadamente um Macron tupiniquim. E busca nos
locais errados. Um apresentador da Globo que era simpático até com petistas e
que quer mais “igualdade”?
Um ex-conselheiro da J&S, do grupo JBS? Um tucano
sem coragem de comprar briga com petistas? São essas as soluções para o Brasil,
para desintoxicar a máquina estatal do esquerdismo petista?
“A melhor prova do colapso de um movimento intelectual é o
dia em que ele não tem nada mais a oferecer como um ideal último além da
demanda por moderação”, disse Ayn Rand. “Extremismo na defesa da liberdade
não é um vício; moderação na busca por justiça não é uma virtude”, disse Barry
Goldwater, o senador que foi candidato a presidente em 1964 e abriu o caminho
mais liberal-conservador para Reagan depois.
Não é preciso concordar com eles. Não é preciso ser um
radical para defender a direita. Mesmo uma pessoa moderada, de centro, pode
compreender que, para obter seu resultado desejado mais ao centro, há momentos
em que é preciso forçar a barra para o outro lado, especialmente
depois que ela foi toda envergada para a esquerda. Edmund Burke era um liberal
Whig bem moderado, que se tornou o “pai do conservadorismo” ao ver a
radicalização dos jacobinos.
No Brasil de hoje, não há nada de errado, é perfeitamente
lógico, alguém gritar: “Voto na direita, mesmo na direita mais radical, porque
sou um moderado de centro!” Conheço várias pessoas com esse perfil, que em
condições normais de temperatura e pressão jamais cogitariam votar num
candidato com perfil mais radical, mas que estão dispostos a abrir uma exceção,
pois a alternativa não é o centro, mas a permanência no esquerdismo destrutivo,
que já foi longe demais em nosso país.
Rodrigo Constantino
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Economista pela PUC com MBA de Finanças pelo IBMEC,
trabalhou por vários anos no mercado financeiro. É autor de vários livros,
entre eles o best-seller “Esquerda Caviar” e a coletânea “Contra a maré
vermelha”. Contribuiu para veículos como Veja.com, jornal O Globo e Gazeta do
Povo. Preside o Conselho Deliberativo do Instituto Liberal.
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