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segunda-feira, 18 de dezembro de 2017

ITABUNA – Gabriel Nascif

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ITABUNA


MINHA ITABUNA,
cidade recém-nascida
dos conflitos coronelísticos
e das brigas pelas arrobas
de cacau...

MINHA ITABUNA,
tu és como uma criança
de olhar silencioso,
crescendo despercebida
com esse teu aroma
cacauicultado,
varrendo
a solidão
do RIO CACHOEIRA.

MINHA ITABUNA,
lâmpada do Sul do Estado
que irradia um fogo como fogazal
em forma geométrica
para ILHÉUS e ITAJUÍPE
que têm o mesmo metabolismo,
o  mesmo cacau, o mesmo pau d’arco,
o mesmo vinhático, um pouco
de seringa cristalina e, ainda,
a eternidade dos versos
de Firmino Rocha. 
Gabriel Nascif
                 (O SOPRO DO CACHOEIRA) 
---

Telmo Padilha, autor de Girassol do
espanto, Ementário, Onde tombam os
pássaros, Pássaro/Noite, Canto rouco,
Voo absoluto e Poesia moderna da
região do cacau, assim se expressou
sobre este livro de Gabriel Nascif
Souza:
         
Gabriel Nascif  não é mais um poeta que surge na Região do Cacau, mas um que vem para ficar e que por certo ficará. Ficará porque possui aquelas qualidades que indicam o verdadeiro poeta, o que tem um recado a dar e sabe como fazê-lo. O SOPRO DO CACHOEIRA, que li nos originais, marca sua estreia em livro.

TELMO PADILHA

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O BRASIL CARCARÁ - Péricles Capanema

18 de dezembro de 2017
Péricles Capanema

Procurava subsídios para artigo e encontrei aos montes o que não esperava. Foi assim. Em vez de fixar a atenção apenas nas colaborações para os sites políticos das mais variadas orientações, voltei-a para a seção de comentários. Deparei-me com o horror. Mares de opiniões pavorosas pela irreflexão, superficialidade, insciência, despropósito, primarismo e boçalidade; aqui e ali, pérolas nos brejos, observações inteligentes.

Aproveitei o embalo e, para verificar se o fenômeno era generalizado, fui espiar por alto repercussões em sites de futebol, mundo do espetáculo e algo mais. Mesma coisa. Propositadamente deixo de lado o enorme monturo da linguagem chula e dos palavrões. Não recomendo a peregrinação deprimente.

Lembrei-me quase automaticamente de desabusadas e já antigas ponderações de Nelson Rodrigues: “Antes, o silêncio era dos imbecis, hoje são os melhores que emudecem. Até o século 19 o idiota era apenas o idiota e como tal se comportava. E o primeiro a saber-se idiota era o próprio idiota. Não tinha ilusões. Aquele sujeito que antes limitava-se a babar na gravata passou a existir socialmente, economicamente, politicamente, culturalmente. Houve, em toda parte, a explosão triunfal dos idiotas. Outrora, os melhores pensavam pelos idiotas, hoje, os idiotas pensam pelos melhores”.

A lógica empurra o jornalista para a conclusão: “O grande acontecimento do século [20] foi a ascensão espantosa e fulminante do idiota”. Existiriam aos milhares, mas não vou memorar casos engraçados, nem piadas sobre a idiotice. Bastaria empilhar trechos dos improvisos, qualquer deles, da ex-presidente Dilma Rousseff para provar pela evidência como andava certo Nelson Rodrigues.

Um só, em Nova York. Ali, logo depois do discurso inaugural da assembleia da ONU, feito pelo Brasil, achando que dava o grande, disparando conselhos, procurando impressionar públicos de outros países, assim se saiu a nossa então Presidente: “Até agora, até agora, a energia hidroelétrica é a mais barata. Em termos que ela dura, da sua manutenção e também pelo fato da água ser gratuita. E da gente podê estocá. O vento podia ser isso tamém, mais ocê num conseguiu ainda tecnologia pa estocá vento. Então, se a contribuição dos outros países, vamos supor que seja desenvolver uma tecnologia que seja capaz de na eólica estocá, ter uma forma docê estocá, porque o vento, ele é diferente em horas do dia. Então vamos supor que vente mais à noite, cumé que eu faria para estocá isso? Hoje, nós usamos as linhas de transmissão, cê joga de lá pra cá, de lá pra lá pra podê capturá isso”.

A nossa Presidente, em golpe de genialidade, na exposição solicitava aos outros países que desenvolvessem tecnologia para estocar vento.

Repito, não é exceção, é apenas exemplo delirante (nada no trecho tem pé nem cabeça) de fenômeno generalizado. Disparates desse nível intelectual se encontram aos milhões em comentários na rede sobre os mais diversos temas. De fato, lá tem coisa pior. De irmãos nossos, brasileiros, enfim, e até de boa orientação. E, como a ex-presidente, arrogantes, pretensiosos e autoconfiantes.

Assim, não convido para rir, o riso seria — de novo Nelson — o disfarce de mágoa incurável, são retratos de nossa decadência. “Assim é o brasileiro, tem sempre uma piada fulminante, não temos dinheiro, mas temos a anedota”, outra observação do escritor recifense.

Tudo isso está muito entranhado no Brasil, arrancar tais raízes demanda décadas (com otimismo). E será nesse ambiente que se darão as eleições de 2018. Então, com realismo, temos de nos preparar para o pior, fazendo tudo ao nosso alcance para que tal não ocorra.

Só outros hábitos nos tirariam do buraco. Lembro alguns. Observação minuciosa, paciente e aplicada da realidade. E depois, com base no material trabalhado e nas leituras, refletir com humildade, despretensão, serenidade. Opinar? Sim e muito. Mas tão-somente quando tiver alguma coisa de realmente útil para o enriquecimento do debate, mesmo os domésticos. Já seria um começo.

A generalizada atmosfera de excitação, caldo de cultura para opiniões definitivas e bestas, traz logo após o abatimento e a desorientação. Daí escorrega para o irrealismo, a subserviência a clichês ocos e o desastre. Fracasso não só pessoal, já seria lamentável, mas do Brasil. Em especial vale para os jovens, e lá vou eu atrás de outro dito do grande dramaturgo:

“Se o homem de uma maneira geral tem vocação para a escravidão, o jovem tem uma vocação ainda maior. O jovem, justamente por ser mais agressivo e ter uma potencialidade mais generosa é muito suscetível ao totalitarismo. A vocação do jovem para o totalitarismo, para a intolerância, é enorme. Eu recomendo aos jovens, envelheçam depressa.”

Enquanto lia a seção dos leitores de vários sites, irritantemente me voltava à memória o refrão de conhecida música “Carcará, pega, mata e come”. Magro, feioso e voraz, um solidéu de penas pretas na cabeça, o pássaro carniceiro só sabe pegar, matar e devorar. Na paisagem sáfara, lá fica ele no alto, indiferente a tudo, menos às presas. Desce rápido e as estraçalha. Pousa então em galhos das árvores, cabeça alta, bicão tosco levantado. Logo depois volta a fazer o mesmo. É sua existência, bom símbolo de cegueira para a realidade, pensamento mínimo e arrogância.

Termino com bonito, quase tocante, trecho de Nelson Rodrigues: “O ser humano é um caso perdido. E falo isto com a mágoa de quem queria ser um santo. O único ideal que eu teria na vida, se fosse possível realizá-lo, era ser um santo. Eu queria ser um sujeito bom. A única coisa que eu admiro é o bom, fora disto não admiro mais nada”. Programa para cada um, para o Brasil, apropriado especialmente para dias do Natal.



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SINTOMAS DE PSICOSE – J.R. Guzzo

Quanto mais afunda, mais o ex-presidente Lula fica bravo. Pior para todos
Por J.R. Guzzo
Publicado em 18 dez 2017 
O ex-presidente Lula durante discurso após depoimento ao juiz Sérgio Moro, em Curitiba (Vagner Rosário/VEJA.com)

O ex-presidente Lula vai acabando mal este 2017, o ano em que foi condenado a nove anos e meio de cadeia por corrupção e, com isso, sofreu o pior desastre de toda a sua carreira política. A imagem que deixa aos olhos de todos é a de um rosto irado, chamando o Brasil para a briga a cada vez que abre a boca, numa gritaria permanente contra as leis do país, insultos ao sistema de justiça que o deixou nu e ameaças de se vingar de todos os inimigos imaginários que cria, o tempo todo, para explicar a si mesmo por que despencou de tão alto para tão baixo. Nunca lhe passa ela cabeça que o seu principal inimigo foi ele mesmo, e que seu engano fatal foi deixar-se cegar pela soberba – tomou, sozinho, todas as decisões políticas que arrasaram a sua vida e decidiu, também sozinho, que era um ser divino incapaz de errar.

Lula chegou, agora, a essa caricatura que todo mundo está podendo ver: uma espécie de Mussolini meia-boca, que deixaram solto depois que caiu do governo, tentando chamar de volta as multidões para transformá-lo de novo num homem poderoso e dar-lhe a posição de condutor vitalício do povo brasileiro. Mas a sua demagogia está aguada, muito distante da flama manejada com tanta destreza pelo modelo original. É um Mussolini sem as promessas de um grande futuro e sem a massa lotando as praças. O que diz já foi dito, o que promete é incompreensível (se vai fazer, porque já não fez nos quase catorze anos em que mandou no país?), e a sua praça só tem as camisetas com o vermelho cansado do PT. Virou, pelo visto em suas últimas aparições, um beato que continua anunciando o fim do mundo, ficou repetitivo e está em mau estado de conservação.

Toda a aposta de Lula e seu partido, hoje, se resume numa coisa só: uma virada de mesa, feita pelos poderosos que tanto criticam e com os quais se entendem tão bem, que lhe forneça algum tipo de anistia e lhe permita esconder-se num “foro privilegiado” qualquer. A partir daí, é contar com os institutos de pesquisa e jogar na chance de que a ignorância, a inconsciência e a desinformação continuem influindo nas decisões da maioria do eleitorado. Aí vai valer tudo. As mentiras que Lula tem usado, e que já estão num nível próximo à alucinação, prometem deixar para trás, a cada dia que passar, qualquer volume já anotado na história política do Brasil. Talvez já nem possam mais ser descritas como mentiras. Lula, ultimamente, parece estar regredindo ao “padrão Dilma” de discurso público, no qual é inútil a tentativa de entender alguma coisa – o que se diz simplesmente não tem pé nem cabeça.

Lula passa de 2017 para 2018 como uma ruína. Ninguém entre os 100% de puxa-sacos que o cercam lhe diz isso, é claro. Ele próprio, por sua conta, obviamente nunca tentará se informar.

 Em situações assim, é comum os psiquiatras começarem a notar sintomas de psicose. Mas aí quem paga a conta, sempre, é a população em geral – que terá nas costas, durante pelo menos mais um ano inteiro, um líder neurótico e seu partido fazendo tudo o que podem para prejudicar o país. É a única maneira que veem para sobreviver – e quem sabe, como diz o filósofo paulista Luís Felipe Pondé, criar um dia por aqui a sua “Ditadura dos Ofendidos”.


J.R. GUZZO


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