Meu companheiro do jornal O Imparcial e meu
professor na Faculdade de Direito, Fernando Perdigão, grande talento e
advogado, disse-me um dia que envelhecer era chegar ao cemitério, percorrer as
alamedas, ler as lápides e verificar que quase todos os nomes que ali repousam
foram contemporâneos, amigos ou conhecidos na paisagem da cidade.
Jorge Amado disse-me que, ao encontrar-se com Pablo Neruda,
futuro Prêmio Nobel de Literatura, seu amigo do tempo de exílio, começou a
perguntar por amigos da vida inteira e ouviu como resposta: “Jorge, não me perguntes
por ninguém. Todos já morreram.”
Este é um dos desgostos de envelhecer: o sofrimento da perda
dos amigos, pesando mais aqueles que nos foram mais próximos, de maior
convivência. E eu disse, num dos 122 livros que escrevi, que “a palavra
felicidade tem como sinônimo a infância”, quando começam as grandes amizades,
que são a melhor coisa da vida. Dentro dela estão o amor, a ternura, a estima,
a solidariedade, o gosto da convivência, o perdão e a fé. Daí o provérbio
universal “quem tem um amigo tem duas almas”.
Estou na fase dolorosa e sofrida de constantemente sentir
escorrerem lágrimas e chorar com a garganta pela perda de velhos amigos.
Foi com a alma em frangalhos que acompanhei a morte de
Kleber Moreira. Só um ano a mais me separava dele, mas me amarravam a irmandade
da alma desde os tempos do ginasial, passando pela política estudantil, pelas
rusgas afetuosas que só faziam consolidar esse relacionamento. Gostava de
contar histórias e conhecia como ninguém as pessoas e a vida cotidiana do Maranhão.
Ultimamente vivíamos horas e horas revisando histórias passadas.
As marcas maiores de sua personalidade eram o seu caráter, a
sua correção, a sua franqueza, a sua obsessão pela precisão dos detalhes e pela
integridade dos episódios.
Culto, estudioso, detalhista, conhecia como ninguém a
ciência do direito, a jurisprudência e a missão do advogado. Não conhecia o
lado da exaltação nem o da chicana. Seguia os ensinamentos de Rui Barbosa sobre
a conduta profissional: “Não fazer da banca balcão ou da ciência mercatura. Não
ser baixo com os grandes, nem arrogante com os miseráveis.” Ganhou prestígio,
respeito de sua classe, reverência da sociedade e era considerado um dos
grandes advogados do Brasil.
Junto em minha dor a da perda de tantos outros amigos,
Milson Coutinho, grande historiador, extraordinária figura humana; Sálvio Dino,
companheiro de tantas lutas; José Maria Cabral Marques, um dos maiores
educadores do Maranhão, meu colaborador e construtor da equipe do Maranhão
Novo; e Waldemiro Viana, intelectual consagrado, confrade ilustre e filho do
grande poeta Fernando Viana.
A todas as famílias a minha solidariedade neste momento de
tristeza.
E que Kleber Moreira leve para a eternidade a certeza de
minha eterna saudade e da falta que ele vai fazer com sua sabedoria, seus
conselhos e seus exemplos. Com tantos talentos perdidos o Maranhão está menor,
deixando no mármore da imortalidade aqueles que constroem nossa glória
extraordinária figura humana; Sálvio Dino, companheiro de tantas lutas; José
Maria Cabral Marques, um dos maiores educadores do Maranhão, meu colaborador e
construtor da equipe do Maranhão Novo; e Waldemiro Viana, intelectual
consagrado, confrade ilustre e filho do grande poeta Fernando Viana.
José Sarney - Sexto ocupante da Cadeira nº 38 da ABL, eleito
em 17 de julho de 1980, na sucessão de José Américo de Almeida e recebido em 6
de novembro de 1980 pelo Acadêmico Josué Montello. Recebeu os Acadêmicos Marcos
Vinicios Vilaça e Affonso Arinos de Mello Franco.
Para esta pandemia, há uma probabilidade maior de
sobrevivência para aqueles que serão infectados 5 meses depois, como em agosto
de 2020, do que para aqueles que foram infectados 5 meses antes, digamos em
fevereiro de 2020.
A razão para isso é que médicos e cientistas sabem
muito mais sobre COVID-19 agora do que 5 meses atrás e, portanto, são capazes
de tratar melhor os pacientes.
Vou listar 5 aspectos importantes que sabemos agora e
que não conhecíamos em fevereiro de 2020:
1. O COVID-19 foi inicialmente pensado
como causador de mortes por pneumonia - uma infecção pulmonar - e assim
os ventiladores foram considerados a melhor maneira de tratar pacientes doentes
que não podiam respirar.
Agora sabemos que o vírus causa coágulos sanguíneos
nos vasos sanguíneos dos pulmões e outras partes do corpo, o que provoca
oxigenação reduzida.
Agora sabemos que simplesmente fornecer oxigênio por
meio de ventiladores não vai ajudar, mas temos que prevenir e dissolver micro
coágulos nos pulmões.
É por isso que estamos usando medicamentos como Aspirina e Heparina (anticoagulantes) como um protocolo
nos regimes de tratamento a partir de julho de 2020.
2. Anteriormente, os pacientes caíam mortos na rua ou
mesmo antes de chegarem ao hospital devido a redução do oxigênio no sangue -
SATURAÇÃO DE OXIGÊNIO.
Isso aconteceu pelo que é conhecido como HAPPY
HYPOXIA, onde embora a saturação de oxigênio fosse gradualmente reduzida, os
pacientes com COVID-19 não apresentavam sintomas até que estivessem
criticamente reduzidos, como às vezes em até 70%.
Geralmente ficamos sem fôlego se a saturação de
oxigênio cair abaixo de 90%..
Essa falta de ar não é desencadeada em pacientes COVID
e é por isso que trouxemos pacientes doentes aos hospitais no final de
fevereiro de 2020.
Agora, sabendo o sintoma da Covid-19 que é a hipóxia
feliz ou hipóxia silenciosa, recomendamos monitorar a saturação de oxigênio das
pessoas, com um oxímetro de pulso simples para uso doméstico e levá-las ao
hospital se a saturação de oxigênio cair para 93% ou Menos. Isso
está dando aos médicos mais tempo para corrigir a deficiência de oxigênio no
sangue e uma melhor chance de sobrevivência agora em agosto de 2020.
3. Não tínhamos medicamentos para combater o
coronavírus em fevereiro de 2020. Tratamos apenas complicações causadas por
hipóxia. Portanto, a maioria dos pacientes ficou seriamente infectada.
Agora temos 2 medicamentos importantes FAVIPIRAVIR E
REMDESIVIR , que são ANTIVIRAIS que podem matar o coronavírus.
Usando esses dois medicamentos, podemos evitar que os
pacientes se infectem seriamente e, portanto, curá-los ANTES DE IR PARA
HIPÓXIA. Tivemos esse conhecimento em agosto de 2020 ... não em fevereiro
de 2020.
4. Muitos pacientes com COVID-19 morrem não apenas por
causa do vírus, mas também pela resposta do próprio sistema imunológico dos
pacientes, de uma forma exagerada chamada de TEMPESTADE DE CITOCINA. Essa
violenta tempestade da resposta imunológica não apenas mata o vírus, mas também
mata pacientes. Em fevereiro de 2020 não sabíamos como evitar que isso
acontecesse. Agora, em agosto de 2020, sabemos que os medicamentos
facilmente disponíveis chamados esteroides, que médicos em todo o mundo vêm
usando há quase 80 anos, podem ser usados para prevenir a tempestade de
citocinas em alguns pacientes.
5. Agora também sabemos que as pessoas com hipóxia
melhoram apenas fazendo com que deitem de bruços, o que é conhecido como
posição prona. Além disso, alguns dias atrás, cientistas israelenses
descobriram que uma substância química conhecida como Alpha Defensin, produzida
pelos glóbulos brancos, pode causar micro coágulos nos vasos sanguíneos dos
pulmões e isso poderia ser prevenido por um medicamento chamado
Colchicina, usado por muitas décadas no tratamento da gota.
Portanto, agora sabemos, com certeza, que os pacientes
têm uma chance melhor de sobreviver à infecção por COVID-19 em agosto de 2020
do que em fevereiro de 2020.
Continue tomando precauções.
Saia apenas para o essencial!
Não há festa, chá de bebê ou formatura do jardim de
infância essencial!
Vamos parar de ser superficiais!
É melhor estar infectado daqui a mais 6 meses do que
agora. Vamos dar tempo à ciência para nos ajudar e aos sistemas de saúde a
descongestionar!
Atualmente também é necessário analisar a Saturação
Hospitalar e o desgaste físico e mental do Pessoal de Saúde
(Informações do bate-papo de especialistas do
COVID-19) Dr. Román Barroso.
Lembrar:
1. O SARS COV2 só pode entrar em seu corpo e
infectá-lo através das membranas mucosas de seus OLHOS e do TRATO RESPIRATÓRIO
2. O SARS COV2 NÃO penetra pela pele.
Andar por aí com roupas de biossegurança e LUVAS é
ABSURDO!
(exceto se você trabalhar na unidade de pacientes
críticos do hospital)
3. SARS COV2 tem um tamanho de efeito aerodinâmico
minúsculo, NÃO SE AGARRA nas roupas.
Teríamos que nos mover em alta velocidade para que
isso acontecesse.
4. O SARS COV2 não infecta veículos, nem seus
pneus. Ninguém inala ou lambe os pneus de um carro ou a estrutura
externa.
NÃO FAZ SENTIDO PULVERIZAR DESINFETANTE em veículos!
5. No chão e na rua pode ter coronavírus sim. Mas se,
nos nossos sapatos eles grudarem e se, também, forem em quantidade suficiente
para infectar, (teoricamente se lambermos a sola dos nossos sapatos) será
EXTREMAMENTE MELHOR.
6. Os túneis de desinfecção são
perigosos. Nenhum desinfetante projetado para superfícies inertes deve
ser usado na pele humana
7. Muito importante:
SIM Faz sentido usar máscara (para evitar espirar,
tossir partículas com o coronavírus).
SIM Faz sentido lavar muito bem as mãos constantemente
e usar álcool gel.
SIM Faz sentido manter distância entre as pessoas.
— PROCLAMAÇÃO do Evangelho de Jesus Cristo + segundo
Mateus.
— Glória a vós, Senhor!
Naquele tempo, Jesus começou a mostrar a seus
discípulos que devia ir a Jerusalém e sofrer muito da parte dos anciãos, dos
sumos sacerdotes e dos mestres da Lei, e que devia ser morto e ressuscitar no
terceiro dia. Então Pedro tomou Jesus à parte e começou a repreendê-lo,
dizendo: “Deus não permita tal coisa, Senhor! Que isso nunca te aconteça!”
Jesus, porém, voltou-se para Pedro e disse: “Vai para
longe, Satanás! Tu és para mim uma pedra de tropeço, porque não pensas as
coisas de Deus, mas sim as coisas dos homens!”
Então Jesus disse aos discípulos: “Se alguém quer me
seguir, renuncie a si mesmo, tome a sua cruz e me siga. Pois, quem
quiser salvar a sua vida vai perdê-la; e quem perder a sua vida por causa de
mim, vai encontrá-la. De fato, que adianta ao homem ganhar o mundo
inteiro, mas perder a sua vida? O que poderá alguém dar em troca de sua
vida? Porque o Filho do Homem virá na glória do seu Pai, com os seus
anjos, e então retribuirá a cada um de acordo com sua conduta”.
“O que poderá alguém dar em troca de sua vida?” (Mt
16,26)
O evangelho deste domingo é continuação daquele do domingo
passado; também hoje, Jesus e seus discípulos se encontram em Cesareia de
Filipe, fora do território da Palestina. O que Mateus relata da boca de Jesus,
nem sequer é aceitável para os seus seguidores. Jesus tinha acabado de
felicitar a Pedro por expressar pensamentos divinos. Agora o critica duramente
por pensar como os homens. A diferença é enorme e só umas linhas de distância,
no mesmo evangelho.
Como Pedro, também nós, seguidores(as) de Jesus, ficamos
escandalizados com a cruz. Nenhum de nós teria escolhido para Jesus
esse caminho. Onde fica a imagem do Messias vitorioso, Senhor ou Filho de Deus?
Apesar das palavras de Pedro, no domingo passado, sua
atitude diante do anúncio da paixão e morte de Jesus demonstra que, nem ele e
nem os outros discípulos, entenderam o que significava a pessoa e a missão do
Mestre de Nazaré. Queriam segui-lo, mas sem as consequências do seguimento.
Para compreender Jesus, é preciso deixar de pensar como os
homens e começar a pensar como Deus; é deixar de ajustar-nos a este mundo e
entrar em sintonia com o modo original de ser e de viver do próprio Jesus; é
transformar-nos pela renovação da mente e abertura do coração. Para
aceitar a mensagem de Jesus, temos de mudar radicalmente nossa imagem de
Deus.
Quê significado tem para nós, hoje, a morte de Jesus na
Cruz? Não é fácil entrar na dinâmica da Cruz. Mas, por outra parte, é
impossível compreender a mensagem de Jesus sem compreender a Cruz. Ela é
expressão de uma vida doada; por isso se converteu no “sinal chave de nosso
seguimento”.
A vida é constantemente chamada a ser Páscoa.
Porque, só na vitória da vida entregue, ela ganha sentido, avança,
como uma torrente que rega terras secas, ávidas de água, como um fogo que, na noite
mais escura, traz uma luz que permite vislumbrar a vida oculta.
A vida é movimento e, portanto, energia expansiva.
Podemos consumi-la em benefício do ego (falso eu) e então vem o fracasso.
Podemos re-orientá-la em benefício dos outros e da causa do Reino; e então,
consumá-la, dando-lhe plenitude. Pois, só uma vida consumada faz fecunda a
morte.
Alguém já teve a ousadia de afirmar que a morte é
mais universal que a vida; todos morrem, mas nem todos sabem viver, porque
incapazes de re-inventar a vida no seu cotidiano. Por isso, viver é uma arte; é
necessário re-criar a vida no dia-a-dia, carregá-la de sentido.
A morte do falso eu é a condição para que a
verdadeira vida se libere. O “depois da vida” é um grande encontro onde
seremos perguntados: “o quanto você viveu sua vida?”
De fato, aqueles que mais desfrutam da vida são os que
deixam a segurança do conhecido e se dedicam apaixonadamente à missão de
comunicar vida aos outros. Ter apego à própria vida é destruir-se; entregar a
vida por amor não é frustrá-la, mas levá-la à sua completude. Aqui há uma
inversão na lógica natural das coisas; ganha-se quando perde, vive-se quando
morre, multiplica-se quando divide.
Estranhas atitudes estas que Jesus propõe, tão contrárias em
uma cultura como a nossa que nos apresenta a apropriação e a acumulação como
meta da existência. Ele, imperturbável, apresenta sua alternativa: perder,
vender, dar, deixar, não armazenar, não reter avidamente, desapropriar-se,
esvaziar-se, partilhar...
Perder-ganhar, morrer-viver, entregar-reter,
doar-receber..., parecem dimensões ou realidades contraditórias, mas captar a
profundidade da verdade contida nesta “contradição aparente” é descobrir o
Evangelho.
“Morrer”, “perder”, “entregar”, “renunciar”... é este
instante de ruptura, onde toda uma vida incubada, trabalhada no
silêncio e no sofrimento, marcada de alegrias e tristezas, vitórias e
fracassos, desponta luminosa para a vida eterna. Pois vida é um
contínuo despedir-se e partir; ela nos desaloja de nossos “lugares estreitos” e
nos faz caminhar em direção a novos horizontes.
A vida aumenta quando compartilha e se atrofia quando
permanece no isolamento e na comodidade.
A morte do falso eu é a condição para que a verdadeira Vida
se liberte. É preciso passar pela morte do que é terreno, caduco, transitório
(aderências afetivas, apegos desordenados...) para deixar emergir a vida
interior, a vida divina, a vida de Deus em nós.
O essencial não é encontrar um caminho para alcançar a
imortalidade, mas aprender a “morrer em Cristo”.
Como Jesus encarou a Cruz? Ele não buscou a cruz pela
cruz. Buscou a fidelidade à sua missão que consistia em evitar a proliferação
de cruzes, para si mesmo e para os outros. Pregou e viveu o amor e revelou as
condições necessárias para que esse amor se tornasse realidade nas relações
entre as pessoas.
Jesus anunciou a boa nova da Vida e do Amor e se entregou
por ela. Quem ama e serve não cria cruzes para os outros; é o egocentrismo
e a maldade que geram cruzes.
A realidade, dividida e conflituosa, se fechou à proposta de
Vida apresentada por Jesus, impondo-lhe cruzes em seu caminho e finalmente O
levantou no madeiro da Cruz.
Nela mesma, a cruz é aquilo que limita a vida (as cruzes da
vida), que nos faz sofrer e dificulta nosso caminhar, por causa da má vontade
humana (carregar a cruz de cada dia); ela é a corporificação do ódio, da
violência e da exclusão humana. Mas Jesus continuou amando, apesar do ódio;
continuou investindo sua vida a serviço da vida, apesar da cultura de morte na
qual se encontrava. Assumiu a cruz em sinal de fidelidade para com o Pai e para
com os seres humanos. Por isso, na vida de Jesus a Cruz é salvífica.
Nesse sentido, a cruz de Jesus não é um “peso
morto”; ela tem sentido porque é conseqüência de uma opção radical em favor do
Reino. A Cruz não significa passividade e resignação; ela nasce de
sua vida plena e transbordante; ela resume, concentra, radicaliza,
condensa o significado de uma vida vivida por Jesus na fidelidade ao
Pai. que quer que todos vivam intensamente.
“Renunciar a si mesmo” e “carregar a sua
cruz”, é entrar em sintonia e comunhão com Jesus, assumindo, com seu mesmo
espírito, os sofrimentos que se seguem a uma adesão concreta e responsável à
sua pessoa e à sua causa. É este seguimento fiel que nos introduz na
cruz genuína d’Aquele que foi fiel até o fim.
A partir desta atitude de seguimento precisamos entender
esse “renunciar a si mesmo” que Jesus pede ao discípulo. “Renunciar
a si mesmo” não significa mortificar-se, castigar-se a si mesmo e, menos
ainda, anular-se ou autodestruir-se. Nunca se deve confundir a cruz com
atuações masoquistas, nunca alimentadas por Jesus. “Renunciar a si mesmo” é
descentrar-se, sair de seus próprios interesses, para fixar a existência na
pessoa de Jesus, a quem deseja seguir. É libertar-se de si mesmo para aderir
radicalmente a Ele.
A mortificação tem um lugar importante na vida de quem segue
a Jesus. Não qualquer mortificação, mas aquela que vai libertando a pessoa de
seu egocentrismo, de sua comodidade ou de sua covardia para seguir mais
fielmente a Ele. Buscar sofrimento para “agradar a Deus” não tem sentido; é
tortura inútil, que alimenta nosso “ego” e nos afunda numa espiritualidade
doentia.
A cruz tem sentido quando é consequência de uma
opção autêntica de vida em favor da vida: por exemplo, quando sofremos por
levar adiante uma causa justa, por defender as pessoas que são vítimas das
estruturas sociais, políticas e econômicas injustas, por as-sumir a
radicalidade na vivência do amor, lutando contra toda expressão de ódio,
preconceito, intolerância..., por evitar o mal e denunciar uma injustiça, etc.
A cruz salva quando aponta para a vida.
Texto bíblico: Mt 16,21-27
Na oração: - “Fazer memória” de tantas mulheres
e homens que se associaram à Cruz de Jesus, na solidariedade com os
pobres, na fidelidade à vida evangélica, na descida aos porões das contradições
sociais e políticas, às realidades inóspitas, aos ter-renos contaminados e
difíceis, às periferias insalubres, onde os excluídos deste mundo lutam por
sobreviver. Ali se encontraram com o Crucificado, o “Justo e Santo”, identificado
com os crucificados da história.
- Recordar as cruzes que apareceram na sua vida por causa da
fidelidade ao Evangelho.
“Vós
trabalhais para acompanhar o ritmo da terra. E da alma da terra.
Porque ser
indolente é tornar-se um estranho às estações e afastar-se do cortejo da vida,
que avança com majestade e orgulhosa submissão rumo ao infinito.
Quando trabalhais, sois uma flauta
através da qual o murmúrio das horas se transforma em melodia.
Quem de
vós aceitaria ser um caniço mudo e surdo quando tudo o mais canta em uníssono?
Sempre vos
disseram que o trabalho é uma maldição: e o labor, uma desgraça.
Mas eu vos
digo que, quando trabalhais, realizais parte do sonho mais longínquo da terra,
desempenhando assim uma missão que vos foi designada quando esse sonho nasceu.
E,
apegando-vos ao trabalho, estais na verdade amando a vida. E quem ama a vida
através do trabalho, partilha do segredo mais íntimo da vida.
Mas se, em
vossas dores, chamais o nascimento uma aflição e a necessidade de suportar a
carne, uma maldição inscrita na vossa fronte, então eu vos direi que só o suor da
vossa fronte lavará esse estigma.
Disseram-vos que a vida é escuridão; e no vosso cansaço, repetis o que
os cansados vos disseram.
E eu vos
digo que a vida é realmente escuridão, exceto quando há um impulso.
E todo
impulso é cego, exceto quando há saber.
E todo
saber é vão, exceto quando há trabalho.
E todo
trabalho é vazio, exceto quando há amor.
E quando
trabalhais com amor, vós vos unis a vós próprios e uns aos outros e a Deus.
E que é
trabalhar com amor?
É tecer o
tecido com fios desfiados de vosso próprio coração, como se vosso bem-amado
tivesse que usar esse tecido.
É
construir uma casa com afeição, como se vosso bem-amado tivesse que habitar
essa casa.
É semear
as sementes com ternura e recolher a colheita com alegria, como se vosso
bem-amado fosse comer-lhe os frutos.
É por em
todas as coisas que fazeis um sopro de vossa alma.
E saber que todos os abençoados mortos
vos rodeiam e vos observam.
Muitas
vezes ouvi-vos dizer como se estivésseis falando em sonho: “Aquele que trabalha
no mármore e encontra na pedra a forma de sua alma, é mais nobre do que aquele
que lavra a terra.
E aquele
que agarra o arco-íris e o estende na tela em formas humanas, é superior àquele
que confecciona sandálias para os nossos pés”.
Porém eu
vos digo, não em sono, mas no pleno despertar do meio-dia, que o vento não fala
com maior doçura aos carvalhos gigantes do que à menor das folhas de relva;
E grande
é somente aquele que transforma o ulular do vento numa canção tornada mais
suave pelo seu próprio amor.
O trabalho
é o amor feito visível.
E se não
podeis trabalhar com amor, mas somente com desgosto, melhor seria que
abandonásseis vosso trabalho e vos sentásseis à porta do templo a solicitar
esmolas daqueles que trabalham com alegria.
Pois se
cozerdes o pão com indiferença, cozereis um pão amargo, que satisfaz somente à
metade da fome do homem.
E se
espremerdes a uva de má vontade, vossa má vontade se destilará no vinho como
veneno.
E ainda
que canteis como os anjos, se não tiverdes amor ao canto, tapais o ouvido do
homem às vozes do dia e às vozes da noite.”
(O PROFETA)
Gibran Khalil Gibran
.......................
NÃO O HEROÍSMO, MAS A GRANDEZA
Para além
do pensamento e da forma, O Profeta seduz pela filosofia da vida nele contida.
Gibran não era propriamente um filósofo, mas um pensador e um sábio: era um
guia espiritual que ambicionava definir um ideal de vida para si mesmo e para
todos os homens.
O ideal
que propõe em O Profeta é tanto prático como espiritual: convence e exalta ao
mesmo passo. Porque, baseado nas atividades mais comuns da existência, dá a
essas atividades um sentido que as transfigura. Casamento, conversação,
trabalho, prazer, amor, comprar e vender, beber e comer, todas as nossas
atividades são aceitas e aprovadas; mas, ao mesmo tempo, embelezadas e
elevadas. Gibran não nos propõe o heroísmo, mas a grandeza. Não nos convida a
renunciar à vida, mas a sermos dignos dela. Não procura fazer de nós
super-homens, mas homens completos.
E como
todos nós amamos a elevação, mas recuamos perante o heroísmo, sentimo-nos
irresistivelmente atraídos por um ideal que põe a elevação ao nosso alcance –
embora nem sempre façamos o esforço necessário para alcançá-la.
Esta
capacidade de conciliar assim o ideal e a realidade, deve-a Gibran ao fato de
ter sido um sábio e um místico que viveu em Beirute, Boston, Paris, Nova
Iorque, e não numa cela isolada de alguma montanha inacessível. Frequentou os
homens e conhece suas limitações. E procura guiá-los rumo a um mundo superior,
porém não diferente, ao contrário do místico hindu, por exemplo, que, quando
prega o nirvana, nos fala de algo que não podemos experimentar sem o treino de
longos anos.
Era sol.
Todos os sentimentos se preparavam para a grande corrida.
A ansiedade
chegou primeiro. Não via a hora de começar.
A dúvida foi
a última a chegar, estava sempre questionando onde essa corrida ia dar.
A derrota desistiu
antes mesmo de começar.
A alegria
deu um salto à frente e disse: Vamos lá!
Todos se
preparavam para a largada: 3,2,1, já!
A tristeza
põe-se a chorar, “Como vou conseguir chegar lá?”
A dor levou
um tombo e começou a gritar.
A
intolerância berrou: cale essa boca já!
E a dor
respondeu: “Não aguento mais, vou parar”.
A coragem
falou em alta voz: Vamos amigos, todos nós podemos ganhar!
A inveja
logo se manifestou: “Não sei pra que encorajar!”
A esperança
pensou alto: “Estamos perto de chegar
O amor,
sempre quietinho, observando tudo, resolveu falar:
“O que acham
de todos juntos darmos as mãos e pararmos de brigar? A vida é muito curta para
perdermos tempo.
Podemos
cada momento aproveitar?
E assim,
todos os sentimentos deram as mãos e ganharam juntos a corrida.
A dúvida que
não sabia se daria certo, chegou lá. A ansiedade viu que não valia a pena se
desesperar. A derrota foi vencida pela esperança. A tristeza se animou com o
salto da alegria. A dor foi encorajada com as palavras da coragem. A inveja foi
vencida pelo amor e a esperança sempre acreditou.
Nós também
vivemos numa corrida chamada vida. Em alguns momentos, a dor grita e quer
parar. A ansiedade não nos deixa aproveitar os bons momentos. A dúvida chega e
traz angústias para o coração.
A coragem
nos ajuda a caminhar, mais umas milhas. A tristeza mais uma vez nos faz parar.
A inveja, olha para o outro e começa a reclamar. A intolerância não aceita
nada, mas o amor, Ah! O amor! .... O amor "suporta todas as coisas,
acredita em todas as coisas, espera todas as coisas, persevera em todas as
coisas. O amor nunca acaba."(1 Coríntios 13:7,8) Ainda que tenhamos maus
momentos, o amor nos faz aguentar. Se não fosse o amor de nada valeria!
A Baronesa – Esposo meu! Chegou o
momento de confessar-vos alguma coisa terrível. Nossa honra, a honra dos
Brossabourg, até hoje imaculada...
O Barão – Que dizeis, senhora? A
honra dos Brossabourg?...
A Baronesa (com dolorosa
solenidade) – Senhor de Brossabourg! Vossa honra está para sempre manchada!
O Barão – (com entonação terrível)
– Vosso cúmplice! O nome do vosso cúmplice, senhora! Necessito afogá-lo em seu
próprio sangue! Seu nome prontamente!
A Baronesa – Ignoro-o!... (Assombro do
Barão). É uma história terrivelmente trágica. Ouvi-me e julgai-me. Estais
lembrado de que no mês de novembro vieram passar uns dias no castelo vários
amigos vossos. Eram eles, o visconde Lamonte, o cavalheiro de Mepier, o senhor
de Poilú-Budin, o general barão de La Roussardière...
O Barão – O doutor Bourdegrave e
Oscar Poutrepet. E então?
A Baronesa – Dois dias depois da
chegada de vossos hóspedes achava-me eu nos meus aposentos, mudando de roupa
interior. Havia atingido o momento psicológico em que a extremidade inferior da
camisa, subindo ao nível da nuca, fica enganchada nos grampos do penteado.
Lutava eu para desvencilhar a cabeça desse envoltório, quando ouço, com terror,
abrir-se a porta atrás de mim e exclamar, numa voz masculina! – “Raios do céu!
Como isto é lindo!... No mesmo instante,
senti uns dedos audaciosos me roçarem a pele, no lado inferior das espáduas...
(pudicamente) Corramos um véu sobre o que houve. Quando enfim, pude arrancar a
cabeça de entre as pregas da maldita camisa e passear em torno um olhar de
nobre indignação, o indiscreto havia desaparecido, deixando uma nódoa indelével
no brasão dos Brossaborgs!
O Barão (soltando uma gargalhada) –
Mas como? Não reconheceste a voz?
A Baronesa – Pela baixeza da
expressão, supus reconhecer Poutrepet, e, no mesmo instante, me dispus a apurar
a verdade, arrancando ao falso gentil-homem a confissão de sua felonia. Para
isso, convidei-o para uma entrevista à meia noite. À hora fixada, abri-lhe a
porta do meu aposento, repartindo com ele o meu leito...
O Barão – Hein?!
A Baronesa - Sim, esposo meu.
Ocultei sob o travesseiro punhal envenenado resolvida a levar a cabo minha
vingança ao ter a prova do seu miserável procedimento. Quando o vi prestes a
exalar a alma na embriaguez do beijo supremo, disse-lhe com pérfido sorriso,
passando-lhe os braços pelo pescoço, numa expressão de fingida ternura:
“Confessa tudo, meu amor! Não é verdade que foste tu que entraste ontem no meu
aposento no momento em que eu mudava de camisa?” E enquanto dizia isso
acariciava o cabo do punhal. Mas ele respondeu: “Como? Não entendo!”, com tal
acento de sinceridade, que minhas suspeitas se dissiparam.
O Barão (enxugando o suor que lhe banha a
fronte) – Uff!...
A Baronesa – Minhas dúvidas recaíram,
então, sobre o senhor de Poilú-Budin, cujos olhares libidinosos haviam mais de
uma vez chamado a minha atenção. Desejosa de vingar a honra dos Brossabourg,
usei do mesmo procedimento anterior, convencendo-me igualmente da sua
inocência.
O Barão (cujos olhos saltam das
órbitas) – E, com certeza, suspeitaste também do barão de La Rous-sardière.
A Baronesa – Exatamente. Por desgraça,
minha terceira tentativa resultou igualmente infrutífera, tocando, então, o
turno do cavalheiro de Mepier...
O Barão – E logo ao doutor
Boudegrave...
A Baronesa – Depois ao visconde
Lamote, e mais tarde ao nosso cocheiro. Agora, vou fazer e experiência com o
porteiro.
O Barão (fora de si) – É verdade,
senhora, que sois mais estúpida que todos os porcos do mundo, juntos. Que meu
rosto se cubra de cicatrizes, se pensei, jamais que pudessem advir tais consequências
da minha inocente brincadeira daquele dia.
A Baronesa – Ah!... Mas... Então,
foste vós?
O Barão – Sim, senhora! Fui eu...
A Baronesa – Louvado seja Deus! Alegra-me
saber isso! Pois, à dúvida de que o culpado fora o porteiro, se misturava o
indizível terror de que pudesse ter sido aquele imundo criado preto, que
trouxeste de Marrocos!...
(CONTOS DE ALCOVA)
Compilado por Ives Idílio
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GEORGES COURTELINE
GEORGES VICTOR MARCEL MOINAUX, que se
tornou mundialmente conhecido no mundo literário sob o pseudônimo de Georges
Courteline, nasceu em Tours, por volta de 1858 e morreu em Paris em 1929.
Dotado de fino poder de observação e
de uma crítica penetrante, foi inúmeras vezes comparado por essas qualidades ao
próprio Molière...
“A Honra dos Brossabourg”, é um
modelo de, sutileza e sobretudo, de poder de síntese. Em meia dezena de
palavras, Courteline nos dá uma visão completa e magnífica, embora irreverente,
da época em que se passa essa cena inimitável...
Antônio de Castro Alves nasceu na
comarca de Cachoeira, Estado da Bahia, a 14 de abril de 1847, sendo filho do
médico Antônio Alves e de sua mulher, D. Clélia Brasília da Silva Castro.
Faleceu na cidade do Salvador a 6 de julho de 1871. Na expressão de Afrânio
Peixoto Castro Alves “Pôs suas ideias à frente do seu sentimento e, num tempo
em que a miséria da escravidão não comovia ninguém, despertou com os seus poemas arrebatadores,
piedosos ou indignados, a sensibilidade humana e patriótica da geração que,
vinte anos mais tarde, viria a conseguir a liberdade. Por isso lhe deram o nome
invejável de Poeta dos Escravos. Das alturas do seu gênio compreendera que não
há grande homem sem uma grande causa social a que tenha servido, e não aspirava
a outra glorificação que a dessa obra realizada. A morte, depois, não
importaria...