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segunda-feira, 9 de maio de 2022

A RELIGIÃO – Gibran Khalil Gibran


A Religiã
o
 

          E um velho sacerdote disse: “Fala-nos da Religião.”

          E ele disse:

          “Tenho eu falado de outra coisa hoje?

          Não é a religião todas as nossas ações e reflexões?

          E tudo que não é ação nem reflexão, mas aquele espanto e aquela surpresa sempre brotando na alma, mesmo quando as mãos talham a pedra ou manejam o tear?

          Quem pode separar sua fé de suas ações, ou sua crença de seus afazeres?

          Quem pode espalhar suas horas perante si, dizendo: ‘Esta é para Deus, e essa é para mim; esta é para minha alma, e essa é para meu corpo’?

          Todas vossas horas são asas que adejam através do espaço, passando de um Eu a outro.

          Aquele que veste sua moralidade como veste seus melhores trajes, melhor seria que andasse desnudo.

          O vento e o sol não cavarão buracos na sua pele.

          E aquele que traça sua conduta pela ética, encarcera seu pássaro cantor numa gaiola.

          A mais livre canção não chega através de barras e arames.

          E aquele para quem a adoração é uma janela a abrir, mas também a fechar, não visitou ainda o santuário de sua alma, cujas janelas permanecem abertas de aurora a aurora.

         

          Vossa vida cotidiana é vosso templo e vossa religião.

          Todas as vezes que penetrais nela, levai convosco todo o vosso ser.

          Levai o arado, a forja, o macete e a lira,

          Todas as coisas que modelaste por necessidade ou por prazer.

          Pois nos vossos sonhos, não podeis elevar-vos acima de vossas realizações nem cair abaixo de vossos fracassos.

          E levai convosco todos os homens.

          Pois na vossa adoração, não podeis voar acima de suas esperanças nem aviltar-vos abaixo de seu desespero.

          E se quereis conhecer a Deus, não procureis transformar-vos em decifradores de enigmas.

          Olhai, antes, à vossa volta e encontrá-Lo-eis a brincar com vossos filhos.

          E erguei os olhos para o espaço e vê-lo-eis caminhando nas nuvens, estendendo Seus braços no relâmpago e descendo na chuva.

          E O vereis sorrindo nas flores e agitando as mãos nas árvores.”

 

O PROFETA

Gibran Khalil Gibran

  

Gibran Khalil Gibran - Poeta libanês, viveu na França e nos EUA. Também foi um aclamado pintor. Seus textos apresentam a beleza da alma humana e da Natureza, num estilo belo, místico, conseguindo com simplicidade explicar os segredos da vida, da alegria, da justiça, do amor, da verdade.        

 

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A LOUCURA EM CADA UM DE NÓS

 

          O Louco é mais um livro de Gibran composto exclusivamente de parábolas.

          Para Gibran, o louco é um homem que, um dia, por acidente, perde as sete máscaras que ele “havia confeccionado e usado em sete vidas”. E assim, torna-se capaz de ver o sol na sua plenitude (isto é, naturalmente, a verdade) e passa a ser tratado como louco pelos outros homens, ainda separados da luz pelas suas próprias máscaras.

          As parábolas do livro são cenas da vida, vistas, contadas e julgadas por um homem sem máscara.

          Assim, chega o leitor a se perguntar: quem é louco e quem não é louco? E o que é a loucura? Uma estupidez e uma cegueira, ou uma compreensão mais profunda da vida?

          Gibran não é um psiquiatra, mas um sábio e um poeta que nos conduz ao mundo mais fascinante de todos: o que existe dentro de nós mesmos.

          E é lá que cada um decide se é um louco ou se não é um louco.

          Um livro que nos desafia e nos encanta, e ora nos humilha, ora nos diviniza.

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