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sábado, 8 de abril de 2017

ITABUNA QUERIDA – Jasmínea Benício dos Santos Midlej

Itabuna querida


Itabuna! Itabuna! Minha terra querida! Sua natureza canta desde a aurora ao por do sol!

Itabuna! Itabuna! Cheia de vida a pulsar e a vibrar, nos seus pássaros que cantam, nas flores que desabrocham, no alvorecer das suas manhãs lindas e primaveris! No velho Rio Cachoeira, que contorna a sua eira, num permanente ondular!... Nos seus arranha-céus que começam a pintar, sua bela paisagem de cidade progressista!

Você é a verdadeira imagem da terra-mãe carinhosa, de seus filhos orgulhosos de sua pureza, que nos diz muito baixinho, quase em segredo, ao ouvido,  sorrindo, sinceramente: "eu amo a todos vocês, meus filhos, mui queridos, também amo igualmente os filhos vindos de longe, de todos os recantos do Brasil, destacando-se os sergipanos, que foram os primeiros a este solo pisar... 

Bravos homens, obreiros, cheios de esperança, aventureiros saíram de sua terra maltratada pela seca, e aqui chegaram esperançosos, para desbravar com amor, este rico solo encantador!... Salientando-se também os estrangeiros: libaneses, sírios, espanhóis e portugueses. Principalmente os dois primeiros, também grandes desbravadores, que vieram de tão longe, para com seu suor vencer!

E venceram, e progrediram e me deram muito de si, mostrando-me grande afeição, e diziam com muito orgulho: você, Itabuna querida, é a nossa Segunda  mãe, nossa vida!

Agora, ouçam com atenção eu amo a todos vocês! Ricos, pobres, brancos e pretos, brasileiros e estrangeiros, pois são todos, sem exceção, meus filhos do coração!"


(DEVANEIOS E SAUDADE)

Jasmínea Benício dos Santos Midlej

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BOLAS DE SABÃO - Jorge Luís Santos

Bolas de sabão


O menino que se tornara adulto voltou a ser, a partir dos 57 anos de idade, uma criança novamente. Esta mudança só foi possível, subjetivamente, graças a sua percepção da beleza da vida e, objetivamente, da água, do sabão, do copo e do canudo, através dos quais das duas janelas da frente e do fundo do segundo andar de sua casa, ele faz chover bolas de sabão. A chuva natural e a de bolas de sabão podem acontecer ao mesmo tempo. Quantas vezes Deus de lá do Céu e esse menino daqui da Terra, combinados, não promoveram, simultaneamente, esse inédito e duplo espetáculo!? Superinteressante é como esse fenômeno acontece. Tanto as bolas de sabão menores como as maiores, sob a chuva fina ou grossa, sobem céu acima, passando intactas por aquele labirinto de filetes de água que se formam com a chuva. O resultado disso é a beleza da figura de uma cortina de água, bordadas com bolas coloridas de sabão.

As bolas do aniversário daquele menino são de sabão. Nesse dia, todas as bolas que ele fez retornam à sua casa, prestando-lhe uma verdadeira homenagem. Logo que chega, cada bola de sabão percorre todo o seu lar, depois se junta a tantas outras, lá fora, formando uma roda gigante muito grande. Ao redor dessa roda gigante, outras bolas de sabão fazem a vez de uma cerca protetora, com uma abertura de acesso. Aquele menino, depois de dar várias voltas naquela roda gigante, juntamente com outras crianças, fica no lugar de acesso da cerca, controlando a entrada dos garotos que aguardam a sua vez, na fila daquele mini parque de bolas de sabão. A roda gigante não para.

Desde as dezessete horas da tarde, quando a festa começou, roda, roda, roda, para atender a mais de cinco mil convidados mirins. A beleza de luzes e de cores emitida por ela parece dois arcos íris que se juntaram, formando aquele objeto redondo, colorido e de lazer. Todos os convidados ficam na expectativa, também, do encerramento da festa, quando as bolas de sabão, para se soltarem uma das outras, emitem som, luzes e cores, à semelhança do espetáculo da queima de fogos de artifícios. A vida fica mais bonita, cheia de bolas de sabão. Umas bolas de sabão sobem tanto, céu acima, ganhando status de “estrelas”; outras, descem Terra abaixo, contagiando de magia aqueles que não conseguem olhar para o alto.

Jorge Luís Santos
Advogado e cronista. Itabuna – Bahia.

E-Mail: dvjls13@hotmail.com

http://www.jornaldireitos.com/ver_artigos.php?artigo=3518


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A PROPÓSITO DO VELHO DEITADO Por Gregorio Vivanco Lopes

Gaetano Chierici (1838-1920) – Amor de mãe


O fato se passou na sala de espera de um consultório médico. Várias pessoas aguardavam sua vez de serem atendidas, entre elas eu.

Chamou-me a atenção uma senhora, ainda jovem, com seu filhinho. Ela se portava com muita dignidade e distinção.
Vestido caindo abaixo dos joelhos, bem composta, olhar recatado. O menino estava nessa fase da existência em que se descobre a alegria de viver, de falar, de andar. Serelepe, ele corria de um lado para outro dentro da sala, mas sempre voltando a um ponto fixo, a mãe.

Ela o vigiava com o olhar, parecia comprazida com a movimentação do pimpolho, mas não lhe dizia nada. Em certo momento, porém, ele começou a mexer no abajur da sala. Temerosa talvez de que ele provocasse um pequeno desastre, o que não era de se excluir, ela o chamou.

— Luizinho, vem cá. Meu filho, não mexa no abajur. Diz um velho ditado que um menino prevenido vale por dois. É arriscado o abajur cair e o médico ficará zangado com você.

— Sim senhora, mamãe, disse ele, continuando suas andanças pela sala, sem mexer mais no abajur.

Em certo momento, voltando para onde estava sua mãe e pondo as pequenas mãos sobre os joelhos dela, perguntou, numa atitude inocente de intimidade e confiança:
— Mamãe, o que é mesmo que disse o velho deitado?

Todos na sala esboçaram um sorriso. Menos a mãe, que com toda a seriedade respondeu.

— Não, meu filho, não é o velho deitado, é um velho ditado.

— E qual a diferença, mamãe?


Eva Soares (1964-2010) – Pintura acrílica

Foi aí que, junto com todos os presentes, pude apreciar uma cena delicada e admirável a uma só vez. A senhora se inclinou ligeiramente para o menino e, acariciando-o, explicou-lhe detalhadamente, em linguagem acessível àquela mente infantil, com numerosas imagens e comparações, a diferença existente entre um velho deitado e um velho ditado.

Entretanto não eram apenas as palavras. Enquanto falava, ela fazia sentir ao menino tanto afeto, tanta proteção, tanto carinho, tanto esmero no que dizia, sem dar a entender em nada o quanto sua pergunta era cômica e até extravagante, que o garoto olhava para ela encantado e embevecido. Ao mesmo tempo, ela falava com autoridade, seu tom de voz era o de quem ensina e quer ser compreendida, mas sem qualquer aspereza nem acidez.

O menino sentia bem, embora de modo incipiente, tanto quanto a uma criança é dado sentir, que se andasse no bom caminho, teria sempre a seu lado a proteção materna a ampará-lo nas dificuldades e agruras da vida. Sentia também, por contraste, que caso viesse a rolar por descaminhos, causaria uma dor incomensurável à sua mãe e não teria seu apoio nem seu beneplácito.

Na sala, o silêncio se fez. Ninguém sequer se mexia. Todos estavam emocionados diante daquela cena tão singela, mas que tocava ao sublime.

Lembrei-me então de outra senhora que tive a dita de conhecer – eu ainda jovem, e ela já na extrema velhice. Era a mãe do Dr. Plinio Corrêa de Oliveira, a tradicional dama paulista Da. Lucilia Ribeiro dos Santos Corrêa de Oliveira.
Era aquela bondade, aquela afabilidade, aquela firmeza de princípios morais e religiosos, transmitidos com inabalável certeza e incomparável suavidade!

Chegara a vez de o menino ser atendido no consultório. Sua mãe o tomou com delicadeza pela mão — “Vamos meu filho” — e passou pela porta divisória. Pensei: “Qual! Esta senhora só pode ser católica!” Só o espírito católico é capaz de, com tanta certeza e determinação, transmitir uma seriedade tão afável, de modo tão aprazível e com tanta ternura. Lembrei-me da Virgem Maria e do Menino Jesus.





Gregorio Vivanco Lopes
Advogado, formado na Faculdade de Direito do Largo São Francisco. Autor dos livros "Pastoral da Terra e MST incendeiam o Brasil" e, em colaboração, "A Pretexto do Combate Á Globalização Renasce a Luta de Classes".

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