Quando poema rota
Queria escrever depois do almoço
gotas de sais faíscam no prato
sobras de um fato com crase
quase um menino com dedos famintos
a futucar meu riso com sua míngua
depois do almoço arroto a rota 66
pavê de sobremesa só quem é cego
e não vê que o menino tem cárie
no carinho e uma tatuagem de silêncio
no
cotovelo cai a moeda a perna se abre
embaixo da mesa cabe uma coxa sem trânsito
mas tudo em volta emerge urgem
coquetéis e motos bomba no cruzamento
entre judeus e palestinos em barricada de pássaros e pátina e pálpebras
forçar a barra para o ritmo não ficar binário
e não passar por otário na
polícia
minha mulher fugiu com o talão de cheque
do antigo amigo de infância
e eu perdi o jogo do corinthians que perdeu o campeonato mundial de sopapos
depredaram tudo no elevador antes do garçom chegar
com sua máquina portátil de
débito em crédito
mas eu insisto e não acredito em papai noel
não acredito em cornos sem furos
não acredito em muros sem Berlim
não acredito enfim em traições
a não ser as que vi
aspirina pirei
às de topázio
e o menino está pagando de comer
pedi um prato de spaghetti ao sugo
e juro que é real
esse poema é real
a fome do menino é real
FHC pagou de real no circo
Na real ele quer liberar geral
e geraldo é o meu primeiro nome
geraldo
apenas geraldo
sete letras
não dá para ver lá no fundo do universo
Não?
Antonio Milton faça o favor
Ilumine aqui com sua verve
esse cantinho do infinito
onde ínfimo perambulo
com um embrulho de poeira
onde guardo o pó do meu pecado
e creio que Deus é tão concreto
quanto Amor.
Geraldo Maia
* * *