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domingo, 2 de setembro de 2018

ESCRITOR CYRO DE MATTOS VENCE O PRÊMIO LITERÁRIO NACIONAL CIDADE DE MANAUS



Escritor Cyro de Mattos
Vence o Prêmio Literário
Nacional Cidade de Manaus


O escritor Cyro de Mattos venceu o Prêmio Literário Nacional Cidade de Manaus com Histórias do Fim do Mundo, concorrendo com cerca de cem candidatos na categoria de livro de contos. O prêmio é de cinco mil reais, diploma, transporte aéreo e hospedagem para o escritor receber a láurea, em solenidade que será realizada no Teatro Municipal de Manaus, no dia 23 de outubro, juntamente com os vencedores nas outras categorias.

Constituído de quinze narrativas, o livro Histórias do Fim do Mundo tem como foco a criatura humana em suas manifestações do amor, riso, violência, tristeza, felicidade, encanto e espanto. O Prêmio Literário Nacional Cidade de Manaus é patrocinado pela Prefeitura Municipal de Manaus desde 2010 e foi criado para distinguir, reconhecer e incentivar autores nacionais e regionais com livros inéditos, nos gêneros poesia, romance, conto, crônica, ensaio, dramaturgia, literatura infantil e juvenil.

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PALAVRA DA SALVAÇÃO (94)


22º Domingo do Tempo Comum – 02/09/2018

Anúncio do Evangelho (Mc 7,1-8.14-15.21-23)

— O Senhor esteja convosco.
— Ele está no meio de nós.
— PROCLAMAÇÃO do Evangelho de Jesus Cristo + segundo Marcos.
— Glória a vós, Senhor.

Naquele tempo, os fariseus e alguns mestres da Lei vieram de Jerusalém e se reuniram em torno de Jesus. Eles viam que alguns dos seus discípulos comiam o pão com as mãos impuras, isto é, sem as terem lavado. Com efeito, os fariseus e todos os judeus só comem depois de lavar bem as mãos, seguindo a tradição recebida dos antigos. Ao voltar da praça, eles não comem sem tomar banho. E seguem muitos outros costumes que receberam por tradição: a maneira certa de lavar copos, jarras e vasilhas de cobre.
Os fariseus e os mestres da Lei perguntaram então a Jesus: “Por que os teus discípulos não seguem a tradição dos antigos, mas comem o pão sem lavar as mãos?”
Jesus respondeu: “Bem profetizou Isaías a vosso respeito, hipócritas, como está escrito: ‘Este povo me honra com os lábios, mas seu coração está longe de mim. De nada adianta o culto que me prestam, pois as doutrinas que ensinam são preceitos humanos’. Vós abandonais o mandamento de Deus para seguir a tradição dos homens”.
Em seguida, Jesus chamou a multidão para perto de si e disse: “Escutai, todos, e compreendei: o que torna impuro o homem não é o que entra nele vindo de fora, mas o que sai do seu interior. Pois é de dentro do coração humano que saem as más intenções, imoralidades, roubos, assassínios, adultérios, ambições desmedidas, maldades, fraudes, devassidão, inveja, calúnia, orgulho, falta de juízo. Todas estas coisas más saem de dentro, e são elas que tornam impuro o homem”

— Palavra da Salvação.
— Glória a vós, Senhor.

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Ligue o vídeo abaixo e acompanhe a reflexão do Frei Alvaci Mendes da Luz, OFM:

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Ecologia interior


“Pois é de dentro, do coração humano, que saem as más intenções...” (Mc 7,21)

Depois de um parêntesis de cinco domingos dedicados ao cap. 6 do evangelho de João, retomamos o percurso de Jesus seguindo o evangelista Marcos. Após a multiplicação dos pães, Jesus se encontra nos arredores do lago de Genesaré, um lugar afastado de Jerusalém, onde era menor a vigilância em relação ao cumprimento das leis e das normas de purificação. 

O texto de hoje(22º Dom TC) contrapõe a prática dos discípulos com o ensinamento dos letrados e fariseus. Jesus se coloca a favor dos discípulos, e aproveita a ocasião para nos mover a ir mais além; Ele nos adverte que toda norma religiosa, escrita ou não, tem sempre um valor relativo.  A Lei deve ser cumprida quando nos leva à plenitude humana. Para os fariseus, é preciso cumprir o preceito por ser preceito e não porque ajuda a ser mais humano. Todas as normas que podemos por em conceitos, são preceitos humanos; não podem ter valor absoluto. Um preceito que pode ser adequado para uma época, pode perder seu sentido em outra. Mais ainda, as normas morais estão mudando sempre, porque o ser humano vai conhecendo melhor seu próprio ser e a realidade na qual vive. As normas antigas não servem para as situações novas que vão aparecendo. Algumas coisas que eram importantes para o ser humano no passado, perderam agora sua força quando se trata da plenitude humana.

Em todas as religiões, as normas e preceitos são dadas em “nome” de Deus. Isto pode ter consequências desastrosas, se não é entendido bem. Todas as leis são humanas. Quando essas normas surgem de uma experiência autêntica e profunda do que deve ser um ser humano e o ajudam a atingir sua plenitude, podemos chamá-las divinas. 

O preceito de lavar as mãos antes de comer não era nada mais que uma norma elementar de higiene, para que as enfermidades infecciosas não fizessem estragos entre aquela população que vivia em contato com a terra e os animais. No instante em que uma tradição se converta em um entrave que impeça a pessoa ser mais humana, deve-se abandoná-la. É o que quer dizer Jesus: “deixais de lado a vontade de Deus para apegar-se às tradições dos homens”. 

O que Jesus critica não é a Lei como tal, mas a interpretação que faziam dela. Em nome dessa Lei oprimiam as pessoas e lhes impunham verdadeiras torturas com a promessa ou a ameaça de que só assim Deus estaria a seu favor. Davam valor absoluto à Lei. Todas as normas tinham a mesma importância, porque seu único valor estava no fato de que eram “dadas” por Deus. Isto é o que Jesus não podia aceitar.

Toda norma, tanto ao ser formulada como ao ser cumprida, deve ter como fim primeiro o bem do ser humano. Nem sequer podemos colocá-la à frente de Deus, porque o único bem de Deus é o ser humano. A base de todo fundamentalismo está em propor o bem de Deus, inclusive contra o bem do ser humano.

Deus é Pai/Mãe de Misericórdia e nunca vem complicar nossa vida com uma carga de preceitos, leis, tradições... O que Ele deseja é que vivamos intensamente; as leis e normas são só uma mediação para possibilitar mais vida. No momento em que elas bloqueiam o fluir da vida com o peso dos sentimentos de culpa, não devem ser cumpridas. 

O segundo ensinamento é consequência deste: não há uma esfera sagrada na qual Deus se move e outra profana da qual Deus está ausente. Na realidade criada não existe nada impuro. Tampouco tem sentido a distinção entre o ser humano puro e o ser humano impuro, a partir de situações alheias à sua vontade. Por isso, a pureza nunca pode ser consequência de práticas rituais. A única impureza que existe é quando o ser humano busca seu próprio interesse à custa dos outros. 

Todo aquele que pretende nos impor leis em nome de Deus, está nos enganando. A vontade de Deus é encontrada dentro de nós. O que Deus deseja de nós está inscrito em nosso mesmo ser, e nele temos que descobri-la. A prioridade não corresponde, portanto, às doutrinas, mas ao coração. Porque costuma ocorrer algo que é chamativo: quanto maior a insistência nas doutrinas e nas leis, mais frieza e petrificação no coração. Isto parece ser a reprovação que Jesus dirigia aos fariseus, ou seja, às pessoas que tendiam a absolutizar a religião: “honra-se a Deus com os lábios”, mas o coração está apagado.

É o que sai de dentro que determina a qualidade de uma pessoa. O que comemos pode fazer bem ou mal, mas não afeta nossa atitude espiritual A armadilha está em confiar mais na prática externa de uma norma que na atitude interna que depende só de nós. As práticas religiosas, muitas vezes, são um álibi para dispensar-nos da conversão do coração. 

A contaminação e a poluição do meio ambiente são realidades por demais conhecida. Nas grandes cidades, o ar está cada vez mais irrespirável. Em algumas delas já se começou a regular o tráfego para diminuir o nível de poluentes, através da proibição de circulação de automóveis com determinados números de placa. Tal situação, juntamente com a mudança climática e a ecologia, é uma das preocupações dominantes das pessoas que vivem no mundo considerado “desenvolvido”. Mas, junto à contaminação ambiental, que também afeta os povos em desenvolvimento, transformados em lixões dos países ricos, há outra contaminação mais profunda que temos esquecida. E, no evangelho de hoje, Jesus nos fala da necessidade de cuidar da ecologia interior.

Assim como está sendo proibida, cada vez mais, a circulação de veículos contaminantes, também se deveria impedir a saída às ruas de pessoas com mentes contaminadas, cheias de sentimentos poluídos, palavras ácidas, gestos agressivos, carregada de entulhos – mágoas, ira, inveja – que se acumulam no próprio coração. Seus passos sujam os caminhos de lama, deixando um rastro de tristeza e desalento; seu humor intoxica-se de raiva e arrogância; seu temperamento explode com frequência, expelindo tanta fuligem pelas chaminés da intolerância e do preconceito.

O termo “ecologia” não se refere apenas a uma “ecologia exterior”, ou seja, aos ecossistemas em seu instável equilíbrio. Engloba também toda uma “ecologia interior”, própria do ser humano, ou seja, o “mundo” de sua psique, de seus afetos, de seus dinamismos, de sua espiritualidade, de suas relações básicas, quer consigo e com os outros, quer com o mundo e com Deus.

Para ordenar a fragmentação interna precisamos dialogar com as energias instintivas e que se tornaram energias “diabólicas” (que dividem). Cada uma delas representa os instintos, impulsos, paixões, fragilidades, sensualidade, sentimentos... que, quando não pacificados e integrados, criam uma desarmonia interior. São os chamados “pecados de raiz”, ou seja, endurecimentos, fechamentos e fixações... que impedem a energia vital, a misericórdia de Deus fluir livremente. São bloqueios e empecilhos colocados por nós mesmos e que interceptam a relação com Deus, com os outros e com as criaturas, portanto, com a plenitude da vida, e cortam nossas próprias potencialidades de vida.

Quando falamos de “pecados de raiz” queremos destacar a necessidade de uma conversão radical. O convite a “ter um coração próximo a Deus” poderia traduzir-se deste modo: viver conscientes de nossa verdadeira identidade, em conexão com o que realmente somos – essa é a dimensão especificamente espiritual – o qual nos abrirá a uma vivência aberta e inclusiva, humilde e tolerante, prazerosa e compassiva..., a partir da sintonia radical com Aquele em quem nos desvelamos e nos reconhecemos.

Texto bíblico:  Mc 7,1-8.14-15.21-23

Na oração: Diante do Evangelho deste domingo, pare por uns instantes, esqueça a poluição do ar e do mar, a química que contamina a terra e envenena os alimentos e medicamentos, e pergunte a si mesmo(a):

- como anda o meu equilíbrio ecobiológico?

- tenho dialogado com meus órgãos interiores?

- acariciado o meu coração? Respeito a delicadeza de meu estômago?

- acompanho mentalmente meu fluxo sanguíneo?

- tenho consciência de onde nascem minhas palavras?

- tenho queimado a minha língua com as nódoas dos comentários maldosos da vida alheia?

- meus olhos estão sujos pelas ilusões de poder, fama e riqueza? (Frei Betto)


Pe. Adroaldo Palaoro sj


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A CRISE MAIS GRAVE DA REPÚBLICA – Marco Antônio Villa


31/ago/18 - 09h00

O Brasil vive a mais grave crise política desde 1889. A desesperança é geral. A dinâmica sociedade civil está começando a entender que a estrutura estatal — dos três Poderes, registre-se — é impermeável às mudanças exigidas para, finalmente, termos uma república digna desse nome. Ao longo de mais de um século o País já passou por momentos de muita tensão, como em 1930 e 1964. Porém, agora, a situação conjuntural é muito mais complexa. Nos dois momentos citados havia diversos caminhos que poderiam ser percorridos, dependendo, claro, de quem fosse o vencedor do embate político. A questão que fica, nesse momento, é que não há no horizonte nenhum rumo delimitado. Isso porque o sistema é absolutamente petrificado, impedindo qualquer possibilidade de mudança. Assim, como a transformação é impossibilitada de nascer — devido a solidez da estrutura estatal —, resta a permanência ou uma ruptura que, até o momento, não se avizinha. Nesse jogo pérfido quem perde é o País. Mas todos perdem? Não, alguns ganham, os que se locupletam com a coisa pública, os inimigos da República. Mas quem são? A elite dirigente — e elite no sentido mais amplo do conceito.

Enquanto não for resolvida a crise política, o Brasil permanecerá estagnado. Viverá, no máximo, de pequenos surtos de crescimento para depois retornar à recessão. É a política que determina a economia — e não o inverso. Sendo assim, é uma ilusão imaginar que a conjuntura mais tensa que vivemos no último século será enfrentada — e solucionada — pelas urnas a 7 de outubro. Falácia, pura falácia. Nada indica que o Congresso Nacional deve melhorar a forma de representação popular. Pelo contrário, a tendência é de que os velhos caciques estarão de volta ao Senado e à Câmara dos Deputados acompanhados da quadrilha oligárquica de seus estados. Ou seja, poderemos sentir saudade do atual Parlamento, por mais incrível que pareça.

No campo do Executivo federal, independentemente de quem for eleito, a dissociação com o sentimento popular deve permanecer. O momento é preocupante,  mas os candidatos continuam desenvolvendo campanhas como se vivêssemos uma simples crise, algo que poderia ser resolvido sem grandes transtornos. Chegamos ao ponto de um presidiário se lançar candidato à Presidência da República e isso ser visto por operadores do Direito — regiamente pagos — como algo absolutamente natural.

É ilusão imaginar que a conjuntura mais tensa que vivemos no último século será enfrentada – e solucionada – pelas urnas a 7 de outubro. Falácia, pura falácia.

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Marco Antônio Villa é historiador, escritor e comentarista da Jovem Pan e TV Cultura. Professor da Universidade Federal de São Carlos (1993-2013) e da Universidade Federal de Ouro Preto (1985-1993). É Bacharel (USP) e Licenciado em História (USP), Mestre em Sociologia (USP) e Doutor em História (USP).

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