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terça-feira, 6 de outubro de 2020

ITABUNA CENTENÁRIA UM POEMA: Onde estás? – Castro Alves



Onde Estás?

Castro Alves


É meia noite... e rugindo

Passa triste a ventania,

Como um verbo de desgraça,

Como um grito de agonia.

E eu digo ao vento, que passa

Por meus cabelos fugaz:

“Vento frio do deserto,

Onde ela está? Longe ou perto?”

Mas, como um hálito incerto,

Responde-me o eco ao longe:

“Oh! Minh’ alma, onde estás?...”

 

Vem! É tarde! Por que tardas?

São horas de brando sono,

Vem reclinar-te em meu peito

Com teu lânguido abandono!...

‘Stá vazio o nosso leito...

‘Stá vazio o mundo inteiro,

E tu não queres qu’eu fique

Solitário nesta vida...

Mas por que tardas, querida?...

Já tenho esperado assaz...

Vem depressa, que eu deliro

Oh! minh’amante, onde estás?...

 

Estrela – na tempestade,

Rosa – nos ermos da vida;

Íris – do náufrago errante,

Ilusão – d’alma descrida!

Tu foste, mulher formosa!

Tu foste, ó filha do céu!...

... E hoje que o meu passado

Para sempre morto jaz...

Vendo finda a minha sorte,

Pergunto aos ventos do norte...

Oh! minh‘amante, onde estás?...

 

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ANTÔNIO DE CASTRO ALVES

* 14/04/1847 - +  06/07/1871

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