Onde Estás?
Castro Alves
É meia noite... e rugindo
Passa triste a ventania,
Como um verbo de desgraça,
Como um grito de agonia.
E eu digo ao vento, que passa
Por meus cabelos fugaz:
“Vento frio do deserto,
Onde ela está? Longe ou perto?”
Mas, como um hálito incerto,
Responde-me o eco ao longe:
“Oh! Minh’ alma, onde estás?...”
Vem! É tarde! Por que tardas?
São horas de brando sono,
Vem reclinar-te em meu peito
Com teu lânguido abandono!...
‘Stá vazio o nosso leito...
‘Stá vazio o mundo inteiro,
E tu não queres qu’eu fique
Solitário nesta vida...
Mas por que tardas, querida?...
Já tenho esperado assaz...
Vem depressa, que eu deliro
Oh! minh’amante, onde estás?...
Estrela – na tempestade,
Rosa – nos ermos da vida;
Íris – do náufrago errante,
Ilusão – d’alma descrida!
Tu foste, mulher formosa!
Tu foste, ó filha do céu!...
... E hoje que o meu passado
Para sempre morto jaz...
Vendo finda a minha sorte,
Pergunto aos ventos do norte...
Oh! minh‘amante, onde estás?...
..................
ANTÔNIO DE CASTRO ALVES
* 14/04/1847 - +
06/07/1871
* * *