Viva Pernambuco
Em seu Discurso de
Posse na Cadeira 39 da Academia Brasileira de Letras, Marco Maciel declarou que
'Pernambuco é um sol a brilhar no infinito'. Referia-se ao hino de nosso Estado,
claro. Mas, também, a uma história que vem de longe e nos orgulha. Em nossa
terra, permitam dizer com modéstia bem pernambucana, o Brasil nasceu?
Em um dia como o de
amanhã (22 de abril), a data é oficial, o Brasil foi descoberto. Mas seria bom
voltar no tempo e ver isso com mais vagar, seja para precisar melhor a data,
seja para situar o papel de Pernambuco nesse descobrimento. Em seu Discurso de
Posse na Cadeira 39 da Academia Brasileira de Letras, Marco Maciel declarou que
'Pernambuco é um sol a brilhar no infinito'. Referia-se ao hino de nosso
Estado, claro. Mas, também, a uma história que vem de longe e nos orgulha. Em
nossa terra, permitam dizer com modéstia bem pernambucana, o Brasil nasceu.
Quando, em 26/01/1500, Vicente Yáñez Pinzón (por esse feito condecorado pelo
rei Fernando II, de Aragão) desembarcou no hoje Cabo de Santo Agostinho, por
sua expedição então logo denominado Cabo de Santa Maria da la Consolación. Um
ancoradouro natural, onde está o Porto de Suape. Assim que chegou, pronunciou frase
que entrou para os livros 'Esse é o lugar de mais luz da terra'. E tudo bem
antes do tal 21 de abril.
Trata-se da mais
antiga viagem, documentalmente comprovada, ao território nacional. Desde quando
a esquadra de suas quatro caravelas partiu de Palos de la Frontera, em
19/11/1499. Tudo como bem descrito pelos cronistas (historiadores) da época,
Pietro Martire D'Anghiera e Bartolomeu de las Casas. Não sendo reivindicada
pela Espanha, sua posse, apenas por caberem essas terras a Portugal ? em razão
do Tratado de Tordesilhas. Dando-se que por ele, de 1494, restaram divididas as
terras 'descobertas e por descobrir' a partir de meridiano 370 léguas a oeste
da ilha de Santo Antão, no arquipélago de Cabo Verde. A oeste, caberia ao reino
de Castela (Espanha). E, a leste, Portugal. Onde estava Pernambuco, descoberto
por Pinzon.
Só que nem sempre a
descoberta do Brasil foi comemorada nesse 22 de abril. Até 1817, se dava em 3
de maio. Tudo culpa do historiador Gaspar Correia (1495-1561); que imaginava
ser, a data, homenagem ao próprio nome dessas terras ? então Ilha de Vera Cruz
(e, logo depois, terra de Santa Cruz). Celebrando-se, em dito 3 de maio, o Dia
da Santa Cruz. Até quando aqui veio dar a família real, tangida por Junot,
general preferido por Napoleão, O filho dileto das vitórias. E, com essa
família, veio também a Carta de Pero Vaz de Caminha. Aquela em que pedia ao Rei
D. Manuel, O Venturoso, um emprego para seu genro Jorge d'Osoiro. Morrendo
Caminha, em Calicute, sem saber que seu pedido, em favor do destrambelhado
genro, foi afinal atendido. Sendo, tal carta, lida com atenção pelo padre
Manuel Aires de Casal; sabendo-se então, por ela, que o Monte Pascoal foi
afinal avistado num 22 de abril. Fosse pouco, a data chegou a ser um feriado
nacional. Em boa hora revogado por Getúlio Vargas, junto com outras datas
comemorativas, por achar demais tanta folga para os brasileiros.
Mas outras dúvidas
persistem. Para o escritor potiguar Lenine Pinto, por exemplo, Cabral chegou ao
Brasil em 1500, mas não na Bahia; e, sim, no Rio Grande do Norte. Indicando,
com argumentos convincentes, que o Monte Pascoal, primeiro ponto de terras que
teria sido avistado por Cabral, simplesmente não é visível a partir do mar. O
que viu Cabral, na verdade, teria sido o Pico do Cabugi ? no interior, hoje a
uma hora de automóvel do litoral. Um monte que atende perfeitamente, esse
Cabugi, à descrição de Cabral. Por ser visto com destaque, ainda hoje, pelos
marinheiros. E muitos acreditam nisso. Entre eles, o ministro do STJ Marcelo
Navarro.
Em Portugal, também
se diz que o primeiro descobridor dessas terras teria sido, na verdade, Duarte
Pacheco Pereira, navegador luso que Camões definia como 'Aquiles Lusitano'.
Duarte escreveu, em 1505, o livro Esmeraldo de Situ Orbis; indicando que ele
próprio teria chegado em algum ponto da costa entre o Maranhão e o Pará, entre
novembro e dezembro de 1498; daí se dirigindo ao norte, alcançando a foz do
Amazonas e a ilha de Marajó. No livro está que 'É achado nela (na terra
descoberta) muito e fino Brasil. Com outras muitas coisas de que os navios
nestes reinos vêm grandemente povoados'. Não sendo tornada pública, dita
viagem, por saber Portugal que caberiam, as terras, ao Reino de Castela, em
razão do Tratado de Tordesilhas (como vimos, de 1494). Sem qualquer outra
prova, tudo se baseia somente nesse relato. E muitos, hoje, acreditam que assim
aconteceu mesmo. Como o escritor português Miguel Souza Tavares. Fique o
registro.
Seja como for, hoje
como sempre, é prova de bom gosto e de sabedoria sempre dar vivas a Pernambuco.
P.S. Vênia para
louvar nosso estado em uma pequena história. Tudo começou com dona Celina Pina,
mulher do doutor Sizenando Carneiro Leão. Antônio, seu filho querido, iria ser
doutor pela Sorbonne. A realização de um sonho. No dia da viagem, o Aeroporto
dos Guararapes estava cheio com família, empregados, amigos, vizinhos, o mundo
inteiro para dar adeus a Toinho. Na hora do embarque, a mãe o chamou para
conversar.
Queria lhe dar três
conselhos, filho. Um, estude muito para ser o primeiro aluno da classe. Dois,
de noite, não saia para beber nem raparigar. Três, e nunca diga a ninguém que
nasceu em Pernambuco.
Toinho estranhou.
Minha mãe, os dois
primeiros conselhos até entendo, mas esse terceiro?
E ela completou
É por ser muita
falta de educação contar vantagem.
Chumbo Gordo,
23/04/2023
https://www.academia.org.br/artigos/viva-pernambuco
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José Paulo
Cavalcanti - Nono ocupante da Cadeira nº 39, eleito em 25 de
novembro de 2021, na sucessão de Marco Maciel e recebido em 10 de junho de 2022
pelo Acadêmico Domício Proença Filho.
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