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sexta-feira, 14 de julho de 2023



Estrada Minha  

Cyro de Mattos

Venho do tempo das águas puríssimas do rio Cachoeira,
 Do cacau ensacado carregado no lombo do burro,
as tropas passistas em andadura ritmadas na sua melhor música,
Ferradas tinha ares bucólicos de pacata vila, flutuava na memória
como bairro-mãe de todos os bairros da cidade que nasceu
 como um burgo de penetração na época da conquista da terra.
 As ruas da cidade tinham cheiro de cacau vindo de dentro
 dos armazéns de portas largas. Venho da escola primária
Lúcia Oliveira onde aprendi o Abecê, caligrafia, aritmética.
 Também venho do tempo do mata-borrão, da goma
 para colar a carta, da máquina datilográfica. Do Natal
 com as quermesses na pequena praça, “vai correr! vai correr!
faça seu jogo, ganhe seu presente com a sorte”, bradava o homem
encarregado de vender os bilhetes. São João rimava licor com canjica, 
de porta em porta, os fogos como jogos alegres no chão e no céu.
Nos carnavais do Grapiúna Tênis Clube, lá estava o moço de Peter Pan,
animada era a noite ali numa forma festiva de comemorar a vida.
De tudo isso venho, de muito mais, agora dormindo o sono do amor.
Irremediável no fumo das horas. Quanta saudade de mim!

 

Cyro de Mattos - Baiano de Itabuna. Escritor e poeta, Doutor Honoris Causa pela Universidade Estadual de Santa Cruz (Sul da Bahia). Membro efetivo da Academia de Letras da Bahia, Pen Clube do Brasil, Academia de Letras de Ilhéus e Academia de Letras de Itabuna.

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