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domingo, 29 de abril de 2018

CRITICA LITERÁRIA APLAUDE O POLEMICO E PREMIADO LIVRO 'O INFERNO É VERDE'

Por Shirley M. Cavalcante (SMC)

Reginaldo Daniel da Silveira (R. D. Silveira) escreve para revistas científicas, veículos de comunicação e também é autor do livro técnico “Videoconferência: a educação sem distância”. Além de escrever, Silveira atua como psicólogo, ocasião em que avalia pessoas e trata pacientes. A formação cultural (graduação, especialização, mestrado e doutorado) é base de apoio na educação.
Silveira é professor de graduação/pós-graduação e pesquisador numa universidade federal. Já dirigiu instituições de ensino e desenvolveu projetos de EAD (um deles em execução em todo o Paraná). Seu histórico inclui ainda a atuação durante anos como jornalista, tendo dirigido emissoras de rádio e recebido prêmios na área de comunicação. O “Inferno é Verde”, seu livro atual e primeiro romance policial, vem sendo aclamado pela crítica como uma das obras mais interessantes do ano sem deixar nada a desejar aos grandes best-sellers.

“Conhecer o autor é tão importante como apaixonar-se ou irritar-se por este ou aquele personagem. O autor escreve por algo que quer dizer a quem puder lê-lo. O texto é o meio de união que leva à investigação, guia a interpretação; e o que sabemos fora dele ajuda a ampliar este entendimento.”
 Boa leitura!

Escritor R. D. Silveira, é um prazer contarmos com a sua participação na revista Divulga Escritor. Conte-nos, em que momento surgiu inspiração para o romance “O Inferno é Verde”?

R. D. Silveira - Ler, observar pessoas, ouvir músicas ou assistir a filmes foram momentos inspiradores, mas eu creio que a impulsão foi a ideia de produzir um texto como contraponto às notícias de espionagem americana de pessoas e países com o objetivo de dominação. Ao tentar juntar o que me vinha à mente a uma história de tráfico de drogas, não gostei do meu texto, parecia sintático e formal demais. Resolvi parar e fui ver televisão. No jogo de futebol, uma torcida verde gritava sem parar: Green hell! Green hell! Por instantes fiquei absorto nas imagens e então retornei ao computador, com um desejo intenso de escrever o que me viesse à mente, algo que me arrepiasse, que parecesse mágico. Foi então que criei a Agência Internacional de Inteligência 3-i, a “Operação Green Hell” e o tráfico de drogas na Amazônia. Acrescentei a isso tudo o olhar sobre o que acontecia no Brasil. 

Como foi a escolha do título? Quem veio primeiro, o título ou o enredo

R. D. Silveira - A escolha do título foi marcante neste trabalho. O nome “O Inferno é Verde” veio da Operação Green Hell e depois eu criei o enredo. O texto ganhou impulso quando a Lava Jato já estava em desenvolvimento. Sobre a ficção que na trama envolvia tráfico de drogas, guerrilhas, índios, animais, agentes especiais e tecnologias de apoio à inteligência internacional, ousei sobrepor um novo texto. Digamos que eu coloquei dentro do primeiro texto, o da ficção, recortes de um texto distinto, o da realidade brasileira de uma Lava Jato, que para uns era a redenção e para outros era o desastre. Uma parte a queria e a outra a temia. Na metáfora da dicotomia, o inferno pode se transformar no paraíso e o paraíso pode se transformar no inferno. O verde do encanto e da sedução pode ser também o inferno das drogas e da corrupção.

Apresente-nos a obra.

R. D. Silveira - Um carro é lançado ao precipício numa rodovia da Mata Atlântica. A Agência Internacional de Inteligência 3-i, apoiada por metade do planeta, dá início na Amazônia à mega operação Green Hell para investigar o tráfico de drogas. Refém de uma guerrilha dissidente das Forças Armadas Revolucionárias (FARC), o agente especial Nolan enfrenta guerrilheiros, traficantes, anacondas, onças e jacarés. O inusitado vai além quando ele toma como parceiro um animal selvagem; e como paixão, uma índia. Num cenário que inclui robôs virtuais e drones, o combate ao sistema de produção e distribuição de drogas vai da Amazônia à República de Curitiba, energizada pela Operação Lava Jato. Quando os fios da trama se unem ao homicídio na rodovia da Mata Atlântica, Moore, delegado executivo da 3-i precisa ajudar seus agentes a encontrar a central de distribuição de drogas. Do contrário a operação fracassará. Green Hell! Não dá para esquecer!

Quais os principais objetivos a serem alcançados com a publicação e divulgação da obra?

R. D. Silveira - O objetivo do projeto literário é, em primeiro plano, entreter. Ao acrescentar ao entretenimento informações e olhares sobre a realidade, provoca-se a reflexão. Quando a ficção se mistura com a realidade é possível criar recortes de pensamento crítico, por exemplo, sobre um futuro menos corrupto e mais universalista do que imperialista. Dentro dos seus limites, o trabalho tem o efeito de produzir uma espécie de teaser de um enredo a ganhar corpo em outras obras. A ousadia é esperar o entretenimento reflexivo, a harmonia entre o passatempo genuíno e as cognições que nos fazem pensar sobre nós mesmos e o mundo.

“O Inferno é Verde” está sendo visto como uma das principais obras paranaenses. O que, em seu ponto de vista, levou o livro a ter tamanho destaque no mercado literário contemporâneo?

R. D. Silveira - Como diria Foucault, o que escrevi nesta obra é para mim hoje, o anterior e o exterior. Pergunto-me se como produtor do texto, cabe apenas a este autor definir o que fez. Para Roque Aloisio Weschenfelder em “O Inferno é Verde” há um nexo presente entre os episódios e a realidade contemporânea brasileira. O crítico literário destaca ainda a linguagem em capítulos iniciados sempre por uma palavra ou expressão, geralmente objeto direto da última frase do capítulo anterior. Nas palavras de Weschenfelder este modo “sui generis” de escrever é um meio de comprometer o leitor a não interromper a leitura. Eu não arriscaria explicar tudo por um único viés, mas acredito que há um pouco desta análise crítica na receptividade da obra.

Qual o momento, enquanto escrevia a obra, que mais o marcou? Comente.

R. D. Silveira - Um momento singular foi conceber a tentativa de fuga de Nolan, prisioneiro da guerrilha, em meio a guerrilheiros armados, índios selvagens, onças, cobras, insetos e plantas venenosas. Sobreposto a isto, o agente precisava decidir se deixava a 3-i e ficava com a índia Amaru, ou continuava na 3-i e deixava seu coração na selva. Em outros momentos, me assustei quando um prisioneiro foi jogado a duas gigantescas sucuris; me sensibilizei pelo amor incondicional de um pequeno quati a Nolan, me impressionei com a bravura da índia Amaru. Por fim, é bom lembrar que dei muitas risadas quando Nolan com diarreia procurou um chonto(buraco para necessidades fisiológicas). Preocupado com o asseio, ele recebeu de um guerrilheiro um pedaço de jornal colombiano. A foto estampada trazia uma manchete: Moro, o juiz que limpa as sujeiras do Brasil.

Onde podemos comprar o seu livro?

R. D. Silveira - O livro está à venda nas Livrarias Curitiba, Livrarias Cultura, Clube de Autores e outras importantes livrarias do Brasil. Nas livrarias Curitiba, a compra pode ser feita diretamente; nas demais, de modo virtual. Links para aquisição são:

Soube que você irá receber, em Minas Gerais, o prêmio Castro Alves. Comente a premiação.

R. D. Silveira - O Troféu Castro Alves 2018 faz parte do evento Excelência Literária de Minas Gerais, criado em 2016 pelo jornalista Eustáquio Felix. Como autor de “O Inferno é Verde”, o recebimento desta premiação é um reconhecimento à obra e à contribuição para a literatura brasileira. Importa registrar que para alguém que nunca participou de um concurso do gênero ou ambicionou um prêmio literário, é com surpresa e satisfação que tomei ciência do convite para receber o Troféu Castro Alves. O valor institucional desta experiência aumenta a responsabilidade e me incentiva a dar continuidade ao ato de escrever. Em 5 de maio às 23 horas no salão nobre do Real Campestre Clube de Itabira, também serão entregues os troféus Cecilia Meireles, Pedro Aleixo, Carlos Chagas, Guimarães Rosa e Mário Quintana.

Quais os seus principais objetivos como escritor?

R. D. Silveira - Comecei “O Inferno é Verde” instigado pelo desejo de contar uma história. Já nas primeiras linhas, o mítico da linguagem conotativa me entusiasmou. Ele me fazia fugir da lógica científica a que estava acostumado e me aproximava de uma verdade intuitiva. É como se eu me autorizasse a desejar eventos em que os sonhos fugissem do papel, transfigurassem a realidade e gerassem encantos. Este arrebatamento, contudo, não eliminou a minha vontade de estar atento ao ambiente à minha volta. Entendo que “O Inferno é Verde” ao propor a ficção num texto que acolhe um outro texto de realidade, expõe ambiguidade e dicotomia, criando na credulidade e na introspecção uma oscilação mental no autor e no leitor. Espero dar continuidade ao que já fiz, contando histórias sobre amores, medos, aventuras e experiências da existência humana.

Pois bem, estamos chegando ao fim da entrevista. Muito bom conhecer melhor o escritor R. D. Silveira. Agradecemos sua participação na Revista Divulga Escritor. Que mensagem você deixa para nossos leitores?

R.D. Silveira - Quero agradecer por esta participação, ao dizer que ela, como o livro, permite a criação de um processo interativo que une autores e possíveis leitores. Conhecer o autor é tão importante como apaixonar-se ou irritar-se por este ou aquele personagem. O autor escreve por algo que quer dizer a quem puder lê-lo. O texto é o meio de união que leva à investigação, guia a interpretação; e o que sabemos fora dele ajuda a ampliar este entendimento. No final de tudo, nos construímos como autores e leitores, e se virarmos a página estamos no suspense, pois não temos ideia de quem serão os personagens e como tudo vai acontecer. É como diz o texto de “O Inferno é Verde”:
Para criar personagens no tempo e no espaço Deus tem caixas de ferramentas. Cada vez que uma delas é aberta, inicia-se a montagem de um novo espetáculo. Deus não joga dados, como dizia Einstein, mas adora brincar com eles.

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“TER FILHOS NÃO É ÉTICO”, AFIRMAM OS ANTINATALISTAS - Jurandir Dias


29 de Abril de 2018
 

O homem é a “única criatura sobre a Terra que Deus quis por si mesma”[i], dotando-o de toda a dignidade a ponto de permitir que seu Filho se encarnasse e morresse na Cruz para resgatá-lo do pecado original. É por este motivo que o demônio se tem empenhado desde o início em destruí-lo. Compreendemos assim também o porquê da criação de doutrinas como a ideologia de gênero, o ambientalismo e, mais recentemente, o movimento chamado antinatalista.

Deus mostra a sua predileção pelo ser humano por se tratar da mais perfeita de suas criaturas e porque o criou “à sua imagem e semelhança”. O que as Escrituras descrevem poeticamente: “Criou Deus o homem à sua imagem, à imagem de Deus o criou; homem e mulher os criou”. E depois de tê-los criado, Deus os abençoou e lhes disse: “Sejam férteis e multipliquem-se! Encham e subjuguem a terra! Dominem sobre os peixes do mar, sobre as aves do céu e sobre todos os animais que se movem pela terra” (Gênesis, 27 e 28).

Ter filhos, portanto, é um mandado divino. O casal que não quer ter filhos demonstra um egoísmo extremo e peca contra esse mandado.

Audrey Garcia, de 39 anos, casada, é uma dessas pessoas que dizem ter seus motivos para não ter filhos. Numa entrevista para a BBC Mundo em espanhol, ela afirma que  ter filhos “simplesmente não é ético em um mundo superpovoado, onde falta água e comida para muitas pessoas, onde estamos destruindo o meio ambiente, onde não paramos de consumir mais e mais recursos”.[ii]

Audrey Garcia pertence a um grupo de pessoas conhecidas como antinatalistas, que se inspiram nas ideias de David Benatar, diretor do Departamento de Filosofia da Universidade do Cabo, na África do Sul. Benatar é autor do livro Better Never to Have Been (Melhor Nunca ter Nascido). A obra começa com a seguinte dedicatória: “Aos meus pais, apesar de me terem dado a vida”.

Segundo Audrey, o antinatalismo está associado ao veganismo. “Como ativista, luto contra todo tipo de exploração animal. Se eu tivesse filhos, seria responsável por criar uma cadeia sem fim de humanos que vão consumir produtos animais, porque não posso garantir de forma alguma que meus filhos e netos sejam veganos” E continua: “Ter filhos significaria necessariamente aumentar o sofrimento animal”. Para Audrey, ser antinatalista também é ir contra o sistema estabelecido, que “supõe que a mulher está destinada a ser mãe”.

Audrey Garcia fez a cirurgia para se tornar estéril e afirma que “as pessoas costumam ficar chocadas porque veem a esterilização como uma mutilação, mas quando eu explico os motivos, elas entendem”.

Como os casais egoístas, que só pensam no prazer e não querem ter filhos, este é um problema que Audrey tem enfrentado nos seus relacionamentos. Por isso, justifica-se dizendo: “Não vejo o que há de egoísta em querer dedicar sua vida a outra coisa que não seja ter filhos. O que acho egoísta é tomar, de maneira unilateral, a decisão de trazer alguém a este mundo.”

Uma das razões que os antinatalistas citam para não terem filhos seriam os sofrimentos físico, psicológico e emocional. Assim, Audrey deixa transparecer o desejo de suicídios dessas pessoas: “Acho que muitas pessoas já pensaram em suicídio uma vez ou outra. Mas já que estou aqui, tento ser útil.”

Por causa do pecado original, esta vida é um “vale de lágrimas”. E é muitas vezes no sofrimento que encontramos a nossa consolação. Foi o exemplo que nos deu Nosso Senhor Jesus Cristo morrendo na Cruz. O suicídio é, portanto, a falsa solução que o demônio apresenta àqueles que se entregam ao egoísmo e aos prazeres.
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[i] CATECISMO DA IGREJA CATÓLICA, 2001, p. 103


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PALAVRA DA SALVAÇÃO (76)


5º Domingo da Páscoa – 29/04/2018

Anúncio do Evangelho (Jo 15,1-8)

— O Senhor esteja convosco.
— Ele está no meio de nós.
— PROCLAMAÇÃO do Evangelho de Jesus Cristo + segundo João.
— Glória a vós, Senhor.

Naquele tempo, Jesus disse a seus discípulos: “Eu sou a videira verdadeira e meu Pai é o agricultor. Todo ramo que em mim não dá fruto ele o corta; e todo ramo que dá fruto, ele o limpa, para que dê mais fruto ainda. Vós já estais limpos por causa da palavra que eu vos falei.
Permanecei em mim e eu permanecerei em vós. Como o ramo não pode dar fruto por si mesmo, se não permanecer na videira, assim também vós não podereis dar fruto, se não permanecerdes em mim.
Eu sou a videira e vós os ramos. Aquele que permanece em mim, e eu nele, esse produz muito fruto; porque sem mim nada podeis fazer. Quem não permanecer em mim, será lançado fora como um ramo e secará. Tais ramos são recolhidos, lançados no fogo e queimados. Se permanecerdes em mim e minhas palavras permanecerem em vós, pedi o que quiserdes e vos será dado. Nisto meu Pai é glorificado: que deis muito fruto e vos torneis meus discípulos.

— Palavra da Salvação.
— Glória a vós, Senhor.

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Ligue o vídeo abaixo, e acompanhe a reflexão do Padre Roger Araújo:
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Conectados à vida

“Como o ramo não pode dar fruto por si mesmo, se não permanecer na videira...” (Jo. 15,4)

Se há algo que caracteriza nosso tempo é a nova consciência de ser rede-comunhão-interconexão-unidade. Todos já sabemos que tudo está interconectado: a globalidade é interação. Lentamente vai-se tomando consciência de que formamos parte de um todo. Há em nós uma necessidade básica de viver conectados com os outros, de entrar em relação com o mundo.

Este tempo pede de nós “uma espiritualidade da conexão”, da busca da experiência da Unidade, de estender pontes entre culturas, raças, sexos, crenças religiosas, ideologias, de romper fronteiras, de estreitar laços, de criar espaços acolhedores... Precisamos sair de nossos pequenos círculos para criar vínculos com tantas pessoas, grupos, organizações sociais e movimentos que buscam outra globalização, a globalização da solidariedade, da interconexão responsável, da comunhão universal.

O desafio que se apresenta diante de nossos olhos é o de sermos fiéis à realidade para poder descobrir nela a novidade de Deus, uma experiência “mística” que nos faça tocar o mais profundo de tudo, e como consequência, denunciar o que obstrui e mata este dom novo de Deus.

A imagem da videira e dos ramos, no Evangelho de hoje, nos revela a teia das relações, das interdependências e da comunhão de todos com a Fonte originária de tudo. Pertencemos a uma comunidade cósmica de vida tal como foi criada e sustentada por Deus. Somos quem somos somente na relação e por  nossa relação com todas as criaturas e com o próprio Criador; somos alimentados pela mesma seiva divina, que tudo sustenta com sua mão providente.

Isto significa que há uma unidade fundamental que perpassa todas as partes do universo, na forma de uma “rede”. Nós, seres humanos, também fazemos parte desta vasta rede de inter-relações, conectados a todos os elementos da natureza, desde a menor célula até a ecologia global.  Sentimo-nos impulsionados pela seiva do Espírito que alimenta as energias do universo e a nossa própria energia vital e espiritual. Conectar-nos com a Videira possibilita alcançar a seiva, o pulsar da vida e o equilíbrio nas relações; viver em profunda fusão com a videira desperta as energias criativas, todas as grandes motivações adormecidas, toda bondade aí presente.  Sem a seiva divina que nos atravessa nunca poderemos dar o verdadeiro fruto.

No entanto, percebemos, no contexto atual, que o ser humano tem perdido o contato e a comunhão com o cosmos e com os seus semelhantes, recusando receber a seiva que a todos alimenta; ele está conectado com tudo e com todos e, no entanto, tal conexão não lhe nutre, nem lhe oferece sentido à sua existência. A compulsão dos meios eletrônicos o ameaça de superficialidade, de individualismo e de isolamento. Isto tem provocado nele toda espécie de mal-estar, de doenças, de conflito e divisão, de insegurança, de ansiedade, de solidão, de aridez existencial... É aguda a consciência de uma fragmentação do eu interior.

A verdadeira nobreza do ser humano consiste nisto: há nele “algo” de interior, decorrente de sua profunda conexão com a Videira, de onde recebe a seiva que o nutre e o faz entrar em relação com tudo e com todos; há nele uma força latente, como uma energia fundamental, que o impulsiona a viver, que o ajuda a crescer e a melhorar continuamente, aumenta a sua capacidade de resistência, estimula-o a alcançar aquilo que é o sentido de sua própria existência: a verdade, a liberdade, o bem, o amor...

Com a presença desta força interior, a pessoa se sente guiada pelo seu dinamismo, que lhe proporciona saúde física, lucidez mental e limpidez afetiva. É esta força que comanda os melhores momentos da vida humana como um princípio ativo, dinâmico, criativo... Tais forças primordiais, vitais, presentes nas diferentes etapas do crescimento, são essenciais ao ser humano, graças às quais ele se orienta diante das solicitações da vida pessoal e das múltiplas escolhas, constrói a sua vida pessoal, reforça as relações comunitárias e sustenta o seu compromisso solidário no caminho em direção à plenitude do seu ser. 

Quando esta “força vital” permanece bloqueada, o ser humano perde a direção, seca a criatividade e o gosto por viver, não faz progredir a sua potencialidade e demite-se da própria vida. Diante dessa situação existencial, faz-se urgente uma poda. A poda é constitutiva de nossa vida, sempre será necessária; temos a perma-nente tendência à acomodação, à rigidez em nosso modo de ser e proceder, ao fechamento em nossas idéias, aos afetos desordenados; constantemente experimentamos perdas, amputações, despedidas, limites...

Vivemos as perdas como autênticas mutilações do eu e da vida. Algo ligado à nossa identidade, à nossa imagem pública, com as quais nos identificamos, deve ser jogado ao fogo, pois já não serve mais para nada. Mas as podas abrem espaço à vida nova. À luz da Páscoa, toda poda revela-se nova possibilidade de vida. É certo que ela pode nos paralisar na queixa contínua, na saudade melancólica do passado ou em posturas defensivas; mas também nos possibilitam experimentar a chegada de uma vida inspirada que ativa nossa criatividade e nos enche de alegria. O decisivo não é fixar-nos no “por quê?” das perdas e podas, mas, à luz da Ressurreição, mudar o sentido da pergunta: “para quê” a poda aconteceu? No “para quê” descobrimos um novo sentido e uma nova força vital que brota das feridas e perdas existenciais. Na experiência da ressurreição nada é “descartado”, tudo é iluminado e a seiva de vida surge de onde menos se espera.

O Podador sabe que está preparando uma vida nova e de mais plenitude. Mas é doloroso, produz-se uma perda, é necessário fazer o luto e despedir-nos daquilo que inevitavelmente nós perdemos. Precisamos fazer descer da cruz o que em nós está caduco e morto, olhá-lo de frente, sepultá-lo e despedir-nos dele para que a vida nova possa expandir-se com liberdade. 

Só quando morremos e ressuscitamos podemos nos renovar e gerar muitos frutos, pois experimentamos em nossa própria carne a fragilidade humana, o que é efêmero e secundário, mas ao mesmo tempo ressuscitamos a partir de uma força que nos vem do mais profundo de nós mesmos, que transforma o que está morto em nós numa nova possibilidade ainda por ativar. Ninguém ressuscita no sentido de recuperação do antigo, mas como a acolhida de um dom inédito de Deus.

É decisivo religar-nos à Fonte e aproveitar, para o desenvolvimento integral da nossa personalidade, os abundantes nutrientes e recursos presentes nas profundezas do nosso coração. São forças construtivas e autônomas, livres de influências externas, que devem ser colocadas a serviço da construção de uma personalidade sadia, equilibrada e mais rica. Com isso, todo nosso interior se alarga e se dilata.

A seiva de nosso ser essencial constitui nossa autêntica vida. Descobri-la, abrir-nos a ela, fazer-nos trans-parentes a ela e vivê-la cada dia constituem a plenitude de nossa realização. É seiva divina, presente no “eu” mais profundo, que nos arranca de nosso fechamento e nos faz ir para além de nós mesmos; ela nos abre a uma Realidade maior que nos transcende; é ela que nos faz perceber que temos no coração um espaço que está feito à medida de Deus.

Precisamos viver mais nas raízes de nosso ser; precisamos aprender a viver de uma maneira mais profunda e autêntica, a partir do núcleo mais íntimo de nosso ser, a partir de nosso ser essencial. Trata-se de descer em profundidade, de achar o nosso centro, aquele ponto de gravidade por onde passa o eixo do nosso equilíbrio pessoal.  A oração nos ajuda a encontrá-lo e a ampliá-lo.

Texto bíblico:  Jo 15,1-8 

Na oração: A compulsão dos meios eletrônicos nos ameaça de individualismo e de solidão, mas a oração cristã é um grande corretivo, pois ela nos ajuda a descobrir nossa interioridade, nos dá “olhos interiores” para captar o mais profundo nas pessoas, a dimensão mais verdadeira de nossas vidas, a beleza escondida na realidade.

A oração é, também, um convite a sentir-nos com os outros, a conectar-nos com todos e a viver em comunidade; o “blog” da oração cristã é também com outros, junto aos outros, para outros.

- Qual é a seiva que alimenta e sustenta sua vida? Onde você a busca? 

Pe. Adroaldo Palaoro sj

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