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quarta-feira, 22 de março de 2017

RIO CACHOEIRA – Por Eglê S Machado

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Rio Cachoeira


O Rio esteve contente,
Mais caudaloso e disposto,
Parecia recomposto
Com corredeiras, valente!...

Mas Itabuna, inclemente,
Insiste em lhe dar desgosto
Persiste  em virar o rosto
Atitude prepotente.

Sem ar, sem viço, impotente.
Humilhado e decomposto,
O rio Cachoeira deposto,
Retorna ao leito indigente!

Sentindo n ‘alma um vazio
Eu choro por ti, meu rio!
  
Eglê S Machado
Academia Grapiúna de Letras-AGRAL
Janeiro 2015 


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PAPA NO DIA MUNDIAL DA ÁGUA: TUTELAR UM BEM DE TODOS

Cerca de 633 milhões de pessoas no mundo são privadas do acesso à água potável em suas moradias - AP

22/03/2017

Cidade do Vaticano (RV) – A “necessidade de tutelar a água como bem de todos, valorizando também os seus significados culturais e religiosos”.

Ao saudar a os fiéis de língua inglesa na Audiência Geral desta quarta-feira, o Papa Francisco recordou o Dia Mundial da Água instituído pela ONU há 25 anos e saudou os participantes do encontro organizado em Roma pelo Vaticano sobre a proteção dos recursos hídricos.

“Encorajo em particular o vosso esforço no campo educativo, com propostas voltadas às crianças e aos jovens. Obrigado por aquilo que fazem, e que Deus vos abençoe”.

De fato, cerca de 633 milhões de pessoas no mundo são privadas do acesso à água potável em suas moradias e cerca de 2,4 bilhões não tem acesso aos serviços higiênico-sanitários adequados, o que provoca a cada ano a morte de mais de 300 mil crianças abaixo dos 5 anos.

Diante deste quadro que a ONU decidiu dedicar este 25º Dia Mundial da Água às águas residuais, ou seja, aquelas contaminadas por atividades domésticas, industriais e agrícolas, que são depuradas e reutilizadas segundo o objetivo sustentável fixado em 2015 pela ONU: “melhorar até 2013 a qualidade da água eliminando os despejos, reduzindo a poluição e a emissão de produtos químicos e descartes perigosos, reduzindo pela metade a quantidade de águas residuais e aumentando a reciclagem e o reemprego seguro a nível global”.

Em 24 de fevereiro passado, o Papa havia falado de “uma grande guerra mundial pela água”, sublinhando, no entanto,  que “ainda não é tarde, mas urgente tomar consciência sobre a necessidade da água e de seu valor essencial para o bem da humanidade”.

Neste sentido, o Pontifício Conselho da Cultura organizou no Augustianum a iniciativa “Watershed: replenishing the water values for a thirsty world”("Bacia hidrográfica: reabastecer os valores da água para um mundo sedento") conferência voltada, em particular aos representantes do Corpo Diplomático credenciado junto à Santa Sé e aos prelados da Cúria Romana.

Entre os conferencistas estarão, entre outros, o Cardeal Peter Turkson, Presidente do dicastério para o Desenvolvimento Humano Integral e o Arcebispo Paul Richard Gallagher, Secretário para as Relações com os Estados.

A iniciativa é uma resposta concreta que o dicastério procura dar às questões levantadas pela Encíclica Laudato Si, em colaboração com o Clube de Roma e a Escola Superior de Cultura Social e mediática de Toru, na Polônia.

Sustentada por uma campanha no site http://worldwatervalues.org e nas redes sociais – que aposta no envolvimento dos jovens na defesa daquele que é um dos mais preciosos bens comuns – a iniciativa quer ser um verdadeiro divisor de águas na promoção de uma nova cultura do respeito pelo ambiente, centrada nos valores a serem oferecidos a um mundo sempre mais sedento.

(JE)



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CARTA DE CYRO DE MATTOS PARA EGLÊ MACHADO (Há 2 anos)


          Prezada Eglê,


          É muito bonito o que você vem fazendo comigo. Comove-me. Demonstra reconhecimento pelo meu trabalho, de maneira espontânea e sincera. E que você possui verdadeiro amor por Itabuna, sem outros interesses, coisa rara entre nós Itabunenses. Vou encaminhar esta divulgação sua através de seu prestigiado blog para os professores Graça Capinha e Manuel Portela, da Universidade de Coimbra, em Portugal. Atitude dessa natureza incentiva-me a continuar na jornada.
     
          Eu passei a ser vítima de uma rede de intriga aqui em minha terra a partir do momento que meu trabalho literário repercute além das fronteiras regionais. Não cheguei até aqui porque entrei pela porta dos conchavos, aliança em grupinhos e outras mazelas. Nem sequer ambicionei chegar onde estou. Essa situação alimentada por pessoas venenosas, movidas pela inveja e ciúme, cresceu também quando de minha passagem pela FICC. Alguns na mídia procuraram atingir minha honra, ofender meu caráter, caluniar-me para tirar o foco do escritor e jogar contra mim a cidade que me viu nascer, crescer e me conhece ao longo de mais de setenta anos de vida. É uma postura humana de fazer pena, de baixo nível, articulada por esse tipo de gente que se alimenta das doses venenosas da vida para não morrer. E a intriga, o ciúme, a inveja, a raiva e a mentira dessa gente continuam voltadas contra mim. Não sossega, vive disso. Não estou nem aí. Algumas atitudes políticas, por omissão, alimentam essa corrente, pois é sabido que gente da praia política não gosta de conviver com pessoas decentes, íntegras, com raras exceções. Os donos do poder político, melhor dizendo , da vaidade humana, gostam mesmo é de conviver com pessoas que rezem em sua cartilha, como mansos cordeiros ou veementes soldados bem mandados, com exceções, volto a dizer.
   
          Inventaram agora que afirmei serem os poetas do Clube dos Poetas uns tupiniquins. Nunca afirmei isso. Isso não faz o meu perfil. De fato nunca quis pertencer ao Clube dos Poetas porque é um direito meu. Como também tenho o direito pela minha experiência de vida de saber se este poema é frágil ou se esse texto não é um poema, existe nele um equívoco na expressão e nos sentimentos de mundo que entram no conteúdo do discurso.

          Não sou o dono da verdade, as pessoas podem também não gostar do que faço como poeta. Tenho consciência de meus limites e sei que muitos poetas estão acima de mim. Muitas pessoas gostam mesmo é do elogio fácil, da mentira, que você afirme ser ele um poeta, um intelectual maior, embora não seja. Aí é que surge também a retaliação dos ressentidos. É preciso saber que um poeta se faz pela qualidade de sua obra e não porque é membro de alguma academia de letras, clube, instituição social ou política. Nada a ver.

         Prezada Eglê, cada vez mais sinto que a vida precisa de criaturas como você. Pessoas verdadeiras, que amam a vida. Escrevem a vida com o canto dos pássaros e não com o cheiro repelente e vil da carniça, como tantos que existem por aí.
   
          Se quiser pode publicar o que aqui afirmo. 

          Abraços,


          Cyro de Mattos

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ITABUNA CENTENÁRIA REFLETINDO: CONTO INFANTIL/ A GALINHA INTRANSIGENTE



A Galinha Intransigente



Existiu certa vez uma galinha que nunca estava satisfeita com nada. Vivia de mal com o mundo e não perdoava a menor ofensa, mesmo involuntária.

Passava o tempo a queixar-se da vida e a criticar tudo o que os animais da fazenda faziam. No terreiro, ninguém estava livre dos seus comentários.

Se um patinho se machucava, ela logo dizia:

– Bem feito! Quem manda dona Pata deixar seus filhotes soltos por aí?

Se o cachorrinho era picado por uma abelha ao enfiar o focinho no tronco de uma árvore, ela logo exclamava com ar satisfeito:

– Teve o que merecia! Quem manda ficar enfiando o nariz onde não deve?

Se o gatinho, sem querer, entornava o prato de leite, ela reagia:

– Também com a educação que dona Gata lhe dá, só podia ser um trapalhão mesmo!

E assim ela criticava todos os animais do terreiro. E ai de alguém que lhe fizesse a mínima ofensa. Jamais teria o seu perdão.

Certo dia, ela descuidou-se arrumando o galinheiro e não viu que um de seus pintinhos desaparecera.

Quando percebeu, ficou apavorada e saiu gritando por ele:
– Chiquinho! Chiquinho! Onde está você?

Mas nada do Chiquinho aparecer. Perguntou para os vizinhos, para dona coruja, sempre muito esperta, e nada. Ninguém sabia dar notícias do pintinho.

Todos estavam preocupados e ajudando a procurar o filhote da galinha, até que dona Vaca lembrou-se de tê-lo visto atravessando o pasto a caminho do riacho.

Correram todos, e lá chegando ficaram surpresos e encantados com a cena que viram.

O pintinho caíra na água e, não sabendo nadar, debatera-se, ficando preso em umas plantas na outra margem do riacho que, embora estreito, não dava para alcançar.

O patinho, excelente nadador, já fizera vãos esforços para soltar o pintinho, que estava preso por uma das patas, mas ele era muito fraco e não tinha força suficiente.

O cachorrinho e o gatinho tiveram uma ideia e, nesse exato momento, a colocavam em execução.

O cachorrinho, que era o mais forte, se pendurou num galho de árvore à margem do regato e, ao mesmo tempo, segurou uma das patas do gatinho, que se esticou… esticou… esticou até conseguir agarrar o Chiquinho pelo pescoço. Depois, puxando-o com força, pode livrá-lo dos ramos que o prendiam.

Foi um alívio geral! Em pouco tempo, Chiquinho estava nos braços da mamãe Galinha, que respirava aliviada.

– Graças a Deus! Não sei como agradecer a vocês todos pela ajuda que me deram! — disse com lágrimas nos olhos.

Depois, pensando um pouco, completou envergonhada:

– E logo eu que sempre fui tão intolerante com todos! Mas, nunca mais criticarei ninguém. Nunca se sabe quando nós também vamos precisar da ajuda e do perdão dos outros.

Hoje, por minha falta de atenção, meu filho quase perde a vida. Porém, em vez de me censurar, vocês me ajudaram.

Quero que me perdoem tudo o que já lhes fiz, como espero que Deus me perdoe também.

E deste dia em diante, dona Galinha transformou-se numa criatura boa, paciente, tolerante e compreensiva para com as falhas do próximo e nunca mais criticou ninguém.


Tia Célia

Célia Xavier Camargo

Fonte: O Consolador – Revista Semanal de Divulgação Espírita



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FARINHA DO MESMO SACO - Ana Maria Machado


Farinha do mesmo saco


A expressão popular lusitana refere-se a iguais que estão juntos como sendo vinho da mesma pipa. No Brasil, falamos em farinha do mesmo saco. Nos últimos dias, temos discutido políticos do mesmo caixa. Ou não?

Claro que sim. E claro que não. Também não são iguais os que os classificam de uma forma ou de outra. Não só pela autoridade de que se revestem ou por eventuais simpatias partidárias. O fato é que diferem uns dos outros. Igualmente são diversos entre si os jornalistas que reportam suas declarações — e não apenas pelos jornais para os quais escrevem ou por causa dos candidatos em que votam.

No entanto, é indispensável que o país neste momento debata essa questão. Dela não vão depender somente as decisões sobre fatos passados. Mas uma análise clara servirá para orientar medidas que ajudem a balizar uma reforma eleitoral que melhore o futuro. E a primeira coisa a fazer é discutir com clareza e transparência, lançando luz sobre o tema, de modo a que possamos entender o que se passa, sem deixar buracos de ratos nos desvãos mais escuros.

A esta altura, já deveríamos estar todos tão escolados que nem se precisaria repetir o óbvio. Mas os esquemas e mecanismos são propositadamente complexos, para embaralhar pistas. Então, insistir em alguns pontos básicos nunca é demais. Situações diferentes podem exigir punições diferentes.

1 — Ser mencionado por ouvir dizer, apontado por um delator, ou investigado não é a mesma coisa. E ser denunciado, acusado ou transformado em réu também é outra.

2 — Até recentemente, doação de empresa era perfeitamente legal até o limite de 2% de seu faturamento. Cada partido ou candidato podia pedir quanto quisesse e dentro desse limite. Desde que tudo fosse declarado, nenhum problema, por mais que se possa especular sobre os interesses de uns e outros na prática.

3 — Qualquer caixa 2 é ilegal, seja de grande empreiteira ou do botequim da esquina. É delito fiscal. Significa que um dinheiro não foi declarado e não pagou imposto. Tem punições previstas em lei, para quem o cometa. Mas em si ainda não é corrupção, embora possa se ramificar em vários crimes. Todos esses precisam ser expostos e castigados na forma da lei. O caixa 2 pavimenta o caminho para eles. Pode ocultar conflito de interesses e tráfico de influência. Pode ser forma de encobrir de um mandachuva a real preferência do doador, ou de ceder a achaque ou chantagem (ao que se sabe do Brasil profundo, práticas corriqueiras em prefeituras). Pode ser pagamento de propina por favores recebidos ou a receber — seja por meio de projetos de lei favoráveis, emendas a MPs e PECs, isenções fiscais, superfaturamentos, aditivos a contratos, e o mais que andamos descobrindo.

Nessas descobertas que horrorizam as pessoas de bem, vai se delineando o crime perfeito. Aparentemente, não surge como caixa 2, e até pode parecer inocente. A empresa (ou as empresas, em rodízio, conforme as regras que regem o cartel) recebe por uma obra ou serviço muito mais do que o necessário para executá-lo. Esse “a mais”, devidamente contabilizado no caixa 1 oficial, transforma-se em doação eleitoral legal e declarada. Ou seja, sai dos cofres públicos e vai para um partido ou candidato por mãos de uma empresa, mas no caminho é aprovado e legalizado pela Justiça Eleitoral que, sem desconfiar, atua como a lavanderia do dinheiro sujo.

Distinguir isso com clareza é essencial para não relevar práticas desse tipo. Juntar tudo no mesmo saco sem distinguir nuances atrapalha a democracia, porque engole a alteração de resultados eleitorais com base em mentiras, construídas em campanhas milionárias. E em mecanismos de cobertura midiática que vão além dos boatos, contranarrativas, fatos alternativos e outros exemplos de pós-verdade que assolam nosso tempo.

Nesse sentido, um truque nivelador eficiente é o da falsa equivalência, que dá pesos iguais a coisas diferentes. Na campanha americana, para bater em Trump pelo conjunto da obra, espancou-se com igual força Hillary Clinton por seus e-mails. Os bem intencionados apoiadores de Bernie Sanders não admitiram trabalhar por ela. Trump acabou eleito.

Ainda agora, muitos dos que com razão caíram em cima da fala presidencial no Dia da Mulher, retrógrada e fora de moda, são os mesmos que ignoraram a piada ofensiva e asquerosa de Lula, dizendo que sua auxiliar de confiança Clara Ant achara que cinco policiais em sua casa eram um presente de Deus. Esta semana, um cronista chegou a citar o discurso de Temer sob a mesma pecha de selvageria e violência em que comentava o crime do goleiro Bruno.

A que serve essa veemência? É útil à democracia? Todo político é igual? A que salvador da pátria essa ira virulenta pode nos entregar?

Assim fica difícil. Mesmo se for tudo farinha do mesmo saco, o inteligente é distinguir farinha de trigo e farinha de joio. Desse modo, ganhamos eficiência para defender a democracia no imprescindível debate sobre reforma eleitoral. O que é outra conversa, que fica para outro artigo.

O Globo, 18/03/2017


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Ana Maria Machado- Sexta ocupante da Cadeira nº 1 da ABL, eleita em 24 de abril de 2003, na sucessão de Evandro Lins e Silva e recebida em 29 de agosto de 2003 pelo acadêmico Tarcísio Padilha. Presidiu a Academia Brasileira de Letras em 2012 e 2013.

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