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sábado, 9 de março de 2019

AS ALFORRIAS DE RITA SANTANA - Cyro de Mattos


       
    A vida é falha, não basta na sucessão dos acontecimentos. Do nascimento ao ocaso não satisfaz, é ambígua e contraditória. Para onde vá finita é envolvida com as marcas inexoráveis da precariedade. Irreversível no anonimato dos dias, náufraga na memória do efêmero, submete-se ao jogo de Cronos, que tudo dá e toma. Encontra para fundamentar-se no ser a linguagem artística, que a torna essencial, inaugurando seus dizeres   com novos sentidos.

            Nessa hora de crises e questões, a poesia entra em cena com seus modos, que são versos e motivações, buscas num obstinado empenho de totalidade, visão individual na exposição de alforrias, que circulam em seu íntimo, tocam os acordes já uma vez entoados, recriados, como os cria também no leitor.
    
             Um poema lírico é eficiente quando se pensa na sensação, palavras e versos como meios surpreendentes de seus motivos crivados de falas. É belo quando a verdadeira força e valor estão na situação de seus motivos.  Quando é pobre na motivação, deixa de operar a sua presença com eficácia perante a existência. E, sensações estranhas no ritmo, versos inócuos na ideia, o que seria inspiração e transpiração   perde-se no vazio, na incapacidade de transmitir algo sério, alcançar um grau eficaz na dicção particular em que se expressa.

              O estético nesse caso sem resultado positivo, graças ao efeito ineficiente do pensamento verbal, dissociado do conteúdo rico de significados, não se faz bom nem belo, eis que se apresenta destituído de um discurso pulsante de vida, prazer e dores. Destituído de densidade na palavra, frágil assim para refletir a vida, dispensa compreensão e fruição da mensagem, pois nele não se consegue perceber o relacionamento contraditório dos seres e as coisas. É o que costuma empreender o texto em prosa ou verso decorrente de uma estrutura frágil de expressão e conteúdo.
 
           
Nesses vinte e oito poemas de Alforrias (2016), de Rita Santana, a poesia composta em versos livres se expressa com palavras herdeiras da língua e de neologismos inventados para reforçar o sentido, que em muitos momentos é  desenvolvido pelas motivações de natureza existencial agônica.

             A metáfora fecundada de alusões apropriadas insinua a possibilidade de uma compreensão lógica e sentimental da vida, crispada na face multifacetada de dores e falhas.  Parece que tudo isso trabalhado com equilíbrio, a nível de engenho e arte, ressoa em Alforrias com a consciência dos sentimentos, intuições e razões que se prestam à perspicácia da alma, à liberação de um lirismo que corresponde a certas inclemências, paixões com a solitude do vento, invasões com as tormentas e os abortos clandestinos.

              O lirismo em que se refere a poeta para transmitir cometimentos, estruturados em estados de desejo incompleto, resulta da necessidade categórica própria dessas alforrias, que querem ser percebidas num mundo-mar de vastidões e até mesmo na forja das ilhas onde cavam suas profundidades. Seu discurso contundente em que dolorosa é a mensagem não esconde a intenção do eu e tu como vínculo de gravidade. De suas colisões constam   adultério, torpezas e vilania, sempre no ser-estar crítico o drama, disposto a revelar-se sem concessões do verso doce, frágil e pueril, mas sempre desdobrado em poesia secreta e prosadura.

             Essas alforrias de Rita Santana, tecidas na tristeza da alma e nas acusações eróticas do amor, distribuem-se com a temática afrodescendente, da condição da mulher frente ao homem e na versão carnal que os une e desune.  Percepção do que a vida oferece em situações do desamor está no poema Mortes Cotidianas.


Chove na promessa remissa do feriado
E a migração não cessa.
Entristeci há dias
E o espelho, somente ele,
Revelou o embranquecer dos pelos,
O cansaço da voz,
E a desidratação da esperança.

Chove nos confins da minha alegria.
Virei moça triste sem vontade de sorrir.
Não tenho nada!
E nada resta do ser, senão, securas.
Artroses na atriz, reumatismos no feminino
E uma alergia de afetos.

Há anos não gozo, por puro desgosto!
Há anos não canto, por puro desencanto!
Há anos não vivo, só tenho banzo!    
Por pura preguiça
De subir tantas ladeiras,
E descer tanto Morro,
Morro, morro, morro, morro...


            Como observa Maria de Fátima Maia Ribeiro, na orelha desse pequeno grande livro de poemas instigantes, o lirismo atual desse poeta “definitivamente descarta a necessidade de espera de tempo e serenidade, em favor do encantamento, da exacerbação e do reencontro com camadas tantas vezes adormecidas.”

              A ilheense Rita Santana é atriz, professora graduada em Letras pela Federação de Escolas de Ensino Superior de Ilhéus e Itabuna. Mulher que se inventa em versos e na prosa de ficção curta.  Além de Alforrias, publicou Tramela (2004), contos, vencedor do Prêmio Brasken de Cultura e Arte, e Tratado das Veias (2006), poesia. Um talento dos melhores que aconteceu nos últimos anos nas letras contemporâneas da Bahia.
                                                                                                                                                                                                                  
Referência
SANTANA, Rita. Alforrias, Editus (Uesc), Ilhéus, Bahia, 2016.

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Cyro de Mattos é escritor de crônicas, contos, romance, poesia e literatura infantojuvenil. Premiado no Brasil, Portugal, Itália e México. Também publicado por editoras da Europa. Da Academia de Letras da Bahia. Doutor Honoris Causa da universidade Estadual de Santa Cruz.

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SOBRE O PRESIDENTE BOLSONARO



Eu não peço desculpas pelo que estou postando, pois é realmente assim como me sinto. Por favor, saiba que esta é a minha opinião e não está aberta para debate. Se você não concorda, é sua prerrogativa, mas eu não vou responder a nenhum dos comentários.

Já sobrevivi a 08 eleições presidenciais no Brasil antes de nosso atual presidente Bolsonaro. Em toda a minha vida, nunca vi ou ouvi falar de um presidente sendo examinado sobre cada palavra que ele fala, humilhado pela mídia até a desgraça, caluniado, ridicularizado, insultado, ameaçado de morte, ter por alguns tentado denegrir a imagem de nossa Primeira Dama, e ter seus filhos também insultados e humilhados.

Estou verdadeiramente envergonhado da mídia do meu país.

Tenho vergonha dos insuportáveis inimigos de Bolsonaro, que não têm moral, ética ou valores, e da irresponsabilidade dos repórteres que acham que têm o direito de opinar pessoalmente apenas para influenciar suas audiências em uma direção negativa, mesmo se não houver qualquer verdade em sua mensagem.

Todos os outros presidentes foram eleitos e fizeram o juramento de posse, eles foram autorizados a tentar servir este país sem um constante escrutínio negativo de nossas fontes de notícias. Sempre pressionado, enquanto as fontes de notícias buscam apenas resultados negativos do nosso Presidente. Isso não servirá ao povo de nosso país, nem criará brasileiros informados.

Basta! Chega! Acabou! O povo de bem acordou!

Não canso de repetir, se você está num avião e não gosta do piloto, você não torce pra ele cair, torce? Então faça-me o favor!

Todos que entraram tiveram paz e tempo para trabalhar. Vamos nos unir pelo bem do nosso Brasil. Chega disso! Vamos torcer para que tudo dê certo. De coisas erradas, já estamos vindo desde tempos atrás. Você pode não gostar do presidente, mas torcer contra sua pátria, contra seu povo e contra você mesmo é muita canalhice.

Se concorda comigo, copie e cole em sua página. Se não concorda, finja que não leu, pois, como disse acima, não vou responder a ninguém.


(Recebi via WhatsApp. Autor não mencionado)

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ITABUNA CENTENÁRIA UM POEMA: Vácuo – Geraldo Maia



VÁCUO
 

O vento parou de repente,

parece uma montanha invisível,

uma casa sem sentido,

e levou a lua para o gelo,

compartilhou segredos com as copas das árvores,

alguém quis chegar na janela

e confessar pecados das sombras,

mas o vento ficou impassível,

precisava se manter assim

até que movesses um riso na tua demora,

apenas caprichos ao vento,

birra de brisa,

exagero de furacão,

o imenso parque de diversões dos tornados,

o sopro na ferida depois do mercúrio,

o zinco afiado das favelas,

a porta impassível do parque onde se reúnem

para os ensaios dos assovios,

e ainda está lá, parado diante da luz azul,

disposto a ficar ali até que resolvas doar

um segundo de tua respiração

para o cochicho das fábricas,

para a ladainha da saudade

que fica ali parada

sem saber direito o que fazer

para escapar do vácuo de tua ausência.

.......... 

Geraldo Maia, poeta
Estudou Jornalismo na instituição de ensino PUC-RIO (incompleto)
Estudou na instituição de ensino ESCOLA DE TEATRO DA UFBA
Coordenou Livro, Leitura e literatura na empresa Fundação Pedro Calmon
Trabalha na empresa Folha Notícias,

Filho de Itabuna/BA/BRASIL, reside em Louveira /SP.

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