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sexta-feira, 26 de abril de 2019

UMA ORAÇÃO AO ETERNO QUE MORA NOS CORAÇÕES – Wagner Borges



Que você encontre o amor mais lindo dentro do seu próprio coração. Que você veja seus filhos como presentes do Eterno. Que você ainda se encante com as coisas mais simples da vida. Que você não se iluda com as luzes temporárias do mundo. Que você saiba tirar sábias lições de vida dos reveses.

Que você perdoe, mesmo que ninguém entenda. Que você veja cada dia como uma benção de luz e recomeço... Que nada possa afastá-lo de seus melhores propósitos. Que você escute música e se sinta agradecido. Que você não se esqueça de seus pais e honre-os com sua atenção. Que você seja justo, sem jamais perder seu coração e sua canção. Que você não se apegue ao passado; há tanta coisa para aprender...

 Que você não se esqueça de quem lhe ajudou; gratidão é sabedoria. Que você conserve seus amigos verdadeiros; eles são joias de sua vida. Que você segure seus filhos no colo, como o Eterno segura as estrelas. Que você veja seu parceiro (a) como um presente da vida. Que você chore, se for preciso, mas que suas lágrimas sejam lindas. Que você ria, principalmente de si mesmo; alegria é fundamental! Que você não tenha ódio em seu coração, pois isso empobrecerá sua canção. Que você supere suas provas, com coragem e inteligência.

Que você abra seu coração para o amor, como a flor se abre para o sol. Que você beije alguém amado como os raios solares beijam as flores. Que você faça amor com luz nos olhos e gratidão pelo presente. Que você não prenda quem quer ir embora.  Amor não é gaiola! Que você se atreva ser você mesmo, mas, sem arrogância! Que você jamais se esqueça de que há um Poder Maior em todas as coisas. Que você ore, em espírito e verdade, sem medo de se abrir para o Céu. Que você converse com o Eterno, de coração a coração, sem dramas.

Que você olhe para a lua cheia, extasiado, como uma criança. Que você sinta o cheiro do café e se sinta cada vez mais vivo. Que você tome um chá de olhos fechados e pense em algo bom. Que você se recicle, se areje, para não criar teias de aranha em sua vida. Que você tenha a idade que seu espírito lhe disser, sem medo de rugas. Que você não envelheça sem amadurecer; jamais deixe de rir de uma piada!

Que você sempre trate bem a sua criança interior; criança é vida! Que você sempre desconfie quando a música não o encantar mais. Que você perceba o perigo de ser tomado pela irritação descabida. Que você não perca tempo com fofocas e nem se exaspere com tolices. Que você saiba valorizar pessoas de energia limpa e toques legais. Que você se atreva a andar com um sol na cara e um grande amor no peito. Que você não se engane com as aparências; há muita gente boa neste mundo. Que você não olhe raça, religião, sexo ou cultura; veja o Eterno em cada ser.

Que você jamais ache que perdeu algo ou alguém; o Todo está em tudo! Que você veja luz nessas linhas; a mesma luz que está em seu coração. Que você escute alguma canção querida e se sinta muito bem. Que você seja feliz, mesmo que ninguém entenda. Então, que sua luz silenciosa siga... para abrir outras flores por esse mundão de Deus, como deve ser.




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A UM AMIGO JAPONÊS - Marco Lucchesi



 Minha história secreta com o país do sol nascente

Os meus cumprimentos nesse princípio de outono, sob uma luz intensa e nítida, que é como devem começar as cartas nipônicas, marcadas pela estação do ano.

Minha relação com o Japão começou na meninice, com um manual de conversação e uma pequena gramática. Se a pronuncia me faltava, a memória de uma trintena de kanjis abria-me as portas para os desenhos da língua. Ainda jovem, capturava em ondas curtas a Radio Tokyo Internacional. Sucedeu-se depois a incurável paixão da síntese, despertada pelos haicais e as tankas, tesouros de toda a poesia. As páginas de Lafcadio Hearn e Fosco Maraini chegaram tardias; ao contrário da ópera de Puccini, do teatro No e Kabuki, das considerações da filosofia zen, essas que invocam imagens de alto impacto, entre Kurosawa e Hokusai.

Preparei um número especial da revista Poesia Sempre dedicada ao Japão, enquanto me perdia nas páginas irredutíveis de Mishima, e Tanikawa, Yoshimasu e Tanizaki. Meu japonês é apenas rudimentar, intermitente, com idas bissextas a Kenneth Henshall, espécie de botânica para memorizar kanjis.

Passei do plano das ideias ao real, quando fui convidado a proferir palestra nos cem anos da cátedra de português na Tokyo University of Foreign Studies. Guardo paisagens duradouras e uma visita memorável à casa do poeta Tanikawa Shuntaro, que me dedicou um livro e um chá, cujo sabor não se perdeu, em companhia da professora Donatella Natili, o meu Virgílio nas bandas do sol nascente. Tratamos do Brasil, quando o poeta esteve, aqui no Rio, na década de sessenta. Magro, mal se alimenta. Vive apenas de meditação. Disse-lhe de minha viagem à Índia. E umas flores imensas, uma chuva botticelliana de flores em milhares de santuários. Leite e manteiga. Falamos de Shiva, de Prajna. Esteve no Rio, carnaval dos anos de 1960.

Não falei da Butterfly, de Puccini, nem da Íris, de Mascagni. Um Japão sequestrado pelo Ocidente. Um sequestro musical sublime. E ao deixar a sua casa, em verso de seu livro Coca Cola Lesson: “Um menino chegou de manhã para aprender palavras”.

Essa é uma parte, caro amigo, da minha secreta história com o Japão.

Comunità Italiana, 24/04/2019

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Marco Lucchesi - Sétimo ocupante da cadeira nº 15 da ABL, eleito em 3 de março de 2011, na sucessão de Pe. Fernando Bastos de Ávila, foi recebido em 20 de maio de 2011 pelo Acadêmico Tarcísio Padilha. Foi eleito Presidente da ABL para o exercício de 2018.

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