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domingo, 20 de agosto de 2017

POR QUE HÁ PASTORES PROTESTANTES QUE SE INCOMODAM TANTO COM A MÃE DE JESUS?


Aleteia Brasil | Ago 18, 2017
Captura de Tela – YouTube

O Padre Zezinho responde a pastor que comparou a imagem de Nossa Senhora com uma garrafa de Coca-Cola

É lamentavelmente frequente que algumas correntes religiosas ou mesmo laicistas ataquem Nossa Senhora e até profanem propositalmente imagens que a representam. E é bastante significativo refletir sobre o porquê de se incomodarem tanto com aquela a quem o próprio Deus escolheu para ser Sua mãe – e nossa, quando a confiou aos Seus seguidores ao pé da cruz.

Nos últimos dias, repercutiu pela internet o vídeo em que o pastor brasileiro Agenor Duque, da autodenominada Igreja Apostólica Plenitude do Trono de Deus, faz uma comparação entre Nossa Senhora e uma garrafa de refrigerante. 

As reações de indignação vieram tanto de católicos quanto de protestantes que desaprovam esse tipo de agressão contra a mãe do mesmo Jesus a quem tais correntes religiosas dizem seguir. Entre as reações, reproduzimos a seguir o comentário do padre Zezinho, um dos sacerdotes mais conhecidos e queridos do Brasil:

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“Ecumenismo é o respeito que um crente em Deus tem pelos outros crentes, mesmo que não orem nem creiam do mesmo jeito. Basta-lhes saber que o outro ama o mesmo Deus e que Deus também ama os outros crentes. Neste sentido são irmãos de fé. E, espero, irmãos na caridade que Jesus nos ensinou a viver.

Tenho 76 anos e, pela sua atuação na TV, o pastor Agenor Duque está há menos tempo pregando a fé cristã. Também não conheço seus escritos e sua formação em filosofia, sociologia ou teologia. Realmente não sei qual é a sua vertente cristã!

Mas recentemente ele nos brindou com uma agressão totalmente desnecessária ao ridicularizar uma de nossas imagens de Maria. Temos muitas imagens dela através do mundo mostrando que a mãe de Jesus é mãe para negros, índios, europeus, esquimós, árabes, escravos e libertos, porque a vemos vestindo a dores, as vestes e as cruzes de quem sofre.

O pastor Duque também se veste de mendigo e supostamente quer dizer alguma coisa com aquelas vestes de quem sofre e não visa riqueza nem lucro!

Mas, recentemente, ele comparou a imagem de nossa senhora aparecida com uma garrafa de Coca-Cola; simbolicamente deixou cair a garrafa dizendo que aquela garrafa não ora, nem ouve, nem pode ajudar a sua plateia-assembleia! É claro que estava ridicularizando nossas imagens e símbolos – e também a nossa Bíblia, porque a nossa Bíblia e as Bíblias que imagino que ele usa também não falam, porque são feitas de papel.

Quis dizer que é mais fiel a Jesus do que nós, católicos, porque ele não pede oração à mãe de Jesus nem acredita na intercessão dos santos do céu, embora ele mesmo, na TV, intercede por seus fiéis como santo pastor na terra, que ele afirma ser! Quem ora pelo seus fiéis está intercedendo. Maria faz a mesma coisa no céu, para onde o Filho a levou. Ou será que o pastor acha que Jesus ainda não levou a sua mãe para o céu?

1 – Esse tipo de pregação ridicularizando Maria raramente dá certo. Até mesmo entre seus ouvintes e fiéis haverá crentes chocados com o desrespeito do pregador pela mãe de Jesus, que, entre os católicos, é representada em mais de 300 imagens através do mundo. Mas é a mesma mãe, vestida de outras vestes – como o pastor Duque faz com seu terno, ou com sua túnica de saco!

2 – Se um advogado católico quiser processá-lo por desprezo à religião e aos símbolos da outra Igreja, ele terá enorme dificuldade em provar que não agrediu a nossa fé.

3 – Uma coisa é repercutir um vídeo de outra igreja e mostrar o que eles estão pregando; outra coisa é vilipendiar um culto de outra Igreja. Num caso é informação reproduzida na internet; no outro é fazer uma pregação induzindo os fiéis da sua igreja a agredirem a outra!

O pastor Agenor Duque, que se veste de mendigo humilde, nos ofendeu e nos chamou de ignorantes porque ousamos representar Maria negra em veste azul.

Acho que ele não se lembrou de que ele também é uma imagem exótica quando entra naquele palco vestido de mendigo para anunciar a sua igreja!"

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Pe. Zezinho, SCJ (via site iCatolica.com)

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CAIO PORFÍRIO CARNEIRO NO CORAÇÃO – Cyro de Mattos

Caio Porfírio Carneiro no Coração

                                    Cyro de Mattos


            O inexorável sempre nos alcança, mostra, em momento irreversível, o quanto somos frágeis. Submete sem remorso o nosso coração a essa  hora ruim, com ares cor de cera. Fere quando  tira  de nós  um ente querido, amigo fraterno  ou uma dessas criaturas  que aprendemos a amar no seu percurso de vida. Mesmo que a amizade tenha sido começada a menos de vinte anos, com os parceiros distantes um do outro e só tiveram um encontro pessoal duas vezes.  É um dos milagres que a literatura consegue fazer, aproximando as criaturas, que logo se identificam de tal forma que parecem conhecidos íntimos ao longo de muitos anos.

             Isso me veio à mente,  desde que me chegou a notícia da secretária Nilsi, da União Brasileira de Escritores/SP, via e-mail, de que a situação do  Caio não era boa. Estava internado na unidade de terapia intensiva do hospital, não falava.  Procurei saber detalhes sobre a condição do amigo,  através do seu editor Nicodemos Sena, que até então não tinha conhecimento sobre a saúde dele, a inspirar extremos cuidados.

            A escritora Rosani, uma das amigas queridas de Caio, informou-me  depois que era verdade. “Ele está com o lado esquerdo todo paralisado e a fala comprometida. Está se alimentando por sonda. Talvez seja irreversível. Vamos rezar por ele. Está para ter alta do hospital e, provavelmente, irá para uma clínica. Requer cuidados, durante 24 horas por dia. Fui visitá-lo no hospital e fiquei muito sensibilizada. Não entendi nada que falou. Pegou minha mão e deu um beijo. Voltei para casa sabe como...“

            Era o que vinha fazendo, rezar por ele, para que saísse logo da agonia e voltasse ao convívio de amigos e admiradores, ao diálogo constante com os livros, às veredas que percorrera com tanto brilho como contador de histórias.  Se fosse para ficar no sofrimento, sem perspectiva de recuperação, melhor viesse o  que se anunciava como o que temos de mais triste. E isso veio na notícia enviada por Rosani: “ Lamento informar que o Caio faleceu hoje.”

            Cearense nascido em Fortaleza, em 17 de julho de 1928, Caio Porfírio Carneiro era um homem simples, um mestre  do conto.  Sobre seu romance O Sal da Terra (Editora LetraSelvagem, 2010),  disse o consagrado escritor João Antonio:  “Esta história pisa em território virgem na literatura brasileira. O mundo branco e desconhecido do sal no Nordeste, visto de dentro para fora e devassado com uma autenticidade fotográfica, supera, de pronto, as frouxas investidas literárias que se tem notícia na área das salinas e da sua gente.”

            Acompanhei a trajetória do valoroso escritor desde sua estreia,  com os contos  de  Trapiá, em 1961.  Nessa época acontecia o arranque do moderno conto brasileiro, que posteriormente teria um plantel de primeira linha em nossas letras, formado no começo  por  Samuel Rawet, Luís Vilela, Dalton Trevisan, Rubem Fonseca, Murilo Rubião, José J. Veiga, Lígia Fagundes Telles, João Antonio e  Ricardo Ramos, entre outros.
  
            O contista cearense publicaria uma dezena de livros no gênero, conquistando também seu lugar no melhor do conto moderno brasileiro.  As histórias de Trapiá ultrapassavam os limites do regionalismo dos anos 30/40. Engajavam-se em uma literatura que tem como tema o ser humano tocado de suas verdades essenciais: tristezas e dores.

            Contos que se apresentaram depois no espaço urbano, preocupados em  flagrar essencialmente  os conflitos nas relações  humanas,  todos eles  fazem  ver a marca inconfundível de um ficcionista  que usa como impressão digital a economia dos meios expressionais. Portador de agudo sentimento de mundo, alcança  a síntese do discurso com a precisão da palavra capaz de revelar o drama  amplo no instante súbito.

            Focado no drama perante a existência, sem desprezar a ternura, o estilo enxuto de Caio Porfírio Carneiro projeta densidade humana forçando  o leitor participar da história, tornar-se  cúmplice do destino dos personagens com sua  feição sofrida.  Envolve a alma humana sob o peso da vida, sempre preenche o texto com sentimentos verdadeiros, a evitar que se percam no anonimato e esquecimento.

            Exemplar secretário-administrativo da União Brasileira de Escritores,  Seção de São Paulo, durante décadas.  Contista premiado com o Jabuti e o Afonso Arinos da Academia Brasileira de Letras.  O prêmio que mais se orgulhava de ter era o de  conhecer  como ninguém  um sem número de escritores espalhados por esse Brasil de dimensões continentais. Desfrutava com inúmeros deles de uma amizade especial, nutrida de gestos fraternos, solidários.

            Hoje, 17 de agosto, está fazendo  um mês que Caio nos deixou. Ele, que se transferiu para São Paulo em 1952 e que  nunca esqueceu sua condição de nordestinado.
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*Cyro de Mattos é baiano de Itabuna.  Membro efetivo da Academia de Letras da Bahia e Pen Clube do Brasil, UBE/SP e do Rio. Doutor Honoris Causa pela Universidade Estadual de Santa Cruz (Sul da Bahia). Premiado no Brasil, Portugal, Itália e México.  Publicado em Portugal, Itália, França, Alemanha,  Espanha e Dinamarca. Com Os Ventos Gemedores (EditoraLetraSelvagem),  ganhou o Prêmio Pen Clube do Brasil -2015.


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“PRAY FOR BARCELONA!” - José Carlos Sepúlveda da Fonseca

“Pray for Barcelona!”


20 de agosto de 2017

José Carlos Sepúlveda da Fonseca

Clique sobre as fotos, para vê-las no tamanho original

Mais um atentado islâmico, covarde, brutal e cruel. Desta vez em Barcelona, contra transeuntes de várias nacionalidades que, despreocupados, numa ensolarada tarde de verão, desfrutavam do lazer no famoso calçadão de Las Ramblas, na capital da Catalunha.

Terroristas planejavam grande atentado
Ao volante de uma van, um terrorista islâmico irrompeu numa corrida louca no calçadão e, ao longo de 500 metros, atropelou a esmo quem estava diante de si, inclusive crianças e bebês. 13 mortos, mais de 100 feridos, 15 dos quais em estado grave.

Um segundo ataque, poucas horas depois, se deu em Cambrilis, Tarragona. Um outro veículo, conduzido por terroristas, também foi jogado sobre pedestres, ferindo sete pessoas, uma das quais veio a falecer. A polícia abateu os cinco terroristas.

Na noite anterior aos atentados, uma explosão se dera numa casa em Alcanar. As forças de segurança espanholas creem que a mesma foi fruto da manipulação de substâncias com as quais os terroristas preparavam um grande atentado com veículos-bomba. Após a falha, improvisaram os ataques da La Rambla e Cambrilis.

Estado Islâmico reivindica
  
A Catalunha é conhecida pelos serviços secretos europeus como um dos principais centros do terrorismo islâmico. E as ações terroristas de atropelar pedestres repetiram a estratégia dos atentados em Nice, Berlim, Londres, Estocolmo.

A dantesca visão de cadáveres e de corpos feridos jogados na calçada correu o mundo, gerando espanto e confusão. E, evidentemente, tiveram início as reações. As de costume. As indecisões, as dúvidas… sobre aquilo que não é indeciso nem duvidoso. Por fim, o Estado Islâmico reivindicou os atentados como atos de seus “soldados” em solo espanhol.

“Pray for Barcelona”

As páginas das redes sociais começaram a encher-se de fotos com os dizeres “pray for Barcelona”, como já tinha acontecido anteriormente nos diversos atentados: “pray for Nice”, “pray for London”, etc. E, claro, pouco depois não faltariam as flores e as velas no local do massacre.

A prece é algo de muito precioso e até sublime, fora de dúvida. Mas tenho impressão de que essas preces são, muitas vezes, mencionadas com o estado de espírito de certas crises de lágrimas e de soluços humanitários, momentâneos, mas sem maiores consequências: um modo de acalmar a consciência para, logo em seguida, prosseguir no indiferentismo e na rotina do dia-a-dia. Afinal a maneira de fugir da dor é muitas vezes anestesiar-se diante dela; e o meio pode muito bem ser uma prece mecânica e filantrópica.

“Vigiai e orai”

Ora Nosso Senhor, nos momentos que antecederam sua Paixão, ensinou-nos: “Vigiai e orai, para não entrardes em tentação”. “Vigiai e orai”. Este apelo à vigilância, antes mesmo da oração, é uma advertência contra nossa índole despreocupada e bonacheirona, amiga de pactuar, adversa ao esforço e a considerar de frente o mal. Ele nos ensinou, pois, antes de tudo a vigiar, para não entrarmos em tentação, já que o mal não recua diante de nada e não recuou sequer ao matar o Homem-Deus, o Inocente por excelência.

“Vigiai”: diante do mal, todas as desconfianças são rigorosamente necessárias, já que é ele capaz até mesmo das piores infâmias. Contra ele devem empregar-se todas as atitudes preventivas, inclusive de força, conformes à Lei de Deus e dos homens. O otimismo bobo, o não considerar o perigo, o adiar o combate ao mal são verdadeiros crimes de quem não quer vigiar. E nossa oração só atingirá todo o seu fruto se vigiarmos, como nos ensina o Divino Redentor.

Paganismo insolente

Diante do atentado terrorista islâmico de Barcelona não fechemos os olhos, uma vez mais, apelando a uma prece vaga. Tenhamos coragem de ver o perigo, de analisá-lo, de enfrentá-lo com sabedoria e fé. O Islã, que hoje procura o Ocidente para se refugiar de seus próprios fracassos políticos, sociais e econômicos, se manifesta em muitos de seus elementos “como um paganismo insolente, opressivo, xenófobo e com ares racistas”, como com previdente vigilância advertia, em 1943, Plinio Corrêa de Oliveira, em um de seus célebres artigos no “Legionário” (cfr. “Neopaganismo”, 8-8-1943).

Não nos esqueçamos de que o mal é de tal forma ardiloso que não se esquiva sequer de usar suas máquinas de propaganda para tentar justificar os assassinos, diminuir a gravidade dos atos terroristas, escamotear seus fundamentos, enquanto, manipulando palavras e termos “talismãs” – como “islamofobia” – tenta inibir qualquer reação e voltar a desconfiança contra as próprias vítimas da barbárie.

Sim, “pray for Barcelona”. Mas não nos esqueçamos das palavras de Nosso Senhor: “Vigiai e orai”, para que nossas preces não sejam vãs.

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Acabo de receber de um amigo a fotografia da estátua del “Mio Cid”, Rodrigo Díaz de Vivar, o lendário cavaleiro castelhano do século XI que enfrentou os muçulmanos por diversas vezes. Segundo reza a lenda, às vésperas de uma batalha contra os infiéis, “El Cid Campeador” faleceu de ferimentos em seu castelo de Valência. Seus adversários ficaram confiantes pois haviam finalmente matado o El Cid. Entretanto, sua mulher mandou amarrar seu corpo ao cavalo e sua espada a sua mão e o enviou ao campo de batalha. Ao ver El Cid em cima do seu cavalo os muçulmanos fugiram em debandada sendo perseguidos e derrotados pelo exército de Rodrigo.
  
Numa das faces do pedestal da estátua de “El Cid”, na cidade espanhola de Burgos, está escrito: “O Campeador, levando consigo sempre a vitória, foi, por sua infalível clarividência, pela prudente firmeza de seu caráter, e pela sua heroica bravura, um milagre entre os grandes milagres do Criador”.
Espelhemo-nos no Cid Campeador, um homem que, em relação a si e ao mal, teve uma “infalível clarividência” e foi vitorioso por seguir o conselho do Divino Mestre: “Vigiai e orai, para não entrardes em tentação”!



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PALAVRA DA SALVAÇÃO (40)

Assunção de Nossa Senhora - Domingo 20/08/2017


Anúncio do Evangelho (Lc 1,39-56)

— O Senhor esteja convosco.
— Ele está no meio de nós
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— PROCLAMAÇÃO do Evangelho de Jesus Cristo + segundo Lucas.
— Glória a vós, Senhor.

Naqueles dias, Maria partiu para a região montanhosa, dirigindo-se, apressadamente, a uma cidade da Judeia. Entrou na casa de Zacarias e cumprimentou Isabel. Quando Isabel ouviu a saudação de Maria, a criança pulou no seu ventre e Isabel ficou cheia do Espírito Santo. Com um grande grito, exclamou: “Bendita és tu entre as mulheres e bendito é o fruto do teu ventre! Como posso merecer que a mãe do meu Senhor me venha visitar? Logo que a tua saudação chegou aos meus ouvidos, a criança pulou de alegria no meu ventre. Bem-aventurada aquela que acreditou, porque será cumprido o que o Senhor lhe prometeu”.

Então Maria disse: “A minha alma engrandece o Senhor, e o meu espírito se alegra em Deus, meu Salvador, porque olhou para a humildade de sua serva. Doravante todas as gerações me chamarão bem-aventurada, porque o Todo-poderoso fez grandes coisas em meu favor. O seu nome é santo, e sua misericórdia se estende, de geração em geração, a todos os que o respeitam. Ele mostrou a força de seu braço: dispersou os soberbos de coração. Derrubou do trono os poderosos e elevou os humildes. Encheu de bens os famintos, e despediu os ricos de mãos vazias. Socorreu Israel, seu servo, lembrando-se de sua misericórdia, conforme prometera aos nossos pais, em favor de Abraão e de sua descendência, para sempre”. Maria ficou três meses com Isabel; depois voltou para casa.


— Palavra da Salvação.
— Glória a vós, Senhor.


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Ligue o vídeo abaixo e acompanhe a reflexão do Pe. Paulo Ricardo


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VISITAÇÃO: o encontro com o outro faz saltar a vida em nosso interior

“Quando Isabel ouviu a saudação de Maria, a criança pulou no seu ventre...” (Lc 1,41)

A festa da Assunção de Maria nos oferece uma privilegiada oportunidade para aprofundar o mistério de toda vida humana. A todos nos preocupa qual será meta de nossa existência. Para grande parte do povo católico, a festa de hoje, juntamente com a festa da Imaculada, é a festa de Maria. A Imaculada marca o começo de sua história, a Assunção marca o destino final. Entre ambos “mistérios” ocorre o transcurso de sua vida, numa contínua identificação com Deus, ao lado da vida de Jesus.

Porque “assumiu” Deus em sua vida, Maria foi “assumida” totalmente por Deus; ela deixou Deus ser grande na sua vida; por isso, Deus a engrandeceu plenamente. Realiza-se, portanto, em Maria a situação final, já dentro da história, situação prometida a toda humanidade: “ser um dia de Deus e para Deus”; Maria o é desde o início (imaculada) até o final (assunção), através de uma fidelidade de toda a sua vida.

Sabemos que o encontro definitivo em Deus só acontece quando preenchemos de sentido os “encontros” com aqueles(as) que cruzam nossas vidas. No relato do Evangelho de Lucas, indicado para a festa de hoje, há duas mulheres, Maria e Isabel, que experimentaram profundamente o dom da gratuidade, e seu lugar de carência se converteu em lugar de abundância. As duas descobriram o dinamismo curador das relações e a riqueza que os encontros pessoais revelam.

As relações que nos constituem são o tecido pelo qual circula nossa abertura a Deus e por onde crescemos em humanidade, acolhendo e sendo acolhidos pelos outros. Vivemos em um mundo hiperconectado, em contato permanente e presente, ao mesmo tempo, em todos os lugares. O mundo, nossa vida, se converteu num “chat” contínuo. No entanto, em meio a este “chat” universal, a conversação emudeceu; a maior parte de nossas “conversações” tornaram-se prisioneiras das telas (celulares, tablets, smartphones, internet). Corremos o risco de reduzir a comunicação à conexão. Banalizam-se os conteúdos da conversa, mas também são amputadas dimensões fundamentais da experiência da comunicação, sobretudo a presença física. Sem essa presença, sem o encontro pessoal, não é possível o diálogo e a verdadeira comunicação. Este empobrecimento da comunicação vivente com o outro, ou a atrofia e medo de um face-a-face, é sinal claro de uma profunda desumanização.

O “mistério da visitação” nos possibilita recuperar o sentido e o dinamismo de um encontro interpessoal. O encontro é uma realidade inter-humana dinâmica e, até certo ponto, tem algo de arriscado e imprevisível, derrubando todas as nossas prévias tentativas de controlá-lo. Podemos planificá-lo preparando estratégias; podemos acolhê-lo cheio de expectativas ou, pelo contrário, sem elas, esperando uma mera formalidade, repetição de outras situações semelhantes; podemos nos mostrar desejosos ou desconfiados, seguros ou ansiosos... De repente, algo inesperado acontece, na outra pessoa, ou em nós mesmos, ou no contexto, convertendo aquele encontro numa situação única e original, afetando nosso viver ou transformando nosso eu profundo.

O evangelista Lucas nos apresenta uma visita inesperada: a visita daquela que não permanece fechada nem ensimesmada em seu mistério; a visita daquela que se sente impulsionada a sair de si mesma para colocar-se a serviço daquela que está necessitada de ajuda. Uma visita alegre, espontânea e gratuita, porque cheia da experiência de Deus; Maria que faz Isabel sentir a alegria de uma maternidade não esperada e Isabel que faz Maria sentir as maravilhas que Deus realizou nela. Uma visita que se expressa em dois cantos de louvor e ação de graças: “Bendita és tu que acreditaste” e “Minha alma engrandece o Senhor”.

As duas mulheres se encontram em diferentes momentos vitais: Isabel na terceira etapa de sua vida, Maria quase na primeira, entrando na segunda. Uma é estéril e anciã, a outra, jovem e virgem, ambas portadoras de uma vida maior que elas mesmas, conhecedoras do mistério que crescia em seu interior. Devido à sua gravidez, as duas se encontram fora da norma social, do estabelecido. Isabel é idosa para poder conceber, e Maria está grávida sem estar casada.  Ambas deviam sentir não só alegria no abraço, mas também a comoção e as dúvidas: “quê vai acontecer?”, “como vamos ajeitar as coisas?”...
Elas apoiam-se mutuamente no momento no qual estão, na situação que atravessam; reconhecem-se e se confirmam; estabelecem um vínculo entre elas, aceitam-se mutuamente; não se julgam nem valoram em função do que a sociedade considera correto ou incorreto; compreendem o que significa para cada uma delas que algo novo está crescendo em seu interior.

Maria não vai só servir a Isabel; ela precisa de alguém que a partir de sua experiência lhe diga: “vai em frente, que isso é de Deus”. Necessita que Isabel a confirme e a bendiga. E Isabel, por sua vez, necessita agradecer o sonho de Deus que as duas compartilham e que se tornou possível. Isabel e Maria se convertem cada uma em comadre, em parteira da outra; a partir de seus diferentes momentos vitais, vão se ajudar a esperar e a passar o processo do “dar à luz”. Na vida nova que está se gestando nelas, no secreto, anseiam em uníssono para trazer ao mundo algo de Deus que estava oculto.

As duas sabem de espera e de dores de parto. O parto não é um fato isolado e acontece nele a contração e a relaxação, a dor e o prazer, a posse e o desprendimento, a tristeza e a alegria, o medo e a confiança. Isto que as parteiras mencionam como momentos do parto, do “dar à luz”, são momentos de nossa vida, de nossos encontros. Todos nos reconhecemos aí. Somos parteiros uns dos outros, e necessitamos cuidar desses processos cotidianos onde a vida do Espírito se manifesta como luz da vida.

À sombra do encontro entre Maria e Isabel e contemplando o modo de visitar e de ser visitado, agradecemos o tecido relacional que configura nossas vidas. É um tempo para orar os encontros, para considerar aqueles que precisamos continuar alimentando e aqueles que se romperam e que queremos reparar. Agradecer os encontros que nutrem nossa vida. Trazer ao coração as pessoas significativas que nos fizeram provar o sabor do amor em nós e seus bons efeitos. Recolher agradecidamente os pequenos gestos de amor, de carinho, de escuta, de confiança, de paciência... que tiveram conosco.

Há visitas que não significam muito: só servem para matar o tempo e “jogar conversa fora”. E há visitas que despertam vida, que faz saltar a vida divina que carregamos dentro de nós. Por isso, todos somos seres carentes de “mais visitações”. Visitações que despertem nossas possibilidades e sonhos, visitações que nos façam saltar de alegria, visitações que nos ajudem a reconhecer as maravilhas que Deus realiza em nós e nos outros.

Isabel e Maria se fazem valer mutuamente e despertam o melhor que há em cada uma. Viveram uma história de agradecimento e de libertação, se encontraram a partir da alma, a partir do mais profundo de si mesmas e se ofereceram mutuamente palavras amigas, palavras de encorajamento e de sabedoria. Elas nos ajudam a nos perguntar: Quê tipo de história relacional queremos viver? Uma história a partir do ego ou a partir interioridade?

Texto bíblico:  Lc 1,39-45

Na oração: sua casa, lugar de visitação e encontro, espaço humano de partilha, convivência, festa, ajuda...?
Ou, casa cercada de parafernália eletrônica de segurança, com entrada rigorosamente controlada..., impedindo o acesso até mesmo dos mais próximos (parentes, amigos)?
- Seja uma casa sempre aberta: “entrada franca”;
Casa, lugar do lava-pés, do mandamento novo, da amizade, da visitação...
Casa, lugar de unção-acolhida, serviço e cuidado...
Casa, lugar da gestação de novas vidas, da experiência de nascimentos permanentes...

Pe. Adroaldo Palaoro sj
Campinas-SP



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