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sábado, 27 de janeiro de 2018

SABARÁ - O GRANDE BATERISTA DE ITABUNA – BA – Por Cyro de Mattos

Inst e Vocal BR / 7/31/2014

Quem não conhece na cidade o baterista Sabará, lenda da música popular brasileira em terras grapiúnas? Um dos fundadores do conjunto musical Ritmo Lord, atualmente Lordão, Sabará é o mesmo cidadão negro de nome Adalmiro Leôncio da Silva, nascido, em 3 de abril de 1934, em Ilhéus. Primeiro foi batuqueiro em escola de samba. Quando era adolescente, já tocava caixa em Ilhéus, na escola de samba “Eu Sou o Maior”, de Augusto Fidelis, jogador de futebol apelidado de Augustinho.

Sabará viu pela primeira vez uma bateria sendo tocada em Realengo, no Rio de Janeiro. O baterista era o habilidoso percussionista Djalma. Gostou. Mais tarde viu em Ilhéus o percussionista Carlito tocando bateria. Gostou ainda mais. Cheio de ritmos, sentimentos e sonhos tocou pela primeira vez uma bateria aos dezesseis anos de idade quando então integrou o grupo musical que se apresentava na boate Okay Night Club, de seu Maron, em Ilhéus. O grupo era formado com o professor Nivaldo no trompete, Florisvaldo Gouveia no piano, Francisco Augusto no sax e Antenor era a voz. Tempos depois, em Itabuna, participou do conjunto Os Diamantes, da Rádio Difusora Sul da Bahia, nos anos 1950 e 1960. O conjunto era integrado por Mimidi na guitarra, João Santos como baixista e Élson no sax.

Para quem não sabe, Sabará fez curso de aperfeiçoamento de bateria com os professores Jorge Sacramento e Jorge Startery Sampaio, da Universidade Federal da Bahia. Aperfeiçoou-se em ritmos brasileiros com o professor Martinelli Filho, da USP, e participou do curso de iniciação musical ministrado pelo maestro Florisvaldo Santos, da Filarmônica de Ilhéus. De aluno talentoso passou a professor competente de música, dando aulas de bateria em instituições sociais e culturais. Na Fundação Itabunense de Cultura e Cidadania, Escola Beethoven, Sítio do Menor Trabalhador, bem como aos integrantes do Grupo Musical Cacau com Leite e Mel de Cacau.

Por sua atuação profissional expressiva, como baterista e professor musical em terras grapiúnas, Sabará recebeu, entre outros, o Troféu Mandacaru de Ouro, Troféu Jorge Amado da Fundação Cultural de Ilhéus, Troféu Jupará da Rádio Morena FM e Troféu Terravista. Participou como jurado em dezenas de festivais de música. Como baterista de conjuntos musicais, é bom saber que integrou o Grupo Encontros, Grupo Novos e Usados Jazz Band e Grupo Bahia 4, citando aqui apenas alguns.

Acompanhou trinta e dois artistas de expressão nacional, de 1960 a 2001, como Dalva de Oliveira, Emilinha Borba, Caubi Peixoto, Anísio Silva, Gregório Barrios, Elen de Lima, Booker Pitman, Eliana Pitman, Wanderley Cardoso, Miltinho, Trio Nagô, Nelson Ned, Tito Madi e Wando. No plano regional, para a nossa sorte, é difícil um artista de expressão em nosso cancioneiro não ter sido acompanhado do ritmo que Sabará consegue extrair quando toca bateria.

Esse cidadão negro, de jeito amigo, sincero e gestos generosos, que pensa e sente o mundo através do som, com uma impressão digital como percussionista tão dele, possui uma habilidade incrível para espalhar e reunir diamantes em cima de uma membrana esticada quando toca bateria. Com ligeireza nas mãos, firmeza nos punhos e trepidação nas veias, se a música pede alegria. Mas se for para embalar a tristeza, sabe fazer como poucos com que a caixa repercuta o abraço afetivo da noite, em carícia de lenço. Entre lamentos que deslizam e fluem da alma, dizendo segredo.


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Cyro de Mattos é baiano de Itabuna. Escritor e poeta, Doutor Honoris Causa pela Universidade Estadual de Santa Cruz (Sul da Bahia). Membro efetivo da Academia de Letras da Bahia, Pen Clube do Brasil, Academia de Letras de Ilhéus e Academia de Letras de Itabuna.
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UMA NOVA GERAÇÃO DE MAGISTRADOS PEDE PASSAGEM - Joaquim Falcão

Desempenho impecável e encantador

Por Joaquim Falcão - 24 jan 2018

Desembargadores do Tribunal Regional Federal da 4ª Região (Sylvio Sirangelo/TRF4/Divulgação)

A transmissão ao vivo do julgamento do TRF4 permitiu ao público compará-lo com os julgamentos que se tem visto no Supremo Tribunal Federal. A postura dos magistrados, raciocínio, método de análise, forma de se comunicar, tudo é diferente.

Não há competição pessoal ou ideológica entre eles. Nem elogios recíprocos. Cada um é si próprio. Não há troca de críticas veladas, ou aplausos desnecessários. Ou insinuações jogadas no ar. Mais ainda: não há exibicionismo.

Não querem mostrar cultura. Não discutem com jargões jurídicos. Não se valem de doutrinas exóticas plantadas e nascidas no além mar. Não é preciso, embora seja legitimo e, às vezes, indispensável buscar amparo em autores ou abstrações estrangeiras. Em geral ultrapassados.

A argumentação é toda fundamentada nos fatos. Vistos e provados. Não se baseia apenas em testemunhos ou denúncias. Fundamentam seu raciocínio no senso comum que emanam dos fatos. Provas materiais. Ou como diria Ulysses Guimãraes: com base em suas excelências, os fatos. Que de tão evidentes e intensamente descritos não deixam margem a qualquer dúvida razoável.

Não é preciso muita argumentação para dizer o que é simples. Ninguém manda mudar um apartamento, manda comprar utensílios, faz visitas com o construtor, não pergunta preço, e não paga – só o dono de um imóvel procede assim.

A prova da propriedade está no comportamento registrado ao vivo. E não no papel, na escritura A ou B. Simples assim. Os magistrados de maneira informal tentaram transmitir o que a linguagem jurídica, formal, muitas vezes oculta.

A transmissão ao vivo permitiu a cada um de nós formar a própria opinião. Escolher um lado. Quase pegar a justiça com as próprias mãos, com as mãos do seu próprio entendimento. Restou provado que o Tribunal Federal da 4ª Região pretendeu ir muito além de simplesmente julgar o ex-presidente.

Apresentou ao Brasil uma nova maneira de pensar, expressar e construir a justiça. Provavelmente a maneira de magistrados se comportarem na televisão, na internet e até nos julgamentos sem transmissão nunca mais será a mesma.

Uma nova geração pede passagem.

Joaquim Falcão é professor da FGV Direito Rio. Seus artigos podem ser encontrados em www.joaquimfalcao.com.br




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