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domingo, 15 de janeiro de 2017

AO REDOR – Clarice Lispector

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Ao redor 


Olhe para todos ao seu redor e veja o que temos feito de nós e a isso considerado vitória nossa de cada dia.
Não temos amado, acima de todas as coisas.
Não temos aceitado o que não se entende porque não queremos passar por tolos.
Temos amontoado coisas e seguranças por não nos termos um ao outro.
Não temos nenhuma alegria que não tenha sido catalogada.
Temos construído catedrais, e ficado do lado de fora, pois tememos que as catedrais que nós mesmos construímos, sejam armadilhas.
Não nos temos entregue a nós mesmos, pois isso seria o começo de uma vida larga e nós a tememos.
Temos evitado cair de joelhos diante do primeiro de nós que por amor diga: TENS MEDO!
Temos organizado associações e clubes sorridentes onde se serve com ou sem soda.
Temos procurado nos salvar, mas sem usar a palavra salvação para não nos envergonharmos de ser inocentes.
Não temos usado a palavra amor para não termos de reconhecer a sua contextura de ódio, de ciúme e de tantos outros contraditórios.
Temos mantido em segredo a nossa morte para tornar a nossa vida possível.
Muitos de nós fazem arte por não saber como é a outra coisa.
Temos disfarçado com falso amor a nossa indiferença, sabendo que nossa indiferença é angústia disfarçada.
Temos disfarçado com o pequeno medo o grande medo maior e por isso nunca falamos no que realmente importa. Falar no que realmente importa é considerado uma gafe.
Não temos adorado por termos a sensata mesquinhez de nos lembrarmos a tempo dos falsos deuses.
Temos sorrido em público mais do que não sorriríamos quando ficássemos sozinhos.
Temos chamado de fraqueza a nossa candura.
Temo-nos temido um ao outro, acima de tudo.
E a tudo isso consideramos a vitória nossa de cada dia.


Enviado por: "Gotas de Crystal" 

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Clarice Lispector (1920-1977) nasceu em Tchetchelnik, na Ucrânia, no dia 10 de dezembro de 1920. Filha de família de origem judaica, seu pai Pinkouss e sua mãe Mania Lispector emigraram para o Brasil em março de 1922, para a cidade de Maceió, Alagoas, onde morava Zaina, irmã de sua mãe. Nascida Haia Pinkhasovna Lispector, por iniciativa do seu pai todos mudam de nome e Haia passa a se chamar Clarice.

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MORRE RAMON VANE, AOS 57 ANOS

Morre Ramon Vane, aos 57 anos


O ator bueraremense Ramon Vane, que completaria 58 anos no próximo dia 17, morreu na madrugada deste domingo (15), após ser internado na semana passada no Hospital de Base, vítima de um AVC. A notícia da morte dele foi publicada nas redes sociais pelos amigos do teatro. 

Ramon Vane, advogado, ator, poeta, era uma das figuras ilustres da região sul da Bahia, representava como poucos o artista baiano pelo mundo afora. Em outubro de 2011, ele foi premiado pela interpretação no longa-metragem O homem que não dormia. 

Vane interpretou o personagem Pra Frente Brasil, no filme de Edgar Navarro. A película, que foi rodada em Igatú, na Chapada Diamantina, conta a história de cinco pessoas que, numa mesma noite, sofrem com o mesmo pesadelo. O filme fala de um homem sinistro e a procura por um tesouro (imaginário) como desencadeadores da história.




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RESPEITE MINHA MULHER! - Antonio Nunes de Souza

Respeite minha mulher!


Cidade pequena do interior, todos sabiam que Sheila, mulher do dono da loja Sheila Modas, a melhor do local, era amante do advogado Jorge Silveira, homem inteligente, qualificado na sua profissão, considerado o mais astuto e competente nas suas defesas ou acusações, dependendo de qual lado o contratasse!

Logicamente, todos sabiam dessa aventura amorosa de Sheila com Jorge, somente sendo o desconhecedor o pobre do Luiz Alberto que, cuidando do seu magazine, cotidianamente, nunca percebera essa astuta malandragem da sua mulher e do seu amigo o adv. Jorge. Como os fuxiqueiros de plantão não queriam se envolver na história, a coisa ia passando que, curiosamente, já era considerado um comportamento normal.

Como tudo de errado que fazemos tem os dias contados, para comemorar os dez anos de casados Luiz Alberto resolveu fazer uma festa em sua residência, com muitas bebidas e comidas, completando com um conjunto ao vivo para que houvesse danças e alegrias. A noite, os convidados começaram a chegar, além de toda sociedade, ainda tinha alguns convidados funcionários da loja e seus familiares.

Um Buffet vasto a disposição, além de garçons para acompanhar toda movimentação e servir as mesas das autoridades. Todos comendo, bebendo e, logo em seguida, o conjunto começou a tocar, o casal dançou uma valsa e, assim que terminou, a música popular tomou conta do salão. Os casais se movimentaram e Andrezinho, dono da loja de computação, que já tinha tomado uns bons goles, na animação do álcool, foi tirar Sheila para dançar. Ela sorridente e feliz, aceitou e foram os dois para o salão. Porém, chegando no meio, aproveitando-se da multidão, ele começou a beijar o pescoço de Sheila e meter a língua em seus ouvidos. Ela fez força para se soltar, mas, bêbado como ele estava, ficou agarrando-a pela cintura e, na maior loucura, querendo beijar-lhe a boca. Nesse vexame incrível foi aberta uma roda no salão e Luiz Alberto vendo a movimentação, apenas falou para André: O que é isso meu amigo, você está tonto vá se sentar. Mas, Andrezinho no furor do desejo já excitado, continuou segurando Sheila cada vez mais.

Então foi aí que aconteceu a desgraça! Jorge, ferozmente, levantou-se e, abotoando Andrezinho pelo colarinho do paletó, gritou bem alto: Respeite minha mulher, seu filho da puta! E, ao mesmo tempo, meteu a mão na cara do pobre tarado, que soltou imediatamente a sua presa. Jorge chamou os empregados e amigos e colocaram o Andrezinho para fora aos tapas e ponta pés.
Curioso é que a festa continuou, Luiz Alberto nada falou sobre a atitude de Jorge e, com isso, todos perceberam que já era de conhecimento a traição da sua mulher e que ele segurava a barra em função do amor que sentia por ela.

Jorge foi bastante cumprimentado, por ter defendido a honra da sua amante e, sem nenhuma cerimônia passou o resto da festa dançando com sua querida e bonita Sheila!


Antonio Nunes de Souza, escritor
Membro da Academia Grapiúna de Letras – AGRAL


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AQUILO QUE IMPEDE DE AMAR – Ivan Martins

Aquilo que impede de amar


Antes de culpar o outro, que tal olhar para as histórias soterradas que nos impedem de criar laços profundos?

IVAN MARTINS
12/10/2016

Na minha casa há duas gatas, duas samambaias e um cacto que dependem de mim. É com uma ponta de orgulho, portanto, que eu afago as gatas bem cuidadas e observo as folhas das samambaias crescerem de maneira uniforme. O bem-estar dessa pequena comunidade de bichos e plantas testemunha a minha capacidade de cuidar.

Lembro de um filme – 28 dias, com Sandra Bullock – em que o interno de uma clínica para recuperação de drogados pergunta ao psicólogo quando poderá voltar a namorar. Ele responde de forma direta: “Só depois que você tiver uma planta e um bicho, e os dois sobreviverem”. Se for assim, trocando as drogas pelo luto amoroso, passei no teste faz tempo, e estou pronto para um novo relacionamento. Mas, obviamente, não é tão simples.

A gente passa a vida aprendendo as coisas realmente importantes. Amar é uma delas. Quanto mais velhos, quanto mais se acumula experiências, mais claras se tornam as nossas dificuldades. É incerto se seremos capazes de superá-las, mas os intervalos entre relacionamentos são momentos privilegiados de reflexão e aprendizado sobre os nossos limites. Durante o luto que sucede uma relação duradoura, fazemos mais do que apenas cuidar de bichos e plantas.
Também aprendemos sobre aquilo que nos impede de expressar e aprofundar os sentimentos.

Falo, naturalmente, de gente que olha para si mesma de forma crítica. Muitos não fazem isso. Para estes, os malogros se devem apenas às atitudes ou à personalidade do outro. Sempre. Os relacionamentos acabam porque a outra parte se revela chata, insegura, desonesta ou qualquer outra coisa intolerável. Ou então ela faz algo que põe fim à relação: engana, deixa de amar, vai embora, deprime, engorda, brocha. A culpa pela ruptura é do outro. Sempre.

Mas a gente sabe que isso é besteira. Nós temos responsabilidade em todo fiasco amoroso que compartilhamos. Até porque eles costumam ser parecidos.
Mesmo tipo de pessoa, mesma espécie de dilema, o conhecido final anunciado. Mas a culpa – estranhamente – continua sendo apenas do outro, quem quer que ele seja. É mais fácil pensar assim do que lidar com as nossas sombras, eu acho. Dói olhar para as histórias soterradas que nos impedem de criar laços e amar. Amar de verdade – eu digo – não apenas se apaixonar por gente atraente ou ter prazer em relações divertidas.

Tenho pensado muito na dificuldade de amar. No quanto é difícil se conectar profundamente com o outro.
Profundamente quer dizer para além do nosso egoísmo.
Quando a relação pede algo maior, quando ela exige mudança, quando nos coloca diante de alguma espécie de tudo ou nada, nosso medo aflora. Então descobrimos que nosso amor é incapaz de saltar no escuro e se comprometer.
Ele hesita e recua, busca justificativas para se afastar ou simplesmente se deixa morrer, por descaso. Quando acaba, dizemos a nós mesmos que não era amor. Se fosse, saberíamos. Se fosse, nos atreveríamos. Será mesmo? Pode ser também que sejamos covardes e que amar de verdade, com simplicidade e resignação, esteja além da nossa capacidade pessoal.

Li outro dia, num romance maravilhoso e difícil – A tradutora, de Cristovão Tezza – uma frase que ficou martelando. A personagem dizia sobre o seu amante, de quem cogita se separar: “Ele batalha pelo que ama”. Desde então, tenho me perguntado se na vida real batalhamos pelo que amamos. Ou se realmente amamos aquilo pelo que batalhamos. São perguntas simples que deveriam ter respostas igualmente fáceis, mas às vezes não têm.

Por isso os intervalos entre as relações são importantes.
Enquanto a gente rega o cacto com parcimônia e limpa cuidadosamente a caixinha das gatas, há tempo de sobra para refletir sobre o que nos levou a estar sozinhos – e quão distante, ou quão próximos, estamos de uma nova relação. As duas coisas se interligam, claro. Se você não repete a vida no automático, vai tentar fazer com que o futuro seja diferente do passado. Vai processar um sentimento antes de mergulhar no próximo, para evitar repetir erros e ter chance de renovação. Mas isso tem um preço: o de estar de alguma forma sozinho enquanto o aplicativo da consciência vasculha os sentimentos e a memória.

O resultado da investigação pode demorar algum tempo, mas vale a pena. Existe sempre a possibilidade de que a gente descubra algo importante sobre nós mesmos e fique livre daquilo que nos impede de amar. Amar de verdade, entende?



IVAN MARTINS
Colunista de ÉPOCA 
Autor do livro Alguém especial, escreve em epoca.com.br às quartas-feiras

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PALAVRA DA SALVAÇÃO (9)

2º Domingo do Tempo Comum - 15/01/2017


Anúncio do Evangelho (Jo 1,29-34)

— O Senhor esteja convosco!
— Ele está no meio de nós.
— PROCLAMAÇÃO do Evangelho de Jesus Cristo + segundo João.
— Glória a vós, Senhor!

Naquele tempo, 29João viu Jesus aproximar-se dele e disse: “Eis o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo. 30Dele é que eu disse: Depois de mim vem um homem que passou à minha frente, porque existia antes de mim. 31Também eu não o conhecia, mas se eu vim batizar com água, foi para que ele fosse manifestado a Israel”.
32E João deu testemunho, dizendo: “Eu vi o Espírito descer, como uma pomba do céu, e permanecer sobre ele. 33Também eu não o conhecia, mas aquele que me enviou a batizar com água me disse: ‘Aquele sobre quem vires o Espírito descer e permanecer, este é quem batiza com o Espírito Santo’. 34Eu vi e dou testemunho: Este é o Filho de Deus!”


— Palavra da Salvação.
— Glória a vós, Senhor.


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Ligue o vídeo abaixo e acompanhe a reflexão – Santuário de São Sebastião:

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Somos habitados pelo Espírito

“Eu vi o Espírito descer, como uma pomba do céu, e permanecer sobre ele” (Jo 1,32)

Estamos iniciando o tempo litúrgico conhecido como “Tempo comum”; tempo para um longo e demorado olhar centrado na pessoa de Jesus: “ver” e “mirar” nos conduzem a uma identificação com Ele. Do olhar correspondido brota o seguimento.

Como seguidores(as) de Jesus, também vivemos à luz do Espírito, não à sua sombra. Nossa existência, em sintonia com o desejo de Deus para que vivamos em plenitude, é enriquecida pelos nossos desejos profundos de nos constituir como seres livres, ou seja, capacitados a tomar decisões oblativas, desafiados permanentemente por uma pluralidade de opções abertas que se apresentam diante de nós. Não somos escravos de nossa pobre condição mortal, mas o espaço livre por onde habita e transita o Espírito.

No evangelho de hoje(2º dom Tempo Comum), mais uma vez o autor do quarto Evangelho nos coloca diante da figura de João Batista, relatando a experiência dele de encontro com Jesus e revelando-o como aquele que “viu” e que “deu testemunho” de que Jesus é “o Filho de Deus”. Daí sua insistência no verbo “ver”. Não se trata de um “ver” neutro, preso à exterioridade, mas de um olhar contemplativo, capaz de distinguir e apontar quem de fato era o Messias. João não recebeu o encargo de divulgar uma ideia, uma doutrina... mas apontar uma pessoa.

Como nos evangelistas sinóticos, também o evangelista João faz do batismo de Jesus o acontecimento fundante com o qual Ele inicia sua atividade pública. Quê é que João Batista “viu”? Viu um homem cheio de Espírito. Ou seja, Jesus é aquele que, habitado pelo Espírito, se deixa conduzir pelo mesmo Espírito. Ele deixa “transparecer” esta presença do Espírito e só quem tem olhar contemplativo é capaz de perceber quem O move.

Sempre quando temos a sorte de encontrar uma pessoa “transparente” (não “perfeita”, mas humana), torna-se mais fácil reconhecer, apreciar, “ver” o Mistério que a habita. Mas não é suficiente encontrar-nos com alguém assim; é preciso também desenvolver a própria “capacidade de ver”, ou seja, um “saber olhar” que transcende para além das aparências.

Os sábios sempre foram conscientes de que existem diferentes níveis de realidade aos quais podemos ter acesso através de diferentes órgãos de conhecimento. São Boaventura fala do “olho do espírito”, ou seja o “olho da contemplação”. Empobrecemo-nos quando nos reduzimos ao “olho da carne” e também ao “olho da razão”. Precisamos ativar o “olho do espírito” que nos capacita para “ver” a realidade em sua dimensão mais profunda, para perceber o Mistério em tudo o que nos rodeia, nós incluídos. A qualidade humana, o futuro da humanidade e do planeta depende de que saibamos “ver” deste modo.

Nossa experiência do seguimento de Jesus brota da capacidade de fixar nosso olhar n’Ele. De fato, o olhar é o primeiro sentido que nos faz sentir presentes junto ao outro. E, como João Batista, ao fixar nosso olhar contemplativo na pessoa de Jesus, o que vemos é o Espírito agindo n’Ele.

E porque se deixa conduzir pelo Espírito, Jesus não suporta lugares fechados, rompe com os “espaços sagrados”, com os esquemas fechados, com as estruturas arcaicas... O Espírito é “movimento” e Jesus inicia um movimento de vida e vida plena.

Jesus, cheio do Espírito, sempre foi o homem das praças, ruas, caminhos e campos abertos... Não foi o homem dos templos, dos lugares fechados, das cidades fortificadas, mas o “homem em saída”, revelando sua mensagem e sua missão ao ar livre da vida.

A comunidade dos seus seguidores, conduzida pelo Espírito, também não se deixa atrofiar pelo lugares fechados, cheirando a incenso mofado, nem se prende a um ritualismo e religiosidade alienante, mas é aquela que sai para os espaços públicos e ali oferece o testemunho de Jesus.

Somos seguidores de Jesus nos espaços amplos da vida, sem distinção de classes, sem hierarquias, onde todos podem comunicar-se com todos, pois são habitados pelo mesmo Espírito, a força da vida.

A novidade de Jesus consiste justamente em afirmar que existe um caminho para encontrar a Deus que não passa pelo Templo. Desse modo, reconhece-se a vida como lugar privilegiado da Sua Presença. Jesus, na Galileia, encontrou os seus lugares: junto ao mar, nas estradas poeirentas, nas margens...

Depois do seu batismo e pleno do Espírito, Jesus se faz presente no lugar onde se encontram aqueles que não tem “lugar”, os “deslocados” e que são a razão de seu amor e do seu cuidado; faz-se solidário com os “sem lugares” e os convida a caminhar para um novo lugar.  Na Galileia, Jesus tem suas preferências e escolhe o seu “lugar”, o lugar entre os mais pobres, vítimas daqueles que se fazem donos dos lugares.

O(a) seguidor(a) de Jesus não é aquele que, por medo, se distancia do mundo, mas é aquele(a) que, movido(a) por uma radical compaixão, desce ao coração da realidade em que se encontra, aí se encarna e aí revela os traços da velada presença d’Aquele que é a Misericórdia.

Dessa forma, “habitado pelo Espírito”, experimenta que a vida é forte e formosa e que vale a pena acolhê-la e doá-la, como Jesus fez, sabendo que o tempo da opressão, da enfermidade, da morte e da condenação... não tem a última palavra.  Esse é o sentido da expressão de João Batista aplicada a Jesus: “Aquele que tira o pecado do mundo”. Por isso, Jesus e os primeiros cristãos não usaram modelos de poder centralizado para cultivar a presença de Deus. Nem tiveram a preocupação de construir um novo templo, nem formatar uma nova religião, mas descobriram o Templo de Deus na vida mesma, no diálogo e no encontro das pessoas nos espaços públicos, onde sob o impulso do Espírito, buscaram inspiração e sentido para suas existências. E a vida não é um templo já construído, mas uma rede de conexões múltiplas que vão se refazendo, recriando, de um modo incessante, por obra do Espírito de Cristo.

A presença provocativa e o chamado exigente de Jesus colocam em questão nosso costume de nos refugiar no mundo asséptico das doutrinas, na tranquilidade de uma vida ordenada e legalista, satisfatória e entorpecida, na segurança de horários imutáveis e de muros de proteção, longe do rumor da vida que luta para ter um lugar ao sol, dos gritos daqueles que sofrem e morrem nas periferias deste mundo.

Escutar e seguir Seu chamado implica abandonar a estreiteza de nossos caminhos e deixar o nosso coração bater no ritmo do Espírito que nos faz romper nossos estreitos lugares e nos projeta em direção ao mundo dos doentes e marginalizados, vítimas da desumanização de nossa sociedade.

Como Igreja, temos perdido esse estilo itinerante que Jesus propõe. O caminhar dela é lento e pesado; não acertamos o passo para acompanhar a humanidade; não temos agilidade para deslocar-nos em direção à margem sofredora; agarramos ao poder e às estruturas que tiram a mobilidade; enredamos nos interesses que não coincidem com o Reinado de Deus. É preciso uma profunda conversão e voltar à essência do Evangelho: compromisso com a vida, sendo presença misericordiosa.

Texto bíblico:  Jo 1,29-34

Na oração: “Fazer caminho” com Jesus implica sair pelas estradas e encruzilhadas para escutar o clamor das pessoas e para alargar a nossa vida no contato com elas. A novidade do Espírito aparece sempre fora dos lugares seguros, protegidos e convencionais.
- Não estaremos desperdiçando as nossas melhores forças para conservar atitudes arcaicas e nos deliciamos com um estilo de vida que nos atrofia?
- Não chegou, talvez, o momento de deixar de repetir aquilo que fazíamos antes, e de abrir-nos àquilo que está diante de nós, à novidade que o Espírito está criando?

Pe. Adroaldo Palaoro sj
Itaici-SP


http://centroloyola.org.br/revista/outras-palavras/espiritualidade/1033-somos-habitados-pelo-espirito


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