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quinta-feira, 14 de março de 2019

MANGUEIRA, A VINGANÇA DO TRÁFICO! - Hamilton Bonat



   Acabou o carnaval. As escolas campeãs já são conhecidas. Maravilha! Lentamente, o Brasil sai da ressaca e começa a andar. Não assisti os desfiles. Não tenho mais paciência… Só vi pequenos pedaços mostrados em telejornais.

     Em São Paulo, vi Jesus levar uma baita surra de satanás. Ficou por isso mesmo. Da CNBB, nenhuma palavra em sua defesa. Nossos bispos nem parecem cristãos. O assunto não é com eles. Será que Cristo realmente existiu? Quando lhes convém, nossos bispos permanecem quietos. Sua omissão tem sabor de concordância. Pobre, mas sempre esperta, igreja católica…

     A mim me chocaram as cenas mostradas pela campeã carioca. A comissão de frente já revelava o que viria a seguir. Transformava algumas de nossas importantes figuras históricas em anãos.

     Logo depois, Caxias era tratado como um carniceiro, provavelmente numa crítica à sua participação na Guerra do Paraguai. Convém relembrar, só de passagem, que naquele conflito morreram simplesmente cerca de sessenta mil brasileiros.

     Pouco depois, em um dos carros, lia-se “ditadura assassina”, em alusão ao período dos presidentes militares. O alvo, obviamente, era o Exército.

     Fiquei imaginando tratar-se de uma reação ao governo recém-empossado, até surgir na tela a figura da viúva de Marielle.

     Caiu a minha ficha. Marielle defendia traficantes; as Forças Armadas foram mandadas a intervir no Rio em 2018, atrapalhando o milionário negócio do tráfico; e como o tráfico patrocina as escolas de samba… Eureka! Vinguemo-nos dos milicos!

     E nada melhor do que um desfile de escola de samba para a vingança ser completa. É um crime perfeito. Afinal, trata-se de uma manifestação cultural. Ai de quem criticá-la. Quem não concordar terá contra si todos os intectualóides tupiniquins, toda a imprensa amestrada, todo o meio artístico, além da classe média carioca, cujos filhos dependem do fornecimento de crack, de cocaína, de maconha e de outros quetais.

     Pensando bem, creio que a CNBB tem um pouco de razão…

     Enquanto isso, os bombeiros continuam procurando corpos em Brumadinho. Mas deixa prá lá. Nossos heróis são outros...

Gen. Bda. Hamilton Bonat
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Hamilton Bonat nasceu em Curitiba, de onde saiu, com quatorze anos, para seguir a carreira militar. De 1965 a 1971, viveu interno, primeiro em Campinas (SP) e depois em Resende (RJ). Em 2001 foi promovido a General-de-Brigada, posto no qual passou para a reserva.
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JOVENS DE SUZANO, FILHOS DO BRASIL... – Lilian Lima Pereira


A tragédia que acometeu as crianças do colégio Raul Brasil, em Suzano, na grande São Paulo é mais uma, dentre as tantas que já ocorreram em nossa realidade nacional neste ano de 2019. 

Mas, essa última ocorrida na escola tem uma característica diferente das outras, desde a lama que devastou Brumadinho, até às inundações que arrasaram populações de grandes cidades, até a queda de aviões, ou o incêndio que vitimou outros jovens recentemente no ninho do Urubu. Desta vez, e já não é a primeira, a tragédia foi na escola, um ambiente que nos inspira proteção, formação, educação e nos remete a um estado de  plena impotência diante do fato, uma vez  que assistimos e acompanhamos atônitos pelas mídias, pelas redes sociais, todo o cenário de horror naquela escola e nada, nada mesmo pudemos fazer para evitá-la.

Eis a questão, aquela escola, poderia ser qualquer escola, na verdade representa o cotidiano das escolas brasileiras. É, bem assim, qualquer pessoa que chega a ela sobre qualquer pretexto, entra, às vezes, sequer é interpelada e torna-se mais uma pessoa misturada a tantas outras que a escola abarca. As cenas que se deram em Suzano, poderiam e, o que é mais grave, ainda podem se repetir em qualquer escola desse nosso Brasil ... Os filhos, os alunos mortos em Suzano poderiam ser meus, seus, de qualquer um de nós.

Não estou conseguindo dizer bem, o que quero dizer, mas, estou tentando na condição de professora de filosofia que trabalha com adolescentes e crianças há 20 anos. Os adolescentes que se tornaram assassinos impiedosos, e protagonizaram a tragédia, reproduzindo o cenário de guerra de um jogo popular entre os jovens, não são únicos, há outros deles por ai, se constituindo a partir da ausência dos pais, da exposição exagerada aos computadores, do acesso a todo tipo de informação, do incentivo a violência exagerada e desmedida, do uso de drogas, enfim.

E agora? O que faremos? Pais? Professores? Profissionais liberais? Continuaremos inertes, aguardando novos casos, uma tragédia mais fresca? Como dizer agora, que a escola, esta instituição tão popular e que promete mudar os cursos de vida para melhor das pessoas, também pode ser o locus da morte, que ela não é segura, porque ela não é... Nos condicionamos a achar o absurdo algo compreensível e nos abalamos muito, porque não é nada confortável ver crianças e professores morrerem praticamente sob nossos olhos e desse modo trágico. Mas, o desconforto segue até a próxima tragédia, porque ela pode está logo ali, na próxima esquina, ou na próxima escola. E nesse dia, ao invés dos filhos de Suzano, pode-se chorar pelos seus.



Lilian Lima Pereira – Professora, mestra em educação, psicanálise e estudante de Direito. Membro da Academia Grapiúna de Letras- AGRAL.

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