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quinta-feira, 31 de outubro de 2019

A ROSA DE BRASÍLIA - Carlos Eduardo Leão


A Rosa de Brasília
Num paralelo com a "Rosa de Hiroshima"

A Rosa de hoje foi uma Rosa radioativa, estúpida e inválida. Foi a típica Rosa com cirrose. Uma antiRosa atômica, sem cor, sem perfume, sem Rosa, sem nada.

Rosa traidora com a pequena esperança de uma nação. 

Rosa do voto confuso, de retórica rebuscada, juridicamente tendencioso, proferido sem vergonha. 

Rosa que não pensou no povo, mudo e telepático. 

Rosa que não honrou as bravas mulheres brasileiras rotas e alteradas pelo descompromisso da justiça. 

Rosa que não pensou nas crianças, cegas e inexatas pela desesperança. 

Rosa que não pensou nas feridas dos hospitais públicos, do desemprego, do sofrimento.

Rosa que só pensou nos canalhas detratores da Pátria. 

A Rosa de hoje não foi a Rosa Cálida. Foi a Rosa hereditária de uma genética ruim.

A Rosa de Brasília, sem cor, sem perfume, não é de toda estúpida e inválida. Há um lado positivo no seu voto perverso. Nesse julgamento fica tácito que o sistema político brasileiro está podre pela necrose ética que corrói deputados, senadores e outros funcionários públicos que lesam impiedosamente sob a proteção espúria do terceiro poder.

A Rosa de Brasília, não tenho dúvida, engrossa o coro dos críticos da indumentária presidencial na cerimônia de entronização de Sua Majestade, o imperador japonês. O presidente, único líder americano presente, resgatou as ordens honoríficas brasileiras, usadas junto a um fraque longo impecável, sendo a Ordem Nacional do Mérito instituída em 1946 por decreto do presidente Dutra, uma reedição da Ordem da Rosa de origem imperial. 

Que fique claro que a Ordem da Rosa é um símbolo pátrio, diferente da Rosa em questão, um símbolo nefasto do oportunismo jurídico contra as ações heroicas da Lava-Jato. O presidente estava elegante, iluminado, carismático e competente com as ações políticas desenvolvidas para choro copioso da esquerda podre.

Engrossa também o coro dos que criticam Bolsonaro por ter levado o seu indefectível Miojo para as horas em que a culinária local não o agrada tanto. Os críticos, invariavelmente a esquerdalha caviar e a extrema imprensa, fingem não se lembrar que o presidiário de Curitiba, a alma mais honesta do mundo, em situação semelhante, frequentava os mais caros restaurantes do mundo cujas iguarias eram regadas a Don Perignon, Petrus e Mouton Rothschild que, horas depois, o faziam urinar nas calças, escornado num canto qualquer, para delírio e aplausos frenéticos de seus asseclas, admiradores e seguidores.

A sua substituta, não deixava por menos. A única diferença é que não foi flagrada molhada.

Estou na dúvida com os destinos do Brasil com tanta indignação acumulada e hoje culminada com o voto de Rosa. 

A Rosa de Hiroshima nasceu de uma bomba atômica lançada sobre inocentes indefesos. A Rosa de Brasília, mutatis mutandis, também. 

Será que é hora dos caminhoneiros ligarem seus motores? Será que é o momento pra quebra-quebra e caos? Talvez seja tudo que queira a esquerda ardilosa numa tentativa orquestrada pelo Foro de São Paulo, apoiado por dois dos três poderes da República, para desestabilizar a recente aprovação da Nova Previdência, da competente atuação do presidente na Ásia e do sucesso econômico que se descortina para 2020.

É hora de pensar, esfriar a cabeça e orar.


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Texto atribuído a Carlos Eduardo Leão


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ANGÚSTIA – Ariston Caldas


Um relógio pendulava dentro de sua cabeça, como pancadas de martelo. Da sala onde se encontrava só, emanava cheiro de mofo misturado com o odor da cera do assoalho; uma raja de luar infiltrava-se por uma fresta da janela confrontada com o poente, formando uma claridade pálida, quase imperceptível. Como sombra apareciam em sua imaginação os rostos de Elsa e Catarina, renitentes, peculiares nos gestos, tonalidade de voz, os sorrisos, agora distantes, sem pancadas intrigantes de um relógio antigo.

“Que culpa tenho em toda essa história? Tentaria uma solução?” Tudo confuso. Receava maiores complicações. “Saltei muros, troncos e barrancos. Só faltei roubar, coisa que meu pai nunca me ensinou. E agora? Toma aí, coisa tonta, pau no lombo, tristeza, recalques, solidão que não acaba nunca, lágrimas por dentro e até pela face, a alguns momentos; coração aflito, sem carinho ou uma palavra de alento”. Abriu a janela por onde entrava um raio de luar; viu a lua se escondendo entre nuvens espessas turvando a cúpula celeste, como se fora um eclipse.

 As pancadas do relógio recrudesciam e um vento frio soprava vindo nem sabia de que lado. “Elza, Catarina”. Era uma consumição em seu juízo. Vinha-lhe uma série de perguntas sem nexo, sim sentido. Procuraria um médico, um psicólogo ou mesmo um psiquiatra. “Os doutores não curam males da alma. Os espiritualistas também não”. Era um cético. Fechou a janela, encolhendo-se ante a rajada do vento frio. “Minha mãe estaria aflita com o meu tormento. Nem podia me ver calado: ‘Está sentindo alguma coisa’, perguntava-me apalpando meu peito, afagando minha cabeça. Eu sabia que ela rogava a Deus e aos santos de sua crença um socorro para mim. Acalmava-lhe com um sorriso sutil: - não estou sentindo nada”.

As figuras de Elza e Catarina voltavam a sua cabeça embaralhada, separadas, juntas, contrastando-se, resmungando, às vezes ameaçando agredi-lo, soltando palavras ofensivas, investindo com dedo em riste, frente a frente. Lembrava do carinho dedicado às duas, do sacrifício do dia-a-dia, somando coisas, diminuindo outras, apertando a fronte às vezes atormentada, arrepiando-se com deveres acumulados.

Elza, Catarina. “Você é um imbecil”, “Quero um vestido novo para o aniversário do doutor Mário”, “Estou precisando de um colar de ouro e de uma pulseira”.              

Quanto compromisso, quanta humilhação ante olhares exigentes, tantas mãos exigentes! “Por que faziam essas coisas comigo?” Num ímpeto, saltou pela janela e ganhou a rua, como gente maluca. Pensou informar-se onde encontraria uma clínica. Queria um médico urgente, um psicólogo, um psiquiatra competente que lhe afastasse aqueles pensamentos, aquelas lembranças confusas, as sombras de Elza, de Catarina. Pensou num sanatório bem aparelhado, com psiquiatras, medicamentos eficazes que o tornassem lúcido e razoável. Não encontrou nenhum sanatório nem psiquiatra. Sem uma alternativa retornou para casa; saltou novamente a janela que ficara encostada e dirigiu-se para o quarto. “Se Elza e Catarina estivessem aí!”. Quando saiu para a rua pensando em procurar um médico, as duas afastaram-se de sua cabeça, daí imaginá-las esperando-o de volta, Elza sentada nos pés da cama, Catarina do outro lado, encostada à cabeceira, nenhum diálogo entre as duas que se odiavam, mas na espreita. Com essas ideias empurrou a porta e entrou, acendeu a lâmpada, panhou um lençol fino, uma espátula e começou a vedar as fendas da porta entre as dobradiças para aliviar-se das pancadas do relógio na sala vizinha, badalando entre figuras que lhe atormentavam o juízo.
Lembrando de suas trajetórias durante o dia, admitiu encontrar-se atrapalhado; verdade que as pancadas do relógio agravavam a situação que já era tensa ante as imagens de Elza e Catarina. Melhor seria dar um fim ao relógio, trocar por outro sem pêndulo, silencioso. “Será que Elza tem ainda aquele relógio de pulso?”. Pensou assim antes de saltar a janela, quando saiu para a rua, à procura de um médico, de uma clínica. De volta, isolou o relógio, abafando-o na sala vizinha. Panhou um espanador e sacudiu o leito da cama forrada com um lençol azul florado de amarelo. Deitou-se depois, sutil, sem vontade de dormir; queria, antes, esquecer Elza, Catarina. Se não conseguisse dormir, sairia pela manhã à busca de um médico que iria exigir-lhe detalhes, “conte sua história”.

O que iria contar? Somente falar sobre as duas, um histórico comprido, aí por volta de dez anos entre atalhos e arrodeios, mais ou menos, nunca no meio termo das coisas, como fazia sua mãe quando era menino, repassando a farda enxovalhada da semana para ganhar tempo e sabão; esconder mal feitos ante o pai cansado e às voltas com mil obrigações em casa.

Passou a noite se virando de um lado para outro, a cabeça com sensação de zonzura, os ouvidos chiando, as pernas cansadas.

A primeira coisa a fazer depois que o sol saísse seria procurar uma clínica especializada em assuntos sobre loucura. Tinha a certeza que estava ficando doido.


(LINHAS INTERCALADAS – 2ª Edição, 2004)
Ariston Caldas

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