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domingo, 11 de fevereiro de 2018

CARNAVAL 2018: PORTELA - samba-enredo

Samba-Enredo

 “De repente de lá pra cá e Dirrepente de cá pra lá”
Compositores: Samir Trindade, Elson Ramires, Neyzinho do Cavaco, Paulo Lopita 77, Beto Rocha, J. Salles e Girão.
Categoria: Música
Licença: Licença padrão do YouTube
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Vamos simbora povo vencedor
Contar a mesma história

Sou nordestino, estrangeiro, versador,
Eh eh eh viola… 
Vem do arrecife oio azul cabra da peste
No doce do meu agreste, querendo se lambuzar
Oi o mar maré de saudade, oi o mar
Pedindo paz a javé, perseguido na fé
O imigrante veio trabaiá,
Oh saudade que vai na maré
Passa o tempo e não passa a dor
E um dia Pernambuco o português reconquistou. 

Luar do sertão, ilumina…

Pra quem deixou esse chão, triste sina
Ô cumpadi em seu peito leva um dó
Cada um em seu destino e a tristeza dá um nó.

Vixi Maria lá no meio do caminho

Tem pirata no navio
O pagamento não foi ouro nem foi prata 
Essa gente aperriada foi seguindo
Ô gira ciranda, vai a chuva vem o sol, deixa cirandar.  

Chega criança,
homem, muié

No abraço dessa terra
só não fica quem não quer.  

É legado, é união, é presente, igualdade

É “Noviórque” pedestal da liberdade
A minha águia em poesia de cordel
22 vezes minha estrela lá no céu.  


Lá vem Portela é melhor se segurar

Coração aberto quem quiser pode chegar 
Vem irmanar a vida inteira
Na campeã das campeãs em Madureira


* * *

TODA CONFIANÇA EM NOSSA SENHORA, MESMO QUANDO TUDO PARECER PERDIDO.

11 de Fevereiro de 2018
Lugar em que viveu teve que viver a família de Santa Bernadette, parte de uma delegacia abandonada, que ainda hoje se pode visitar.

Há 160 anos, a família de Santa Bernadette vivia situação desesperadora, quando ocorreu a miraculosa aparição na Gruta de Lourdes

Luis Dufaur

Em 11 de fevereiro de 1858, a família de Santa Bernadette Soubirous enfrentava mais uma jornada de penúrias humilhantes na vida quotidiana. A família fora proprietária de moinho de trigo, que lhe conferia projeção social e econômica, mas havia caído na miséria, tendo perdido o moinho e o lar. Tinha que viver num cachot (enxovia, quarto insalubre), numa parte de delegacia abandonada que ainda hoje se pode visitar.

No tugúrio não havia o que comer, nem lenha para aquecimento naquele inverno, e Francisco Soubirous saiu cedo à procura de algum trabalho. Após muito tentar, encontrou um serviço humilhante para quem fora dono de moinho: carregar lixo hospitalar do posto de saúde de Lourdes e queimá-lo fora da cidade, numa gruta chamada Massabielle, onde por vezes se guardavam animais.
Com os vinte sous (tostões) que ganhou, sua esposa Louise preparou uma sopa para o almoço familiar.

Enquanto Francisco estava fora, Louise ouviu gritos da vizinha, a Sra. Croisine Bouhort, que a chamava desesperadamente, pois agonizava mais uma vez seu filhinho Justin, que nascera raquítico. A paciência e tato de Louise havia impedido o desenlace em mais de uma oportunidade, mas a família já perdera a esperança de salvá-lo. Naquele dia de privações, Louise fez novamente o prodígio de manter em vida a criancinha doente.

Dias depois, quando já se haviam divulgado as aparições de Nossa Senhora, Croisine Bouhort se encontrou novamente na iminência da morte do filho. Tocada pela graça, correu com a criança agonizante e a imergiu na fria fonte da gruta de Lourdes, enquanto todos tentavam dissuadi-la. Mas ela estava certa, quando intuiu a possibilidade do milagre, e Justin foi um dos primeiros miraculados de Lourdes. No dia 8 de dezembro de 1933, com 77 anos de idade, o próprio Justin — vigoroso horticultor da cidade francesa de Pau — assistiu na Praça de São Pedro, em Roma, à canonização de Santa Bernadette pelo Papa Pio XI.

Quantas e quantas vezes consideramos difícil o dia que estamos vivendo! Tudo se passa de maneira errada, não há esperança no horizonte, o bem que aguardamos não acontece, mas sim o contrário. Em especial nesses momentos, devemos voltar nosso pensamento para Nossa Senhora e rezar uma Ave Maria, uma jaculatória, fazer um oferecimento: “Minha Mãe, em Vós confio! Aceitai minha dor como reparação, e enviai uma graça para alguma alma necessitada que Vós bem conheceis!”.

A família de Santa Bernadette passava por momentos assim no dia da primeira aparição da Santíssima Virgem, há 160 anos. Os grandes santos passaram também por esses dramas da vida quotidiana, e a reação que tiveram pode ter sido decisiva para a própria santificação. Nas horas difíceis em que tudo parece ocorrer de modo errado, lembremo-nos desta situação e elevemos à Virgem Santíssima uma prece: Nossa Senhora de Lourdes, rogai por mim! ou Santa Bernadette, rogai por mim! Dormiremos tranquilos nessa noite, mas chegará um dia em que veremos o resultado dessa oração e desse sacrifício.

Representação de uma das aparições de Nossa Senhora a Santa Bernadette

Lourdes e o futuro que só Deus conhece

Ninguém poderia razoavelmente se surpreender, caso a estrutura da atual civilização viesse a desabar fragorosa e tragicamente, num grande banho de sangue. Lançam-se ameaçadores foguetes norte-coreanos, enquanto naves e aviões de guerra americanos navegam próximo ao Mar da China e o Havaí reativa seus refúgios nucleares. A Rússia ameaça as fronteiras da Europa Central e envia navios de guerra para o Caribe. O incêndio comunista se propaga a partir da Venezuela, enquanto no Brasil o número de mortes violentas atingiu a cifra de 61.619 em um ano, e ninguém vê perspectivas de melhoras. Há quem pergunte, inclusive em livros, se é o caso de procurarmos algum local inacessível para nos escondermos, talvez até mesmo viver em catacumbas. Empresas dos EUA oferecem construir abrigos atômicos em sítios e jardins particulares.

Fatos de outra natureza fazem pensar também em castigos de proporções catastróficas. A onda de sacrilégios e profanações em presépios no recente Natal, em catedrais e praças da Itália e outros países, foi inimaginável. O presépio de Natal deste ano na Praça de São Pedro causou escândalo em numerosos fiéis, sobretudo devido a uma imagem de um personagem nu. Enquanto o Papa Francisco visitava tal presépio, centenas de gaivotas revoaram em torno do presépio, grasnando assustadoramente. Era um fato tão inusual, que muitos o qualificaram como um mau presságio, acenando também com uma prefigura do Apocalipse.

(*) Foto ao lado: “Presépio” exposto no interior da basílica de Nossa Senhora de Fátima, em Portugal. A escultura tosca e disforme não reflete a perfeição física da Sagrada Família.

No convento de Santo Antônio, no Rio de Janeiro, também montou-se um presépio escandaloso, com imagens ofensivas ao Menino Jesus. A reação dos católicos levou à remoção dessa “obra de arte”, mas o escândalo foi ainda agravado pelos elogios de autoridades religiosas a essa blasfêmia.

Dentro da Igreja, os meios sobrenaturais para a salvação estão de tal maneira subutilizados, que dir-se-iam inúteis. Quase não se ouve mais pregar a necessidade de rezar o terço, de invocar os santos, de praticar os mandamentos, de receber os sacramentos ou de adorar o Santíssimo Sacramento.

Tais profanações, ofensas e manifestações de desprezo são de molde a afastar as graças de Deus e provocar a ira divina. São pecados graves e atraem castigos, o que nos leva a temer uma situação humanamente perdida. Alguns até imaginam que a Igreja será forçada a voltar às catacumbas.

Mas há uma razão para se esperar que a Providência não o permita, ou pelo menos que tal permissão seja por pouco tempo: entre as desolações da época presente, um prenúncio de vitória é a ação da Virgem Santíssima na Terra, que se faz de modo por assim dizer visível. De Lourdes e Fátima até nossos dias, quanto mais a crise universal se expande, tanto mais as intervenções d’Ela se tornam palpáveis. Combate-se a devoção a Nossa Senhora não só fora da Igreja, mas até em certos meios que são ou fingem ser católicos. Mas trabalham em vão, pois cá e lá a Virgem Santíssima continua atraindo a si milhões de almas, desenvolvendo um plano de regeneração que conduz a um grande e espetacular desfecho. Em torno de Lourdes, por exemplo, essa ação é palpável. Todas as circunstâncias parecem adequadas para um triunfo imenso da Santa Mãe de Deus.

Sim, a crise é trágica e se aproxima do auge. Quem nos poderia salvar da cólera de Deus? Só a ação de uma Mãe ilimitadamente boa e generosa, que tivesse para conosco uma complacência sem limites.
Seria preciso também que ela fosse ao mesmo tempo mais poderosa do que todas as forças da Terra, do que todos os poderes infernais e seduções carne. E seria preciso que fosse onipotente junto ao próprio Deus, ofendido por nossos pecados. Salvar-nos nesta situação seria a mais rútila das manifestações do poder de tal Mãe, que é também a Mãe de Deus. Como não perceber que tantos desastres e tantos pecados clamam, por assim dizer, pela intervenção de Maria Santíssima? E como não perceber que Ela atenderá a este clamor? Quando? Durante o grande drama que se aproxima?
Depois dele?

Não o sabemos, mas nos parece muito provável que, como desfecho dessa crise, Maria Santíssima não prepara para a Santa Igreja castigos intermináveis, com séculos de agonia e dor, mas uma era de triunfo universal. Ela mesma o anunciou e prometeu, especialmente em Fátima. Por isso, nunca cessemos de rogar confiantes: Maria Santíssima, rogai por nós!

Confiança em grau heroico – o exemplo de Santa Bernadette

Santa Bernadette no convento de Nevers

Santa Bernadette Soubirous se recolheu no convento Saint Gildard de Nevers, onde faleceu consumida por uma doença pulmonar contraída nos dias frios passados no cachot. Em 17 de dezembro de 1876, escreveu uma carta ao Bem-aventurado Papa Pio IX, e foi levada deste mundo dois anos depois. Pio IX também faleceu não muito depois, em 7 de fevereiro de 1878, em meio a grandes sofrimentos provocados pela invasão e usurpação revolucionária dos Estados Pontifícios, dos quais o Papa é rei. Naquela invasão brilharam pelo seu heroísmo os zuavos pontifícios (tropa de elite de voluntários do Papa), muitos dos quais morreram em combate defendendo o reino temporal da Igreja. A eles se refere Santa Bernadette, quando afirma na carta: “Há alguns anos eu me constituí em um pequeno zuavo”. Seu coração estava junto àqueles bravos que deram a vida pelo Papa no campo de batalha, e a devastação da doença não lhe tirava a esperança de combater pela Igreja com santo ardor. O fulcro de seu pensamento e de seus desejos estava posto no triunfo da Igreja contra seus inimigos.

Na carta a Pio IX, Santa Bernadette inclui uma frase de conteúdo profético, que faz pensar em La Salette e em Fátima: [Nossa Senhora] “se dignará colocar ainda mais uma vez Seu pé sobre a cabeça da serpente maldita, e dar assim um termo às cruéis provações da Santa Igreja e às dores de seu augusto e Bem-Amado Pontífice”. Para ela, Nossa Senhora havia se revelado inaugurando um fluxo imenso de milagres ao curar incontáveis doentes e almas aflitas. A santa nada pedia para si, mas pela vitória da Santa Igreja e do Papa, cuja grandeza heroica foi reconhecida e confirmada por sua elevação aos altares. E pedia com a certeza de que a vitória seria da Igreja e da civilização cristã.

Santuário de Nossa Senhora de Lourdes. Abaixo, a imagem da Imaculada Conceição na gruta.
Sofrimento: sinal dos predestinados

A grande maioria das almas tem necessidade do sofrimento para a salvação eterna, a exemplo de Nosso Senhor e Sua Santa Mãe no alto do Calvário. De modo paradoxal, as doenças são auxiliares poderosas da santificação, e é mesmo por meio delas e das provações espirituais que a pessoa se santifica. Não compreende nada sobre os desígnios de Deus, quem não compreende o papel do sofrimento para operar nas almas o desapego, o amor de Deus e a regeneração. É por esta forma que as almas se santificam.
São Francisco de Sales chegou a afirmar que o sofrimento corresponde a um 8º sacramento. Plinio Corrêa de Oliveira lembrava sempre esta verdade que tantos não desejam enfrentar, e também a exemplificava com um fato que lhe foi narrado pelo Cardeal Pedro Segura y Sáenz (1880-1957). O Papa Pio XI se ufanava de nunca ter ficado doente. Mas o Cardeal Segura não temia dizer as verdades, e comentou:

— Então Vossa Santidade não tem o sinal dos predestinados.

Pio XI ficou um tanto sobressaltado, por isso o Cardeal acrescentou:

— Não há predestinado que não adoeça gravemente, que não sofra muito, pelo menos em determinado período da vida. Se Vossa Santidade nunca teve problema de saúde, não teve o sinal dos predestinados.

Dias depois, Pio XI sofreu fortíssimo enfarte. Mal se restabeleceu, enviou um bilhete ao Cardeal, comunicando que já tinha o “sinal de predestinado”. O Cardeal conservou o bilhete como uma piedosa lembrança.

Em alguns casos, para certos efeitos que Deus conhece, convém eliminar o sofrimento, mas normalmente não convém. De maneira que a imensa maioria das pessoas que vão a Lourdes voltam sem ter sido curadas. Nossa Senhora é sumamente misericordiosa, mas sabe que é indispensável o sofrimento para a salvação das almas, e agiria contra o interesse da salvação das almas se eliminasse as doenças de todas as pessoas.

Há certa interpretação da Religião voltada apenas a pedir favores materiais, e que desdenha os favores espirituais. Assim, há pessoas que apenas se impressionam com as curas materiais operadas em Lourdes, mas não se impressionam com os favores espirituais, as graças para as almas que visitam o santuário de Lourdes. As curas de Lourdes ocorrem porque Nossa Senhora tem pena dos que sofrem. Entretanto, muito mais do que a cura corporal, Ela deseja conceder favores espirituais para o incremento da fé e a salvação das almas.

A própria Santa Bernadette sofreu muitíssimo, sem fugir da terrível doença que a consumia dia a dia!
Através desse sofrimento, ela provavelmente mereceu de Nossa Senhora a cura de muitos peregrinos em Lourdes, sem que a cura dela estivesse nos planos de Nossa Senhora.

Nossa Senhora jamais abandona quem quer que seja

Plinio Corrêa de Oliveira sempre insistia que não é admissível supor que Nossa Senhora nos abandone, sobretudo quando as situações são complicadas. É preciso confiar, pois Ela nos acompanha sempre. Devemos nos habituar a enfrentar a adversidade com esse espírito de fé, e ao mesmo tempo a conviver com a esperança do milagre. Lourdes nos ensina que o milagre é fato frequente, mas é preciso conservar a calma motivada pela confiança.

Nosso Senhor Jesus Cristo, na agonia no Horto das Oliveiras, foi o exemplo perfeito de alma tranquila e confiante. Ele chegou a suar sangue, diante da dor que se aproximava com a Crucifixão, mas permaneceu tranquilo. Segundo o Evangelho, Ele começou a ter tédio e pavor, e a ficar triste (Mc 14, 33. Mt 26, 37). Daí seu pedido filial ao Padre Eterno: Meu Pai, se for possível, afaste-se de mim este cálice (Mt 26, 39). Mas depois acrescentou: Faça-se a vossa vontade, e não a minha.

Depois de 160 anos da retumbante manifestação de Nossa Senhora em Lourdes, o mundo se agita em espantosa intranquilidade, porque abandonou o exemplo de Nosso Senhor Jesus Cristo, de sua Santíssima Mãe e de seus santos. A grande e admirável Santa Bernadette Soubirous nos deu o maravilhoso exemplo de acatar sempre o exemplo do Divino Salvador.



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PALAVRA DA SALVAÇÃO (65)

6º Domingo do Tempo Comum – 11 de fevereiro 2018

Anúncio do Evangelho (Mc 1,40-45)

— O Senhor esteja convosco.
— Ele está no meio de nós.
— PROCLAMAÇÃO do Evangelho de Jesus Cristo + segundo Marcos.
— Glória a vós, Senhor.

Naquele tempo, um leproso chegou perto de Jesus e, de joelhos, pediu: “Se queres, tens o poder de curar-me”.
Jesus, cheio de compaixão, estendeu a mão, tocou nele e disse: “Eu quero: fica curado!” No mesmo instante a lepra desapareceu e ele ficou curado.
Então Jesus o mandou logo embora, falando com firmeza: “Não contes nada disso a ninguém! Vai, mostra-te ao sacerdote e oferece, pela tua purificação, o que Moisés ordenou, como prova para eles!”
Ele foi e começou a contar e a divulgar muito o fato. Por isso Jesus não podia mais entrar publicamente numa cidade; ficava fora, em lugares desertos. E de toda parte vinham procurá-lo.

— Palavra da Salvação.
— Glória a vós, Senhor.

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Ligue o vídeo abaixo e acompanhe a reflexão do Padre Roger Araújo:

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Contágios que salvam
“Jesus, cheio de compaixão, estendeu a mão, tocou no leproso...” (Mc 1,41)

Como as narrações anteriores do evangelista Marcos, também a deste domingo é concebida como um desvelamento da personalidade de Jesus. Autoridade e compaixão: dois atributos de Deus que Jesus deixa transparecer no encontro com as pessoas, sobretudo as enfermas e excluídas; são as feições divinas que se visibilizam no agir de Jesus.  Além disso, Marcos quer também revelar a superioridade de Jesus em relação à Lei. Ele não depende da Lei para fazer o bem às pessoas ou para reintegrar o ser humano no convívio social e religioso. Pois, a Lei é (e deveria ser sempre) para o bem das pessoas; se Ele pode curar alguém pela “autoridade”, não é preciso primeiro consultar os guardiões da Lei. Basta que, depois da cura, o leproso ofereça o sacrifício de agradecimento a Deus, conforme o rito religioso costumeiro.

Jesus não duvida em transgredir a lei quando a vida está em perigo; mesmo sabendo que Ele se fazia “impuro” ao tocar no leproso, atreve-se ao risco do contágio. O motivo de sua atuação é só uma: a compaixão. Frente à situação de extrema exclusão, Jesus experimenta compaixão que faz brotar nele uma resposta amorosa; nascendo de suas entranhas e vencendo as normas rituais, a compaixão se transforma em uma palavra eficaz que devolve a vida ao homem enfermo e marginalizado.

A compaixão era já um dos atributos de Deus no AT. Jesus a faz sua em toda sua trajetória humana. É uma demonstração de que para chegar ao divino não é preciso destruir o humano. A compaixão é a forma mais humana de manifestar amor. Quando alguém sente como seu o sofrimento do outro é quando, de verdade, se fez próximo dele.

A compaixão, que toma conta do coração de Jesus, é fruto do corajoso deslocamento para a margem, para a necessidade do outro. Sua autoridade é sempre percebida como garantia e sustento da vida, pois ela é carregada de compaixão e não de poder. Só tem "autoridade" quem garante a vida e a recupera em todas as circunstâncias. A vida do outro é a razão única da autoridade compassiva.

O outro, sua necessidade e sofrimento, será sempre a alavanca que gera no coração humano a compreensão e o exercício da autoridade como verdadeiro serviço. Só a compaixão desloca cada um para o lugar do outro. Só a compaixão ilumina a realidade do sofrimento do outro. Só a compaixão move na direção da oferta do outro.

No relato do evangelho de hoje(6º Dom TC) pode-se descobrir uma cumplicidade entre o leproso e Jesus. Os dois vão mais além da Lei: um por necessidade imperiosa, o outro por convicção profunda. O leproso, através de seu gesto ousado de se aproximar de Jesus, sabia também que sua vida – e sua libertação da marginalidade – não dependiam do Templo e dos sacerdotes, pois estes só constatavam a cura ou a permanência da doença em seu corpo. Os sacerdotes eram impotentes: não podiam restabelecer a vida.

Diante disso, o leproso toma uma atitude radical: não vai ao sacerdote, e sim a Jesus. Ao invés de ficar à distância e gritar sua marginalização, aproxima-se de Jesus, joelha-se diante dele e pede: “se queres, tens o poder de curar-me”. Reconhece que o poder da cura (que o tira da marginalidade) não vem da religião dos sacerdotes, e sim de Jesus, fonte de libertação e vida. Viola a lei para ser curado.

O leproso, dentro de sua necessidade, reconheceu que o "querer" é de Deus. A súplica que brota do seu coração, toca o centro do coração compassivo de Jesus. Esta escuta direciona a ação terapêutica d'Ele. A lição do coração de Jesus é única: o encontro de dois “quereres” que faz surgir nova vida.

Jesus, terapeuta compassivo do Espírito, revela uma presença que mobiliza o leproso a deixar emergir o Deus que habitava nele. E para isso necessita dar um passo a mais: através de suas mãos, estabelece com o enfermo um contato sanador, libera as fontes do amor que permaneciam ocultas e obstruídas. Sua ferida se converterá para ele no lugar da experiência de Deus.

O significado original do verbo “tocar” vai além de um simples e rápido contato: expressa outros sentidos: atar, enlaçar, envolver... muito mais coerente com a maneira de atuar de Jesus.

Quer dizer que Ele não só tocou o enfermo por um instante, mas que manteve essa postura durante um certo tempo. Tendo em conta o perigo do contágio que a lepra representava, podemos compreender o profundo significado do gesto, suficiente, por si mesmo, para fazer patente a atitude vital de Jesus. Não só demonstra que está acima da Lei quando se trata do bem de um homem, senão que assume o risco de contrair a lepra e tornar-se impuro também ele.

Ao tocá-lo, Jesus destravou a fonte originante da vida do leproso. Não só desapareceu a enfermidade, senão que é reconstruído em sua plena condição humana e reintegrado em seu ambiente social e religioso. De fato, o homem, até então marginalizado, encontrou a reintegração e aproveitou-a para contar o que lhe acontecera. Mas Jesus foi ocupar o lugar do leproso, excluído para os “lugares desertos”.

De acordo com o sistema religioso vigente, ao tocar um leproso, Jesus torna-se impuro: torna-se leproso e fonte de contaminação; torna-se marginalizado e não poderá mais entrar publicamente numa cidade: deverá permanecer fora, em lugares desertos, como os marginalizados. O Filho de Deus foi morar com os excluídos. Aqui o evangelho de Marcos mostra quem é Jesus: é aquele que rompe os esquemas fechados de uma religião elitista e segregadora, indo habitar entre os banidos do convívio social.

A cura do leproso nos revela também que há outros contágios muito piores que desumanizam: preconceito, intolerância, indiferença, suspeita....

Continuamos presos à ideia de que a impureza contagia, mas o evangelho nos está dizendo que a pureza, o amor, a liberdade, a saúde, a alegria de viver..., também podem contagiar. Com sua presença inspiradora Jesus contagia compaixão, bondade, acolhida... Por isso, contágios que salvam e libertam.
Este passo teríamos que dar, se de verdade queremos ser seguidores(as) de Jesus. No entanto, continuamos justificando muito casos de marginalização sob o pretexto de nos permanecer puros.
Quantas leis, civis e religiosas, deveríamos transgredir hoje para ajudar todos os marginalizados a se reintegrarem na sociedade e na Igreja, possibilitando-lhes se sentirem como seres humanos!

Texto bíblico:  Mc 1,40-45

Na oração: O Evangelho indica que Jesus “estendeu a mão, tocou no leproso...”
O contato é sinônimo de calor, afeto, atenção, pre-sença e ternura. Também expressa reconhecimento e segurança. Precisamos tocar e ser tocados para viver, necessitamos uma espiritualidade que se enraíze em nossas mãos.

O leproso se abre diante de Jesus que o toca. Quê poder tem nossas mãos quando as estendemos cheias de bênçãos! Quê força sanadora quando aprendemos a tocar com ternura, a tocar despertando essa vida profunda debaixo da pele!...
Todos somos um pouco como o leproso e podemos nos reconhecer em seu desejo de cura e de abundância de vida. E todos podemos também ser como Jesus para os outros, quando nosso olhar está livre de preconceito, nossas mãos se estendem para quebrar distâncias e nossa voz é capaz de tocar com calor a vida profunda e escondida dos outros.

Pe. Adroaldo Palaoro sj


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