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segunda-feira, 23 de abril de 2018

ITABUNA CENTENÁRIA REFLETINDO - A esmola da compaixão


A esmola da compaixão



De portas abertas ao serviço da caridade, a casa dos Apóstolos em Jerusalém vivia repleta, em rumoroso tumulto.

Eram doentes desiludidos que vinham rogar esperança, velhinhos sem consolo que suplicavam abrigo. Mulheres de lívido semblante traziam nos braços crianças aleijadas, que o duro guante do sofrimento mutilara ao nascer, e, de quando em quando, grupos de irmãos generosos chegavam da via pública, acompanhando alienados mentais para que ali recolhessem o benefício da prece. Numa sala pequena, Simão Pedro atendia, prestimoso. Fosse, porém, pelo cansaço físico ou pelas desilusões hauridas ao contato com as hipocrisias do mundo, o antigo pescador acusava irritação e fadiga, a se expressarem nas exclamações de amargura que não mais podia conter.

– Observa aquele homem que vem lá, de braços secos e distendidos? – gritava para Zenon, o companheiro humilde que lhe prestava concurso – aquele é Roboão, o miserável que espancou a própria mãe, numa noite de embriaguez… Não é justo sofra, agora, as consequências? E pedia para que o enfermo não lhe ocupasse a atenção.

Logo após, indicando feridenta mulher que se arrasava, buscando-o, exclamou, encolerizado:

– Que procuras, infeliz? Gozaste no orgulho e na crueldade, durante longos anos… Muitas vezes, ouvi-te o riso imundo à frente dos escravos agonizantes que espancavas até à morte… Fora daqui! Fora daqui!…

E a desmandar-se nas indisposições de que se via tocado, em seguida bradou para um velho paralítico que lhe implorava socorro:

– Como não te envergonhas de comparecer no pouso do Senhor, quando sempre devoraste o ceitil das viúvas e dos órfãos? Tuas arcas transbordam de maldições e de lágrimas. . . O pranto das vítimas é grilhão nos teus pés. . .

E, por muitas horas, fustigou as desventuras alheias, colocando à mostra, com palavras candentes e incisivas, as deficiências e os erros de quantos lhe vinham suplicar reconforto.

Todavia, quando o Sol desaparecera distante e a névoa crepuscular invadira o suave refúgio, modesto viajante penetrou o estreito cenáculo, exibindo nas mãos largas nódoas sanguinolentas.

No compartimento, agora vazio, apenas o velho pescador se dispunha à retirada, suarento e abatido.

O recém-vindo, silencioso, aproximou-se, sutil, e tocou-o docemente.

O conturbado discípulo do Evangelho só assim lhe deu atenção, clamando, porém, impulsivo:

– Quem és tu, que chegas a estas horas, quando o dia de trabalho já terminou?

E porque o desconhecido não respondesse, insistiu com inflexão de censura:

– Avia-te sem demora! Dize depressa a que vens…

Nesse instante, porém, deteve-se a contemplar as rosas de sangue que desabotoavam naquelas mãos belas e finas. Fitou os pés descalços, dos quais transpareciam ainda vivos, os rubros sinais dos cravos da cruz e, ansioso, encontrou no estranho peregrino o olhar que refletia o fulgor das estrelas…

Perplexo e desfalecente compreendeu que se achava diante do Mestre, e, ajoelhando-se, em lágrimas, gemeu aflito:

– Senhor! Senhor! Que pretendes de teu servo? Foi então que Jesus redivivo afagou-lhe a atormentada cabeça e falou em voz triste:

– Pedro, lembra-te de que não fomos chamados para socorrer as almas puras…

Venho rogar-te a caridade do silêncio quando não possas auxiliar! Suplico-te para os filhos de minha esperança a esmola da compaixão…

O rude, mas amoroso pescador de Cafarnaum, mergulhou a face nas mãos calosas para enxugar o pranto copioso e sincero, e quando ergueu, de novo, os olhos para abraçar o visitante querido, no aposento isolado somente havia a sombra da noite que avançava de leve.

Irmão X


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LOTEAMENTO CELESTE! - Antonio Nunes de Souza


É público e notório que, atualmente, existem milhares de igrejas de diversas vertentes religiosas que, com bastante veemência, oferecem um lugar no céu para seus seguidores, inclusive, através de lavagens cerebrais, fanatizam seus discípulos para que façam as notícias circularem abundantemente, em busca de novos e pobres adeptos!

O que nos causa estranheza é o assentimento da justiça que, verdadeiramente, tem conhecimento dessa farsa e deixa o barco correr a vontade, proliferando cada vez mais o número de chamados “templos” ou pequenas garagens transformadas em igrejas, bastando para isso uma quantidade de baratas cadeiras de plástico, serviço de som e um ministro ou pastor (muitas vezes semi-analfabetos) e, com uma semana, o pobre povo aflito e desesperado começar a prestigiar, em busca de soluções dos seus problemas!

Falei sobre a enganação de “um lugar no céu”, entretanto, o peso pesado para conquista diária de dízimos é a promessa de empregos, abandonos de todos os tipos de vícios, retornos de casamentos, curas miraculosas até para doenças incuráveis, etc. Na verdade se intitulam verdadeiras potências como representantes de Jesus aqui na terra!

Com toda certeza, Jesus, lá do alto, deve estar horrorizado com o uso indevido do seu nome, estarem oferecendo mirabolantes milagres!

Ainda achando pouco, vendem garrafinhas de águas bentas, vidrinhos de óleos milagrosos para dores corpóreas, pedacinhos de madeiras ditas como sendo da cruz que Cristo foi crucificado, fora a comercialização da Bíblia Sagrada que cada um que entra é obrigado a comprar!

Verdadeiras filiais do Planalto Central em termos de enganação popular. Uma série de muitos bandidos enganadores, aproveitando-se das fraquezas do pouco letrado povo brasileiro!

Mereciam, após serem sanadas as falcatruas da Lava Jato, que fosse feita pela polícia federal uma operação, que poderia ser batizada como “O Céu é o Limite!”!

 Creio que, com uma boa varredura, seriam desmascarados muitos peixes de diversos tamanhos!

Peço a Deus que esse desmanche brevemente seja feito “em nome de Jesus!”


Antonio Nunes de Souza, escritor
Membro da Academia Grapiúna de Letras-AGRAL


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‘LULA NÃO É PRESO POLÍTICO, É POLÍTICO PRESO’, AFIRMA FHC


Fernando Henrique acha que a descrença nos políticos poderá levar a uma queda de participação nas urnas (Crédito: Fabio Braga)
20/04/18

A seis meses das eleições, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB) minimiza o fato de o pré-candidato de seu partido ao Palácio do Planalto, o ex-governador de São Paulo Geraldo Alckmin, aparecer estagnado nas mais recentes pesquisas de intenção de voto, na faixa dos 8%. “Geraldo é um corredor de maratona, não de 100 metros”, disse FHC nesta quarta-feira, 18, ao jornal O Estado de S. Paulo, em seu escritório na capital paulista.

O tucano, de 86 anos, cita como exemplo sua própria campanha em 1994, quando só decolou em junho na esteira do Plano Real. Sobre uma eventual candidatura do ex-presidente do Supremo Tribunal Federal Joaquim Barbosa, Fernando Henrique afirma: “Foi um juiz competente, teve coragem, mas isso qualifica você para presidente? Por isso só, não”. “Não sei o que ele pensa.”

Questionado se o fato de o senador Aécio Neves (PSDB) ter se tornado réu pode contaminar a campanha tucana, Fernando Henrique cita o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva: “Qual foi o impacto na inclinação pelo Lula? Até agora nenhum”. Ao comentar a prisão do petista, condenado na Lava Jato, ele rebate a tese do partido adversário, dizendo que não se trata de um preso político. “É um político preso.”

Fernando Henrique lança nesta sexta-feira, 20, o livro “Crise e reinvenção da política no Brasil”, pela Companhia das Letras. Leia abaixo os principais trechos da entrevista:

No seu livro, o sr. fala que um líder deve ser capaz de explicar, passar uma mensagem. Que mensagem é essa e quem seria capaz de transmiti-la hoje?

Sempre fomos um País que achávamos que daria certo, grande pela própria natureza. Somos, mas não basta. Temos que ser grandes pela criatividade, tecnologia, capacidade. Tem que ter um rumo, essa é a mensagem. Para melhorar a vida das pessoas, com segurança, garantida a liberdade, crescendo a economia, emprego e bem-estar. Para isso, é preciso um governo que funcione. É simples, mas é preciso que quem emita a mensagem, tenha chama, toque no outro. O povo, por enquanto, não está nem aí. Política é assim, estamos aquecendo os motores.

O livro fala ainda em uma “nova onda de direita”. Quem representa esse movimento?

No Brasil, temos gente que não é nem de direita nem de esquerda, é atrasada. O nome mais falado agora é o de (Jair) Bolsonaro. Não sei o que ele representa. Um sentimento de ‘quero ordem, mata bandido?’ É um sentimento que não tem expressão política. O que significa na economia, na vida social? É só uma explosão.

Sobre o Judiciário, o sr. diz que teria se tornado mais consciente da sua autoridade e mais “permeável” à sociedade. O STF tem sido alvo de críticas por isso.

Fomos nós da Assembleia Constituinte que demos esse poder ao Supremo. Você pode requerer ao tribunal que, no vácuo da lei, ele legisle. Ele tem abusado? Não creio. Nas áreas comportamentais, como o Congresso fica receoso de avançar, às vezes o Supremo avança.

E nos casos da Lava Jato?

A Lava Jato fez simplesmente o que todo mundo queria que se fizesse, pegou poderosos e ricos. O Supremo às vezes dá um habeas corpus e a população reclama, mas é que a lei permite liberar. Não acho que a Lava Jato tenha, no geral, extrapolado. E muito menos que ela seja facciosa, pegue um só partido. Estamos vendo agora, pegou os partidos que estavam no poder. Os que não estavam é natural que tenham menos foco na Lava Jato, porque não estavam metidos na cumbuca. Não é que a Justiça favorece os tucanos, favorece porque não estão no poder. Lava Jato foi um fato político muito importante, mas não dota aquele que foi o protagonista de qualidades para ser líder político. Mas há uma tentativa também de atacar o (juiz Sérgio) Moro. Acho que ele é apenas um juiz correto, tenta aplicar as leis tal qual ele entende.

O STF tornou réu Aécio Neves e, na próxima semana, Eduardo Azeredo, outro ex-presidente do PSDB, pode ser preso. Qual o reflexo disso na imagem do partido do qual é presidente de honra?

Eu não posso ficar contente quando vejo personalidades importantes sendo julgadas e presas. O Lula, você acha que eu fico satisfeito? Não, mas não vou contra a Justiça. No caso do Aécio, foi apenas iniciado o processo. Ele disse que vai demonstrar que não havia dinheiro público envolvido. Eu não sei. Agora, eu não posso ser contra o que a Justiça decidiu. Nem num caso, nem no outro. Tem efeito claro, prejudica os partidos. Mas juiz não tem de ver se tem efeito político, tem de ver os autos. Tem indício de crime, abre o processo. Tem crime, condena. Foi o que eles fizeram.

Isso pode ter algum impacto na candidatura do ex-governador Geraldo Alckmin?

Digo isso até com constrangimento, mas qual foi o impacto na inclinação pelo Lula (nas pesquisas)?
Até agora nenhum. Eu acho que devia ter, mas não sei se vai. É provável que as lideranças (tucanas) discutam esse assunto. Como ele (Aécio) tem direitos políticos, ele que vai decidir (se será candidato), mas acho que a liderança vai ponderar e dizer: ‘Presta atenção, olha as consequências’.

Joaquim Barbosa se filiou ao PSB. O sr. acha que ele pode ser esse novo na eleição?

Não sei o que ele pensa. O que ele pensa sobre economia? Sobre a sociedade? Pode ser que sim, mas eu não sei. Um perfil parecido com o dele, no imaginário, é o de Moro. Eu não sei se o Moro seria um bom presidente. O Joaquim Barbosa foi um juiz competente, teve coragem, mas isso qualifica você para ser presidente? Por isso só, não.

Alckmin, entre os nomes colocados, parece ser o candidato de centro que mais tem viabilidade eleitoral, mas não decolou. Como isso vai se resolver?

Quando eu fui ministro, deixei o Ministério da Fazenda para ser candidato à Presidência da República em abril, acho. Quando chegou em maio, eu falei à Ruth (Cardoso, ex-primeira-dama, que morreu em 2008), ‘não dá mais, vou desistir’, porque eu tinha apenas 11%, o Lula tinha 40%. Quem me apoiava? Ninguém. Que recurso eu tinha? Nenhum. Em junho, comecei a ganhar. Em agosto, estava na frente. Em outubro, ganhei no primeiro turno. O Geraldo é um corredor de maratona, não é de 100 metros rasos. Às vezes, você vai correr maratona e sai com velocidade de 100 metros e queima na largada. Vamos ver como vai ser, o que vai acontecer nesse jogo, que está apenas começando. Há elementos para (se viabilizar como o candidato), mas precisa ver se vai conseguir.

O que representa a prisão de Lula para o processo eleitoral?

Lula tem um peso simbólico, foi líder sindical, criou um partido. Ele não está sendo processado pelo que fez politicamente. O PT está dizendo: é um preso político. Não é. É um político preso. A narrativa do PT é de preso político. Se fosse, eu estaria protestando. É preso por outras razões. Você pode dizer: decisão não foi correta. Apela. A condição (de preso) vai pesar contra (no processo eleitoral), com o passar do tempo. Aí na campanha os partidos vão transformar um fato numa versão. Na política, não adianta eu ter razão, adianta ter capacidade de convencer, explicar. Melhor que não tivesse acontecido, mas aconteceu, e agora vamos ter que explicar à população. A força simbólica de Lula não é sobre o que ele faz e diz, mas sobre o que ele fez. E foi capaz de, ao fazer, cantar, cacarejar. Um dos defeitos do PSDB e meu é cacarejar pouco sobre o que se fez, quando se fazia. O Lula tem a virtude de que ele cacareja: eu fiz, eu fiz, agora sou ideia. A ideia pode ser boa ou pode ser má, não sei (risos). Mas foi uma boa sacada.

O que uma eventual 3ª denúncia contra Temer representaria para o País, às vésperas da eleição?

Acho que seria insensato, porque vai ter uma luta de novo. É difícil que o Congresso a dois meses da eleição vá tomar uma posição contra o presidente. Acho que deveria ter um pouco de pensamento institucional.

Do Ministério Público?

Inclusive. Tem de ter uma certa visão institucional do País. Se houve coisa errada, ele vai deixar de ser presidente, vai ser julgado. Por que balançar mais ainda a situação que já é em si frágil? Tem coisas tão importantes para fazer, retomar o crescimento, dar emprego, botar segurança na rua. Se fosse uma coisa afrontosa… Mas se for começar ver pelo em ovo para poder arranjar argumento para fazer um impeachment, processar presidente… Se fosse no começo do governo, eu entendo. Mas no fim, com eleição à vista? Tem de ter um pouco de moderação.

E o que o sr. acha das manifestações de militares da ativa e da declaração do general Villa Bôas na véspera do julgamento do habeas corpus de Lula?

Melhor que os militares não falem. Alguns ameaçaram, o chefe do Exército não fez isso. Basicamente, foi uma mensagem interna corporis. Ele falou antes que outros falassem coisas mais desabusadas. Não considero que a declaração do ministro tenha sido uma ameaça. Ele disse o que todo mundo diz: a impunidade não pode prevalecer, a Constituição diz isso. Ele não disse ‘condene fulano e beltrano’. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.


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