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segunda-feira, 18 de fevereiro de 2019

SIMPLIFICAÇÕES DEMOLIDORAS – Péricles Capanema


17 de Fevereiro de 2019 
  Péricles Capanema

Simplificar pode ser bom, em geral as sínteses são simplificações. Ocorrem, no rumo oposto, simplificações que deformam a realidade e, pior, são aríetes de demolição. Vou falar sobre o segundo tipo, no caso com gigantesca capacidade destrutiva e fôlego de gato.

Antes, entro rápido por um atalho. Nelson Rodrigues escreveu, havia sonhado com Deus, que lhe perguntou: “O que é que você fez na vida?”. Nada via de importante, até que, num estalo, encontrou: “Eu promovi, eu consagrei o óbvio”. E prosseguiu: “Aí está o grande feito de toda a minha vida. O óbvio vivia relegado a uma posição secundária ou nula. Arranquei-o da obscuridade, da insignificância”.

Volto ao tema. A simplificação demolidora de que vou tratar tem mais de século. No mundo, certamente é o mais forte motor do igualitarismo, mais no ponto, do socialismo. Contamina de alto a baixo a escala social. Tem mais veneno que a soma dos escritos de Marx, Engels, Lênin e toda a alcateia. O que demole? Corrói hábitos, debilita ou modifica convicções; em resumo, mina barreiras antissocialistas. Por aí se vê, precisa ser (ela mesma) demolida. Tarefa difícil; o mantra, qual fênix de maldição, renasce sempre e no seu voo despeja estragos sem fim, especialmente sobre os mais pobres.

Aqui está o mantra: “O esquerdista (ou o socialista), homem sensível, tem pena dos pobres. O coração é bom, mesmo que erre muito”. Em sentido contrário, o direitista, sujeito egoísta, não tem dó dos pobres. Pode até acertar, mas o coração permanece duro. Com quem fica a maioria do povo? Via de regra, a propensão é por quem tem compaixão pelos pobres. Só o abandona quando ele provoca desastres que mexem fundo no bolso, rouba demais ou esbofeteia costumes muito arraigados. A batalha, antes do primeiro tiro, já fica meio perdida. Simplifiquei, mas não está descrita em linhas gerais a luta política em muitos países?

Poucos dias atrás, ao “Financial Times”, o mais prestigioso órgão do capitalismo britânico, pontificou Paulo Guedes, o superministro da Economia: “Pessoas de esquerda têm miolo mole e bom coração. Pessoas de direita têm a cabeça mais dura e coração não tão bom”.

É o gosto da boutade, dirão alguns, o ministro é chegado numa, não deixa passar a ocasião. Admito, mas atenua o desastre? Lembro, a boutade, para ser exitosa, precisa destacar com espírito certa faceta da realidade. Como a frase “Foi pior que um crime, foi um erro” dito de Boulay de La Meurthe sobre o assassinato do duque de Enghien, Põe em relevo que muitas vezes na política erro destrói mais que crime. Ou o dito cortante de Bismarck sobre Napoleão III: “uma grande incompetência desconhecida”. Metia no ressalto realidade óbvia para Bismarck, mas pouco observada, as limitações enormes do imperador francês.

Paulo Guedes não é um ministro qualquer perdido por Brasília, tem grande agenda que pode fazer o Brasil voltar a crescer e, com isso, tirar do buraco a milhões de pobres. Agiria melhor se fugisse de boutades, frases irrefletidas e análises superficiais, que, sem que ele o queira, admito sem problemas, levam água para o moinho do lulopetismo. Roberto Campos repetia, tinha coração bom, queria acabar logo com a pobreza no Brasil, mas na quadra histórica por ele analisada, constatava: “A cura da pobreza depende do crescimento econômico. E as molas clássicas do crescimento continuam sendo a poupança, a produtividade e o espírito empresarial.” Aí sim, com amparo no Estado, com razão sugeria o político, criar redes de proteção para os desvalidos.

Eu falava em simplificações. O amor romântico (não o efetivo e real) aos pobres pode levar equivocadamente à simpatia com posições socialistas. Tem levado, a dizer verdade, é fator essencial da perenidade socialista nas urnas eleitorais. É simplificação doentia da realidade.

Mas existe outro fator, também fundamental. O que enraíza cúpulas e militância socialista endurecida em suas posições não é a compaixão pelos pobres, é a obsessão igualitária, inimiga furibunda de desigualdades, mesmo harmônicas. Para eles, os pobres que se danem, sofram por décadas sem fim as piores provações provocadas pelas imposições da experiência socialista que supostamente os empurraria para a sociedade dos iguais. Acontece em Cuba, acontece na Coreia, acontece na Venezuela. Onde está ali a compaixão pelos pobres? Inexiste. É óbvio. Ululante. Socialistas autênticos não têm bom coração. A história, repetidamente, esbofeteia o fato em nossa cara. O artigo poderia também se chamar mentiras deslavadas. Por último, promovamos o óbvio, sempre tarefa enorme.



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ESSE ANO NÃO VOU BRINCAR! - Antonio Nunes de Souza


- Não acredito no que você está dizendo, minha filha! Logo você que jamais faltou nas festas carnavalescas, rainha não oficial dos carnavais baianos?

-Pois é, querida. Esse ano deu a maior merda do mundo! Uma grande felicidade, acompanhada de um preocupação e despesas extras que me eram completamente desconhecidas!

-Abra o jogo que já estou curiosa para saber das novidades!

-Como você sabe eu sou super criteriosa, mulher com cabeça feita, mesmo com trinta dois anos, sempre cuidadosa para não dar chance aos azares da vida e me complicar, mas, no ano passado, teve um noite que saí sozinha para dar uma volta na avenida, enquanto você ficava com seu namorado e, nesse passeio, dei minha vacilada imperdoável e as coisas aconteceram de formas lindas e inesquecíveis, deixando-me uma sequela deslumbrante linda, porém, um pepino monstruoso para descascar!

-Pô! Fala logo mulher que merda foi essa que aconteceu!

-Parei numa roda de capoeira e, inesperadamente, surgiu um negro maravilhoso, elegante, ágil, bonito e sem aqueles horríveis cabelos de rastafári. Começou a dar lindos saltos e passes maravilhosos, que me impressionaram, deixando-me perplexa e de boca aberta. Minhas reações foram tão acintosas que ele quando parou, encostou ao meu lado e perguntou se eu havia gostado.

-Claro que disse que sim e, sem pedir nenhuma permissão ele me abraçou e convidou-me pra tomar uma cerveja. Sentamos, conversamos, rimos, nos beijamos e, depois de algum tempo, me pegou pelo braço, levou-me em uma pensão barata e fomos para o quarto transar de todas as maneiras que sabíamos e as que vinham cabeça, esquecendo das consequências posteriores, achando que só acontece com os outros.

-Nada lhe contei dessa aventura louca que, quando cheguei a Curitiba, percebi que estava gravida e, como sou religiosa ao extremo, não quis fazer aborto, preferindo ter a criança!
-Contando os nove meses da data do carnaval, meu pequeno Luigi nasceu, estando hoje com quatro meses de vida (ainda estou amamentando meu querido e inesperado filho!)

-Assim sendo, achei melhor ficar cuidando da criança, segurar mais os meus ímpetos, tomar maiores cuidados, pois, por incrível que pareça, não sei nem o nome do homem que me engravidou. Foi uma aventura louca e um passo em falso que pensei jamais dar! Mas, um dia a casa caí e acontece com todos nós! Com isso aprendi que devemos ser mais previdentes, nos policiar e medir as consequências que podem causar tais problemas!

-Menina estou pasma! Logo você que sempre foi a mais ajuizada de todas nós, dar uma de cão sem dono e ir parar nos braços de um desconhecido.

-Uma pena a sua ausência querida, mas as razões justificam e muito. Bom descanso, beijo no baby e, depois do carnaval, vou lhe ligar para contar como foram as coisas!

-Tchau Isabella querida! Tudo de bom e tenha seus cuidados para que não aconteça o que aconteceu comigo!

Carnaval é uma festa alucinante, sendo o da Bahia sacrossanto e pecaminoso ao mesmo tempo. Uma armadilha cheia de boas e maus intenções!


Antonio Nunes de Souza, escritor 
Membro da Academia Grapiúna de letras-AGRAL antoniodaagral26@hotmail.com

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