Nota do autor: Por oportuno, reproduzo o artigo que escrevi
em 16 de novembro do ano passado, antes do julgamento do caso pela 13ª Vara da
Justiça Federal em Curitiba.
O rapaz, de nome Fernando, acalentava o sonho de possuir um
sítio na aprazível Serra de Itapetinga para ali reunir amigos e familiares em
momentos de convívio. Como não dispusesse dos meios necessários, juntou-os
entre pessoas de suas relações e adquiriu, após muita busca, no município de
Atibaia, uma propriedade com as características almejadas.
Vencida essa etapa, cuidou, então, de dar jeito nas
benfeitorias existentes. Tanto a moradia quanto as demais construções e áreas
de lazer precisavam de reformas que seriam custosas. Mas nenhuma dificuldade ou
restrição financeira afastava o proprietário de seu objetivo.
Fernando, como se verá, era robustecido pela têmpera dos
vencedores.
Se havia obra a ser feita no seu sítio, nada melhor do que
confiá-la à maior empreiteira do Brasil.
Marcelo Odebrecht, requisitado, deslocou gente de suas
hidrelétricas, portos e plataformas de petróleo, subiu a serra e assumiu a
encrenca: casa, alojamento, garagem, adega, piscina, laguinho, campinho de
futebol. Tudo coisa grande, já se vê.
Vencida essa etapa, o ambicioso proprietário se deu conta de
que as instalações da velha cozinha remanescente não eram compatíveis com os
festejos que ansiava por proporcionar aos seus convidados.
Para manter o elevado padrão, Fernando não deixou por menos.
Deu uma folga à primeira e convocou a segunda maior empreiteira do Brasil, a
OAS.
E o pessoal de Léo Pinheiro para lá se tocou, prontamente, a
cuidar da sofisticada engenharia culinária do importantíssimo sítio. Afinal,
uma obra desse porte não aparece todo dia.
Opa! Problemas de telefonia. Como habitar e receber amigos
em local com tão precárias comunicações?
Inconveniente, sim, mas de fácil solução. Afinal, todos nós
somos conhecedores da cuidadosa atenção que a OI dispensa a seus clientes.
Certo? Bastou comunicar-lhe o problema e uma nova torre alteou-se, bem ali, no
meio da serra.
Concluídas as empreitadas, chaves na mão, a surpresa! Quem
surge, de mala e cuia como dizemos cá no Sul, para se instalar no sítio do
Fernando? Recém-egressa da Granja do Torto, a família Lula da Silva veio e
tomou conta. Veio com tudo.
Com adega, santinha de devoção, estoque de DVD, fotos de
família e promoveu a invasão dos sonhos de qualquer militante do MST. Lula e os
seus se instalaram para ficar e permaneceram durante cinco anos, até o caso
chegar ao conhecimento público.
Quando a Polícia Federal fez a perícia no local não
encontrou um palito de fósforos que pudesse ser atribuído ao desafortunado
Fernando. Do pedalinho ao xarope para tosse, era tudo Lula da Silva.
Eu não acredito que você acredite nessa história. Aliás,
contada, a PF não acreditou, o MPF não acreditou e eu duvido que algum juiz a
leve a sério. Mas há quem creia, talvez para não admitir que, por
inconfessáveis motivos, concede a Lula permissão para condutas que reprovaria
em qualquer outro ser humano.
Membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto,
empresário e escritor e titular do site www.puggina.org,
colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o
totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A tomada do
Brasil. Integrante do grupo Pensar+.
A reunião em torno da mesa, que uniu os seres humanos, pode
desaparecer
Luis Dufaur
A reunião em torno “da lareira, da panela e da
mesa comum, que uniu os seres humanos durante pelo menos 150.000 anos, poderia
desaparecer”, segundo o historiador inglês Felipe Fernández Armesto [foto
abaixo].
O paradoxo é que esse retrocesso é obra da tecnologia.
O Prof. Felipe é autor do ensaio Comida, culinária e
civilização (ed. Tusquets), sobre a história da refeição, no qual demonstra
que “se comermos sem contato de alma em frente das telas digitais,
voltaremos três milhões de anos atrás”.
Professor convidado de universidades e institutos de
pesquisa, Fernández Armesto é autor de um grande número de obras concernentes à
história com uma perspectiva sociológica e cultural.
“Se deixarmos a mesa familiar, se comermos na frente das
telas ou caminhando isolados pelas ruas, voltaremos a um estágio na história
próprio dos hominídeos pré-civilização. A um sistema de vida semelhante ao de
dois ou três milhões de anos atrás, dos hominídeos catadores que comiam
desesperadamente, sem pensar nas possibilidades de usar a mesa para criar
sociedade, promover afeto e planejar um futuro melhor”, disse, em entrevista ao
jornal “La Nación” (11-10-19).
Fernández Armesto observa que “não pode haver convívio
sem refeição partilhada”, da mesma maneira como é “impossível imaginar uma
economia sem dinheiro” ou sem intercâmbio.
Portanto, é “legítimo considerar a refeição como o
momento mais importante do mundo: é o que mais ocupa a maioria das pessoas na
maioria das vezes”, deduz ele.
Segundo o pesquisador, as causas que contribuem para o
desaparecimento gradual do hábito de se sentar juntos para comer e conviver
são “mudanças sociais paradigmáticas” que causam danos que “estão
ocorrendo”.
Família “feliz” pelo contato com o smartphone, mas cessou o
relacionamento de alma
Quais? —
O“desligamento familiar, golpes intergeracionais, anomia, rejeição
de tradição, abandono do senso de pertencer à mesma família humana, no bom
sentido da palavra, a predominância de um individualismo existencialista alheio
à necessidade humana de manter relações vivas com outros seres humanos de carne
de osso”.
O autor se posiciona num ponto de vista sociológico e ético.
Porém, se analisarmos os ensinamentos do catolicismo, encontraremos momentos
religiosos nos quais Deus escolheu refeições para marcar momentos augustos da
Revelação.
Jesus escolheu refeições para o início de sua pregação até a
Ultima Ceia (Bodas de Canaã, Gérard David (1460 — 1523), Museu do Louvre.
Nosso
Senhor Jesus Cristo começou sua vida pública participando de um grande
banquete: o das bodas de Canaã. Ali fez seu primeiro milagre para um grande
número de pessoas: transformou a água das ânforas num precioso
vinho.
Quando chegou a noite junto ao Lago de Galileia e Jesus
percebeu que as multidões estavam sem comer. Ele sentiu que passavam fome como
um rebanho sem pastor, multiplicou os pães e peixes e mandou os Apóstolos
distribuí-los com tanta abundância que sobraram cestos repletos.
Simbolizou que a Igreja deveria alimentar os povos com a
palavra do Evangelho e que os Apóstolos voltariam com tantas conversões que
encheriam cestos.
Quando os judeus saíram da escravidão do Egito, a primeira
instrução de Moisés foi que jantassem bem. É a origem da ceia pascal que
repetimos até hoje no Domingo de Páscoa.
E foi precisamente durante uma ceia pascoal que Jesus
instituiu a Missa e a Eucaristia, cujos significados místicos são
frequentemente associados à alimentação em torno de uma mesa, obviamente
sagrada: o altar.
Outra prefigura eucarística é o maná que alimentou os judeus
no deserto.
Após a Ressurreição, Jesus se tornou patente aos apóstolos
na hora de partir o pão na mesa em Emaús. E assim poderíamos prosseguir com numerosos
exemplos.
Basta mencionar que as grandes festas litúrgicas ou
religiosas são acompanhadas com nobres, mas deliciosas refeições em comum,
familiares e sociais, como no Natal, na Páscoa, nas festas dos santos
padroeiros etc.
Porém, o professor que citamos observa que sob o pretexto de
progresso e modernidade estamos regredindo ao primitivismo. Morre o convívio,
apaga-se a religião no lar e na sociedade, se estiolam a cultura e o contato
entre as almas com a morte dos almoços e jantares em que predomina o contato de
alma a alma entre familiares.
Essa decadência está sendo feita sob o pretexto, continua o
ensaísta, de “mudanças tecnológicas que facilitam o abandono social: uma
rede eletrônica que não aperta sua mão nem beija seu rosto; formas de entretenimento
solitário, sem trocas emocionais com outras pessoas”.
Quantas vezes num bar vemos grupos de rapazes e moças que
não trocam uma palavra sequer, cada qual grudado em seu smartphone? Ou
estudantes e até professores universitários que na mesa não falam nada e no
máximo cada um exibe uma imagem ou uma mensagem de texto que apareceu em seu
dispositivo móvel?
No livro, o Prof. Fernández Armesto trata da história da
conversa e do convívio nas refeições como assunto inseparável de outro tipo de
relacionamento entre os seres humanos entre si e com a natureza: o nível da
culinária que desperta a inteligência.
Ele traça conexões em cada estágio entre a comida do passado
e a maneira como é consumida hoje.
Os belos serviços e talheres desaparecem e vai ficando o
sanduíche dentro de um envelope num McDonald, ou fast-food equivalente,
e um copo de plástico descartável sem muita preocupação se a mesa fica suja ou
não, e se o conviva sentado em frente se sentiu atendido ou interpretado.
Por isso, o professor acha que é possível identificar na
história dos povos civilizados oito revoluções na história da refeição. Essas
afetaram outros aspectos da história da humanidade, tornando-a ou mais
convivial e amável, ou mais insensível e brutal.
Acolha-me! Deixe que eu me deite em seu colo e tenha
sonhos de criança! Permita-me ter medo e confessá-lo... Deixe que eu solte meu
ser por campos onde seja possível andar sem jogos... sem temores... sem
mentiras.
Acolha-me! Guarde em seus braços meus infantis
segredos, minhas dúvidas de gente grande, meus sentimentos de ser pequeno! Faça
com que eu deixe o mundo lá fora por apenas alguns instantes.
Acolha-me! Segure minhas mãos com o carinho que só você
sabe fazer! Seca meu choro com palavras reais sobre um mundo que gostaria de
ter.
Acolha-me! Traga-me a paz em forma de gestos...
Não apenas me diga... Mostre-me!
Acolha-me! Decora meu rosto com desenhos feitos com
seus dedos com linhas que novamente me liguem ao mundo doce e terno em que
tanto acredito... A possibilidade de ser mais do que o herói de uma noite... O
amor de uma vida inteira.
Dê guarida ao meu insistente ser, aos sentimentos que
quero manter.
Semeia em meu corpo gestos puros e leves!
Guarda minhas costas para que eu possa enfim dormir... Para
que me sinta na casa dos seus braços, como aquela pessoa que você esperava e
que finalmente chegou.
Acolha-me... Olhe dentro dos meus olhos, busque por
mim, grite num sussurro meu nome.
Acolha-me... E com a tinta do seu amor escreva comigo uma
história bonita, destas onde o amor existe.
Segue comigo num cavalo branco, numa noite de lua, para
um lugar qualquer que mesmo existindo apenas em nossa comum imaginação será uma
ilusão segura que me fará de novo viver.
Cyro de Mattos é ficcionista e poeta. Da Academia de Letras
da Bahia. Possui prêmios importantes no Brasil e exterior. Publicado também por
várias editoras europeias.Primeiro
Doutor Honoris Causa da Universidade Estadual de Santa Cruz.
Gleisi Hoffmann quer prender Sergio Moro porque o então juiz
federal em Curitiba condenou Lula no caso do triplex em Guarujá. No código
penal particular da presidente do PT, mandar o chefão para a gaiola é crime
hediondo.
Em nome da coerência, a deputada federal conhecida pelo
codinome “Amante” no Departamento de Propinas da Odebrecht tem de exigir cadeia
também para a juíza Gabriela Hardt, que puniu o chefão no caso do sítio em
Atibaia.
Pelo andar da carruagem, o Tribunal Regional Federal da 4ª
Região vai confirmar em 2ª instância, como fez na maracutaia imobiliária à
beira-mar, a sentença de Gabriela Hardt. Aos olhos de Gleisi, será uma
reincidência sem perdão.
Na cabeça de Gleisi, os desembargadores do TRF baseados em
Porto Alegre não merecem menos que prisão perpétua.
Augusto Nunes
Augusto Nunes estudou na Escola de Comunicação e Artes da Universidade
de São Paulo (USP) e começou sua carreira como revisor no Diário dos
Associados. Foi repórter em O Estado de S.Paulo e da revista Veja. Dirigiu
jornais e revistas como O Estado de S.Paulo, Jornal do Brasil (SP), Veja, Época
e Forbes. Apresentou o Roda Viva, da TV Cultura.
Augusto foi quatro vezes vencedor do Prêmio Esso de Jornalismo e considerado
pela Fundação Getúlio Vargas (FVG) um dos mais importantes profissionais da
área do país. Envolvido com literatura, um dos livros que organizou e editou
foi o Minha Razão de Viver: Memórias de Um Repórter. Escreveu as biografias de
Tancredo Neves e de Luís Eduardo Magalhães, além de A Esperança Estilhaçada —
Crônica da Crise que Abalou o PT e o Governo Lula.
Acadêmico Evanildo Bechara lança
seu novo livro Moderna Gramática Portuguesa - 39.aEdição pela
editora Nova Fronteira. O lançamento será no dia 28 de novembro, às 17h, na
Sala dos Fundadores do Petit Trianon da Academia Brasileira de Letras.
O Acadêmico
Evanildo Bechara é professor titular
e emérito da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) e da Universidade
Federal Fluminense (UFF), atua nos cursos de pós-graduação e de aperfeiçoamento
para professores universitários e de ensino fundamental e médio oferecidos pelo
Liceu Literário Português, membro da Academia Brasileira de Filologia, sócio
correspondente da Academia das Ciências de Lisboa, Doutor Honoris Causa pela
Universidade de Coimbra e o representante brasileiro do novo Acordo
Ortográfico. Em 2018, o Instituto de Letras da UERJ aprovou a criação da
Cátedra Evanildo Bechara para promover eventos sobre Língua Portuguesa e
estudos linguísticos no Brasil e no exterior. Entre centenas de artigos,
participações em congressos nacionais e internacionais, Bechara escreveu livros
que já se tornaram clássicos pelas suas sucessivas edições. Moderna
Gramática Portuguesa – 39.ªEdição está à venda on
line e nas livrarias.
Este é um momento que jamais imaginamos viver. Com profunda
tristeza, familiares comunicam o falecimento do pai, irmão, filho, amigo,
empresário, jornalista e apresentador Antônio Augusto Moraes Liberato (Gugu
Liberato), aos 60 anos, em Orlando, Florida, Estados Unidos.
Nosso Gugu sempre viveu de maneira simples e alegre, cercado
por seus familiares e extremamente dedicado aos filhos. E assim foi até o final
da vida, ocorrida após um acidente caseiro.
Ele sofreu uma queda acidental de uma altura de cerca de
quatro metros quando fazia um reparo no ar condicionado instalado no sótão. Foi
prontamente socorrido pela equipe de resgate e admitido no Orlando Health
Medical Center, onde permaneceu na Unidade de Terapia Intensiva, acompanhado
pela equipe médica local.
Na admissão deu entrada em escala de *Glasgow de 3 e os
exames iniciais constataram sangramento intracraniano. Em virtude da gravidade
neurológica, não foi indicado qualquer procedimento cirúrgico. Durante o
período de observação foi constatada a ausência de atividade cerebral. A morte
encefálica foi confirmada pelo Prof. Dr. Guilherme Lepski, neurocirurgião
brasileiro chamado pela família, que após ver as imagens dos exames em
detalhes, confirmou a irreversibilidade do quadro clínico diante de sua mãe
Maria do Céu, dos irmãos Amandio Augusto e Aparecida Liberato, e da mãe de seus
filhos, Rose Miriam Di Matteo.
Ainda não temos detalhes sobre o traslado para o Brasil.
Informações sobre velório e sepultamento serão passadas assim que tudo estiver
definido.
Ele deixa três filhos, João Augusto de 18 anos e as gêmeas
Marina e Sophia de 15 anos.
Atendendo a uma vontade dele, a família autorizou a doação
de todos os órgãos.
Gugu sempre refletiu sobre os verdadeiros valores da vida e
o quão frágil ela se revela. Sua partida nos deixa sem chão, mas reforça nossa
certeza de que ele viveu plenamente. Fica a saudade, ficam as lembranças - que
são muitas - e a certeza que Deus recebe agora um filho querido, e o céu ganha
uma estrela que emana luz e paz.
A Academia Brasileira de
Letras e a Escola Técnica Estadual de Teatro Martins Pena formaram
uma parceria em 2019 e promovem apresentações teatrais da peça “O casamento
suspeitoso”, entre outras, adaptadas para o formato de leitura dramatizada.
O espetáculo tem a direção de Eduardo Almeidae o
elenco é composto por alunos e ex-alunos da Escola. São eles: Matheus
Racinne, Fabricio Sigales, Jhô Teodorio, César Vieira, Vivianne Baptista, Teo
Pasquini, Miriã Duarte, Bruna Morais e Janice Fernandes.
A leitura
Na história, Lúcia vem do Recife,
acompanhada do seu amante e de sua mãe, para casar-se com um ingênuo herdeiro
de uma fortuna na cidade de Taperoá, interior da Paraíba. Os golpistas, porém,
não esperavam se deparar com a esperteza da dupla de empregados, Cancão e
Gaspar, que armam várias situações para provar que Lúcia é uma impostora e
interesseira. Mas ao perceber que será desmascarada, a trambiqueira tentará
reverter a situação, criando uma cilada para os dois serviçais. Em quem o
herdeiro acreditará?
Com um pouco mais de uma hora de
duração, jovens e adultos poderão se encantar com uma divertida história que
tem como tema central o casamento por interesse ou, como o dito popular, o
“golpe do baú”.
O evento será realizado no dia 27
de novembro, quarta-feira, às 15h00, no Teatro R. Magalhães Jr.,
localizado na Academia Brasileira de Letras, Av. Presidente Wilson, 203 –
Castelo. Entrada franca. Faça sua reserva!
INSCRIÇÕES
Garanta sua participação gratuita para
esta sessão exclusiva. Lugares limitados.
A Europa reagiu às notícias falsas do Kremlin com a East
StratCom Task Force, que catalogou até agora 3.800 fake news concebidas
na Rússia.
10.000 tuites emitidos por 600 geradores de falsas
notícias foram detectados em 700.000 contas. O quartel general da “guerra da
informação”, em São Petersburgo, dispõe de centenas de “soldados cibernéticos”
trabalhando o dia inteiro.
Em Moscou, o general Alexander Vladimirov
sintetizou: “Toda a história humana pode ser apresentada como a história
da enganação”. Peter Pomerantsev[foto ao lado], chefe dos serviços de
inteligência russos, explicou: “A estratégia, fora e dentro do país, é
dizer que a verdade não existe”.
Foto: Luiza Lopes/bahia.ba Professor negro vai ser empossado
na Academia de Letras da Bahia
Por Cyro de Mattos
O
professor e vereador Edvaldo Brito vai ser empossado no dia 29 na Academia de
Letras da Bahia, em Salvador, quando então irá ocupar a Cadeira de Número 2,
cujo patrono é Manoel Botelho de Oliveira. Será recebido pelo ensaísta e
escritor Joaci Goes, atual presidente da instituição. A escolha foi feita em 17
de outubro.
Graduado
em Direito pela UFBA, pertenceu à turma de 1962, da qual fizeram parte os
escritores João Ubaldo Ribeiro, Cyro de Mattos e Ildásio Tavares.Há mais de seis décadas atuante como
professor, ele é Doutor em Direito Tributário pela Universidade de São Paulo
(USP) e professor emérito da Universidade Federal da Bahia (Ufba) e da
Mackenzie (SP).
Conferencista exemplar, Edvaldo foi prefeito de Salvador etem participado de várias bancas
examinadoras de teses para doutorado em universidades brasileiras.É membro da Academia de Letras de Ilhéus e da
Academia de Letras de Itabuna (ALITA). Sobre a conquista de ter sido eleito
para ser o novo imortal da Academia de Letras da Bahia, sucedendo ao escritor
Guilherme Raddel, disse:
“É como se
fosse um presente de aniversário, que comemorei no dia 3 passado. Agora faço
parte da casa mais importante da cultura baiana, uma posição que muito me
enobrece, e procurarei honrar essa escolha, não somente me empenhando cada vez
mais na minha produção técnico-literária, como cultuando a responsabilidade de
ocupar a cadeira que já foi de Manuel Botelho de Oliveira, que também foi
advogado e vereador”.
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Cyro de Mattos é escritor e poeta com prêmios literários
importantes, no Brasil e exterior. Doutor Honoris Causa da Universidade
Estadual de Santa Cruz, Membro efetivo da Academia de Letras da Bahia, Pen
Clube do Brasil e Ordem do Mérito do Governo da Bahia, no grau de
Comendador.
Clique sobre as fotos, para vê-las no tamanho original
Minha Rua
Cyro de Mattos
Era estreita a nossa rua. No verão de céu azul, os raios de
sol coavam a manhã fresca. Não existiam fronteiras em nossa rua, pelo menos no
quarteirão onde eu morava. As famílias pareciam uma só, tamanha a intimidade
que existiam entre elas. Havia convívio harmonioso entre os vizinhos, fosse dia
de festa ou de tristeza.
No tempo das férias escolares, havia nos passeios jogo de
tampilha, pião e leilão de brinquedos. Jogar bola de gude ou bola era no meio
da rua. Natural que durante o jogo surgissem disputas acaloradas, bate-boca,
empurrões e até briga. Em pouco tempo tudo voltava ao normal. Os dias retomavam
a sua temperatura agradável, como se nada de mais houvesse acontecido entre os
que brigavam durante o jogo de futebol. Agora de vez em quando um nariz podia
ficar quebrado, ao receber um murro bem dado, só porque o amigo caiu na
besteira de ficar teimando e dizendo que ali na rua o estilingue mais certeiro não era o do irmão. No fim da tarde, o irmão chegava com a capanga cheia de
passarinhos, eram abatidos com bala de estilingue no Jardim da Prefeitura ou em
alguma roça próxima à cidade. O irmão no estilingue era mesmo um campeão.
Ninguém ali na rua duvidasse da pontaria dele. Cada balaço que ele desferia
acertava em passarinho pousado até em cocuruto de árvore alta.
Nossa rua ficava impregnada de um aroma verde, quando o
homem passava com o tabuleiro de verduras na cabeça. Os ares coloridos, todos
os dias, com o roxo da beterraba, o verde do repolho e o laranja da cenoura.
Era iluminada com a gritaria dos companheiros. Zoada havia
de canto a canto. Corneta, apito, bangue-bangue, jogo de bola, pião rodava na
mão e no chão.
Do que eu mais gostava era do jogo de bola. Quando a mulher
gorda chegava ao batente da porta, segurando a bola, que ela no mesmo instante
furava, não encontrava um menino sequer para perguntar quem foi o pestinha que
acertou daquela vez a sua vidraça, dando-lhe outra vez um prejuízo danado.
Cedo, no outro dia, os companheiros voltavam ao jogo com
bola de pano. Os lances aguerridos, rosto vermelho e suado, cabelos assanhados.
Palavrão, bate-boca e, aos gritos, a comemoração da vitória.
A vidraça da janela de alguns dos moradores de nossa rua não
deixaria de ser acertada.
Ó que saudade da minha rua! Hoje, vejo-a estreita e nem tão
comprida. Outrora tão grande para mim e os companheiros.
O mundo ali cabia dentro das cores da verdura no tabuleiro.
Bastava-se no leilão dos brinquedos, troca de gibi ou
figurinhas do álbum de artistas do cinema americano, bala de estilingue nos
quintais frutíferos, para não se falar no jogo de bola.
Ah, viver era uma canção verde como verde todos os dias a
gente ouvia a voz do verdureiro.
Verde na voz dos companheiros colhendo coentro nos passeios.
Abóbora nas valetas.
Couve-flor nos calçamentos.
Cyro de Mattos é escritor e poeta com prêmios literários
importantes, no Brasil e exterior. Doutor Honoris Causa da Universidade
Estadual de Santa Cruz, Membro efetivo da Academia de Letras da Bahia, Pen
Clube do Brasil e Ordem do Mérito do Governo da Bahia, no grau de
Comendador.
Solenidade de Jesus Cristo, Rei do Universo – Domingo, 24/11/2019
Anúncio do Evangelho (Lc 23,35-43)
— O Senhor esteja convosco.
— Ele está no meio de nós.
— PROCLAMAÇÃO do Evangelho de Jesus Cristo + segundo Lucas.
— Glória a vós, Senhor.
Naquele tempo, os chefes zombavam de Jesus dizendo:
“A outros ele salvou. Salve-se a si mesmo, se, de fato, é o Cristo de Deus, o
Escolhido!”
Os soldados também caçoavam dele; aproximavam-se,
ofereciam-lhe vinagre, e diziam: “Se és o rei dos judeus, salva-te a ti
mesmo!”
Acima dele havia um letreiro: “Este é o Rei dos Judeus”.
Um dos malfeitores crucificados o insultava, dizendo: “Tu
não és o Cristo? Salva-te a ti mesmo e a nós!”
Mas o outro o repreendeu, dizendo: “Nem sequer temes a
Deus, tu que sofres a mesma condenação? Para nós, é justo, porque
estamos recebendo o que merecemos; mas ele não fez nada de mal”. E
acrescentou: “Jesus, lembra-te de mim, quando entrares no teu reinado”. Jesus
lhe respondeu: “Em verdade eu te digo: ainda hoje estarás comigo no Paraíso”.
Celebramos neste domingo a festa de “Cristo Rei”, cume
do Ano Litúrgico. Muitos se sentem incomodados com essa imagem. Não querem que
Cristo seja “rei”, não suportam a imagem de um monarca governando a partir de
cima. De fato, quando o Papa Pio XI (1925) proclamou esta festa, havia um
interesse nada evangélico: a Igreja estava perdendo seu poder e seu prestígio,
acossada pela modernidade. Como pura imitação dos reis deste mundo, a Igreja
desejava reconquistar sua influência, correndo o risco de utilizar este título
para manipular ideias, dominar consciências, alimentar sentimentos de culpa,
impor o servilismo e o medo...
Mas, esta festa de “Cristo Rei”, pode ser ocasião
propícia para “transgredir” nossa concepção de “rei” e “reinado”, e evitar um
triunfalismo religioso, pura imitação dos reis deste mundo que vivem às custas
de seus súditos.
Jesus, no seu anúncio e vivência, desencadeou um movimento
de Reino, sem tomada de poder, sem palácios e riquezas, sem cetro de
comando, sem instituições militares de domínio, sem meios de imposição
econômica, sem títulos de nobreza. Mas sua visão de Reino não foi acolhida; por
isso foi rejeitado pelos sacerdotes do templo e pelos representantes do poder
do império romano.
Evidentemente se trata de um rei muito estranho,
em discordância total com os reis de então e os de hoje. É chamativo este rei
ser crucificado entre dois “malfeitores”; não se tratava de criminosos comuns,
mas de homens que se haviam levantando contra o poder de Roma. Algo havia em
Jesus que permitia interpretá-lo como um perigo para o poder imperial. Um poeta
que canta a beleza dos lírios do campo ou dos pássaros do céu não terminaria
sua vida dessa maneira.
A piedade cristã procurou cobrir Jesus de Nazaré com títulos
de glória tão pomposos que quase o sepultou de novo. Ao elevar o carpinteiro da
Galileia até a mais alta dignidade, ao fazê-lo subir até o mais alto dos céus,
ao coroá-lo rei dos reis e senhor dos senhores..., quase conseguiu silenciar
por completo o Jesus dos pobres, das multidões famintas, dos marginalizados, o
Jesus rodeado de “más companhias e de pecadores”. Pintaram-no tão acima no céu
e tão cheio da deslumbrante luz divina, que quase não somos mais capazes de
contemplar Jesus percorrendo os caminhos poeirentos da Galileia, em meio aos
mendigos, leprosos, pobres e excluídos, no empenho por tornar presente o sonho
de Deus para este mundo.
Enfim, acabamos por esquecer o que é nuclear em nossa fé
cristã: em Jesus, Deus se faz homem, mas homem pobre; nasce em um estábulo, não
tem onde reclinar a cabeça e morre desnudo numa cruz, o suplício dos últimos,
dos mais pobres daquela sociedade. Jesus sempre viveu voltado para aqueles que
sofriam e necessitavam de ajuda. Não ficou alheio a nenhum sofrimento. Sua
missão era essa: “aliviar o sofrimento humano”. Por isso se identificou com
todos os pobres e excluídos da história.
A narrativa lucana deste domingo é muito provocativa: o
único que o reconhece Jesus como rei é um condenado à morte, um maldito, um
marginalizado da lei. Este está mais perto do reinado de Deus que as
autoridades religiosas e as demais pessoas. Por isso Jesus o acolhe como companheiro
inseparável. Juntos morrerão crucificados e juntos entrarão no Reino de Vida.
Jesus sempre viveu “em más companhias” e agora morre entre
dois malfeitores. Mais uma vez, não assume o papel de juiz sobre os outros, mas
oferece uma nova chance de salvação. O moribundo que dá vida: presença
solidária, vida des-centrada que, mesmo em meio ao pior sofrimento, oferece
companhia e consolo a outros sofredores.
Um dos malfeitores, impactado pela serenidade e testemunho
de Jesus “rouba o paraíso”.
Em meio aos escárnios e zombarias, brota do seu coração uma
surpreendente invocação: “Jesus, lembra-te de mim quando entrares no teu
reinado”.
Não se trata de um discípulo ou seguidor de Jesus. Lucas nos
apresenta um malfeitor como admirável exemplo de fé no Crucificado, e que no
último instante de sua vida “roubou” a promessa de Vida que acontece
no “hoje”. “Hoje estarás comigo no paraíso”.
À primeira vista parece um paradoxo que dos lábios de um
homem aparentemente derrotado e praticamente moribundo, brote uma palavra
de vida, acompanhada de uma certeza que a faz eterna, ou seja, válida
para todo momento, em um presente sempre atual: o “hoje” de Lucas
significa “todo momento”, qualquer instante em que ouvintes ou leitores se
abrem à Palavra.
Jesus revela uma promessa que muitas pessoas precisam ouvir
hoje, sobretudo aquelas que carregam cruzes injustas e pesadas, que vivem
realidades atravessadas pela dor, pela solidão, incompreensão ou pranto...
Desse modo, o evangelista parece estar nos dizendo: “Essa Palavra é válida
também para ti, hoje, desde que sejas capaz de abrir-te a ela e acolhê-la.
Também para ti há uma promessa de vida, que não se acaba na fronteira da morte.
Tu também ‘hoje estarás comigo no paraíso’”
Assim compreendida, a narração nos apresenta uma dupla questão:
por um lado, como pôde Jesus pronunciar essa Palavra de Vida nessas
circunstâncias de morte?; por outro, como podemos acolhê-la, de modo que
sejamos alcançados e vitalizados por ela?
A festa de “Cristo Rei” nos convida também a tomar a Cruz da
fidelidade e do serviço solidário, e “descer” com Jesus até à cruz da
humanidade.
A solidariedade com os pobres, a fidelidade à vida
evangélica, nos fazem descer aos porões das violências sociais e políticas, às
realidades inóspitas, aos terrenos contaminados pelo preconceito e
intolerância, às periferias insalubres da miséria das quais todos fogem e onde
os excluídos deste mundo lutam por sobreviver. Ali nos encontramos com o
Crucificado, identificado com os crucificados da história.
Entende-se, assim, o grande “grito” que brotou das
profundezas da dor de Jesus na Cruz e que continua ecoando como clamor
angustiado. Nele se condensam todos os gritos da humanidade sofredora.
Ao ecoar seu grito junto aos crucificados, provocará grandes
novidades. Um grito que não fica no vazio, mas aponta para a vida.
Texto bíblico: Lc 23,35-43
Na oração: o Crucificado desmascara nossas mentiras e
covardias; pendente na Cruz Seu grito denuncia o aburguesamento de nossa fé, a
nossa acomodação ao bem-estar e nossa indiferença diante daqueles que sofrem.
Celebrar a festa do “Cristo Rei” é aproximar-nos mais dos crucificados da nossa
história e comprometer-nos a tirá-los da Cruz.
Como soarão estas palavras no interior de cada um de
nós: “Hoje estarás comigo no Paraíso”
+ Hoje: porque as mudanças, a nova criação, a
humanidade reconciliada, não tem que esperar mais; hoje, agora, já...; talvez
esse “hoje” não chega é por causa de tantas pessoas que não decidem, não optam,
esperam sentadas...
+ Comigo: promessa de viver em sua companhia e desperta
ecos de uma plenitude que não conseguimos entender.
+ No paraíso: que não é um mítico Éden, mas lugar de
plenitude de vida, onde não haverá mais pranto, nem dor; realidade já presente
onde habitará a justiça e a paz.
- Deixar ressoar esta expressão de Jesus para construir,
hoje, o Paraíso em nosso
cotidiano.
Que a festa de Cristo rei seja uma ocasião
privilegiada que nos ajude a desvelar a verdadeira realeza de Jesus, o
carpinteiro de Nazaré, para poder segui-Lo de perto, comprometendo-nos com seu
modo de ser e viver.