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sábado, 30 de novembro de 2019

O MISTERIOSO CASO DE CERTO SÍTIO EM ATIBAIA – Percival Puggina


30/11/2019
Nota do autor: Por oportuno, reproduzo o artigo que escrevi em 16 de novembro do ano passado, antes do julgamento do caso pela 13ª Vara da Justiça Federal em Curitiba.

O rapaz, de nome Fernando, acalentava o sonho de possuir um sítio na aprazível Serra de Itapetinga para ali reunir amigos e familiares em momentos de convívio. Como não dispusesse dos meios necessários, juntou-os entre pessoas de suas relações e adquiriu, após muita busca, no município de Atibaia, uma propriedade com as características almejadas.

Vencida essa etapa, cuidou, então, de dar jeito nas benfeitorias existentes. Tanto a moradia quanto as demais construções e áreas de lazer precisavam de reformas que seriam custosas. Mas nenhuma dificuldade ou restrição financeira afastava o proprietário de seu objetivo.

Fernando, como se verá, era robustecido pela têmpera dos vencedores.

Se havia obra a ser feita no seu sítio, nada melhor do que confiá-la à maior empreiteira do Brasil.

Marcelo Odebrecht, requisitado, deslocou gente de suas hidrelétricas, portos e plataformas de petróleo, subiu a serra e assumiu a encrenca: casa, alojamento, garagem, adega, piscina, laguinho, campinho de futebol. Tudo coisa grande, já se vê.

Vencida essa etapa, o ambicioso proprietário se deu conta de que as instalações da velha cozinha remanescente não eram compatíveis com os festejos que ansiava por proporcionar aos seus convidados.

Para manter o elevado padrão, Fernando não deixou por menos. Deu uma folga à primeira e convocou a segunda maior empreiteira do Brasil, a OAS.

E o pessoal de Léo Pinheiro para lá se tocou, prontamente, a cuidar da sofisticada engenharia culinária do importantíssimo sítio. Afinal, uma obra desse porte não aparece todo dia.

Opa! Problemas de telefonia. Como habitar e receber amigos em local com tão precárias comunicações?

Inconveniente, sim, mas de fácil solução. Afinal, todos nós somos conhecedores da cuidadosa atenção que a OI dispensa a seus clientes. Certo? Bastou comunicar-lhe o problema e uma nova torre alteou-se, bem ali, no meio da serra.

Concluídas as empreitadas, chaves na mão, a surpresa! Quem surge, de mala e cuia como dizemos cá no Sul, para se instalar no sítio do Fernando? Recém-egressa da Granja do Torto, a família Lula da Silva veio e tomou conta. Veio com tudo.

Com adega, santinha de devoção, estoque de DVD, fotos de família e promoveu a invasão dos sonhos de qualquer militante do MST. Lula e os seus se instalaram para ficar e permaneceram durante cinco anos, até o caso chegar ao conhecimento público.

Quando a Polícia Federal fez a perícia no local não encontrou um palito de fósforos que pudesse ser atribuído ao desafortunado Fernando. Do pedalinho ao xarope para tosse, era tudo Lula da Silva.

Eu não acredito que você acredite nessa história. Aliás, contada, a PF não acreditou, o MPF não acreditou e eu duvido que algum juiz a leve a sério. Mas há quem creia, talvez para não admitir que, por inconfessáveis motivos, concede a Lula permissão para condutas que reprovaria em qualquer outro ser humano.


Membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site www.puggina.org, colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A tomada do Brasil. Integrante do grupo Pensar+.


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REFEIÇÕES SEM CONVÍVIO DIANTE DE UMA TELA DIGITAL VOLTAMOS À PRÉ-HISTÓRIA – Luis Dufaur


30 de novembro de 2019
A reunião em torno da mesa, que uniu os seres humanos, pode desaparecer
Luis Dufaur

A reunião em torno “da lareira, da panela e da mesa comum, que uniu os seres humanos durante pelo menos 150.000 anos, poderia desaparecer”, segundo o historiador inglês Felipe Fernández Armesto [foto abaixo].

O paradoxo é que esse retrocesso é obra da tecnologia.

O Prof. Felipe é autor do ensaio Comida, culinária e civilização (ed. Tusquets), sobre a história da refeição, no qual demonstra que “se comermos sem contato de alma em frente das telas digitais, voltaremos três milhões de anos atrás”

Professor convidado de universidades e institutos de pesquisa, Fernández Armesto é autor de um grande número de obras concernentes à história com uma perspectiva sociológica e cultural. 
  
“Se deixarmos a mesa familiar, se comermos na frente das telas ou caminhando isolados pelas ruas, voltaremos a um estágio na história próprio dos hominídeos pré-civilização. A um sistema de vida semelhante ao de dois ou três milhões de anos atrás, dos hominídeos catadores que comiam desesperadamente, sem pensar nas possibilidades de usar a mesa para criar sociedade, promover afeto e planejar um futuro melhor”, disse, em entrevista ao jornal “La Nación” (11-10-19).

Fernández Armesto observa que “não pode haver convívio sem refeição partilhada”, da mesma maneira como é “impossível imaginar uma economia sem dinheiro” ou sem intercâmbio. 

Portanto, é “legítimo considerar a refeição como o momento mais importante do mundo: é o que mais ocupa a maioria das pessoas na maioria das vezes”, deduz ele. 

Segundo o pesquisador, as causas que contribuem para o desaparecimento gradual do hábito de se sentar juntos para comer e conviver são “mudanças sociais paradigmáticas” que causam danos que “estão ocorrendo”.

Família “feliz” pelo contato com o smartphone, mas cessou o relacionamento de alma

Quais? — O “desligamento familiar, golpes intergeracionais, anomia, rejeição de tradição, abandono do senso de pertencer à mesma família humana, no bom sentido da palavra, a predominância de um individualismo existencialista alheio à necessidade humana de manter relações vivas com outros seres humanos de carne de osso”

O autor se posiciona num ponto de vista sociológico e ético. Porém, se analisarmos os ensinamentos do catolicismo, encontraremos momentos religiosos nos quais Deus escolheu refeições para marcar momentos augustos da Revelação. 

Jesus escolheu refeições para o início de sua pregação até a Ultima Ceia (Bodas de Canaã, Gérard David (1460 — 1523), Museu do Louvre.

Nosso Senhor Jesus Cristo começou sua vida pública participando de um grande banquete: o das bodas de Canaã. Ali fez seu primeiro milagre para um grande número de pessoas: transformou a água das ânforas num precioso vinho. 

Quando chegou a noite junto ao Lago de Galileia e Jesus percebeu que as multidões estavam sem comer. Ele sentiu que passavam fome como um rebanho sem pastor, multiplicou os pães e peixes e mandou os Apóstolos distribuí-los com tanta abundância que sobraram cestos repletos.

Simbolizou que a Igreja deveria alimentar os povos com a palavra do Evangelho e que os Apóstolos voltariam com tantas conversões que encheriam cestos. 

Quando os judeus saíram da escravidão do Egito, a primeira instrução de Moisés foi que jantassem bem. É a origem da ceia pascal que repetimos até hoje no Domingo de Páscoa.

E foi precisamente durante uma ceia pascoal que Jesus instituiu a Missa e a Eucaristia, cujos significados místicos são frequentemente associados à alimentação em torno de uma mesa, obviamente sagrada: o altar. 

Outra prefigura eucarística é o maná que alimentou os judeus no deserto. 

Após a Ressurreição, Jesus se tornou patente aos apóstolos na hora de partir o pão na mesa em Emaús. E assim poderíamos prosseguir com numerosos exemplos. 

Basta mencionar que as grandes festas litúrgicas ou religiosas são acompanhadas com nobres, mas deliciosas refeições em comum, familiares e sociais, como no Natal, na Páscoa, nas festas dos santos padroeiros etc. 

Porém, o professor que citamos observa que sob o pretexto de progresso e modernidade estamos regredindo ao primitivismo. Morre o convívio, apaga-se a religião no lar e na sociedade, se estiolam a cultura e o contato entre as almas com a morte dos almoços e jantares em que predomina o contato de alma a alma entre familiares. 

Essa decadência está sendo feita sob o pretexto, continua o ensaísta, de “mudanças tecnológicas que facilitam o abandono social: uma rede eletrônica que não aperta sua mão nem beija seu rosto; formas de entretenimento solitário, sem trocas emocionais com outras pessoas”

Quantas vezes num bar vemos grupos de rapazes e moças que não trocam uma palavra sequer, cada qual grudado em seu smartphone? Ou estudantes e até professores universitários que na mesa não falam nada e no máximo cada um exibe uma imagem ou uma mensagem de texto que apareceu em seu dispositivo móvel? 

No livro, o Prof. Fernández Armesto trata da história da conversa e do convívio nas refeições como assunto inseparável de outro tipo de relacionamento entre os seres humanos entre si e com a natureza: o nível da culinária que desperta a inteligência.

Ele traça conexões em cada estágio entre a comida do passado e a maneira como é consumida hoje.

Os belos serviços e talheres desaparecem e vai ficando o sanduíche dentro de um envelope num McDonald, ou fast-food equivalente, e um copo de plástico descartável sem muita preocupação se a mesa fica suja ou não, e se o conviva sentado em frente se sentiu atendido ou interpretado.

Por isso, o professor acha que é possível identificar na história dos povos civilizados oito revoluções na história da refeição. Essas afetaram outros aspectos da história da humanidade, tornando-a ou mais convivial e amável, ou mais insensível e brutal.


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sexta-feira, 29 de novembro de 2019

ACOLHA-ME – Cosmo Palásio



Acolha-me...
Olhe dentro dos meus olhos,
busque por mim,
grite num sussurro meu nome.
Acolha-me...


Acolha-me! Deixe que eu me deite em seu colo e tenha sonhos de criança! Permita-me ter medo e confessá-lo... Deixe que eu solte meu ser por campos onde seja possível andar sem jogos... sem temores... sem mentiras.

Acolha-me! Guarde em seus braços meus infantis segredos, minhas dúvidas de gente grande, meus sentimentos de ser pequeno! Faça com que eu deixe o mundo lá fora por apenas alguns instantes. 

Acolha-me! Segure minhas mãos com o carinho que só você sabe fazer! Seca meu choro com palavras reais sobre um mundo que gostaria de ter.

Acolha-me! Traga-me a paz em forma de gestos... Não apenas me diga... Mostre-me!

Acolha-me! Decora meu rosto com desenhos feitos com seus dedos com linhas que novamente me liguem ao mundo doce e terno em que tanto acredito... A possibilidade de ser mais do que o herói de uma noite... O amor de uma vida inteira.

Dê guarida ao meu insistente ser, aos sentimentos que quero manter. 
Semeia em meu corpo gestos puros e leves! 

Guarda minhas costas para que eu possa enfim dormir... Para que me sinta na casa dos seus braços, como aquela pessoa que você esperava e que finalmente chegou.

Acolha-me... Olhe dentro dos meus olhos, busque por mim, grite num sussurro meu nome.

Acolha-me... E com a tinta do seu amor escreva comigo uma história bonita, destas onde o amor existe. 

Segue comigo num cavalo branco, numa noite de lua, para um lugar qualquer que mesmo existindo apenas em nossa comum imaginação será uma ilusão segura que me fará de novo viver.

Acolha-me pois preciso de seus braços. 


"Gotas de Crystal - Whats 32 99131 1743"

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quinta-feira, 28 de novembro de 2019

DOIS POEMAS DO CAMPO DA DESPORTIVA – Cyro de Mattos


Soneto do Campo da Desportiva
                    
                                        
De zinco era coberta a arquibancada,
a cancha tinha um piso esburacado.
Nem um pouco essa chuva demorada
conseguia deixar desanimado

o torcedor, que curtia a jogada
do seu ídolo na bola passada.
Dos pés a mágica mostrava ser
tudo num sonho pra nunca esquecer.

 O gol de placa do atacante quando
 a partida já chegava ao final,
 a marca da seleção que venceu

 tantas vezes o intermunicipal:
 não se desligaram do torcedor 
de antes pelos estádios do mundo.   

 ..........

Campo da Desportiva


O drible de Puruca
O maior de minha vida,
O gol de Juca
O maior de minha vida,
A defesa de Asclepíades
A maior de minha vida,
A falta batida por Léo Briglia
A maior de minha vida,
O nó de Carrapeta
O maior de minha vida,
A catimba de Tombinha
A maior de minha vida,
A investida de Fernando Riela
A maior de minha vida,
O torcedor Rodrigo Bocão
O mais engraçado de minha vida,
Os roletes de cana da Desportiva
O doce mais gostoso de minha vida.
Esse tiro na memória
O gol mais triste de minha vida.



Cyro de Mattos é ficcionista e poeta. Da Academia de Letras da Bahia. Possui prêmios importantes no Brasil e exterior. Publicado também por várias editoras europeias.  Primeiro Doutor Honoris Causa da Universidade Estadual de Santa Cruz.

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quarta-feira, 27 de novembro de 2019

OS DESEMBARGADORES DE PORTO ALEGRE ESTÃO NA MIRA DA 'AMANTE'

Depois de avisar que quer Moro na cadeia, Gleisi vai exigir prisão perpétua para os integrantes do TRF

Gleisi Hoffmann, presidente do PT
Ed Ferreira/Estadão Conteúdo - 05.06.2013

Gleisi Hoffmann quer prender Sergio Moro porque o então juiz federal em Curitiba condenou Lula no caso do triplex em Guarujá. No código penal particular da presidente do PT, mandar o chefão para a gaiola é crime hediondo.

Em nome da coerência, a deputada federal conhecida pelo codinome “Amante” no Departamento de Propinas da Odebrecht tem de exigir cadeia também para a juíza Gabriela Hardt, que puniu o chefão no caso do sítio em Atibaia.

Pelo andar da carruagem, o Tribunal Regional Federal da 4ª Região vai confirmar em 2ª instância, como fez na maracutaia imobiliária à beira-mar, a sentença de Gabriela Hardt. Aos olhos de Gleisi, será uma reincidência sem perdão.


Na cabeça de Gleisi, os desembargadores do TRF baseados em Porto Alegre não merecem menos que prisão perpétua.

Augusto Nunes
Augusto Nunes estudou na Escola de Comunicação e Artes da Universidade de São Paulo (USP) e começou sua carreira como revisor no Diário dos Associados. Foi repórter em O Estado de S.Paulo e da revista Veja. Dirigiu jornais e revistas como O Estado de S.Paulo, Jornal do Brasil (SP), Veja, Época e Forbes. Apresentou o Roda Viva, da TV Cultura.
Augusto foi quatro vezes vencedor do Prêmio Esso de Jornalismo e considerado pela Fundação Getúlio Vargas (FVG) um dos mais importantes profissionais da área do país. Envolvido com literatura, um dos livros que organizou e editou foi o Minha Razão de Viver: Memórias de Um Repórter. Escreveu as biografias de Tancredo Neves e de Luís Eduardo Magalhães, além de A Esperança Estilhaçada — Crônica da Crise que Abalou o PT e o Governo Lula.


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ACADÊMICO E PROFESSOR EVANILDO BECHARA LANÇA O LIVRO "MODERNA GRAMÁTICA PORTUGUESA - 39.A EDIÇÃO"


Acadêmico Evanildo Bechara lança seu novo livro Moderna Gramática Portuguesa - 39.a Edição pela editora Nova Fronteira. O lançamento será no dia 28 de novembro, às 17h, na Sala dos Fundadores do Petit Trianon da Academia Brasileira de Letras.
O Acadêmico
Evanildo Bechara é professor titular e emérito da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) e da Universidade Federal Fluminense (UFF), atua nos cursos de pós-graduação e de aperfeiçoamento para professores universitários e de ensino fundamental e médio oferecidos pelo Liceu Literário Português, membro da Academia Brasileira de Filologia, sócio correspondente da Academia das Ciências de Lisboa, Doutor Honoris Causa pela Universidade de Coimbra e o representante brasileiro do novo Acordo Ortográfico. Em 2018, o Instituto de Letras da UERJ aprovou a criação da Cátedra Evanildo Bechara para promover eventos sobre Língua Portuguesa e estudos linguísticos no Brasil e no exterior. Entre centenas de artigos, participações em congressos nacionais e internacionais, Bechara escreveu livros que já se tornaram clássicos pelas suas sucessivas edições. Moderna Gramática Portuguesa – 39.ª Edição está à venda on line e nas livrarias.
 26/11/2019


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terça-feira, 26 de novembro de 2019

NOTA DIVULGADA PELA ASSESSORIA DE GUGU LIBERATO


"NOTA DE FALECIMENTO


Este é um momento que jamais imaginamos viver. Com profunda tristeza, familiares comunicam o falecimento do pai, irmão, filho, amigo, empresário, jornalista e apresentador Antônio Augusto Moraes Liberato (Gugu Liberato), aos 60 anos, em Orlando, Florida, Estados Unidos.

Nosso Gugu sempre viveu de maneira simples e alegre, cercado por seus familiares e extremamente dedicado aos filhos. E assim foi até o final da vida, ocorrida após um acidente caseiro.

Ele sofreu uma queda acidental de uma altura de cerca de quatro metros quando fazia um reparo no ar condicionado instalado no sótão. Foi prontamente socorrido pela equipe de resgate e admitido no Orlando Health Medical Center, onde permaneceu na Unidade de Terapia Intensiva, acompanhado pela equipe médica local.

Na admissão deu entrada em escala de *Glasgow de 3 e os exames iniciais constataram sangramento intracraniano. Em virtude da gravidade neurológica, não foi indicado qualquer procedimento cirúrgico. Durante o período de observação foi constatada a ausência de atividade cerebral. A morte encefálica foi confirmada pelo Prof. Dr. Guilherme Lepski, neurocirurgião brasileiro chamado pela família, que após ver as imagens dos exames em detalhes, confirmou a irreversibilidade do quadro clínico diante de sua mãe Maria do Céu, dos irmãos Amandio Augusto e Aparecida Liberato, e da mãe de seus filhos, Rose Miriam Di Matteo.

Ainda não temos detalhes sobre o traslado para o Brasil. Informações sobre velório e sepultamento serão passadas assim que tudo estiver definido.

Ele deixa três filhos, João Augusto de 18 anos e as gêmeas Marina e Sophia de 15 anos.

Atendendo a uma vontade dele, a família autorizou a doação de todos os órgãos.

Gugu sempre refletiu sobre os verdadeiros valores da vida e o quão frágil ela se revela. Sua partida nos deixa sem chão, mas reforça nossa certeza de que ele viveu plenamente. Fica a saudade, ficam as lembranças - que são muitas - e a certeza que Deus recebe agora um filho querido, e o céu ganha uma estrela que emana luz e paz.

Familiares e funcionários

São Paulo, 22 de novembro de 2019”

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ABL APRESENTA “CASAMENTO SUSPEITOSO”, DE ARIANO SUASSUNA NA LEITURA DRAMATIZADA DE NOVEMBRO


Academia Brasileira de Letras e a Escola Técnica Estadual de Teatro Martins Pena formaram uma parceria em 2019 e promovem apresentações teatrais da peça “O casamento suspeitoso”, entre outras, adaptadas para o formato de leitura dramatizada. O espetáculo tem a direção de Eduardo Almeida e o elenco é composto por alunos e ex-alunos da Escola. São eles: Matheus Racinne, Fabricio Sigales, Jhô Teodorio, César Vieira, Vivianne Baptista, Teo Pasquini, Miriã Duarte, Bruna Morais e Janice Fernandes.
A leitura
Na história, Lúcia vem do Recife, acompanhada do seu amante e de sua mãe, para casar-se com um ingênuo herdeiro de uma fortuna na cidade de Taperoá, interior da Paraíba. Os golpistas, porém, não esperavam se deparar com a esperteza da dupla de empregados, Cancão e Gaspar, que armam várias situações para provar que Lúcia é uma impostora e interesseira. Mas ao perceber que será desmascarada, a trambiqueira tentará reverter a situação, criando uma cilada para os dois serviçais. Em quem o herdeiro acreditará?
Com um pouco mais de uma hora de duração, jovens e adultos poderão se encantar com uma divertida história que tem como tema central o casamento por interesse ou, como o dito popular, o “golpe do baú”.
O evento será realizado no dia 27 de novembro, quarta-feira, às 15h00, no Teatro R. Magalhães Jr., localizado na Academia Brasileira de Letras, Av. Presidente Wilson, 203 – Castelo. Entrada franca. Faça sua reserva!

INSCRIÇÕES
Garanta sua participação gratuita para esta sessão exclusiva. Lugares limitados.


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segunda-feira, 25 de novembro de 2019

ABL: SARAU D'A ESTANTE DO POETA


MAIOR FÁBRICA DE “FAKE NEWS” É RUSSA


25 de novembro de 2019

A Europa reagiu às notícias falsas do Kremlin com a East StratCom Task Force, que catalogou até agora 3.800 fake news concebidas na Rússia. 

10.000 tuites emitidos por 600 geradores de falsas notícias foram detectados em 700.000 contas. O quartel general da “guerra da informação”, em São Petersburgo, dispõe de centenas de “soldados cibernéticos” trabalhando o dia inteiro. 

Em Moscou, o general Alexander Vladimirov sintetizou: “Toda a história humana pode ser apresentada como a história da enganação”. Peter Pomerantsev [foto ao lado], chefe dos serviços de inteligência russos, explicou: “A estratégia, fora e dentro do país, é dizer que a verdade não existe”.



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PROFESSOR NEGRO VAI SER EMPOSSADO NA ACADEMIA DE LETRAS DA BAHIA

Foto: Luiza Lopes/bahia.ba
Professor negro vai ser empossado
na Academia de Letras da Bahia
Por Cyro de Mattos

           
             O professor e vereador Edvaldo Brito vai ser empossado no dia 29 na Academia de Letras da Bahia, em Salvador, quando então irá ocupar a Cadeira de Número 2, cujo patrono é Manoel Botelho de Oliveira. Será recebido pelo ensaísta e escritor Joaci Goes, atual presidente da instituição. A escolha foi feita em 17 de outubro.

             Graduado em Direito pela UFBA, pertenceu à turma de 1962, da qual fizeram parte os escritores João Ubaldo Ribeiro, Cyro de Mattos e Ildásio Tavares. Há mais de seis décadas atuante como professor, ele é Doutor em Direito Tributário pela Universidade de São Paulo (USP) e professor emérito da Universidade Federal da Bahia (Ufba) e da Mackenzie (SP).

          Conferencista exemplar, Edvaldo foi prefeito de Salvador e   tem participado de várias bancas examinadoras de teses para doutorado em universidades brasileiras.  É membro da Academia de Letras de Ilhéus e da Academia de Letras de Itabuna (ALITA). Sobre a conquista de ter sido eleito para ser o novo imortal da Academia de Letras da Bahia, sucedendo ao escritor Guilherme Raddel, disse:

         “É como se fosse um presente de aniversário, que comemorei no dia 3 passado. Agora faço parte da casa mais importante da cultura baiana, uma posição que muito me enobrece, e procurarei honrar essa escolha, não somente me empenhando cada vez mais na minha produção técnico-literária, como cultuando a responsabilidade de ocupar a cadeira que já foi de Manuel Botelho de Oliveira, que também foi advogado e vereador”.

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Cyro de Mattos é escritor e poeta com prêmios literários importantes, no Brasil e exterior. Doutor Honoris Causa da Universidade Estadual de Santa Cruz, Membro efetivo da Academia de Letras da Bahia, Pen Clube do Brasil e Ordem do Mérito do Governo da Bahia, no grau de Comendador.  

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domingo, 24 de novembro de 2019

MINHA RUA – Cyro de Mattos


Clique sobre as fotos, para vê-las no tamanho original
Minha Rua
Cyro de Mattos


Era estreita a nossa rua. No verão de céu azul, os raios de sol coavam a manhã fresca. Não existiam fronteiras em nossa rua, pelo menos no quarteirão onde eu morava. As famílias pareciam uma só, tamanha a intimidade que existiam entre elas. Havia convívio harmonioso entre os vizinhos, fosse dia de festa ou de tristeza.

No tempo das férias escolares, havia nos passeios jogo de tampilha, pião e leilão de brinquedos. Jogar bola de gude ou bola era no meio da rua. Natural que durante o jogo surgissem disputas acaloradas, bate-boca, empurrões e até briga. Em pouco tempo tudo voltava ao normal. Os dias retomavam a sua temperatura agradável, como se nada de mais houvesse acontecido entre os que brigavam durante o jogo de futebol. Agora de vez em quando um nariz podia ficar quebrado, ao receber um murro bem dado, só porque o amigo caiu na besteira de ficar teimando e dizendo que ali na rua o estilingue mais certeiro não era o do irmão. No fim da tarde, o irmão chegava com a capanga cheia de passarinhos, eram abatidos com bala de estilingue no Jardim da Prefeitura ou em alguma roça próxima à cidade. O irmão no estilingue era mesmo um campeão. Ninguém ali na rua duvidasse da pontaria dele. Cada balaço que ele desferia acertava em passarinho pousado até em cocuruto de árvore alta.

Nossa rua ficava impregnada de um aroma verde, quando o homem passava com o tabuleiro de verduras na cabeça. Os ares coloridos, todos os dias, com o roxo da beterraba, o verde do repolho e o laranja da cenoura.

Era iluminada com a gritaria dos companheiros. Zoada havia de canto a canto. Corneta, apito, bangue-bangue, jogo de bola, pião rodava na mão e no chão.

Do que eu mais gostava era do jogo de bola. Quando a mulher gorda chegava ao batente da porta, segurando a bola, que ela no mesmo instante furava, não encontrava um menino sequer para perguntar quem foi o pestinha que acertou daquela vez a sua vidraça, dando-lhe outra vez um prejuízo danado.

Cedo, no outro dia, os companheiros voltavam ao jogo com bola de pano. Os lances aguerridos, rosto vermelho e suado, cabelos assanhados. Palavrão, bate-boca e, aos gritos, a comemoração da vitória.

A vidraça da janela de alguns dos moradores de nossa rua não deixaria de ser acertada.
Ó que saudade da minha rua! Hoje, vejo-a estreita e nem tão comprida. Outrora tão grande para mim e os companheiros.

O mundo ali cabia dentro das cores da verdura no tabuleiro.

Bastava-se no leilão dos brinquedos, troca de gibi ou figurinhas do álbum de artistas do cinema americano, bala de estilingue nos quintais frutíferos, para não se falar no jogo de bola.

Ah, viver era uma canção verde como verde todos os dias a gente ouvia a voz do verdureiro.

Verde na voz dos companheiros colhendo coentro nos passeios.

Abóbora nas valetas.

Couve-flor nos calçamentos.



Cyro de Mattos é escritor e poeta com prêmios literários importantes, no Brasil e exterior. Doutor Honoris Causa da Universidade Estadual de Santa Cruz, Membro efetivo da Academia de Letras da Bahia, Pen Clube do Brasil e Ordem do Mérito do Governo da Bahia, no grau de Comendador. 

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PALAVRA DA SALVAÇÃO (158)


Solenidade de Jesus Cristo, Rei do Universo – Domingo, 24/11/2019

Anúncio do Evangelho (Lc 23,35-43)
— O Senhor esteja convosco.
— Ele está no meio de nós.

— PROCLAMAÇÃO do Evangelho de Jesus Cristo + segundo Lucas.
— Glória a vós, Senhor.

Naquele tempo, os chefes zombavam de Jesus dizendo: “A outros ele salvou. Salve-se a si mesmo, se, de fato, é o Cristo de Deus, o Escolhido!”
Os soldados também caçoavam dele; aproximavam-se, ofereciam-lhe vinagre, e diziam: “Se és o rei dos judeus, salva-te a ti mesmo!”
Acima dele havia um letreiro: “Este é o Rei dos Judeus”.
Um dos malfeitores crucificados o insultava, dizendo: “Tu não és o Cristo? Salva-te a ti mesmo e a nós!”
Mas o outro o repreendeu, dizendo: “Nem sequer temes a Deus, tu que sofres a mesma condenação? Para nós, é justo, porque estamos recebendo o que merecemos; mas ele não fez nada de mal”. E acrescentou: “Jesus, lembra-te de mim, quando entrares no teu reinado”. Jesus lhe respondeu: “Em verdade eu te digo: ainda hoje estarás comigo no Paraíso”.

— Palavra da Salvação.

— Glória a vós, Senhor.

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Ligue o vídeo abaixo e acompanhe a reflexão do Padre Cleberson Evangelista:
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“Ainda hoje estarás comigo no Paraíso” (Lc 23,43)

Celebramos neste domingo a festa de “Cristo Rei”, cume do Ano Litúrgico. Muitos se sentem incomodados com essa imagem. Não querem que Cristo seja “rei”, não suportam a imagem de um monarca governando a partir de cima. De fato, quando o Papa Pio XI (1925) proclamou esta festa, havia um interesse nada evangélico: a Igreja estava perdendo seu poder e seu prestígio, acossada pela modernidade. Como pura imitação dos reis deste mundo, a Igreja desejava reconquistar sua influência, correndo o risco de utilizar este título para manipular ideias, dominar consciências, alimentar sentimentos de culpa, impor o servilismo e o medo...

Mas, esta festa de “Cristo Rei”, pode ser ocasião propícia para “transgredir” nossa concepção de “rei” e “reinado”, e evitar um triunfalismo religioso, pura imitação dos reis deste mundo que vivem às custas de seus súditos.

Jesus, no seu anúncio e vivência, desencadeou um movimento de Reino, sem tomada de poder, sem palácios e riquezas, sem cetro de comando, sem instituições militares de domínio, sem meios de imposição econômica, sem títulos de nobreza. Mas sua visão de Reino não foi acolhida; por isso foi rejeitado pelos sacerdotes do templo e pelos representantes do poder do império romano.

Evidentemente se trata de um rei muito estranho, em discordância total com os reis de então e os de hoje. É chamativo este rei ser crucificado entre dois “malfeitores”; não se tratava de criminosos comuns, mas de homens que se haviam levantando contra o poder de Roma. Algo havia em Jesus que permitia interpretá-lo como um perigo para o poder imperial. Um poeta que canta a beleza dos lírios do campo ou dos pássaros do céu não terminaria sua vida dessa maneira.

A piedade cristã procurou cobrir Jesus de Nazaré com títulos de glória tão pomposos que quase o sepultou de novo. Ao elevar o carpinteiro da Galileia até a mais alta dignidade, ao fazê-lo subir até o mais alto dos céus, ao coroá-lo rei dos reis e senhor dos senhores..., quase conseguiu silenciar por completo o Jesus dos pobres, das multidões famintas, dos marginalizados, o Jesus rodeado de “más companhias e de pecadores”. Pintaram-no tão acima no céu e tão cheio da deslumbrante luz divina, que quase não somos mais capazes de contemplar Jesus percorrendo os caminhos poeirentos da Galileia, em meio aos mendigos, leprosos, pobres e excluídos, no empenho por tornar presente o sonho de Deus para este mundo.

Enfim, acabamos por esquecer o que é nuclear em nossa fé cristã: em Jesus, Deus se faz homem, mas homem pobre; nasce em um estábulo, não tem onde reclinar a cabeça e morre desnudo numa cruz, o suplício dos últimos, dos mais pobres daquela sociedade. Jesus sempre viveu voltado para aqueles que sofriam e necessitavam de ajuda. Não ficou alheio a nenhum sofrimento. Sua missão era essa: “aliviar o sofrimento humano”. Por isso se identificou com todos os pobres e excluídos da história.

A narrativa lucana deste domingo é muito provocativa: o único que o reconhece Jesus como rei é um condenado à morte, um maldito, um marginalizado da lei. Este está mais perto do reinado de Deus que as autoridades religiosas e as demais pessoas. Por isso Jesus o acolhe como companheiro inseparável. Juntos morrerão crucificados e juntos entrarão no Reino de Vida.

Jesus sempre viveu “em más companhias” e agora morre entre dois malfeitores. Mais uma vez, não assume o papel de juiz sobre os outros, mas oferece uma nova chance de salvação. O moribundo que dá vida: presença solidária, vida des-centrada que, mesmo em meio ao pior sofrimento, oferece companhia e consolo a outros sofredores.

Um dos malfeitores, impactado pela serenidade e testemunho de Jesus “rouba o paraíso”.

Em meio aos escárnios e zombarias, brota do seu coração uma surpreendente invocação: “Jesus, lembra-te de mim quando entrares no teu reinado”.

Não se trata de um discípulo ou seguidor de Jesus. Lucas nos apresenta um malfeitor como admirável exemplo de fé no Crucificado, e que no último instante de sua vida “roubou” a promessa de Vida que acontece no “hoje”. “Hoje estarás comigo no paraíso”.

À primeira vista parece um paradoxo que dos lábios de um homem aparentemente derrotado e praticamente moribundo, brote uma palavra de vida, acompanhada de uma certeza que a faz eterna, ou seja, válida para todo momento, em um presente sempre atual: o “hoje” de Lucas significa “todo momento”, qualquer instante em que ouvintes ou leitores se abrem à Palavra.

Jesus revela uma promessa que muitas pessoas precisam ouvir hoje, sobretudo aquelas que carregam cruzes injustas e pesadas, que vivem realidades atravessadas pela dor, pela solidão, incompreensão ou pranto... Desse modo, o evangelista parece estar nos dizendo: “Essa Palavra é válida também para ti, hoje, desde que sejas capaz de abrir-te a ela e acolhê-la. Também para ti há uma promessa de vida, que não se acaba na fronteira da morte. Tu também ‘hoje estarás comigo no paraíso’”

Assim compreendida, a narração nos apresenta uma dupla questão: por um lado, como pôde Jesus pronunciar essa Palavra de Vida nessas circunstâncias de morte?; por outro, como podemos acolhê-la, de modo que sejamos alcançados e vitalizados por ela?

A festa de “Cristo Rei” nos convida também a tomar a Cruz da fidelidade e do serviço solidário, e “descer” com Jesus até à cruz da humanidade.

A solidariedade com os pobres, a fidelidade à vida evangélica, nos fazem descer aos porões das violências sociais e políticas, às realidades inóspitas, aos terrenos contaminados pelo preconceito e intolerância, às periferias insalubres da miséria das quais todos fogem e onde os excluídos deste mundo lutam por sobreviver. Ali nos encontramos com o Crucificado, identificado com os crucificados da história. 

Entende-se, assim, o grande “grito” que brotou das profundezas da dor de Jesus na Cruz e que continua ecoando como clamor angustiado. Nele se condensam todos os gritos da humanidade sofredora.

Ao ecoar seu grito junto aos crucificados, provocará grandes novidades. Um grito que não fica no vazio, mas aponta para a vida.

Texto bíblico:  Lc 23,35-43
Na oração: o Crucificado desmascara nossas mentiras e covardias; pendente na Cruz Seu grito denuncia o aburguesamento de nossa fé, a nossa acomodação ao bem-estar e nossa indiferença diante daqueles que sofrem. Celebrar a festa do “Cristo Rei” é aproximar-nos mais dos crucificados da nossa história e comprometer-nos a tirá-los da Cruz.
Como soarão estas palavras no interior de cada um de nós: “Hoje estarás comigo no Paraíso”
+ Hoje: porque as mudanças, a nova criação, a humanidade reconciliada, não tem que esperar mais; hoje, agora, já...; talvez esse “hoje” não chega é por causa de tantas pessoas que não decidem, não optam, esperam sentadas...
+ Comigo: promessa de viver em sua companhia e desperta ecos de uma plenitude que não conseguimos entender.
+ No paraíso: que não é um mítico Éden, mas lugar de plenitude de vida, onde não haverá mais pranto, nem dor; realidade já presente onde habitará a justiça e a paz.
- Deixar ressoar esta expressão de Jesus para construir, hoje, o Paraíso em nosso cotidiano.          
Que a festa de Cristo rei seja uma ocasião privilegiada que nos ajude a desvelar a verdadeira realeza de Jesus, o carpinteiro de Nazaré, para poder segui-Lo de perto, comprometendo-nos com seu modo de ser e viver.

Pe. Adroaldo Palaoro sj

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