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quinta-feira, 15 de abril de 2021

NOSSAS LEIS – Gibran Khalil Gibran


 Nossas Leis

 

          Então, um advogado disse: “Que pensas de nossas Leis, mestre?”

          E ele respondeu:

          “Vós vos deleitais em estabelecer leis.

          Mas vos deleitais ainda mais em violá-las.

          Tais como crianças brincando à beira do oceano edificam, pacientemente, torres de areia e, logo em seguida, as destroem entre risadas.

          Mas enquanto edificais vossas torres de areia, o oceano atira mais areia à praia,

          E quando vós as destruís, o oceano ri convosco.

          Na verdade, o oceano sempre ri com os inocentes.

          Mas que dizer daqueles para quem a vida não é um oceano, nem as leis baixadas pelo homem, torres de areia,

         Aqueles para quem a vida é uma pedra, e a lei, um cinzel com o qual procuram esculpi-la à sua própria imagem?

          Que dizer do aleijado que odeia os bailarinos?

          E do boi que gosta do seu jugo e considera o gamo e o cervo seres extraviados e vagabundos?

          E da serpente idosa que não pode mais largar a pele e qualifica todas as outras de desnudas e impudicas?

          E daquele que chega cedo ao banquete de núpcias e, depois, saciado e esgotado, segue seu caminho, dizendo que todo festim é uma violação da lei e todo festejador, um culpado?

          Que direi desses todos, senão que eles também se mantêm na claridade do sol, mas de costas para o sol?

          Veem somente suas sombras, e suas sombras são suas leis.

          E que é o sol para eles senão um lançador de sombras?

          E que é reconhecer as leis senão curvar-se e delinear essas sombras sobre a terra?

          Vós, porém, que caminhais encarando o sol, que imagens desenhadas sobe a terra vos podem reter?

          Vós que viajais com o vento, que cata-vento orientará vosso curso?

          Que lei humana vos poderá atar quando quebrardes vosso jugo, mas não à porta de uma prisão humana?

          Que leis temereis se dançardes sem tropeças em nenhuma cadeia de ferro feita pelo homem?

          E quem vos poderá acusar em juízo se rasgais vossas vestimentas, sem as atirar no caminho alheio?

          Povo de Orphalese, podeis abafar o tambor e afrouxar as cordas da lira, mas quem poderá proibir à calhandra de cantar?”

 

(O PROFETA)

Gibran Khalil Gibran

 

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Gibran Khalil Gibran
 - Poeta libanês, viveu na França e nos EUA. Também foi um aclamado pintor. Seus textos apresentam a beleza da alma humana e da Natureza, num estilo belo, místico, conseguindo com simplicidade explicar os segredos da vida, da alegria, da justiça, do amor, da verdade.

 

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VIDA E OBRA DE GIBRAN (4)

1908-1910 em Paris. Estuda na Académie Julien. Trabalha freneticamente.  Frequenta museus, exposições, bibliotecas. Conhece Auguste Rodin, que lhe prediz um grande futuro. Uma de suas telas é escolhida para a Exposição das Belas-Artes de 1910. Neste ínterim, morrem seu pai e sua irmã Sultane.

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