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terça-feira, 6 de dezembro de 2016

A ESTANTE – CONTO DE FERREIRA GULLAR

A ESTANTE
 March 26, 2013


Naquele novo apartamento da Rua Visconde de Pirajá pela primeira vez teria um escritório para trabalhar. Não era um cômodo muito grande, mas dava para armar ali a minha tenda de reflexões e leitura: uma escrivaninha, um sofá e os livros. Na parede da esquerda ficaria a grande e sonhada estante que caberia todos os meus livros. Tratei de encomendá-la a seu Joaquim, um marceneiro que tinha oficina na Rua Garcia D’Avila com Barão da Torre.

O apartamento não ficava tão perto da oficina. Era quase em frente ao prédio onde morava Mário Pedrosa, entre a Farme de Amoedo e a antiga Montenegro, hoje Vinicius de Moraes. 

Estava ali há uma semana e nem decorara ainda o número do prédio. Tanto que, quando seu Joaquim, ao preencher a nota da encomenda, perguntou-me onde seria entregue a estante, tive um momento de hesitação. Mas foi só um momento.

Pensei rápido: “Se o prédio do Mário é 228, o meu, que fica quase em frente, deve ser 227. “Mas lembrei-me de que, ao ir ali pela primeira vez, observara que, apesar de ficar em frente ao do Mário, havia uma diferença na numeração.

— Visconde de Pirajá 127 — respondi, e seu Joaquim desenhou o endereço na nota.

— Tudo bem, seu Ferreira. Dentro de um mês estará lá sua estante.

— Um mês, seu Joaquim! Tudo isso? Veja se reduz esse prazo.

— A estante é grande, dá muito trabalho… Digamos, três semanas.

Contei as semanas. Não via chegar o momento de ter no escritório a estante sonhada, onde enfim poderia arrumar os livros por assunto e autores. E, mais que isso, sentir-me um escritor de verdade, um profissional, cercado de livros por todos os lados. No dia da entrega, voltei do trabalho apressado para ver minha estante.

— Como é, veio? — perguntei ao entrar.

— Veio o quê?

— Como o quê? A estante!

Não viera. Seu Joaquim não cumprira com a palavra empenhada, ah português filho de… Telefonei para ele sem dissimular, no tom da voz, minha irritação. E ele:

— Como não cumpri? Andei com dois homens de cima para baixo da rua e não encontrei o tal número que o senhor me indicou. Não existe na Rua Visconde de Pirajá o número 127, senhor Ferreira.

Fiquei sem ação. Dera a ele o número errado.

— Diga-me o número certo e sua estante estará em sua casa amanhã mesmo.

Fiquei sem palavra. Se não era 127, qual número seria? Não era 227, disso tinha certeza… E o Joaquim ao telefone:

— Qual o número, seu Ferreira?

— É 217, seu Joaquim… É isso, 217.

— Muito bem, 217. Já anotei. Amanhã terá sua estante.

Não tive. Ao chegar em casa e verificar que a estante não estava lá, conclui que havia dado de novo o número errado ao marceneiro. E corri para o telefone a fim de me desculpar.

— Seu Joaquim, é o senhor Ferreira… da estante.

— O senhor está querendo brincar comigo?
Fui tomado por um frouxo de riso, enquanto seu Joaquim, indignado, dizia que não ia mais entregar estante nenhuma, que eu fosse buscá-la, pois já era a segunda vez que subira e descera a Visconde de Pirajá, carregando aquela estante enorme, etc. etc…


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SEXTA SUPER MUSICAL APRESENTA MEMÉ SANTANA NA AABB

Memé Santana na Cabana do Tempo da AABB
Quem vai “sextar” 9/12 na AABB Itabuna é Memé Santana

 “Sextar” é se apresentar na Sexta Super Musical da Cabana do Tempo, o espaço da AABB que resgatou o prazer de sair à noite em Itabuna. E nesse dia 9/12, a partir das 8 da noite, quem vai “sextar” é Memé Santana, com direito a música internacional, música brasileira e hits que levam a uma sonora viagem por épocas inesquecíveis.
Memé é cantor e instrumentista dos mais requisitados do sul da Bahia. Sempre acompanhado pelo bom baterista Fabiano Sousa, desfila um repertório que agrada a muitos e bons gostos.
E por falar em gostos, os mais deliciosos tira-gostos e pratos, preparados por uma experiente equipe de cozinheiras, são servidos nas mesas da Cabana do Tempo. Sem falar das mais refrescantes bebidas, tanto prontas como preparadas na hora.
Maruse Dantas, presidente da AABB Itabuna, lembra que nem gorjeta (10%) nem couvert artístico são cobrados na nota. E Raul Vilas Boas, vice-presidente social, acrescenta: “O clube tem um parque bem equipado, colado na Cabana. É o único lugar da cidade que você pode sair à noite levando as crianças, com toda segurança”.
   
Serviço

Entrada no clube: liberada para sócios e não sócios sexta-feira à noite.
Estacionamento: dentro do clube, gratuito, também liberado no horário.
Gastronomia: pratos, tira-gostos, bebidas prontas e preparadas na hora, servidos por garçons nas mesas.
10% de gorjeta e couvert artístico: não são cobrados.
Equipamento disponível: parque (playground) para as crianças.
Endereço: Rua Espanha s/n – São Judas – Itabuna/BA
Telefones: (73) 3211-4843 / 2771 (Oi fixo)

 Contato – Raul Vilas Boas: (73) 9.9112-8444 (Tim) / 9.8888-8376 (Oi)

 Assessoria de Imprensa – Carlos Malluta: (73) 9.8877-7701 (Oi) / 9.9133-4523 (Tim)

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GARÇA TRISTE – Oscar Benício dos Santos

Clique sobre a foto para vê-la no tamanho original
Garça Triste
  

Olha, aquela garça que viste 
pousada num seco galho,
debandou sozinha e triste
das irmãs, por um atalho.


Agora só, subsiste 
qual gota seca de orvalho,
e solitária insiste
como um mudo chocalho;


Pois não canta essa ave,
que na sua mudez grave
vê morrer o Cachoeira,


hoje tênue d’água fio,
que já foi um rio bravio 
– perdeu ágil corredeira. 



Oscar Benício Dos Santos
Faz. Guanabara


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RENAN TORNOU SENADO UMA ALAGOAS HIPERTROFIADA - Josias de Souza

Renan tornou Senado uma Alagoas hipertrofiada
Josias de Souza
06/12/2016 

O réu Renan Calheiros transformou sua ruína judicial num processo de desmoralização do Senado da República. Com a cumplicidade da volante que faz as vezes de Mesa Diretora, Renan peitou Marco Aurélio Mello, o ministro da Suprema Corte que o havia expulsado da linha sucessória da Presidência da República. Ao se recusar a cumprir a ordem, Renan fabricou uma crise institucional a partir de um processo nascido no leito de um relacionamento extraconjugal. E o Senado virou uma espécie de Alagoas hipertrofiada.

Ou a banda muda do Senado faz barulho ou os cangaceiros da Mesa Diretora darão à maioria dos senadores uma péssima reputação. O processo que levou o Supremo Tribunal Federal a converter Renan em réu mistura o que há de mais nefasto na política brasileira. Renan teve uma filha fora do casamento. Até aí, problema dele e da patroa. Acusado de pagar a pensão da criança com dinheiro recebido da Mendes Júnior, enrolou-se nas explicações. E o problema passou a ser do contribuinte, que já não suporta fazer o papel de bobo.

Os senadores tiveram a oportunidade de se livrar de Renan em 2007, quando as pulsões do senador ganharam as manchetes. Em troca da renúncia à presidência do Senado, preservaram-lhe o mandato. Mais tarde, devolveram-lhe a poltrona de presidente mesmo sabendo que o caso resultara em denúncia da Procuradoria. Deitando-se ao lado de Renan na mesma cama pela terceira vez, o Senado levará seu desembaraço moral às fronteiras do paroxismo, humilhando-se de forma inédita. O Brasil não merece.

Com atraso de quase uma década, Renan vive o seu ocaso. Afora o caso em que virou réu, responde a outros 11 inquéritos, oito dos quais relacionados à Lava Jato. Cedo ou tarde, terá o mesmo destino de Eduardo Cunha, hoje um hóspede do PF’Inn de Curitiba. Já se sabia que o Congresso brasileiro tem um comportamento de alto risco. Mas não se imaginou que os senadores iriam para o suicídio abraçado ao cangaço.

Segundo a cultuada concepção de Churchill, a democracia é o pior regime com exceção de todos os outros. Pois o Senado parece decidido a dar razão a todos os que defendem as alternativas piores. Para usar as mesmas palavras de Renan: ''A democracia, mesmo no Brasil, não merece esse fim.'' Resta agora saber como reagirá o plenário do Supremo.




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