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sexta-feira, 4 de agosto de 2017

10 DE AGOSTO: DIA DE JORGE AMADO – Aeroporto

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(Bahia, 1966 – aeroporto)


            No aeroporto Zélia e eu aguardamos Neruda que, estando no Brasil, vem passar o fim de semana conosco na Bahia, matar saudades. Esbaforido aparece Ariovaldo Matos*, a quem eu dera a informação. Ariovaldo publica um semanário, tem dificuldades de dinheiro e de censura, vive entre a redação e a cadeia.

            Pablo viajara ao Brasil para a cerimônia de inauguração em São Paulo do monumento em memória de Garcia Lorca. Obra de Flávio de Carvalho. Menos de uma semana após a solenidade o monumento foi destruído pelos esbirros da ditadura militar, as forças armadas não estimam os poetas.

            Acompanhado por Matilde, Pablo desce do avião, nos abraçamos peito contra peito, face contra face, faz tempo que não nos vemos. Tendo vindo para o júbilo do reencontro fraterno na cidade predileta – o casario, a música, a capoeira, o vatapá, os camarões e as lagostas – e não para a masturbação dos funerais, Pablo sussurra-me ao ouvido, a voz magoada:

            - No me perguntes por nadie, compadre, se murieron todos. Restamos solamente nosotros.

            Sob a batuta de Ariovaldo, as baianas cercam o poeta, atam-lhe no pulso a fita do Bonfim, a branca, a de Oxalá, dão-lhe as boas-vindas.


*Ariovaldo Matos (1926/1988),escritor e jornalista.


 (NAVEGAÇÃO DE CABOTAGEM)

Jorge Amado

* * *

ITABUNA CENTENÁRIA: UM SONETO – Ler – Oscar Benício dos Santos

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LER


Você não gosta de ler
é só porque já morreu
ou, quem sabe, se esqueceu
já aborto de nascer.

Do ventre onde iria crescer
foi expulso – pigmeu –
e nem assim você leu
a bula do Bom Viver.

Vive dobrado quem lê,
pois da vida é dublê
e faz do livro oração.

Conduz o que lê, da mente
com poder clarividente,
ao imo do coração.


Oscar Benício Dos Santos

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