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terça-feira, 3 de janeiro de 2023

O balão vermelho

Ignácio de Loyola Brandão

 


Passando pela Marginal Pinheiros, dei com a roda-gigante destinada a ser a maior da América Latina. Minúsculo pano vermelho (parecendo balãozi-nho) mostrava-se agarrado a uma das cabines. Estremeci, a memória me remeteu aos meus 22 anos. Em um domingo de 1958, eu voltava de um show, promovido pelo jornal Última Hora e dei carona para Marlene França, atriz baiana nascida em Uauá, descoberta aos 14 anos por Alex Viany em Rosa dos Ventos, lançado em 1957. Ela veio para São Paulo disposta a fazer carreira, e fez. Ao passarmos pelo Parque Shangai, no centro, vimos a roda-gigante. Ela arregalou os olhos: 'Lô' - assim me chamava -, 'vamos dar uma volta?'. Na entrada, outro pedido: 'Me dá um balão vermelho?'. O filme de Lamorisse, Le Ballon Ronge, tinha sido sucesso. Feliz, apertava tanto o balão junto ao corpo que tive medo de estourar. Demos uma volta, duas, três, ela pedia: vamos passar a noite girando? Não passamos, mas tempos depois começamos a namorar. Ela, que vinha de uma separação, queria desfrutar tudo, vivíamos pela noite, mas nosso ponto mesmo era o bar Porta do Sol, na Rua Sete de Abril. Marlene cresceu na carreira, acabamos nos distanciando e ela se casou com Andréa Matarazzo Ippolito, teve três filhos, fez carreira cinematográfica nas mãos de diretores como Walter Hugo Khouri, Jorge Ileli, Aurélio Teixeira, Luiz Sérgio Person, Carlos Coimbra, Fauzi Mansur, Ozualdo Candeias, Rubem Biáfora, Luiz Paulino, Roberto Santos. Viveu com intensidade os filmes da 'Boca do Lixo'. Muitas vezes, quando nos cruzávamos, ela dizia: 'Ah! Meu balão vermelho'.

Passamos décadas sem nos ver. Nesse período, a baiana que aos 12 anos vendia doces em Feira de Santana mostrou maturidade e pioneirismo ao dirigir quatro curtas-metragens. A mulher de sorriso esfziante ousou enfrentar a ditadura em 1983 com um documentário (assistência de Frei Betto) sobre Frei Tito, o dominicano que se suicidou sob pressão da ditadura. Em 1985, ela foi a primeira a olhar para a questão dos boias-frias no curta Mídheres da Terra. Dirigiu em seguida Meninos de Rua, em 1988, problema ainda atual. Em 1999, veio o último curta, O Vale das Mídheres.

Num momento em que a batalha das mulheres está em plena erupção, espero que se dê um lugar a Marlene. A escritora e videomaker Alexandra Roscoe, de Brasília, baseada nesse retalho de vida, fez poética animação, dez anos atrás. Em 2011, em uma tarde de setembro, Maria do Rosário Caetano me trouxe a biografia de Marlene por ela escrita e me deu o telefone, há muito por mim perdido. Liguei, ela morava em um sítio em Itatiba. Reconheceu minha voz. 'Lô, o balão vermelho?' A voz era débil. Duas frases e a linha foi cortada. No dia seguinte, li: Marlene tinha tido um enfarte.

O Estado de S. Paulo, 01/01/2023

 

https://www.academia.org.br/artigos/o-balao-vermelho

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Ignácio de Loyola Brandão - Décimo ocupante da Cadeira 11 da ABL, eleito em 14 de março de 2019 na sucessão do Acadêmico Helio Jaguaribe.

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INDIGNAÇÃO

Por Brigadeiro Eduardo Camerini

  


Enviei o texto abaixo para o Sr. Ministro da Defesa hoje, pelo começo da tarde, para que ele pudesse fazer uma avaliação. 

Não obtive resposta ainda, mas julgo necessário divulgar entre outros colegas militares, dada a gravidade da situação.


AO MINISTRO DA DEFESA

Prezado General Paulo Sérgio.

Conforme lhe informei ontem, estou lhe mandando esse texto, de minha autoria, para sua apreciação.

Trata-se de uma cópia única, endereçada somente ao senhor, para sua avaliação.

Que as decisões sejam iluminadas!

 

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Texto Escrito Após a Fala do Sr. Presidente da República.

 

Nunca mais se diga que nossas Forças Armadas nunca perderam uma guerra!

Hoje perdemos a maior delas!

Perdemos nossa Coragem!

Perdemos nossa Honra!

Perdemos nossa Lealdade!

Não cumprimos com o nosso Dever!

Perdemos a nossa Pátria!

Eu estou com vergonha de ser militar!

Vergonha de ver que tudo aquilo pelo qual jurei, trabalhei e lutei, foi traído por militares fracos, desleais e covardes, que fugiram do combate, preferindo apoiar quem sempre nos agrediu, sempre nos desrespeitou, sempre nos humilhou e sempre se vangloriou disso, e que ainda brada por aí que não nos quer em sua escolta, por não confiar nos militares das Forças Armadas, e que estas devem ser “colocadas em seu devido lugar”.

Militares que traíram seu próprio povo, que clamou pela nossa ajuda e que não foi atendido, por estarem os militares da ativa preocupados somente com o seu umbigo, e não com o povo a quem juraram proteger!

Fomos reduzidos a pó. Viramos farelo.

Seremos atacados cruelmente e, se reagirmos somente depois disso, estaremos fazendo apenas em causa própria, o que só irá piorar ainda mais as coisas. 

Joguem todas as nossas canções no lixo!

A partir de hoje, só representam mentiras!

Como disse Churchill:

 “Entre a guerra e a vergonha, escolhemos a vergonha.”

E agora teremos a vergonha e a guerra que se seguirá inevitavelmente.

A guerra seguirá com o povo, com os indígenas, com os caminhoneiros, com o Agronegócio. Todos verão os militares como traidores. 

Segmentos militares certamente os apoiarão. Eu inclusive. 

Generais não serão mais representantes de suas tropas.

Perderão o respeito dos honestos.

As tropas se insubordinarão, e com toda razão.

Os generais pagarão caro por essa deslealdade.

Esconderam sua covardia, dizendo não ter havido fraude nas urnas. 

Oras! O Exército é que não conseguiu identificar a fraude!

Mas outros, civis, conseguiram!

A vaidade prevaleceu no Exército e no seu Centro de Guerra Cibernética. Não foram, mais uma vez, humildes o suficiente para reconhecer suas falhas. Prevaleceu o marketing e a defesa de sua imagem. Perderam, Manés! 

E o que dizer da parcialidade escancarada do TSE e do STF, que além de privilegiarem um candidato, acabam por prender inconstitucionalmente políticos, jornalistas, indígenas, humoristas e mesmo pessoas comuns, simplesmente por apoiar temas de direita, sem sequer lhes informar o crime cometido ou oportunidade de defesa? Isso não conta? Isso não aconteceu?

E a intromissão em assuntos do Executivo e do Legislativo?

Isso também não aconteceu?

Onde está a defesa dos poderes constitucionais?

Onde estão aqueles que bradaram que não bateriam continência a um ladrão?

Será que os generais são incapazes de enxergar que, validando esta eleição, mesmo com o descumprimento de ordem de entrega dos códigos-fonte, valida-se também esse mesmo método, não só para todas as próximas eleições, para o que quer que seja, perpetuando a bandidagem no poder, assim como corrompendo futuros plebiscitos e decisões populares para aprovar/reprovar qualquer grande projeto de interesse da criminalidade?

NÃO HAVERÁ MAIS ELEIÇÕES HONESTAS!

A bandidagem governará impune, e as Forças Armadas, assim como já ocorre com a Polícia Federal, serão vistas como cães de guarda que asseguram o governo ditatorial.

 

O povo nunca perdoou os traidores nem os burros. 

Não vai ser agora que irão.

Ah, sim, generais:

Entrarão para a História!

Pela mesma porta que entrou Calabar.

QUE VERGONHA!


Assina:

Brigadeiro Eduardo Serra Negra Camerini


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