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domingo, 26 de agosto de 2018

ABL DEBATE, EM SEU SEMINÁRIO ‘BRASIL BRASIS’, DE AGOSTO, ‘O LIVRO: A AVENTURA NÃO TERMINOU’, COM DOIS DOS MAIS IMPORTANTES EDITORES BRASILEIROS: JANAÍNA SENNA E PAULO ROCCO



A Academia Brasileira de Letras dá continuidade à série de Seminários “Brasil, brasis” de 2018 com o tema O livro: a aventura não terminou, sob coordenação geral do Acadêmico, professor, escritor e poeta Domício Proença Filho (quinto ocupante da Cadeira 28, eleito em 23 de março de 2006), e coordenação do Acadêmico e jornalista Cícero Sandroni (sexto ocupante da cadeira 6, eleito em 25 de setembro de 2003). Os participantes convidados foram os editores Janaína Senna e Paulo Rocco, dois dos mais importantes editores brasileiros.

O Seminário "Brasil, brasis", tem patrocínio do Bradesco.

OS CONVIDADOS

Janaína Guimarães de Senna graduou-se em Letras pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), em 1998. Concluiu sua dissertação de mestrado pelo programa de Pós-Graduação em Literatura Brasileira da mesma universidade em 2001.

Doutorou-se pela PUC-Rio, em História Social da Cultura, apresentando a tese Flores de antanho: as antologias oitocentistas e a construção do passado literário, sobre a formação do cânone literário nacional. O trabalho recebeu o Prêmio Capes de Teses em 2007 em forma de bolsa de pós-doutorado, concluído na Fundação Casa de Rui Barbosa, no setor de Filologia Românica. Possui artigos publicados na área de literatura brasileira e historiografia, especialmente literária.

Atua no mercado editorial desde 2002 e já traduziu mais de 30 livros, a partir de originais em inglês, francês, espanhol e catalão. Atualmente é a editora responsável pelo catálogo nacional da Nova Fronteira e da Agir, que conta com autores como Evanildo Bechara, Rubem Fonseca, Ariano Suassuna, Alberto da Costa e Silva, Nelson Rodrigues, Caio Fernando Abreu, Millôr Fernandes entre outros.

Paulo Rocco iniciou a trajetória no mercado editorial pela Editora Sabiá, em 1967. Contratado pela dupla Rubem Braga e Fernando Sabino, na Sabiá, conviveu de perto com grandes escritores da época, como Carlos Drummond de Andrade e João Cabral de Melo Neto, entre tantos outros. Em 1975, partiu para carreira solo e fundou a Editora Rocco. A nova casa editorial começou com dois sucessos na bagagem: os dois primeiros títulos publicados pela editora – Teje preso, de Chico Anysio, e Casos de amor, de Marisa Raja Gabaglia – alcançaram as listas dos mais vendidos da época.

Na década de 1980, a Editora ousou ao trazer para o catálogo pensadores importantes como Michel Maffesoli e Jean Braudillard, além de abrir espaço para nomes de vanguarda no cenário político, como Fernando Gabeira e Herbert Daniel, entre outros intelectuais que marcaram época. No mesmo período, Paulo Rocco deu início à formação do prestigioso catálogo de ficção da editora, com títulos como A fogueira das vaidades, de Tom Wolfe, até hoje referência na prosa norte-americana. A ele viriam a se juntar nomes como Gore Vidal, Noah Gordon, Ken Follett, Margaret Atwood, Anne Rice e Carlos Fuentes, para citar apenas alguns.

Em 1988, Paulo Rocco apresentou ao Brasil e ao mundo aquele que viria a se tornar o mais bem-sucedido escritor brasileiro, Paulo Coelho, ao lançar O alquimista. Quase uma década depois, em 1997, toda a obra de Clarice Lispector migrou para o catálogo da Editora. A Rocco é, desde então, a casa da autora de A hora da estrela e tantos outros títulos fundamentais para o universo das letras em todo o mundo. Antes, em 1978, a Rocco publicou o infantil Quase de verdade, primeiro livro a sair após o falecimento da autora, em dezembro de 1977.

No ano 2000, a Editora publicou Harry Potter e a pedra filosofal, o primeiro volume da série da então desconhecida J.K. Rowling, que se transformou no maior fenômeno editorial de todos os tempos. Coube ainda à editora fundada por Paulo Rocco um papel de destaque em áreas como autoconhecimento e espiritualidade, que fez história com títulos como Mulheres que correm com os lobos, da psicanalista Clarissa Pinkola Estés, que ganha reimpressões sucessivas desde o lançamento, em 1994.

17/08/2018

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O BEM-TE-VI E A INOCENTE ALEGRIA DE VIVER - Plinio Corrêa de Oliveira

                                                                         26 de agosto de 2018
                             ♦  Plinio Corrêa de Oliveira

O canto singelo de uma avezinha inspirou a aplicar-lhe o nome de bem-te-vi. Ele pode se manter isolado no topo de uma árvore, como se fosse um detetive tentando resolver um mistério. Dá a impressão de não estar procurando nada, mas de repente brada sua vitória: Bem-te-vi! Bem-te-vi!

Quando os bem-te-vis se encontram em bandos, multiplicam-se os gorjeios alegres, em vozes um tanto desconexas.

Em ambos os casos, o bem-te-vi tem o seu papel. Na ordem do universo criado por Deus, representa o transbordamento da alegria pelo simples fato de existir. Ele saltita, voa, movimenta-se, bate suas asas ao sol; e depois descansa, alegre por existir. Quando nos parece sossegado, ele já previu outras alegrias e sai voando. O instinto o leva a se alegrar e desdobrar-se, proclamando o que há de bom em viver.

No seu gracioso brado aparentemente inútil, o bem-te-vi presta grande serviço à Providência. Lembra-nos a virtude da vigilância, pois é preciso prestar atenção em todas as coisas. A ufania com que proclama bem-te-vi é como se dissesse: “Eu venci algo em mim, quando consegui ver-te, e seria tolo se não tivesse visto”. Bem-te-vi, portanto, é um brado de vitória. Lembra-nos também as virtudes da prudência, sagacidade, desconfiança, como quem adverte: eu te vi bem! Mais ainda, lembra que há um olhar divino pousando sobre cada homem. Quando alguém se esquece do olhar divino, e se aproxima do pecado, pode funcionar como a voz da consciência dando o alerta: “cuidado, pois bem-te-vi!”.

Coisas simples da vida, corriqueiras e elementares, mostram o prazer quotidiano da existência. Para quem sabe viver, tem grande valor esse prazer, pois trata-se de um magnífico dom de Deus. Na sua inocência primeira, uma criança não passa de um “bem-te-vizinho”, que se alegra pela alegria de viver. Para as coisas de que gosta, ela se abre em um “sorriso bem-te-vi” e estende a mão para pegá-las: uma bola, um chocolate, uma bala, um bonequinho. O mesmo se repete quando olha para a feição afetuosa da mãe, para a fisionomia séria e forte do pai, para o irmãozinho tão parecido com ela.

O semelhante se alegra com o semelhante (similis simili gaudet), como ensina São Tomás de Aquino. Uma criança que corre para outra alegremente tem uma alegria que realiza esse princípio filosófico. São dois semelhantes que se encontraram, por isso se alegram. Mesmo sem nenhuma noção de filosofia, assim vivem e assim se alegram, pois aplicam um princípio da ordem universal através do instinto e do afeto. É a primeira etapa da vida: desanuviada, brilhante, tão cheia de recordações de toda ordem.
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Excertos da conferência proferida pelo Prof. Plinio Corrêa de Oliveira em 16 de julho de 1983. Esta transcrição não passou pela revisão do autor.

http://www.abim.inf.br/o-bem-te-vi-e-a-inocente-alegria-de-viver/#.W4I4Yc5KjIU


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PALAVRA DA SALVAÇÃO (93)


21º Domingo do Tempo Comum – 26/08/2018

Anúncio do Evangelho (Jo 6,60-69)

— O Senhor esteja convosco.
— Ele está no meio de nós.
— PROCLAMAÇÃO do Evangelho de Jesus Cristo + segundo João.
— Glória a vós, Senhor.

Naquele tempo, muitos dos discípulos de Jesus, que o escutaram, disseram: “Esta palavra é dura. Quem consegue escutá-la?”
Sabendo que seus discípulos estavam murmurando por causa disso mesmo, Jesus perguntou: “Isto vos escandaliza? E quando virdes o Filho do Homem subindo para onde estava antes? O Espírito é que dá vida, a carne não adianta nada. As palavras que vos falei são espírito e vida. Mas entre vós há alguns que não creem”.
Jesus sabia, desde o início, quem eram os que não tinham fé e quem havia de entregá-lo. E acrescentou: “É por isso que vos disse: ninguém pode vir a mim, a não ser que lhe seja concedido pelo Pai”.
A partir daquele momento, muitos discípulos voltaram atrás e não andavam mais com ele. Então, Jesus disse aos doze: “Vós também vos quereis ir embora?” Simão Pedro respondeu: “A quem iremos, Senhor? Tu tens palavras de vida eterna. Nós cremos firmemente e reconhecemos que tu és o Santo de Deus”.

— Palavra da Salvação.
— Glória a vós, Senhor.

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Ligue o vídeo abaixo e acompanhe a reflexão do Pe. Paulo Ricardo:

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As palavras sempre rompem alguma coisa

Sieger Koder

“As palavras sempre rompem alguma coisa” (M. Yourcenar) 
“As palavras que vos falei são espírito e vida” (Jo 6,63)


Estamos no final do cap. 6 do evangelho de João. Chega a hora do desenlace; a alternativa é clara: abrir-se à verdadeira Vida ou permanecer enredados numa vida atrofiada. Não há neutralidade; no mundo de hoje “tomam-se mais decisões por não tomá-las (que já é uma decisão) do que por tomá-las”, por acomodação, por medo de mudança, por inércia, por deixar que as coisas sigam seu curso... 

Quê resultado teve a oferta de Jesus? Suas palavras entraram em choque com a mentalidade vigente; era inadmissível que uma pessoa pudesse comunicar uma mensagem tão exigente e tão libertadora. Suas palavras romperam visões distorcidas, mentalidades fechadas, modos arcaicos de viver, conservadorismo...

Também hoje corremos o risco de “adocicar” as palavras de Jesus para que não firam nossos pré-juizos. Com frequência, queremos transformar Suas Palavras de Vida em um conjunto de ritos, doutrinas, normas... para serem manipuladas segundo nossos critérios e nosso modo de viver. Mas, a Palavra de Jesus nos desestabiliza, nos desequilibra e questiona a normalidade doentia de nossa vida cotidiana. Às vezes, como os discípulos, também dizemos: “Esta palavra é dura. Quem consegue escutá-la?” 

No entanto, se queremos seguir Jesus, a única resposta possível deve ser um “sim” profundo, um “amém” decidido e generoso. Desejamos segui-lo e queremos ser como Ele; queremos abrir nossa vida à Palavra de Vida que nos sustenta e nos inspira; sentimos o forte impulso de caminhar com o Nazareno pela difícil e tortuosa estrada do povo de Deus na história. 

A “palavra dura” de Jesus, no evangelho deste domingo, deve nos inspirar a uma tomada de consciência do lugar e do valor das palavras em nosso cotidiano. Quantas palavras temos dito ou escrito hoje? Temos consciência do peso, da força que elas carregam? Vivemos saturados de palavras; elas nos assaltam através das canções, estão nos perfis virtuais, nos livros, em mil e uma conversações cotidianas. Falamos, dizemos, escrevemos, escutamos, lemos...  E de tanto usá-las, talvez elas acabem perdendo o sentido. Começamos a considerá-las de um modo tão natural que não nos damos conta do quanto elas significam. Então falamos, mas não vivemos. Palavreado crônico, desconectado da vida.

O desenlace do cap. 6 de S. João torna-se uma ocasião privilegiada de calar, de silenciar o palavreado, de deixar de abusar das expressões gastas... para retomar a palavra sincera, para recordar que a vida não é uma brincadeira, para que, quando voltemos a pronunciar, com delicadeza, palavras carregadas de sentido e de vida, possamos nos fazer conscientes da beleza, profundidade, promessa e compromisso que está por detrás de cada uma delas. Nesse sentido, para crer em Jesus é preciso ter fome: fome de vida e de justiça, que não fica satisfeita com palavras vãs, ocas e desprovidas de sentido.

Professamos que Jesus é a Palavra de Deus, uma Palavra sem a marca da falsidade ou do vazio, uma Palavra viva e vivida; Palavra autêntica, de amor e paixão pela humanidade. Pois, através da identificação com Jesus, também nós podemos ser palavra do mesmo Deus neste mundo. Uma palavra de amor, de sustento, de presença solidária... E eu, que palavra sou?

Sabemos que a palavra é uma das realidades humanas mais profundas: elas podem embalar ou golpear, ferir ou acariciar e curar. Sinceras ou falsas, pensadas ou espontâneas... são um de nossos maiores tesouros. Dizemos, escrevemos, lemos e compartilhamos palavras carregadas de vida ou de morte. A palavra, escrita ou falada, é a expressão mais perfeita de nosso pensamento, revela-nos ao mundo exterior e é traço de união de nossos recíprocos relacionamentos.

A palavra, no dizer de um pensador, é um poderosa soberana que realiza feitos admiráveis. Pode expulsar o temor, suprimir a tristeza, infundir alegria, dilatar a compaixão.  A palavra é fundamento de todo relacionamento humano. Serve para comunicar o que queremos, expressar sentimentos, argumentar, despertar... O mutismo e a negação da palavra constituem terras de desolação. Aprendemos com as palavras emprestadas de outros ou, quem sabe, também nós chegamos a dizer algo que fez a diferença para alguém.

Falamos, e na fala-escuta, nós nos encontramos e revelamos nossa identidade.

A palavra é meio divino para o encontro com todo o humano, e é sinal humano para acariciar e sonhar o divino. A palavra é lugar de encontro, de compromisso, de descanso, de ajuda, de luta, de consolo e de silêncio. Na palavra podemos chegar a ser tudo o que somos, ou podemos nos evaporar como o alento. Melhor falar com palavras que estendem pontes, encurtam distâncias e entrelaçam vidas. Melhor falar a partir do carinho, da ternura e do amor, aprendendo a reconhecer tanta bondade ao nosso entorno.

Com as palavras podemos sacudir as consciências, animar, levantar, entusiasmar, despertar desejos de arriscar-nos a viver a fundo; ou podemos desanimar, atrofiar, destruir, seduzir para fazer da vida um acontecimento trivial e sem sentido. É melhor calar aquilo que levanta muros e gera desconfiança e fraturas; é melhor calar o que envenena os sonhos e atrofia as vidas.

“As palavras que vos falei são Espírito e são vida” (Jo 6,63)

Para nós cristãos, trata-se de algo definitivo: a Palavra se fez carne. E compartilhou nossos caminhos, sentou-se em nossas mesas para revelar-se, para dar-se a conhecer, para despertar vida... Jesus foi o homem que movia com suas palavras vivas. É no encontro com a Palavra encarnada que brotam em nós palavras criativas, carregadas de esperança e de sentido. As palavras nos tocam e nos constituem.

Fora do percurso da palavra encarnada, vivemos intoxicados de palavras, ou seja, um amontoado de palavras mortas, sem carne, sem entranha, sem verdade, modelando seres adoecidos e desencarnados. A palavra tem um peso, porque sua ressonância permanece. Em tempos de “sociedade líquida”, também nossa palavra pode escorrer e evaporar-se. 

Hoje, muita gente prefere Snapchat a WhatsApp ou outras redes sociais porque o conteúdo se evapora em poucos minutos. É a volatilidade das palavras que desemboca na volatilidade da comunicação e da relação. Por isso, precisamos de um novo Pentecostes, ser penetrados pelo Espírito que nos leve a nos entender, apesar de falar línguas diferentes. 

É curioso: o evangelho diz com palavras muito simples e cotidianas as coisas mais profundas. Nós, com palavras complicadas e com jargões, que só os iniciados entendem, ou não dizemos nada significativo ou cobrimos o fato de não ter nada que dizer. No entanto, em nossa cotidianidade, são as simples palavras que nos ajudam a assumir os desafios da nossa existência. Não é que as outras grandes palavras sobrem. Mas é que essas palavras pequenas e simples são as que nos fazem sentir e saber-nos em caminho de Evangelho, de Reino de Deus. 

Que nossas palavras sejam sempre vivas! ...e a serviço da vida! 

Texto bíblico:  Jo 6,60-69

Na oração: As palavras, para que tenham sentido e função, para que não se tornem falsas nem dolorosas, deveriam passar pelo filtro da mente e do coração. Seguindo o conselho de S. Agostinho, as palavras deveriam antes passar pela lima que pela língua, para que cheguem à boca polidas pela inteligência e pelo amor.

- Considere sua história de vida e tente recolher delas as palavras que, espalhadas no chão de sua existência, foram criadoras de possibilidades e abertura sem limites.

- Quê palavras estão em excesso em seu falar? Quê seria melhor calar? Em quê seu falar é bem-dizer? Em quê circunstâncias da vida suas palavras são carícia, bálsamo, consolo? 

Pe. Adroaldo Palaoro sj


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