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sábado, 18 de abril de 2020

O AMOR - Gibran Khalil Gibran


            Então, Almitra disse: “Fala-nos do Amor”.


            E ele ergueu a fronte e olhou para a multidão, e um silêncio caiu sobre todos, e com uma voz forte, ele disse:

            “Quando o amor vos chamar, segui-o.

            Embora seus caminhos sejam agrestes e escarpados;

            E quando ele vos envolver com suas asas, cedei-lhe,

            Embora a espada oculta na sua plumagem possa ferir-vos;

            E quando ele vos falar, acreditai nele,

            Embora sua voz possa despedaçar vossos sonhos como o vento devasta o jardim.

            Pois, da mesma forma que o amor vos coroa, assim ele vos crucifica. E da mesma forma que ele contribui para vosso crescimento, trabalha para vossa poda.

            E da mesma forma que ele sobe à vossa altura e acaricia vossos ramos mais tenros que se embalam ao sol,

            Assim também desce até vossas raízes a as sacode no seu apego à terra.

            Como feixes de trigo, ele vos aperta junto ao seu coração.

            Ele vos debulha para expor a vossa nudez.

            Ele vos peneira para libertar-vos das palhas.

            Ele vos mói até a extrema brancura.

            Ele vos amassa até que vos torneis maleável.

            Então, ele vos leva ao fogo sagrado e vos transforma no pão místico do banquete divino.

            Todas essas coisas, o amor operará em vós para que conheçais os segredos de vossos corações e, com esse conhecimento, vos convertais no pão místico do banquete divino.


            Todavia, se no vosso temor, procurardes somente a paz do amor e o gozo do amor,

            Então seria melhor para vós que cobrísseis vossa nudez e abandonásseis a eira do amor,

            Para entrar no mundo sem estações, onde rireis, mas não todos os vossos risos, e chorareis, mas não todas as vossas lágrimas.

            O amor nada dá senão de si próprio e nada recebe senão de si próprio.

            O amor não possui e não se deixa possuir.

            Pois o amor basta-se a si mesmo.

            Quando um de vós ama, que não diga: ‘Deus está no meu coração’, mas que diga antes: ‘Eu estou no coração de Deus’.

            E não imagineis que possais dirigir o curso do amor, pois o amor, se vos achar dignos, determinará ele próprio o vosso curso.

            O amor não tem outro desejo, senão o de atingir a sua plenitude.

            Se, contudo, amardes e precisardes ter desejos, sejam estes vossos desejos:

            ‘De vos diluirdes no amor e serdes como um riacho que canta a sua melodia para a noite;

            De conhecerdes a dor de sentir ternura demasiada;

            De ficardes feridos por vossa própria compreensão do amor;

            E de sangrardes de boa vontade e com alegria;

            De acordardes na aurora com o coração alado e agradecerdes por um novo dia de amor;

            De descansardes ao meio-dia e meditardes sobre o êxtase do amor;

            De voltardes para casa à noite com gratidão;

            E de adormecerdes com uma prece no coração para o bem-amado, e nos lábios uma canção de bem-aventurança’.”


(O PROFETA)
Gibran Khalil Gibran

           
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Gibran Khalil Gibran - Poeta libanês, viveu na França e nos EUA. Também foi um aclamado pintor. Seus textos apresentam a beleza da alma humana e da Natureza, num estilo belo, místico, conseguindo com simplicidade explicar os segredos da vida, da alegria, da justiça, do amor, da verdade.
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VIDA E OBRA DE GIBRAN (1)

          Seu nome completo é Gibran Khalil Gibran. Assim assinava em árabe. Em inglês, preferiu a forma reduzida e ligeiramente modificada de Khalil Gibran. É mais comumente conhecido sob o simples nome de Gibran.

Nasceu em 6 de dezembro de 1883, de pais pobres, em Bicharre, na montanha do Líbano, a uma pequena distância dos Cedros milenares. Tinha oito anos quando, um dia um vendaval passa por sua cidade. Gibran olha, fascinado, para a natureza em fúria e, estando sua mãe ocupada, abre a porta e sai a correr com os ventos. Quando a mãe, apavorada, o alcança e repreende, ele lhe responde com todo o ardor de suas paixões nascentes: “Mas, mamãe, eu gosto das tempestades. Gosto delas. Gosto!” (Seu melhor livro em árabe será intitulado Temporais).

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