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sexta-feira, 17 de julho de 2020

ACADEMIA BRASILEIRA DE LETRAS COMEMORA SEU 123º ANIVERSÁRIO EM FORMATO VIRTUAL

A Academia Brasileira de Letras comemora seus 123 anos de fundação no dia 20 de julho, segunda-feira, em solenidade virtual. Em razão das restrições impostas pela pandemia, a cerimônia ocorrerá exclusivamente pela internet. O Acadêmico Alberto Venancio Filho será o orador oficial do evento, que contará com a participação virtual dos Acadêmicos Marco Lucchesi, Merval Pereira, Antônio Torres e Edmar Bacha, membros da atual Diretoria. Também serão disponibilizadas mensagens gravadas por diversos acadêmicos em alusão ao aniversário da ABL. Todo o conteúdo poderá ser acessado no site da instituição, a partir das 17h do dia 20 de julho.

Na ocasião, será apresentado ao público o Selo Comemorativo em homenagem aos 100 anos de nascimento do Acadêmico João Cabral de Melo Neto, produzido pela Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos. O presidente da ABL também discursará sobre importantes protocolos firmados em prol da leitura com instituições como a Marinha do Brasil e a Câmara dos Deputados.

Ao final da solenidade, haverá a apresentação da cravista Rosana Lanzelotte em um concerto especial, no qual executará a Sonata em sol maior de Sigismund von Neukomm.

Exposição
Outra ação promovida pela Academia Brasileira de Letras para a comemoração do seu aniversário será a disponibilização de uma exposição virtual em seu site. Realizada em uma reconstrução tridimensional da Biblioteca Acadêmica Lúcio de Mendonça, a mostra exibirá fotografias de cerimônias de posses de acadêmicos realizadas entre 1916 a 1969. O visitante terá a chance de apreciar registros raros de grandes nomes da ABL, como Assis Chateaubriand e Guimarães Rosa.


16/07/2020


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A DÁDIVA – Gibran Khalil Gibran

A dádiva

          Então, um homem opulento disse: “Fala-nos da Dádiva”

          E ele respondeu:
          “Vós pouco dais quando dais de vossas posses.
          É quando derdes de vós próprios que realmente dais.
          Pois, o que são vossas posses, senão coisas que guardais por medo de precisardes delas amanhã?
          E amanhã, que trará o amanhã ao cão ultra prudente que enterra ossos nas areias movediças, enquanto segue os peregrinos para a cidade santa?
          E o que é o medo da necessidade senão a própria necessidade?
          Não é o vosso medo da sede, quando vosso poço está cheio, a sede insaciável?
         
          Há os que dão pouco do muito que possuem, e fazem-no para serem elogiados, e seu desejo secreto desvaloriza seus presentes.
          E há os que pouco têm e dão-no inteiramente.
          Esses confiam na vida e na generosidade da vida, e seus cofres nunca se esvaziam.
          E há os que dão com alegria, e essa alegria é sua recompensa.
          E há os que dão com pena, e essa pena é seu batismo.
          E há os que dão sem sentir pena nem buscar alegria e sem pensar na virtude.
          Dão como, no vale, o mirto espalha sua fragrância no espaço.
          Pelas mãos de tais pessoas, Deus fala; e através de seus olhos, Ele sorri para o mundo.
          É belo dar quando solicitado; é mais belo, porém, dar sem ser solicitado, por haver apenas compreendido;
          E para os generosos, procurar quem receberá é uma alegria maior ainda que a de dar.
          E existe alguma coisa que possais conservar?
          Tudo que possuís será um dia dado.
          Dai agora, portanto, para que a época da dádiva seja vossa e não de vossos herdeiros.

          Dizeis muitas vezes: “Eu daria, mas somente a quem merece”.
          As árvores de vossos pomares não falam assim, nem os rebanhos de vossos pastos.
          Dão para continuar a viver, pois reter é perecer.
          Certamente, quem é digno de receber seus dias e suas noites é digno de receber de vós tudo o mais.
          E quem mereceu beber do oceano da vida, merece encher sua taça em vosso pequeno córrego.
          E que mérito maior haverá do que aquele que reside na coragem e na confiança, mais ainda, na caridade de receber?
          E quem sois vós para que os homens devam expor seu íntimo e desnudar seu orgulho a fim de que possais ver seu mérito despido e seu orgulho rebaixado?
          Procurai ver, primeiro, se vós próprios mereceis ser doadores e instrumentos do dom.
          Pois, na verdade, é a Vida que dá à Vida – enquanto vós, que vos julgais doadores, sois simples testemunhas.

          E vós que recebeis – e vós todos recebeis – não assumais nenhum encargo de gratidão, a fim de não pordes um jugo sobre vós e vossos benfeitores.
          Antes, erguei-vos, juntos com eles, sobre asas feitas de suas dádivas.
          Pois se ficardes demasiadamente preocupados com vossas dívidas, estareis duvidando da generosidade daquele que tem a terra liberal por mãe e Deus por pai.”
          
         
(O PROFETA)
Gibran Khalil Gibran

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VOLTA AO HOMEM E À NATUREZA

          Como explicar tal fenômeno?
          Um artigo desorientador de 13 de agosto de l965, a revista norte-americana Time atribui seriamente o êxito de O Profeta a certas expressões de amor nele contidas, e que facilitariam aos rapazes seduzirem as moças!
          O êxito de O Profeta repousa sobre bases muito mais sólidas.
          A primeira prende-se aos próprios temas nele tratados e ao quadro no qual são tratados.
          Os temas são de interesse humano universal: o amor, o casamento, a liberdade, a religião, os filhos, o trabalho, a morte e outros assuntos análogos.
          O quadro é o vasto e livre quadro da Natureza: embora Al Mustafa pregue na praça do mercado, temos a impressão, ao escutá-lo, de passear com ele nas florestas e nos prados. Porque ele apresenta sempre suas ideias sob a forma de cenas da Natureza e dos trabalhos do campos.
          E este retorno simultâneo à Natureza e aos assuntos básicos da Vida seduziu o leitor moderno pelo efeito do contraste.
          Numa época em que os artistas e escritores procuram temas não somente originais, mas sofisticados e além do nosso alcance, e em que abandonamos a Natureza e os trabalhos da Natureza, Gibran reabriu a barragem atrás da qual se acumulava nossa nostalgia inconsciente de outro tempo e outra vida.
          Em Jesus, o Filho do Homem, Gibran, falando dos sermões de Jesus, diz:
          “Ele contava uma história ou narrava uma parábola, e coisa iguais às Suas histórias e parábolas sido ouvida na Síria. Parecia tecê-las com as estações, como o tempo tece os anos e as gerações.
          Começava uma história assim: ‘Um lavrador foi ao campo para semear’.
          Ou assim: ‘Havia, certa vez, um homem rico, que possuía muitos vinhedos’.
          Ou assim: ‘Um pastor contou seu rebanho ao entardecer, e descobriu que faltava uma ovelha’.
          E tais palavras levavam Seus ouvintes ao mais cândido de si mesmos e ao mais remoto dos seus dias.
          No fundo, somos todos lavradores, e todos amamos os vinhedos. E nas pastagens de nossa memória, há um pastor, e um rebanho, e a ovelha perdida.
          E há a relha do arado, e o lagar, e o pátio de debulhar.”
          Não se pode analisar melhor a arte que o próprio Gibran aplicou em O Profeta. Ele também leva o leitor ao mais cândido de si mesmo e ao mais remoto dos seus dias. E ele também parece tecer suas parábolas com o fio do tempo e das estações.
          Eis o primeiro segredo do sucesso mundial de O Profeta.


APRESENTAÇÃO
Mansuor Challita

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