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domingo, 2 de fevereiro de 2020

ITABUNA CENTENÁRIA UM POEMA: Uma sevilhana pela Espanha – João Cabral de Melo Neto


Uma Sevilhana pela Espanha


No sol de mar do céu de Cádiz,
mediterrâneo e classicista,
que dá às coisas mais terrosas
carne de estátua ou peixe, vítrea,

ela seguia carne
do campo de Sevilha:
carne de terra adentro,
carnal, jamais marisca

___________
Durante essas ruas paris
de Barcelona, tão avenida,
entre uma gente meio Londres
urbanizada em mansas filas,

chegava a desafio
seu caminhar Sevilha:
que é levando a cabeça
em flor que fosse espiga.

____________
Dentro da vida de Madrid,
onde Castela, monja e bispa,
alguma vez deixa-se rir,
deixa-se ser Andaluzia,

logo se descobria
seu ter-se, de Sevilha:
como, se o riso é claro,
há mais riso em quem ria.

_____________
através túneis de museus,
museus-mosteiros que amortiçam
a luz já velha, castelhana,
sobre obras mortas de fadiga,

tudo ela convertia
no museu de Sevilha:
museu entre jardins
e caules de água viva.


(Serial, 1959-1961)

João Cabral de Melo Neto nasceu na cidade do Recife, a 6 de janeiro de 1920 e faleceu no dia 9 de outubro de 1999, no Rio de Janeiro, aos 79 anos. Eleito membro da Academia Brasileira de Letras em 15 de agosto de 1968, tomou posse em 6 de maio de 1969. Foi recebido por José Américo.

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PALAVRA DA SALVAÇÃO (168)

Apresentação do Senhor – Domingo, 02/02/2020

Anúncio do Evangelho (Lc 2,22-40)

O Senhor esteja convosco.
— Ele está no meio de nós.
— PROCLAMAÇÃO do Evangelho de Jesus Cristo  segundo Lucas.
— Glória a vós, Senhor.
Quando se completaram os dias para a purificação da mãe e do filho, conforme a lei de Moisés, Maria e José levaram Jesus a Jerusalém, a fim de apresentá-lo ao Senhor. Conforme está escrito na lei do Senhor: “Todo primogênito do sexo masculino deve ser consagrado ao Senhor”.
Foram também oferecer o sacrifício — um par de rolas ou dois pombinhos — como está ordenado na Lei do Senhor. Em Jerusalém, havia um homem chamado Simeão, o qual era justo e piedoso, e esperava a consolação do povo de Israel. O Espírito Santo estava com ele e lhe havia anunciado que não morreria antes de ver o Messias que vem do Senhor. Movido pelo Espírito, Simeão veio ao Templo. Quando os pais trouxeram o menino Jesus para cumprir o que a Lei ordenava, Simeão tomou o menino nos braços e bendisse a Deus: “Agora, Senhor, conforme a tua promessa, podes deixar teu servo partir em paz; porque meus olhos viram a tua salvação, que preparaste diante de todos os povos: luz para iluminar as nações e glória do teu povo Israel”. O pai e a mãe de Jesus estavam admirados com o que diziam a respeito dele. Simeão os abençoou e disse a Maria, a mãe de Jesus: “Este menino vai ser causa tanto de queda como de reerguimento para muitos em Israel. Ele será um sinal de contradição. Assim serão revelados os pensamentos de muitos corações. Quanto a ti, uma espada te traspassará a alma”.
Havia também uma profetisa, chamada Ana, filha de Fanuel, da tribo de Aser. Era de idade muito avançada; quando jovem, tinha sido casada e vivera sete anos com o marido. Depois ficara viúva, e agora já estava com oitenta e quatro anos. Não saía do Templo, dia e noite servindo a Deus com jejuns e orações. Ana chegou nesse momento e pôs-se a louvar a Deus e a falar do menino a todos os que esperavam a libertação de Jerusalém. Depois de cumprirem tudo, conforme a Lei do Senhor, voltaram à Galileia, para Nazaré, sua cidade. O menino crescia e tornava-se forte, cheio de sabedoria; e a graça de Deus estava com ele.
— Palavra da Salvação.
— Glória a vós, Senhor.
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Ligue o vídeo abaixo e acompanhe a reflexão do Padre Roger Araújo:

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Apresentação do Senhor: "Deus no colo"



“Simeão tomou o menino nos braços e bendisse a Deus” (Lc 2,28)

Neste ano, o 4º. dom. do Tempo Comum coincide com 02 de fevereiro, um dia de festa de Jesus e de sua mãe Maria; festa que é conhecida com vários nomes:
- Apresentação de Jesus no Templo, para ser oferecido a seu Deus; a humanidade, representada por Maria e José, “presenteiam” a Deus o maior dom que possuem, seu filho primogênito, a Luz das Nações;
- Purificação da mãe Maria, a quem Simeão revela seu destino sofredor e ativo de Mãe. Esta é a festa das sete dores que purificam e iluminam, quando são assumidas a serviço dos outros;
- Festa da Luz, dia das Candeias. Quarenta dias depois do nascimento de Jesus (fechando o ciclo do Natal), os cristãos (especialmente as mulheres) iam às igrejas com velas/candeias, dando graças pela vida.
Todos nós sabemos e experimentamos que o modo de agir Deus é discreto, silencioso. Ele se deixa encontrar no cotidiano e nas histórias simples.  O mundo está cheio de mistérios grandiosos que cobrimos com a rotina e as pressas. Falta-nos capacidade de assombro e pureza no olhar para captar o mistério do simples. Quando a realidade é vista tão somente com os olhos estreitos e interessados, perdemos a oportunidade de contemplar o rosto d’Aquele que se deixa encontrar em tudo e em todos. 
Todo o relato da Apresentação de Jesus no Templo está atravessado de cotidianidade, com a marca da simplicidade e dos olhares contemplativos. Aqui se faz visível uma festa de promessas cumpridas.  Simeão e Ana tiveram o privilégio de contemplar o Salvador, porque souberam esperar e permanecer. E porque souberam contemplar, viram na vulnerabilidade de um menino, o esperado de Israel. Podemos imaginar os rostos irradiantes e os olhos cheios de luz destes dois anciãos diante do Menino que lhes abre o futuro e alarga os seus sonhos!... 
O Nascimento de Jesus parece despertar os anciãos: Zacarias, o idoso que põe em dúvida a promessa de Deus; Isabel, aquela que concebe na velhice; José, aquele que não compreende o que está acontecendo, mas confia na palavra de Deus; Simeão, o homem que envelhece com a esperança de ver o Messias antes que a morte feche seus olhos; Ana, a profetisa, aquela que dá graças ao Senhor e proclama a todos o nascimento do Messias.
Nos relatos de Lucas, não são os sacerdotes do templo, nem os mestres da lei, nem os legitimados pela religião ou pelo poder social que falam ou reconhecem. Falam os pequenos, os pobres e os simples. Aqueles que não costumam ter palavra – pastores, ilegais, pagãos – são os que veem mais além, maravilham-se, reconhecem e confessam o Menino de Belém. É com eles que devemos estar, se queremos também reconhecer Jesus. 
Alguém poderia perguntar: por que tantos idosos(as) no Nascimento de Jesus? Infelizmente, não vivemos tempos favoráveis aos idosos; considerados “improdutivos” são “descartados”; para muitos, são só um estorvo.
E, no entanto, são eles(as) as testemunhas da esperança messiânica, as testemunhas das promessas do Espírito Santo, as testemunhas do futuro e do novo, as testemunhas da fé, as testemunhas de um caloroso entardecer da vida. Os anciãos e anciãs são aqueles(as) que mantém viva a memória de seu povo, mantém viva a continuidade da história; são eles e elas que sustentam em seus braços o novo que começa; são eles e elas que esquecem a nostalgia do passado, sorriem e cantam o nascimento do novo. Mesmo com sua visão limitada, são capazes de ver e reconhecer as surpresas e as maravilhas de Deus. 
Simeão é o ancião que soube esperar. Recebeu a promessa de não morrer sem ver o Messias. E hoje o vemos com o Menino Jesus em seus braços; ele sente sua vida realizada, reconhece o sentido de tudo o que viveu e agora pode soltar-se e abandonar-se em paz; a promessa foi realizada: “viu o Senhor”. 
Numa sociedade como a nossa, em constante tensão pelo “conflito de gerações”, a figura de Simeão torna-se curiosa e até simpática. Seus braços unem e abraçam o velho e o novo; seus braços apertam o passado e o presente; seus braços são o encontro entre o ontem e o hoje; seus braços, estreitando o menino, são a harmonia entre o que se vai e o que vem. 
Simeão não tem nada e, ao mesmo tempo, tem tudo: tem a promessa que alimentou sua vida de esperança até o final; tem os braços calorosos para acolher Deus neles e embalá-lo; e tem a alegria e o prazer de uma ancianidade feliz, realizada e cumprida. 
Ao ler-escutar o Evangelho deste domingo, também somos convidados a nos fixar em uma pessoa que passa quase desapercebida: Ana, a profetisa. Ela pode nos ensinar a ser profetas e profetisas dos buscadores da Vida em um mundo tão desafiante como o nosso, onde, muitas vezes, nos sentimos pequenos, incapazes, pobres..., mas também afortunados, livres, discípulos e discípulas d’Aquele que sabe quem somos e por isso nos elege, nos chama, nos convoca a fazer caminho com Ele.
Ana revela uma presença muito discreta, no templo; mas está atenta a tudo o que ali acontece. Ela não faz ruído, passa longas horas em silêncio, sua vida não tem maior relevância social e religiosa... Lucas só dedica três versículos para revelar o perfil de Ana, e neles somos informados que era “profetisa”, “anciã” e possuidora de um nome significativo: “Ana” vem do verbo “hanan” que em hebraico significa “agraciar”, “favorecer”, e aparece vinculada a um passado marcado por nomes benditos: “Fanuel” significa “rosto de Deus” e “Aser” significa “feliz” ou “afortunado”; mas, o fato de ser viúva desde jovem a associa irremediavelmente a uma situação de perda, vazio e carência. E aqui, aparece vinculada ao templo e dedicada assiduamente ao serviço de Deus. 
Mas, de uma maneira imprevista, sua vida deu um grande salto ao aproximar-se de outro ancião, Simeão, precisamente no momento em que este tinha tomado nos braços um menino, filho de uns pobres e desconhecidos galileus, chamando-o salvador, luz e glória. Junto aos pastores de Belém, Ana recebe as primícias da presença de Jesus, e seu nome de “Agraciada”, que possuía só como promessa, se faz realidade nela; e a partir desse momento, com todo seu ser reverdecido e os olhos cheios de luzes (candeias), dava “graças a Deus e falava do menino a todos os que esperavam a libertação de Jerusalém”. 
A liturgia deste domingo apresenta-se como ocasião privilegiada para nos recordar que a velhice é uma etapa da vida, com suas limitações e problemas, mas também com suas grandes possibilidades. Não podemos negar o desgaste e os problemas que o passar dos anos traz consigo, mas, ao mesmo tempo, inspirados nos idosos Simeão e Ana, somos motivados a não esquecer que a velhice é a etapa que nos oferece a possibilidade de coroar nossa vida. 
O decisivo é adotar uma postura aberta e positiva diante da última etapa da vida. “Vivê-la positivamente como a culminação da vida, como a etapa sem a qual a vida ficaria inacabada, inconclusa” (L. Diez). Segundo o Papa Francisco, a pessoa idosa pode viver com mais sabedoria e sensatez, para relativizar, inclusive com humor, muitas coisas que antes dava tanta importância; a ancianidade é tempo para recordar (visitar de novo com o coração) o essencial; o tempo para a quietude e a contemplação; é o tempo para viver mais devagar, sem pressas, encontrando-se consigo mesmo com mais profundidade; é o tempo de desfrutar de maneira mais sossegada cada experiência, cada pessoa, cada encontro. 
Frente a uma vida fragmentada e dispersa, o ancião e a anciã estão em melhores condições de unificar e integrar sua existência. Esta última etapa da vida se converte em tempo de graça e salvação pois pode contar sempre com a presença e o auxílio amoroso d’Aquele que é o Senhor dos tempos.

Texto bíblico:  Lc 2,22-40 
Na oração: Precisamos de homens como Simeão e mulheres como Ana, da tribo dos que estão reconciliados com sua própria vida; pessoas com uma presença benevolente e carinhosa para tudo o que lhes rodeia. Com olhos expandidos por dentro, eles puderam perceber a salvação de um modo muito diferente do que haviam imaginado.
- O gesto de Simeão nos é proposto a todos, e todos os dias: bendizer a vida nova nos outros.
- Seu cotidiano, no Templo da vida, tem a marca do bem-dizer ou do mal-dizer, da gratidão ou da queixa...?

Pe. Adroaldo Palaoro sj
Itaici-SP

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