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quinta-feira, 24 de outubro de 2019

DANDO AS COSTAS PARA SÃO PIO X – Péricles Capanema


23 de outubro de 2019
Péricles Capanema

Vou tratar tema relevante, que já não transita nas manchetes. Justifico-me, o assunto tem importância perene, vale mais que notícias palpitantes, tantas vezes irrelevantes e efêmeras. Mais ainda, no Brasil tem atualidade candente, por baixo desde uns 40 anos, infelizmente para vergonha, desgraça e tristeza dos católicos.

Com efeito, CNBB, CPT, CIMI e entidades afins têm sido pertinazes companheiros de viagem das mais radicais correntes revolucionárias que sem trégua trabalham para arruinar o Brasil. As entidades acima referidas, nascidas no seio da Igreja Católica, de há muito bamboleiam pateticamente atrás das bandeiras de luta do PT, PC do B, MST. Lá na ponta, se tiverem êxito, vão conseguir transformar o país numa Cuba, numa Venezuela, numa Coréia do Norte, paraísos, como todos sabem, dos pobres (e dos quais, por razões desconhecidas, lutam por todos os meios para escapar).

Tem muito de misterioso essa obstinação de amplos, por vezes decisivos, setores eclesiásticos por causas gritantemente ateias e flagelo contínuo para os pobres. Presenciamos décadas de terrificante opção preferencial pela miséria (moral e material). Não espanta, muitos anos atrás, Paulo VI denunciou que a Igreja padecia “misterioso processo de autodemolição” (1968) e que “por alguma fresta, a fumaça de Satanás” (1972) havia penetrado n’Ela.

Vou tratar de tema relevante, disse acima, está no sermão de 12 de outubro último, proferido por Dom Orlando Brandes, arcebispo de Aparecida. As palavras do Arcebispo, permitam-me o desabafo, despejadas sobre os ouvintes em cambulhada, são um charivari desconexo. Em nada evocam o Padre Antônio Vieira, “o imperador de nossa língua”, na bonita afirmação de Fernando Pessoa, nem ecoam os ditos do inteligente e culto Dom Geraldo Penido, cuja mesa frequentei, antecessor seu na sede episcopal.

Recordam contudo, é quase forçoso o paralelo, a confusão mental da ex-presidente Dilma Rousseff quando se metia em improvisos. Aqui vai uma proposta dela, exposta em Nova York, para auditório que a ouvia com horror divertido. “Até agora, até agora, a energia hidroelétrica é a mais barata. Em termos do que ela dura, da sua manutenção e também pelo fato da água ser gratuita. I da genti podê istocá. Cê, o vento podia sê isso também, mas ocê num conseguiu ainda tecnologia pra istocá vento. Então se a contribuição dos outros países, vamos supô que seja, desenvolver uma tecnologia que seja capaz de na eólica istocá, ter uma forma docê istocá, porque o vento ele é diferente em horas do dia, então vamos supô que vente mais à noite, cumé queu faria pra istocá isso. Hoje nós usamos as linhas de transmissão, cê joga de lá pra cá, de lá pra lá, pra podê capturá isso, mais si tivé uma tecnologia desenvolvida nessa área, todos nós nos beneficiaremos, o mundo inteiro”

Transcrevo alguns extratos do sermão do arcebispo de Aparecida para não pensarem que exagero (a íntegra está na rede): “Primeira leitura: órfã, adotada, pobre e principalmente, vivendo fora do seu país, exiliada, e se tornou rainha, esperança para os pobres. […] Pequenina, eu sou a pequena serva do Senhor, se tornou então rainha do Brasil. […] . Mãe Aparecida, precisamos sim da vida ecológica, da vida natural, da casa comum, bendito seja o Sínodo da Amazônia, que está pensando na vida daquelas árvores, daqueles rios, daqueles pássaros, mas principalmente daquelas populações. […] A mãe quer vida intrauterina, porque ela é a Imaculada Concepção.” Chega, né?

Coloco agora o texto que desejo em particular reproduzir e comentar rapidamente: “A segunda leitura mostrou o dragão. É claro que nas escrituras o dragão é o demônio, é o dragão, é o diabo, é o mal que se organiza no mundo. […] Temos o dragão do tradicionalismo. A direita é violenta, é injusta, estamos fuzilando o Papa, o Sínodo, o Concílio Vaticano Segundo. Parece que não queremos vida, o Concílio Vaticano segundo, o evangelho, porque ninguém de nós duvida que está é a grande razão do sínodo, do concílio, deste santuário, a não ser a vida, como já falei.” Como se vê, o orador empilha numa montoeira confusa várias realidades distintas, mas o objetivo fica claro: odeia o tradicionalismo, odeia a direita.

Contrasto o texto perturbador do confuso arcebispo de Aparecida com a clareza apaziguadora de um bispo como ele — São Pio X (1835-1914) — que ascendeu ao Trono de São Pedro e de lá iluminou o mundo com seus ensinamentos e santidade: “De todos os tempos, a Igreja e o Estado, em feliz acordo, suscitaram para isto organizações fecundas; que a Igreja, que jamais traiu a felicidade do povo em alianças comprometedoras, não precisa livrar-se do passado, bastando-lhe retomar, com o auxílio de verdadeiros operários da restauração social, os organismos quebrados pela Revolução, adaptando-os, com o mesmo espírito cristão que os inspirou, ao novo ambiente criado pela evolução material da sociedade contemporânea; porque os verdadeiros amigos do povo não são revolucionários, nem inovadores, mas tradicionalistas”. Constam da “Notre Charge Apostolique”, orientação atemporal para todos os fiéis, em especial para os católicos franceses.

Os revolucionários, adverte o Papa santo, não são amigos do povo, oportuna lembrança para a CNBB. O Pontífice não queria ver os bispos traindo a “felicidade do povo em alianças comprometedoras”. A admoestação seguinte contrasta com o que proclamou Dom Orlando Brandes: “os verdadeiros amigos do povo não são revolucionários, nem inovadores, mas tradicionalistas”. Contudo, para decepção nossa, parece que Dom Orlando deu as costas para São Pio X.

Termino. Tema relevante? Da maior importância. Tivéssemos entre nós vivo o ensinamento do santo Pontífice e, para felicidade do povo, seria inteiramente outra a história do Brasil.




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ABL HOMENAGEIA OS 100 ANOS DE NASCIMENTO DOS ACADÊMICOS ANTONIO OLINTO E SERGIO CORRÊA DA COSTA EM MESA-REDONDA ESPECIAL


A Academia Brasileira de Letras realiza Mesa-Redonda especial, intitulada Centenários, com palestras dos Acadêmicos Arnaldo Niskier e Carlos Nejar, que irão homenagear os 100 anos de nascimento dos Acadêmicos Antonio Olinto (1919-2009) e Sergio Corrêa da Costa (1919-2005). Sob a coordenação do Acadêmico Alberto Venancio, o evento será realizado na terça-feira, dia 29 de outubro, às 16h, no Salão Nobre do Petit Trianon, Avenida Presidente Wilson, 203 – Castelo, Rio de Janeiro. Entrada franca.
Os Acadêmicos
Arnaldo Niskier é membro da Academia Brasileira de Letras desde 1984, tendo sido presidente da ABL em dois mandatos. Professor aposentado de História e Filosofia da Educação da Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Doutor em Educação pela UERJ, foi membro do Conselho Federal de Educação, do Conselho Estadual de Educação e do Conselho Nacional de Educação, Secretário de Estado do Rio de Janeiro por quatro vezes. Sócio correspondente da Academia das Ciências de Lisboa, é autor de mais de 100 livros, especialmente sobre educação. Presidente do CIEE/RJ é colaborador com artigos publicados em vários jornais do país.
Carlos Nejar, gaúcho, de Porto Alegre, considerado “poeta da condição humana”, Porto Alegre, considerado “poeta da condição humana”, por inúmeros estudiosos, e um dos 37 escritores chaves do século, entre 300 autores memoráveis, no período compreendido de 1890-1990, segundo livro do ensaísta suíço Gustav Siebenmann (Poe-sia y poéticas del siglo XX en la América Hispana y El Brasil, Gredos, Biblioteca Románica Hispánica, Madrid, 19970). Inventor de cosmologias , segundo César Leal. Também é ficcionista e crítico, sendo autor da História da Literatura Brasileira ( em 3ª edição) . Publicou toda a sua poesia em dois volumes, A Idade da Noite e A Idade da Aurora (Ateliê editorial), com ampliação em 2009, A Amizade do mundo e a Jovem Eternidade (editora Novo Século). Editou vários romances, entre eles,Carta aos Loucos, Riopampa ( ou o Moinho das Tribulações), Prêmio Machado de Assis, de ficção,da Fundação da Biblioteca Nacional,(2001), O Evangelho Segundo o Vento , A Engenhosa Letícia do PontalO Poço dos Milagres( Prêmio da Associação Paulista de Críticos de Arte), Matusalém de Flores e O Feroz Círculo do Homem. No ano de 2016, editou O Monumento ao Rio Doce, a maior tragédia ecológica do Brasil, em poema único. E pela Bem-te-vi, Quarenta e nove casidas e um amor desabitado. Com várias traduções no Exterior, estudado nas universidades, pertence à Academia Brasileira de Letras, à Academia Brasileira de Filosofia, ao Pen Clube do Brasil, além de Membro Honorário da Academia de Letras de Brasília.

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