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quinta-feira, 30 de abril de 2020

BISPO ITALIANO: “6 MILHÕES DE ABORTOS TAMBÉM SÃO UMA PANDEMIA!”


QUARTA-FEIRA, 29 DE ABRIL DE 2020 - 19:30 - IGNEWS

Legalizar o aborto não o torna moralmente aceitável, afirma dom Alberto Maria Careggio

Dom Alberto Maria Careggio, bispo emérito da diocese italiana de Ventimiglia e Sanremo, afirmou que os 6 milhões de abortos legalizados que são perpetrados por ano em todo o planeta também são uma pandemia a ser combatida.O site da diocese publicou um artigo em que dom Alberto declara:

“Quanto tempo vai durar a pandemia do coronavírus não é possível saber, nem durante quantos dias ainda teremos que ouvir o boletim das mortes, dos infectados e dos recuperados. E se o mesmo fosse feito em relação aos mais de 6 milhões de abortos legalizados em todo o mundo? Essa também é uma pandemia, que mata a consciência daqueles que a praticam e a dos governantes que, ao legislar, pretendem eliminar o horror do assassinato.

Legalizar não significa de modo algum moralizar uma ação que é contra a vida: dizem popularmente que o aborto clama por vingança diante de Deus – e é isso mesmo!

O heroísmo de todos aqueles que fazem o possível para salvar a vida dos outros arriscando a própria é mais edificante. O mal não tem a última palavra. Da catástrofe e dos escombros desta pandemia devemos esperar o despertar desses valores humanos e cristãos de amor e solidariedade, de altruísmo e generosidade, de compaixão e ternura, adormecidos, mas não desaparecidos: são e continuam sendo a marca da mão de Deus, que quis criar o homem à Sua imagem e semelhança”.

Fonte: Redação da Aleteia  https://pt.aleteia.org 


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quarta-feira, 29 de abril de 2020

CENTENÁRIO DE WILSON LINS - Aramis Ribeiro Costa

Centenário de Wilson Lins

Aramis Ribeiro Costa*


            Não fosse essa tragédia que se abateu sobre a humanidade em forma de vírus, e certamente a Academia de Letras da Bahia estaria celebrando, com pompas e circunstâncias, o centenário de nascimento de Wilson Lins. A data é 25 de abril, mas o ano nem sempre foi um ponto pacífico na biografia do jornalista, político, escritor e acadêmico. É que havia, na primeira metade do século passado, o costume de se alterar a data do nascimento em documentos e informações biográficas, para atender a certas circunstâncias, como, por exemplo, matricular-se em curso superior, emancipar-se, casar-se, e tantas outras coisas. E o resultado é encontrarmos uma quantidade surpreendente de pessoas que, durante toda a vida, tiveram duas datas de nascimento, a verdadeira, oculta, e a inventada, a servir aos interesses.

              Não sei o que aconteceu com a data de nascimento de Wilson Lins, qual o motivo da duplicidade. O fato é que o ano de 1919 aparece em vários verbetes e informativos biográficos como o ano do seu nascimento. Não foi por outro motivo, aliás, que publiquei um longo artigo intitulado “O Escritor Wilson Lins” na Revista da Academia de Letras da Bahia nº57, trazendo, no pé da página, a informação de que se tratava de “uma homenagem do autor ao centenário de nascimento do acadêmico Wilson Lins, nascido em 25 de abril de 1919”. Mas era engano. Meu e de muita gente. Wilson nasceu, na verdade, em 1920.

 Wilson Mascarenhas Lins de Albuquerque baiano de Pilão Arcado, foi uma dessas personalidades que, no seu tempo, dispensava qualquer apresentação. Tornou-se, muito moço, redator-chefe do jornal O Imparcial, de propriedade do seu pai Franklin Lins de Albuquerque, quando também se fez cronista político. Fechado O Imparcial, passou a exercer o jornalismo no Diário de Notícias, depois no Diário da Bahia e, finalmente, em A Tarde. Os mais velhos ainda devem se lembrar de Rubião Braz, o pseudônimo que fazia tremer os políticos da época com sua mordacidade e sua aguda ironia.

               Do jornalismo passou à política, tendo sido deputado estadual por mais de uma legislatura, presidente da Assembleia Legislativa de Bahia, secretário de Educação e presidente do Conselho Estadual de Cultura da Bahia. Na Academia de Letras da Bahia, para a qual foi eleito em 1967, ocupou a Cadeira número 38.

               Não fora eleito para a casa das letras por acaso. Mais do que um notável da Bahia, tratava-se de um de seus maiores escritores. A obra que publicou em livro é considerável e diversificada, passa por coletâneas de crônicas, ensaios, uma novela, memória, mas, principalmente, é alicerçada em seis romances, cinco dos quais poderiam figurar, sem nenhum favor, no cânone da literatura brasileira, como exemplares no seu gênero.

                E, de fato, o são. Os Cabras do CoronelO Reduto, Remanso da ValentiaResponso das Almas e Militão sem Remorso, romances de coronéis e jagunços, recriam uma dura realidade do sertão baiano no início do século passado, realidade que fez parte da infância do autor, filho de pai coronel. Não fossem as inexplicáveis barreiras que impedem a divulgação, para o resto do país, da literatura produzida na Bahia, ao menos daqueles que daqui não saem, e esses cinco romances de Wilson Lins estariam no catálogo nacional, ao lado dos de Jorge Amado, Adonias Filho e Herberto Sales, o que vale dizer, ao lado do que melhor se fez nesse gênero, na literatura brasileira e em qualquer outra.

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*Aramis Ribeiro Costa é ficcionista, poeta e orador de primeira linha, fazendo uso da palavra serena e atraente. Membro efetivo da Academia de Letras da Bahia, na qual exerceu o mandato de presidente por duas temporadas.


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terça-feira, 28 de abril de 2020

TEMPO DE PANDEMIA... OU DE TRAVESSIA? - Ir. Helena T. Rech


Estou completando 71 anos de vida. Não sei se são muito ou poucos anos? Só sei que estes anos os vivi intensamente e, muito eu aprendi com a vida...

Neste tempo que chamo de travessia, outros dizem que é pandemia e, há ainda quem diga que é o “fim do mundo”, que o Anti-Cristo vai chegar e tudo consertar... outros dizem ser a Terceira Guerra Mundial, sem armas de fogo, sem bombas terríveis... Esta guerra do “Corona Vírus”, não será vencida com armas nucleares, mas com amor, cuidado com a vida, solidariedade, investimento na ciência e na saúde, infra estrutura hospitalar, dedicação de nossas agente de saúde e humanidade.

Eu acredito que é tempo de mudar. Mudar nosso jeito de pensar, de se relacionar; de amar, de se doar, de acreditar e até de rezar ou se olhar; sentar lado a lado no sofá, na mesa, na sala... tempo de compartilhar sentimentos, medos, sonhos e esperanças... é tempo de resignificar a vida, o saber, o isolamento e o sofrimento... Saber calar, silenciar e sem muito entender ou questionar tempo de simplesmente contemplar a vida, as pessoas, as ruas vazias, as lojas fechadas por causa da pandemia, da quarentena... tudo isso é para mim, e para você, tempo de renascer e reaprender a VIVER. Redescobrir o belo da vida, o lado lúdico de cada um... olhar pro céu e ver que ele está mais azul... O pôr-do-sol encantador que vai se despedindo no horizonte num bailado de corres fascinante. E isso não é fantasia. É o mais belo presente que o universo nos dá. Como se não bastasse isto... e a chuva de meteoros que aconteceu nestes dias de quarentena? Tantas reportagens nos mostraram que durante o isolamento a natureza é mais feliz, as águas dos oceanos e dos rios estão mais límpidas e transparentes. Estou sentindo que dentro de minha casa e o ar que respiro e o ambiente físico tem menos poluição.

O mais interessante é que na “travessia/epidemia”, a verdadeira sabedoria do isolamento social, nos ajudará a entender que os voos cancelados, as viagens interrompidas, as escolas, universidades, academias e parques fechado... nos aponte que a grande viagem que devemos fazer é pra dentro de nós mesmos. Na interioridade de nosso coração há um lindo “jardim secreto” onde podemos passear
com nossos amigos e amigas, conversar, descansar, sonhar. Em nosso coração existe o mais lindo “santuário” onde posso estar com Deus Trindade em qualquer hora, sem sair de casa, sem buscar um templo ou igreja, hoje fechados.

Em todas as línguas a palavra mais falada é essa mesmo “CASA”...
Sim. “CASA” = moradia, “Casa Comum”, o Planeta. Casa sou eu, é você. Somos todos nós casa habitada pela Trindade, pela vida, pelas pessoas, por sentimentos de todos os tipos, pelo amor, egoísmo, ódio, gratuidade, solidariedade, abertura, alegria. Pois é, não será este o tempo de nos “habitar” de verdade? Estar conosco... visitar nosso "jardim secreto”, contemplar nosso interior? Escutar nossos sentimentos... fazer uma grande faxina em nossa casa interior, para ficar só com aquilo que realmente vale? Deixar o que não serve para nada, a não ser para nos manter doentes, rancorosos, fechados, amargos... quem sabe expulsar os vírus: egoísmo, orgulho, auto-suficiência, consumismo...?

Que tempo fecundo é esse que vivemos!... Estamos “abrigados” em nossas casas. Tão raro esta oportunidade de estarmos juntos, gastar tempo, olhar olho no olho... conversar. Façamos a travessia!

É tempo de “travessias” da “pandemia” para a vida de verdade. De acolhida, cuidado, descobertas, convivência, despojamento. Quantas vezes desejamos e, poucas vezes conseguimos deixar o trabalho, desacelerar o ritmo, parar, curtir, descansar, sonhar o novo... Simplesmente viver em “nossa casa”, estar conosco mesmos.

Vamos qualificar e significar este tempo precioso e singular. Quem sabe único.


Ir. Helena T. Rech, STS
São Paulo, 25 de abril de 2020

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HOJE, HORAS APÓS O QUE ACONTECEU ENTRE BOLSONARO E MORO...


... com a poeira baixa, tive tempo de pensar com mais calma e me dei conta de quantos anos luz a Esquerda, com auxílio da Nova Ordem Mundial, está a nossa frente em planejamento.... Eu explico:

Lembro de Bolsonaro arrastando multidões pelo Brasil, de Norte a Sul, mesmo como Deputado; e as visitas que George Soros fez a Fernando Henrique Cardoso no mesmo período...

A imprensa que escondera o Foro de São Paulo por mais de 15 anos não deu destaque as essas visitas do Líder da Nova Ordem ao passo abafava qualquer reportagem sobre o crescimento de Bolsonaro.

Era claro que aquele Ex-Militar ia dar trabalho e atrapalhar os planos de escravizar a Nação Brasileira, já que ele não entrava nos círculos dos conspiradores... Mas como interromper ou evitar que o povo amasse aquele personagem tão parecido com ele? Já haviam eliminado vários opositores mas acharam que desta vez era melhor usar armas diferentes, como por exemplo a imprensa que o massacraria com falsas acusações...Pelo menos naquele momento acharam melhor não matá-lo.

Eleições se aproximando e aquele Capitão do Exército só crescia nas pesquisas e no coração do povo... FHC recebeu mais algumas visitas de seu patrão George Soros para receber instruções... Precisavam de um plano maior do que apenas usar a Militância, a Mídia e seus marionetes dentro do Congresso e Câmara... Precisavam urgentemente criar uma figura que se igualasse ao Capitão Bolsonaro , mesmo que fosse pelo menos na admiração do povo, Mas quem seria esse personagem se todos os nomes mais populares já haviam perdido suas máscaras e não conseguiam a mesma sintonia com a população?

Precisavam de alguém que tivesse dentro de si os Ideais Progressistas e fosse admirado por desempenhar bem sua função… Sim precisavam de alguém influente como um Juiz que fosse alinhado com o Progressismo e tivesse amizades capazes de convence-lo a iniciar a empreitada de se igualar ao Capitão do Exército que tomava o coração do povo de assalto…

Lembro que o Capitão também mostrava admiração pelo personagem escolhido pelos conspiradores e até tentou cumprimentá-lo ao cruzar com ele num Aeroporto… Mas o Juiz, assim como os conspiradores, o desprezava e se recusou a cumprimentá-lo…
Será que vai dar tempo de parar esse Capitão? Se perguntavam os conspiradores… A ala radical dentre eles decidiu não esperar e decidiram matá-lo como fizeram com outros desafetos... Veio a facada... Mas o que é isso? Como ele foi capaz de sobreviver e estar saindo da situação mais forte ainda? Atenção, voltem ao plano original, mandem o Juiz ligar para o hospital e se desculpar do incidente no Aeroporto e se oferecer para visitá-lo… O Juiz precisava entrar naquele Palácio da Presidência de alguma forma mesmo que fosse como Ministro ou algo assim…Se não conseguissem vencer o Capitão nas eleições que se aproximam, pelo menos teriam um trunfo próximo dele quando precisassem…

E assim foi feito… Desde a eleição do Capitão , tudo que tem sido feito com a ajuda da Mídia, tem sido para diminuir a imagem de Bolsonaro e fortalecer a do Juiz Moro que conseguiu sim, não só’ a admiração de grande parte da população, como também o mesmo nível de amor que o povo tem pelo Capitão.. A Lava-jato milagrosamente começa a prender criminosos poderosos e contando até com votos do próprio STF… Entende agora as condenações de Lula? E claro que ninguém nunca viu Lula atrás de grades reais, e era um sacrifício necessário arriscar a divulgar uma pequena parte dos crimes cometidos pelo molusco… Colocariam Lula num hotel confortável e chamariam de prisão domiciliar… Eu desafio que haja um brasileiro sequer que tenha visto Lula atrás de grades reais…

O resto acho que não preciso explicar…. Com os ataques coordenados de Rodrigo Maia, Alcolumbre e STF também começando a não dar certo, e a popularidade do Presidente eleito só crescendo, os Conspiradores viram que era hora de usarem seu trunfo…. Grande parte da população virou as costas para o Capitão por causa da saída de Moro e finalmente o Plano que começou com as visitas de George Soros a FHC parece estar funcionando…. A população está confusa e indignada por ver o amado Juiz sair do cargo, e nem se deu conta de que aquele personagem, símbolo de honestidade, está mostrando uma outra face, fazendo acusações que fortalecem as conspirações de Maia, Alcolumbe e STF e se igualando até mesmo a seres desprezíveis como o pretenso jornalista Verdevaldo ao dar print de conversas e entregar para o jornalismo porco da Rede Globo

Sim, os esquerdopatas estão séculos a nossa frente em planejamento e organização, a ponto de nos levar a fazer o trabalho sujo para eles, ajudando a destruir o único político em mais de 100 anos que verdadeiramente se preocupa com o Brasil e seu povo…

Sinto nossa chance de liberdade escorrendo entre os dedos…. Ou colocamos nossa cabeça no lugar e apoiamos Bolsonaro, ou os conspiradores irão vencer e dessa vez será sem volta… Espero sinceramente que pensem nisso e compartilhem com seus amigos… Se não concordarem com meus argumentos apenas ignorem e voltem a dormir…

Ayres 
Abril 2020

(Recebi via WhatsApp)


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segunda-feira, 27 de abril de 2020

O PÁSSARO DO POETA HÉLIO NUNES – Cyro de Mattos


O pássaro do poeta Hélio Nunes
Cyro de Mattos


          Foi com a imagem do pássaro que canta o amanhã justo, o amor da amada com a sua carga de ternura constante, o desejo de um mundo para o filho sem as marcas amargas do presente, que o jornalista e poeta Hélio Nunes teceu e aconteceu seu canto no único livro publicado de poesia. Com capa de Santa Rosa, Pássaro do amanhã é como  canto preso na alma, como diz o poeta, “e ele canta por minha boca.”

          Esse pássaro canta pelo amor, o sentimento mais belo,  pela liberdade,  o mais forte,  pela ternura, que está na infância, pela solidariedade aos meninos abandonados de rua, aos adultos que estão presos e não têm  dinheiro para contratar advogado. Se a esperança veste a ternura  com o sorriso da flor, o canto que veste os versos de Hélio Nunes  é revestido de palavras que se abraçam como velhas amigas, nutre-se do brilho das estrelas,  do enlevo na sua tristeza lírica, como quando o poeta vê o tempo passando enquanto navega em barquinhos de papel da doce infância.
  
          Hélio Nunes produz o poema com este sentimento forte do amor, decorrente de  sonhos  que  propõem a vida com braço ao abraço, sem a escuridão da matéria  que prende o dia claro na noite de estrelas apagadas. Mas também marcado por esse desejo de mudanças,  que extirpem as desigualdades, as doenças  sociais alimentadas com a pobreza para o sobejo das corrupções. Não é uma poesia panfletária, pelo contrário, dotada de linguagem fácil,  a  ideia nada tem de artificial. Impressiona com o seu grito, sua verdade na  palavra escrita com fogo, daí que pode ser lembrada em companhia de poetas do timbre de Thiago de Melo e Moacir Félix.

          No antológico poema “Liberdade”,  Hélio Nunes diz de seu entendimento  sobre o que significa palavra tão cara:  O vento corre,  corre,/ cochicha pelos roseirais, / pelos caminhos levanta pó, /pelos ares arvora bandeiras / raivosas de espumas. /Liberdade – o vento foi feito para correr. //A águia voa, voa, /traça no espaço azul /audaciosas linhas /de uma geometria que ainda /Einstein não estudou./ Liberdade – a águia foi feita para voar.//Além um homem falava/ de igualdade e justiça./Tinha nos olhos o mesmo brilho/ de uma estrela matutina./Liberdade – o homem nasceu para pensar.

          Vê-se assim que poucos poetas trataram o tema com o toque de simplicidade, força verdadeira de versos traçados com sons da alma e cores da vida.

          Ele foi um poeta de seu tempo e lugar. Cantou as primeiras  aventuras siderais do homem. Ofertou sorrisos e flores à amada Valquíria,  a companheira  verdadeira, a mulher de fibra  e resignada, com ela teve cinco filhos. De dia como jornalista combativo, à noite construtor de devaneios e sonhos. Certo  é que o livro Pássaro do Amanhã, há tempos raridade bibliográfica, pelo seu conteúdo lírico, desejos límpidos que não são imposições,  cantares que comovem, falares  de atualidade até hoje,   como obra literária e conteúdo humano calcado na  vida sem distorções gritantes  merece ser reeditado. Alguns de seus poemas participam da antologia  Poesia Moderna da Região do Cacau, (1977),  organizada por Telmo Padilha.

          Natural de Aracaju, Hélio Nunes nasceu no dia 17 de abril de 1931.  Fugindo da perseguição policial em 1952, passando por  Cachoeira de São Félix,  veio fixar residência em Itabuna, onde fundou uma gráfica e o “Jornal de Notícias”,  que apresentou em suas páginas uma linguagem diferente  do provincianismo de outros veículos de imprensa locais. Foi também  professor da Escola de Contabilidade local. Fez um manifesto sobre a situação deplorável de crianças que dormiam na rua.

          Perseguido pelo regime  militar de 1964, teve que vender a gráfica por preço insignificante. Fez concurso para escrivão e foi morar sozinho  em Itororó,  naquela comarca  distante de sua residência familiar fez-se eficiente  funcionário da justiça.   Continuou sendo perseguido pelo regime militar,  vítima de processos intermináveis, longe da esposa e filhos,  oprimido por terrível solidão.  Caminhante  pelas valas de grande depressão, faleceu vítima de um enfarto.  É o patrono da cadeira 30 da Academia de Letras de Itabuna.

          Podemos dizer que a sua poesia lírica está entrelaçada com a sua própria vida,   seus versos  refletem o pensamento de  quem  sonhou por um país humano, sem favelados,  crianças anêmicas e bolsões de pobreza, Seu grito não tem o recheio da pieguice,  mas nos chega  irrompido da dor, da solidão solidária, com o seu caldo de sofrimento e beleza.
 
          Abaixo vão transcritos três poemas de Hélio Nunes para despertar, ainda que seja um pouco, a memória esquecida de um bom poeta lírico.

Hélio Nunes (2º na foto)
FOTO: Memoria Grapiúnaprojeto da Fundação Jupará com patrocínio da rádio Morena FM 98.7 e jornal A Região.

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Ode à Lua Artificial

Olha a soviética no espaço
Sem quarto minguante, sem plenilúnio.
Criemos a poética desse novo astro.
Não basta dizermos que o satélite
Ronda a muitos quilômetros de altura.
Precisamos dizer,  por exemplo: amada.,
Numa tarde de domingo iremos de nave
Colher  rosas da primavera marciana.

Olha o homem avançando para o céu.
Houve uma poesia de viagens Marítimas.
É tempo da poesia das viagens siderais.

Eu sei. Um colar alvo de luas artificiais
Envolverá a terra; e pela noite sonhando
Eu oferecerei a Valquíria, noiva minha.


Rosas Rubras

Na madrugada fria de ontem
Um operário tossiu
Lançou rosas vermelhas
Perdidas no chão.

E quando o pedreiro caiu
Do alto do andaime,
Deixou rosas vermelhas
Perdidas do chão.

E o grevista tinha o punho cerrado
Recebeu no peito a fria bala,
Rosas vermelhas desabrocharam
Em seu coração.

Ah! Eu sei, é certo,
A Primavera irromper
Florida de rosas vermelhas.
Perdidas. Não.


Poema ao Meu Filho

Meu filho, chegarás na primavera:
Mil desculpas,  não poderei oferecer-te
Aquele mundo e humano que sonhei.

Meu filho, chegarás na primavera:
Quando adulto, não sê igual aos demais.
Tenhas o coração inquieto e a ternura de Valquíria.

Meu filho, chegarás na Primavera:
Ama e ama. Se te forçarem a odiar,  odeia.
O amor e o ódio têm suas grandezas.

Meu filho, chegarás na primavera:
Rosa e foguetes teleguiados também.
Vê nos povos, brancos e negros, teus irmãos.

Meu filho, chegarás na primavera:
Aos 18 anos, lê estes versos, não são conselhos,
São desejos, devaneios de um pai sonhador...

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Cyro de Mattos é escritor e poeta. Membro efetivo da Academia de Letras da Bahia.  Doutor Honoris Causa pela Universidade Estadual de Santa Cruz. Premiado no Brasil, Portugal, Itália e México. Tem livro publicado em Portugal, Itália, França, Alemanha, Espanha e Dinamarca. Conquistou o Segundo Lugar do Prêmio Internacional de Literatura Maestrale Marengo d’Oro ,  duas vezes, em Gênova, Itália, o  Afonso Arinos da Academia Brasileira de Letras,  o da Associação Paulista de Críticos de Arte   e o Prêmio Nacional Pen Clube do Brasil. 


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domingo, 26 de abril de 2020

O TETRAPLÉGICO SUSCITADO POR DEUS PARA COMPOR A SUBLIME SALVE RAINHA – Plinio Maria Solimeo


26 de abril de 2020


         Plinio Maria Solimeo


            Hoje em dia tudo é pretexto para o aborto, sobretudo quando o feto apresenta anomalias congênitas tidas como insanáveis. O que dizer então quando o ultrassom prenuncia um menino tetraplégico, com os membros e o tronco totalmente paralisados? Que mãe em nossos dias tem coragem e fé suficientes para permitir que ele nasça?  
            Pois foi o que ocorreu no início do século XI com Hermann Contractus, ou Hermano Contraído ou Aleijado, que se tornou um dos maiores gênios já vistos pelo mundo.
            Esse menino tão disforme, incapaz de caminhar ou de se movimentar, e consequentemente incapacitado para qualquer estudo, nasceu no dia 18 de julho de 1013 em Altshausen, na Alemanha.          
Diante de condições tão desfavoráveis, não sabendo como lidar com o filho, seus pais resolveram entregá-lo aos sete anos de idade aos cuidados dos monges beneditinos do mosteiro de Reichenau [foto ao lado], na ilha do mesmo nome, no lago de Constança, onde possuíam um orfanato para meninos. Naquela época de fé, os monges receberam o infeliz Hermann com compaixão e amor, por verem nele uma criatura de Deus. 
             Comenta o site espanhol Religion em libertad, do qual extraímos esta matéria: “Em qualquer civilização não cristã, de qualquer época e latitude, uma pessoa como Hermann teria sido eliminada, ou não teria nascido. Por que seus pais decidiram não eliminá-lo? Por que os monges de Reichenau decidiram não eliminá-lo? Por que ele, nas dramáticas condições de dor física em que vivia, não pediu para ser eliminado? Mons. Luigi Giussani assim nos explica: ‘Porque para ele Deus era incomensuravelmente mais pertinente e existencialmente mais vivo do que para nós. Só Cristo dá um sentido de Deus tão concreto, poderoso, incisivo, dominante e apaixonante’. Sim, só Cristo dá. E uma sociedade que renega este aporte não é uma sociedade mais evoluída ou mais moderna. É apenas uma sociedade mais pobre e mais cínica”.       
Como reagia Hermann à sua quase total paralisia à medida que crescia? Esse aleijado não era um revoltado contra a sua sorte, contra o mundo e contra todos, como se poderia supor em nosso mundo igualitário, mas, por meio de sua profunda fé, aceitava com espírito sobrenatural o quinhão que a Providência lhe reservara, sabendo dar um sentido à sua existência apesar das dificuldades cotidianas decorrentes de uma dor física que lhe causava um sofrimento contínuo. Por isso era uma pessoa alegre, afável, mansa, humilde e acessível; em resumo, era feliz em meio a todas suas limitações.
            Quando os monges começaram a lhe ensinar as primeiras letras, perceberam que Herman possuía uma inteligência muito acima da média, o que o levava a aprender a ler e escrever com facilidade. Então o fizeram estudar. Aprendeu latim, grego e árabe e se tornou perito em várias ciências. Fez-se monge aos vinte anos e passou o resto de sua vida na Abadia que o acolhera.
            Desdobrando-se em solicitude, os bondosos monges haviam construído para ele uma cadeira transportável que lhe permitia ser levado para onde necessitasse. Nela, entretanto, devia permanecer sempre em uma posição, pois qualquer movimento lhe era doloroso.
   
        As limitações de Hermann não o impediram de escrever numerosos livros, entre eles o Chronicon, onde compilou pela primeira vez os eventos desde o nascimento de Cristo até o tempo em que vivia, quando esses dados estavam espalhados em diversas crônicas. Ele os ordenou de acordo com os anos da era cristã. Um de seus discípulos, Bertoldo de Reichenau, continuou o trabalho.

            Hermann escreveu também obras espirituais dedicadas a religiosas e sacerdotes; tratados sobre a ciência da música; diversas obras sobre geometria e aritmética; as gestas de Conrado II e de Henrique III; compôs o Ofício litúrgico de alguns santos (São Gregório Magno, Santa Afra de Augusta, Santos Gordiano e Epímaco e Wolfgang de Regensburg). Além disso, escreveu sequências sobre a Virgem Maria, a Cruz e a Páscoa.
            Quando no final da vida ficou cego, Hermann começou a escrever hinos religiosos, tanto a letra quanto a música, a mais conhecida das quais é asublime antífona Salve Regina (Salve Rainha). Compôs também a letra e música da Alma Redemptoris Mater, que uma alma bem formada não pode ouvir sem profunda emoção.
             Comenta Religion en Libertad“Enquanto compunha o canto da Salve Regina e escrevia o verso gementes et flentes in hac lacrimarum Valle (gemendo e chorando neste vale de lágrimas), Hermann se referia também ao sofrimento que lhe causava sua própria condição física. É incrível que um dos raros hinos que sobreviveram à reforma litúrgica post-conciliar, e que ainda se canta nas igrejas há mais de mil anos, seja precisamente composto por um tetraplégico, um incapaz, uma pessoa que a mentalidade de hoje definiria como ‘indigna de viver’; mais ainda, inclusive ‘indigna de nascer’, e que, com toda probabilidade, na sociedade atual, seria abortada. O fato de que se continue a cantar há mais de um milênio a Salve Regina parece realmente uma dádiva de Deus”.
         
Alguns anos depois, o célebre abade de Claraval, São Bernardo [quadro ao lado], ouvindo essa suave antífona enquanto entrava na catedral de Speyer, na Alemanha, extasiado, ajoelhou-se três vezes, exclamando em cada uma delas: Ó clemens, Ó pia, ó dulcis Virgo Maria! Essas exclamações foram acrescentadas à oração Salve Rainha, completando-a com chave de ouro.
Entretanto, o campo no qual Hermann mais revelou a grandeza de seu gênio foi o da astronomia. São dele dois dos mais importantes tratados sobre o astrolábio, o De Mensura Astrolabii e o De Utilitatibus Astrolabii, com instruções para a construção desse aparelho, na época grande novidade na Europa. Essas obras lhe valeram o epíteto de Prodigium saeculi (milagre do século). Sua fama fez com que o Imperador Santo Henrique III e o Papa Leão IX fossem visitá-lo no mosteiro de Reichenau.
             Continua Religión em Libertad“Dizia Giussani: ‘Como pode uma existência de sofrimento tornar-se tão rica e amável? Essa energia conferida pela adesão à realidade última das coisas permite utilizar também o que o mundo que nos rodeia considera inutilizável: o mal, a dor, o cansaço de viver, a incapacidade física e moral, o aborrecimento, inclusive a resistência a Deus. Tudo pode ser transformado e mostrar maravilhosamente os efeitos de sua transformação quando se vive em função da realidade verdadeira: se ‘se oferece a Deus’, como reza a tradição cristã. Oferecer a Deus qualquer miséria é o contrário da abdicação, de uma aceitação automática, de uma resignação passiva; é o vínculo, afirmado de maneira consciente e enérgica, da própria particularidade com o universal’. Hermann soube ser uma testemunha luminosa dessa transformação em seu oferecimento a Deus com uma serenidade que causou assombro entre seus contemporâneos”.
               Esse gênio santo e sofredor entregou sua bela alma ao seu Criador no dia 24 de setembro de 1054, com apenas 41 anos de idade. Seu fiel discípulo Bertoldo assim descreve seus últimos dias: “Quando, afinal, a bondade amorosa do Senhor se dignou libertar sua santa alma da tediosa prisão do mundo, ele teve uma pleurisia, e sofreu durante dez dias uma grande dor’. Em seu leito de morte, Hermann consolou seu discípulo, que o velava triste, com estas últimas palavras: ‘Não chores por mim, meu amigo. Sinta-te feliz e contente com meu destino. Pensa cada dia que tu também terás que morrer, e esforça-te para estar sempre preparado para esta eventualidade, e reflete sobre tua última viagem, porque não sabes nem a hora nem o dia que me seguirás, a teu queridíssimo amigo Hermann’. Dizendo isto, expirou”, após ter recebido a Sagrada Eucaristia.
               Embora tivesse sido imediatamente venerado como santo, o culto a Hermann Contractus só foi oficialmente confirmado pela Igreja em 1863, quando foi beatificado pelo imortal Papa Pio IX.

Texto da Oração
Salve, Rainha, Mãe de misericórdia, vida, doçura, esperança nossa, salve! A vós bradamos os degredados filhos de Eva; a vós suspiramos, gemendo e chorando neste vale de lágrimas. Eia, pois, advogada nossa, esses vossos olhos misericordiosos a nós volvei, e depois deste desterro mostrai-nos Jesus, bendito fruto de vosso ventre.
Ó clemente, ó piedosa, ó doce Virgem Maria.
Rogai por nós, Santa Mãe de Deus.
Para que sejamos dignos das promessas de Cristo.
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PALAVRA DA SALVAÇÃO (180)


3º Domingo da Páscoa – 26/04/2020

Anúncio do Evangelho (Lc 24,13-35)

— O Senhor esteja convosco.
— Ele está no meio de nós.
— PROCLAMAÇÃO do Evangelho de Jesus Cristo + segundo Lucas.
— Glória a vós, Senhor.

Naquele mesmo dia, o primeiro da semana, dois dos discípulos de Jesus iam para um povoado, chamado Emaús, distante onze quilômetros de Jerusalém. Conversavam sobre todas as coisas que tinham acontecido. Enquanto conversavam e discutiam, o próprio Jesus se aproximou e começou a caminhar com eles. Os discípulos, porém, estavam como que cegos, e não o reconheceram. Então Jesus perguntou: “O que ides conversando pelo caminho?” Eles pararam, com o rosto triste, e um deles, chamado Cléofas, lhe disse: “Tu és o único peregrino em Jerusalém que não sabe o que lá aconteceu nestes últimos dias?”

Ele perguntou: “O que foi?” Os discípulos responderam: “O que aconteceu com Jesus, o Nazareno, que foi um profeta poderoso em obras e palavras, diante de Deus e diante de todo o povo. Nossos sumos sacerdotes e nossos chefes o entregaram para ser condenado à morte e o crucificaram. Nós esperávamos que ele fosse libertar Israel, mas, apesar de tudo isso, já faz três dias que todas essas coisas aconteceram! É verdade que algumas mulheres do nosso grupo nos deram um susto. Elas foram de madrugada ao túmulo e não encontraram o corpo dele. Então voltaram, dizendo que tinham visto anjos e que estes afirmaram que Jesus está vivo. Alguns dos nossos foram ao túmulo e encontraram as coisas como as mulheres tinham dito. A ele, porém, ninguém o viu”.

Então Jesus lhes disse: “Como sois sem inteligência e lentos para crer em tudo o que os profetas falaram! Será que o Cristo não devia sofrer tudo isso para entrar na sua glória?”

E, começando por Moisés e passando pelos Profetas, explicava aos discípulos todas as passagens da Escritura que falavam a respeito dele. Quando chegaram perto do povoado para onde iam, Jesus fez de conta que ia mais adiante. Eles, porém, insistiram com Jesus, dizendo: “Fica conosco, pois já é tarde e a noite vem chegando!” Jesus entrou para ficar com eles. Quando se sentou à mesa com eles, tomou o pão, abençoou-o, partiu-o e lhes distribuía. Nisso os olhos dos discípulos se abriram e eles reconheceram Jesus. Jesus, porém, desapareceu da frente deles. Então um disse ao outro: “Não estava ardendo o nosso coração quando ele nos falava pelo caminho, e nos explicava as Escrituras?” Naquela mesma hora, eles se levantaram e voltaram para Jerusalém onde encontraram os Onze reunidos com os outros. E estes confirmaram: “Realmente, o Senhor ressuscitou e apareceu a Simão!” Então os dois contaram o que tinha acontecido no caminho, e como tinham reconhecido Jesus ao partir o pão.

— Palavra da Salvação.
— Glória a vós, Senhor.


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Ligue o vídeo abaixo e acompanhe a reflexão do Evangelho, feita pelo salesiano Danilo Guedes:

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"Conversavam sobre todas as coisas que tinham acontecido” (Lc 24,14)

Nossa vida é parte da História, e esta, por sua vez, é formada pelas histórias de nossas vidas, pontilhadas e marcadas pela presença de outras muitas histórias.

A História, por si mesma, é provocante e nos fascina; ela tem um estranho poder de sedução. Nós nos reconhecemos nas histórias da História; isso nos facilita tomar consciência de onde estamos e quem somos, e nos ajuda a assumir decisões mais maduras frente aos desafios e surpresas que a vida nos reserva.

A vida só tem sentido quando se torna História, isto é, quando não se limita a repetir o passado, mas quando engendra algo novo e diferente a partir de uma História internalizada e saboreada.

É somente no nível mais profundo que o ser humano transforma seu “tempo” em história e seu “espaço” em encontro.

No relato dos “discípulos de Emaús”, o encontro com o Ressuscitado nos ajuda a “ler” a História, pessoal e coletiva, de uma maneira diferente e instigante. A história triste e fracassada dos dois discípulos adquire um novo sentido a partir da luz dos relatos bíblicos que o Peregrino traz à memória.

A partir da “memória bíblica”, eles são movidos a “re-ler” a própria história com novos olhos, re-construindo-a, dando a ela um novo significado e deixando-se impelir a escrever uma nova história.

Marcados pelo dinamismo da Ressurreição, cremos profundamente na força evocativa e transformadora da história; encontrar-nos com ela significa caminharmos para o interior do mistério da mesma história; significa também deixar-nos questionar, iluminar e mobilizar por ela.

Com isso, re-iniciamos um novo caminho de aventura, que consiste não só em receber e celebrar a história, mas atualizá-la, reescrevê-la, confirmá-la... Uma história com rosto de futuro... e um futuro inspirador.

A história se revela, assim, como um húmus vivente, uma atmosfera de graça, uma torrente subterrânea na qual se nutre todo o processo do seguimento de Jesus. Não é fora da História e de sua história que o(a) seguidor(a) de Jesus pode reconhecer a Vontade de Deus e escutar Seu apelo; porque “Deus se fez História” e só o Verbo Encarnado, agora Ressuscitado, pode ser “o verdadeiro fundamento da história” (S. Inácio). A partir do Jesus ressuscitado, a história de cada um e da humanidade inteira adquire uma nova luz e um novo sentido e se abre a um vasto horizonte de compromisso.

A história pessoal do cristão e a história do mundo tornam-se, portanto, o “lugar” habitual da experiência de Deus, a montanha da misteriosa sarça ardente que não se consome. 

Fazer memória das histórias não significa querer mudá-las, mas adquirir nova perspectiva, um novo olhar. Com freqüência, esta perspectiva nos ajuda a entender melhor nossa situação atual. Trata-se da “memória agradecida”: tudo tem sentido, nada é desperdiçado...

Quando a história é contada e re-contada, acontece a cura da memória. Em lugar de uma história opressiva e pesada, passamos a contar com uma “história redentora”. O momento da Graça é precisamente esse: quando, de repente, a perspectiva muda, encontramos um “novo sentido” e surge uma saída do emara-nhado de lembranças, emoções e histórias de fracassos e decepções.

Isso aparece claramente no relato evangélico deste domingo.

Na narrativa, o Forasteiro ajuda os dois discípulos a “desatar” o nó de suas lembranças traumáticas e a compor uma nova história. A história de Jesus, com seu fim decepcionante, tornou-se pesada e eles procuram fugir de Jerusalém e da terrível lembrança da morte do Mestre. Mas a história os acompanha na estrada. Não param de repeti-la. Mesmo quando dizem as palavras certas, a intensidade emocional da experiência não lhes permite ouvir a história de uma perspectiva diferente. 

Enquanto caminhavam, conversavam e discutiam com tal intensidade que nem perceberam a aproximação do forasteiro. Falar de maneira tão intensa de uma experiência recente demonstra que ela teve forte impacto na vida deles, mas o significado desta dura experiência está envolvido numa obscuridade.

Para eles, a história não faz sentido. A história de Jesus, com seu fim decepcionante, tornou-se agora traumática. Esforçam-se para encontrar a única coisa que vai ajudá-los a superar a dor, transformar a lembrança, permitir que continuem suas vidas, refugiando-se no passado.

Foi preciso discernimento por parte do Forasteiro para libertar seus discípulos daquela interpretação nociva da história. Ele reorienta a história sem diminuir a gravidade do que acontecera.

O Forasteiro não só reconta a história de Jesus, mas também tem de remodelar todas as histórias das relações de Deus com Israel. A “história pessoal” é “recontada” e considerada no contexto de uma história muito mais ampla; há uma ligação profunda entre todas as histórias, constituindo-se na grande História da Salvação. A descoberta desta nova perspectiva acontece como momento de graça que desce sobre eles.

A história re-contada começa a reconstruir a humanidade deles, a esperança vai retornando, os corações vão se aquecendo, a alegria vai surgindo em seus rostos... O Forasteiro, ao criar um círculo de confiança, abriu “espaço terapêutico” para que os discípulos contassem sua história em segurança e começassem a re-alimentar uma nova esperança. Foi criado um ambiente de hospitalidade que culminou na Ceia.

É nesse ambiente que a taça do sofrimento transformou-se na “taça da esperança”.

Das cinzas brotaram a esperança, o entusiasmo e os sonhos... e eles apressaram-se a voltar para Jerusalém a fim de partilhar a descoberta de um novo sentido da história. 

A partir do fundamento da História (Jesus Cristo), contemplamos nossa própria história (pessoal e institucional): história que deve ser observada, lida, discernida. Tal experiência nos ajuda a abrir os olhos para a novidade inesgotável da vida, nos faz “aquecer o coração”, desperta em nós o desejo e mobiliza todas as nossas capacidades para um compromisso de ação transformadora na história pessoal e coletiva.
A História está sempre aberta, desafiando-nos, arrancando-nos de nosso imobilismo, despertando nossa criatividade para ser re-escrita de uma maneira diferente.

Nossa história pode ser poderosa motivadora de mudança; ela nos levanta quando estamos dispersos e sem direção; ela não é apenas relato do passado, mas parte viva do que somos agora; ela nos traz para “casa”, para nossa própria integridade e identidade.
Assim, a experiência pascal significa “conhecer”, “sentir” e “amar” a nossa própria história. É uma verdadeira experiência de Ressurreição.

Só assim a história se converte em “Epifania” (manifestação) de Deus e nos permite compreender, acolher e integrar tudo o que acontece, dentro e fora de nós.

Este é um tempo de Graça: o encontro vivo da “história” celebrada com o compromisso de construção da “nova história”, mais ousada e mais criativa. Trata-se de um momento tão fortalecedor e jubiloso que estremecemos reverentes diante do que celebramos.
Sem a luz da Ressurreição, nossa história, pessoal e coletiva, se reduz a eventos opacos, vazios, tristes...

Com a Ressurreição, a história se ilumina, se transfigura e nos desafia. A Ressurreição plenifica, dá sentido e costura os eventos, constituindo-se em “História de Salvação”. Ela nos faz ver o que todo mundo vê, mas de um “modo” diferente: vemos mais longe, vemos além, vemos mais fundo... 

Texto bíblico:  Lc 24,13-35
Na oração:   Diante da história pessoal e social, sinto-me desafiado? Paralisado(a)? com medo? Inquieto(a)?
                    Quanto de esperança carrego em meu interior?
                    O que me faz abrasar o coração diante de uma história que parece um fracasso?

Pe. Adroaldo Palaoro sj
   
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