Solenidade de Jesus Cristo, Rei do Universo | Domingo, 21/11/2021
Anúncio do Evangelho (Jo 18,33b-37)
— O Senhor esteja convosco.
— Ele está no meio de nós!
— PROCLAMAÇÃO do Evangelho de Jesus Cristo + segundo
João.
— Glória a vós, Senhor!
Naquele tempo, Pilatos chamou Jesus e perguntou-lhe:
“Tu és o rei dos judeus?” Jesus respondeu: “Estás dizendo isto por ti
mesmo ou outros te disseram isto de mim?”
Pilatos falou: “Por acaso sou judeu? O teu povo e os sumos
sacerdotes te entregaram a mim. Que fizeste?”
Jesus respondeu: “O meu reino não é deste mundo. Se o meu
reino fosse deste mundo, os meus guardas lutariam para que eu não fosse
entregue aos judeus. Mas o meu reino não é daqui”.
Pilatos disse a Jesus: “Então tu és rei?”
Jesus respondeu: “Tu o dizes: eu sou rei. Eu nasci e vim ao
mundo para isto: para dar testemunho da verdade. Todo aquele que é da verdade
escuta a minha voz”.
— Palavra da Salvação.
— Glória a vós, Senhor.
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Ligue o vídeo abaixo, e acompanhe a reflexão de Dom Sérgio
Aparecido – Bispo da Diocese de Bragança Paulista SP:
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VOCÊ NASCEU PARA SER REI
João 18,33-37
É muito
importante que tenhamos uma pequena ideia do momento e do porquê desta festa
ter sido instituída. Era Pio XI em 1925, quando a Igreja perdia o seu poder e o
seu prestígio assolado pela modernidade. COM ESTA FESTA, foi feita uma
tentativa de recuperar o terreno perdido para um mundo secular, laicista e
descrente. A ENCÍCLICA DÁ AS RAZÕES PARA INSTITUIR A FESTA: “RECUPERAR O REINO
DE CRISTO E DA SUA IGREJA”. Para um papa daquela época, era inaceitável que as
nações fizessem suas leis fora da Igreja.
É uma grande alegria e
esperança para mim descobrir numa homilia nesta festa do Papa Francisco uma
visão muito mais conforme com o evangelho. pio XI fala em recuperar o poder de
Cristo e de sua Igreja. o papa Francisco fala repetidamente de Jesus e a sua
igreja se colocando a serviço dos mais desfavorecidos. Não se trata de uma
mudança de linguagem, mas de uma superação da IDEIA DE PODER em que a igreja
viveu durante tantos séculos. A mudança deve ser aceita e promovida por todos
os cristãos.
O contexto do evangelho, que
lemos, é o julgamento perante Pilatos, após as negações de Pedro, onde fica
claro que Pedro não era rei de si mesmo nem sincero. É muito improvável que o
diálogo seja histórico, mas está nos transmitindo o que comunidade muito
avançada dos finais do século I (100anos após a morte de Jesus) PENSAVA SOBRE
JESUS. Duas breves frases colocadas na boca de Jesus podem nos dar o fio
condutor para a reflexão: “o meu Reino não é deste mundo” e “para isso vim,
para ser testemunha da verdade”.
O que significa um Reino
que não é deste mundo? É uma expressão que não podemos "compreender" por
que todos os conceitos que podemos usar são deste mundo. O que nós, cristãos,
pensamos quando, depois dessas palavras, nomeamos Cristo Rei, não apenas do
mundo, mas do universo? com o evangelho em mãos, é muito difícil justificar o
poder absoluto que a igreja exerceu durante séculos.
Talvez possamos
encontrar uma pista na outra frase: "Vim para testemunhar a verdade."
Mas somente se não entendermos a VERDADE como verdade lógica (adequação de uma
formulação racional à realidade), mas sim como verdade ontológica, isto é, como
a adaptação de um ser ao que deveria ser de acordo com sua natureza. Jesus
sendo autêntico, sendo verdadeiro, é o verdadeiro Rei. mas o que o seu
verdadeiro ser (Deus) lhe pede é que se ponha a serviço de todos os que dele
precisam, não impor nada aos outros.
Não se trata
de morrer para defender uma doutrina. É sobre morrer pelo homem. Trata-se de
testemunhar o que o homem é em sua verdadeira realidade. O “Filho do homem” (o
único título que Jesus aplica a si mesmo), nos dá a chave para entender o que
ele pensava de si mesmo. Ele se considera o homem autêntico, o modelo de homem,
o homem acabado, o homem verdadeiro. Sua intenção é que todos se identifiquem
com ele. Jesus é a referência para quem deseja manifestar a verdadeira
qualidade humana.
Pilatos leva Jesus
para fora, após ser açoitado, e diz à multidão: "Este é o homem". Jesus
não é apenas o modelo do homem e exige que seus seguidores correspondam ao
modelo que veem nele. JESUS DIZ SOU REI, ELE NÃO DIZ EU SOU O REI. indicando
assim que todo aquele que se identifica com ele também será rei. essa é a meta
que deus deseja para todos os seres humanos. Rei do poder, só pode haver um.
REIS SERVIDORES DEVEMOS SER TODOS. Não se trata de um homem reinando sobre
outro, mas de um Reino onde todos se sentem reis.
Quando os hebreus
(nômades) entram em contato com as pessoas que viviam nas cidades, descobrem as
vantagens daquela estrutura social e pedem a Deus um rei. Os profetas
interpretaram isso como uma traição (o único rei de Israel é Deus). O rei era
quem cuidava de uma cidade ou de um pequeno grupo de vilas. Ele era o
responsável pela ordem; Ele os defendia dos inimigos, cuidava da comida, fazia
justiça... o Messias esperado sempre respondeu a esta dinâmica. os seguidores
de Jesus não aceitaram uma mudança tão radical.
Somente neste
contexto podemos entender a pregação de Jesus sobre o Reino de Deus. No
entanto, o conteúdo que ele oferece é mais profundo. No tempo de Jesus, o
futuro Reino de Deus era entendido como uma vitória do povo judeu sobre os
gentios e uma vitória dos bons sobre os maus. Jesus prega um reino de deus do
qual ninguém será excluído. o reino que jesus anuncia nada tem a ver com as
expectativas dos judeus da época. infelizmente, também não tem nada a ver com
as expectativas dos cristãos hoje. (belas igrejas e os pobres e oprimidos
relegados a um segundo plano)
Jesus, no deserto,
percebeu o poder como uma tentação: “Eu te darei todo o poder destes reinos e
sua glória”. Em João, após a multiplicação dos pães, a multidão quer
proclamá-lo rei, mas ele foge sozinho para a montanha. Toda a pregação de Jesus
gira em torno do "Reino"; mas não é seu reino, mas de Deus. Jesus
nunca se propôs como objeto de sua pregação. É um erro confundir o Reino de
Deus com o reino de Jesus. Maior disparate é querer
identificá-lo com a Igreja, que era o que pretendia esta festa.
A característica
fundamental do reino pregado por Jesus é que ele já está aqui, embora não se
identifique com as realidades do mundo. não devemos esperar por um tempo
escatológico, mas ele já começou. “Não se dirá, é aqui ou ali, porque vejam: o
reino de Deus está entre vocês. “Não se trata de preparar um reino para Deus, é
sobre um reino que é Deus. Quando dizemos
”a paz reina", não estamos dizendo que a paz tem reino, trata-se de
tornar deus presente entre nós, ser o que devemos ser.
Qualquer
conotação que o título tenha com PODER deturpa a mensagem de Jesus. uma coroa
de ouro na cabeça e um cetro de diamantes nas mãos são muito mais degradantes
do que a coroa de espinhos. Se não percebemos isso, estamos projetando nossos
próprios anseios de poder em Jesus. nem o "Deus todo-poderoso" nem o
"Cristo do grande poder" não têm absolutamente nada a ver com o Evangelho.
Jesus nos
disse: quem quiser ser o primeiro, seja o último e quem quiser ser grande, seja
servo. Esse desejo de identificar Jesus com poder e glória é uma forma de
justificar nosso desejo de poder. Nosso eu (ego), sustentado pela razão, não vê
futuro senão se potencializar ao máximo. Visto que não gostamos do que Jesus
diz, tentamos por todos os meios fazê-lo dizer o que nos interessa. Isso é o
que sempre fizemos com as Escrituras.
Meditação
Jesus está falando da autenticidade de seu ser. Falso é tudo o que parece ser o que não é. Ser verdade é ser o que somos, sem falsificá-lo.
O objetivo da sua vida é descobrir o seu VERDADEIRO EU
(imagem e semelhança de Deus) e manifestá-lo em todos os momentos.
FREI MARCOS
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