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quarta-feira, 14 de março de 2018

POVO DINÂMICO – Carlos Pereira Filho


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Povo dinâmico


            Descrevemos em vários capítulos episódios passados em Itabuna até a época atual. Do período ditatorial até os nossos dias democráticos passaram pela prefeitura Armando da Silva Freire, 1945, José Dezousa Dantas, 1945, Lauro Azevedo, 1946, Armando da Silva Freire, 1946, Ubaldino Brandão, 1948, Miguel Fernandes Moreira, 1958, Francisco Ferreira da Silva, 1955, José de Almeida Alcântara, 1959. Armando da Silva Freire e Francisco Ferreira da Silva foram, por duas vezes, chefes do Executivo municipal.

            Ao olharmos para o passado, e antes de tentarmos focalizar o presente, temos a impressão de que fizemos uma longa viagem.

            Se um rei salmista tivesse aparecido para ordenar a criação de uma cidade e o seu centro de produção, aos pulos, como concitou as montanhas para adorarem ao  Criador, o milagre não se teria operado tão rapidamente como aconteceu na história da construção de Itabuna.

            Os séculos formam a história da civilização de muitos, povos, no decorrer de anos a fio e de um trabalho paciente, constante, através de sucessivas gerações.

O município organizou-se rápido, como a ordem da Palavra de Deus, na criação do mundo que habitamos, segundo a narração Bíblica.

            Ainda vivem pessoas que conheceram, conviveram com os seus primeiros fundadores e que, ainda, alcançaram os velhos trechos da vila e da cidade fundada em 1910. Manuel Fogueira, Jorge Maron Filho, Gileno Amado, Francisco Fontes e muitos outros guardam ainda na memória os fatos mais destacados da construção de Itabuna.

            Há deles que trabalharam nas ruas, calçando-as, há deles que derrubaram matas e fizeram plantações de cacau, há deles que coivararam as matas para semear o capim das pastagens, há deles que tomaram parte no domínio político.

            O fato importante na formação do município é ter sido produto de puro sangue brasileiro. O mesmo ardor que se agarrou ao desbravador das matas ilheenses apoderou-se dos que cultivaram as matas Itabunenses. Sendo que na terra Itabunense o estrangeiro não orientou, não incentivou, nem civilizou. O trabalho, a cultura da terra,  a expansão, o método, a disciplina, o exemplo, da dedicação, de abnegação, decorreram, fluíram dos brasileiros oriundos de todos os Estados,  destacadamente dos sergipanos.

            Se tivesse havido, na formação de Itabuna, um plano previamente organizado, com ensino técnico sobre lavoura, com divisões de áreas para cacau, cereais, pastagens, por certo o plano não atingiria, neste regime, a meta que alcançou o trabalho feito pelos destemidos desbravadores da terra. Ela, se olhada do alto, se reduzida a um postal, se apresentaria como um verdadeiro jardim armado de leiras gigantescas que se poderiam apontar com os dedos e dizer: “Aqui está a área do cacau, ali a dos cereais, acolá a das pastagens e, ainda, à margem do rio o comércio, seu centro de abastecimento”. No conjunto há tal harmonia, um cuidado de aplicação de energias de distribuição de trabalho que denuncia e revela a capacidade de orientação econômica de um povo.

            Não há um palmo de terra desocupada, sem dono, sem uma finalidade. Economistas que se houvessem reunido para criar alguma coisa dinâmica com as suas doutrinas de produção e riqueza, talvez não tivessem realizado uma obra tão admirável como a levada a efeito pelos Itabunenses, em todos os setores.
            Contemplada a obra em detalhes, por algum exigente sociólogo, naturalmente apresentará algumas falhas o que não é de estranhar ou censurar, dada a marcha acelerada da sua edificação, e a simplicidade dos seus operários.

            Mas como obra de conjunto não vemos falhas que perturbem o ritmo da sua grandeza. Nela não falta o aspecto social, o político, o econômico. Nela se vê, se percebe, se sente a força da evolução, do progresso, da prosperidade, o sentido da marcha para o bem-estar público, que é o sentido altamente característico de uma civilização em posição cultural apreciável.

            As suas escolas, os seus hospitais, as suas associações, os seus estabelecimentos bancários, os seus jornais, a possante estrutura do seu mundo econômico e financeiro, a linha de orientação construtivas dos seus governantes, expressam o retrato fiel de um povo integrado e consciente, politizado e certo do programa que cumpre, no objetivo de melhores dias e de um futuro grandioso.

            E o que significa, no seu povo, essa ânsia de progresso, de desenvolvimento, de consciência econômica social? Significa que o povo Itabunense guarda, conserva, cultiva em todas as formas de evolução, de adaptação, de lutas, os sentimentos dos seus antepassados, mantém com dignidade o nome legado por eles, e olha o futuro.

            Um simples olhar de observação, uma análise superficial evidencia o arrebatamento dos Itabunenses na marcha para o progresso. Eles não esperam pelos governos, eles não apelam para os vizinhos, eles não se queixam das suas mágoas. Eles trabalham, produzem, avançam. Cobrem as etapas das suas iniciativas, com uma facilidade inverossímil, com o dinamismo de um povo sacudido por uma determinação revolucionária.

            Poderíamos dizer que os Itabunenses escreveram, em curto prazo, a maior página de progresso e prosperidade da terra cacaueira.

            Preferimos, todavia, afirmar que escreveram a mais bela e encantadora página do livro da história da economia regional.

            Tivéssemos tomado uma canoa e percorrido durante anos e meses o longo curso de um rio, ao chegarmos à sua foz, ao darmos num mar aberto, poderíamos exclamar: assim aconteceu à terra Itabunense, de Firmino Alves até aos nossos dias. Em 1860, em 1901, em 1910, o município representava esse rio que navegamos. Em 1959, data do cinquentenário de sua fundação de cidade, é o município esse mar imenso que divisamos oceano de atividade humana e de civilização.


(TERRAS DE ITABUNA Capítulo XXVIII)
Carlos Pereira Filho

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UM HERÓI CONTRA O COMUNISMO E O NAZISMO - Plinio Maria Solimeo

13 de Março de 2018

Teresio Olivelli participou da resistência católica. Lutou contra a URSS, foi morto pelos nazistas num campo de concentração.

Plinio Maria Solimeo

         Em janeiro de 2008, 73 anos após sua morte, Teresio Olivelli teve reconhecido o seu martírio e foi elevado à honra dos altares na condição de beato. Sua breve vida foi tão cheia de acontecimentos que mais se assemelha a um filme de ação.

Assim a resume o site Religión en Liberta1“Defensor da Espanha católica perseguida na Guerra Civil, seduzido por alguns aspectos do fascismo, quis impregná-lo dos valores cristãos; lutou contra a URSS na II Guerra Mundial, enfrentou o nazismo e o fascismo como membro da resistência católica, foi detido e levado a campos de concentração, escapou de vários deles, erigiu-se em defensor dos mais débeis na prisão, e finalmente morreu por ódio à fé, no campo alemão de Hersbruck, ao receber os golpes destinados a outro.” Tudo isso antes de Teresio Olivelli atingir os 30 anos de idade.

Nascido em 1916 em Bellagio, no norte da Itália, recebeu muita influência religiosa de seu tio materno, o Pe. Roco Invernizzi, pároco de Tremezzo. Em 1926 mudou-se com os pais para Pavia, onde dois anos depois se formou com louvor em Direito.

Católico autêntico, ele correspondeu à benéfica influência do tio sacerdote. Ia diariamente à Missa e fazia sua meditação, também diária, com base nos Evangelhos e na Imitação de Cristo. Confessava-se e comungava semanalmente. Entrou para a Ação Católica, distinguindo-se pelo amor aos pobres e aos indefesos, bem como pela defesa destemida da fé quando surgia ocasião.

Entretanto, por certa ingenuidade, sendo ainda muito moço, deixou-se atrair por alguns aspectos mais conservadores do fascismo e nele se filiou no intuito de influenciá-lo por dentro, para impregná-lo da doutrina católica. Essa ilusão com o fascismo inicial atraiu a este muitos católicos desavisados.
Teresio chegou até a ocupar cargos nesse regime. Entretanto, quando retornou da Rússia durante a II Guerra Mundial, tendo conhecido as aberrações e as consequências deletérias do fascismo, rompeu definitivamente com sua ideologia, abandonando qualquer forma de colaboração, mesmo cultural, com ele.

Em 1936 estourou na Espanha a sanguinária Guerra Civil [foto] entre comunistas e católicos, com furibunda perseguição à Igreja. Nela 4.184 sacerdotes, 2.365 frades e religiosos, 283 monjas e mais de 3000 seculares foram assassinados. Centenas deles já foram elevados à honra dos altares.

O jovem Olivelli desejou ir àquele país para lutar em defesa dos católicos. Mas iria por sua conta e à margem do contingente mandado pelo regime fascista. Entretanto, seu tio sacerdote o dissuadiu de participar dessa cruzada, embora alguns afirmem que ele chegou a ir.

Teresio assim se expressa, em carta, sobre o dever dos jovens e o que sucedia na Espanha: “A juventude, ou é heroica, ou é miserável. O homem não pode dar a uma ideia a metade de si mesmo; tem que dar tudo. Assim que, quando é Cristo o ideal que nos impulsiona, creio que o dever se cumpre com um amor total a Ele, que deve ser consumado até a última gota de sangue. Ou se vive a fé como conquista, ou mais se assemelha à anemia dos invertebrados. Na católica Espanha se está atacando o divino em nós, combate-se para vencer o Anticristo [comunista], que é a negação do homem e de Cristo. O futuro não pertence aos fracos. A vida é perfeita quando perfeito é o amor”.

Em 1939 ele se tornou professor assistente na Universidade de Turim, e por suas habilidades oratórias ganhou um concurso em Trieste.

Como professor assistente na Universidade de Turim, apesar de muito jovem, Olivelli mostrou-se muito competente no âmbito cultural. Nas horas vagas ia ajudar a cuidar dos pobres no hospício fundado por São José Benedito Cottolengo.

Quando estourou a II Guerra Mundial, o jovem jurista se apresentou em 1941 como voluntário na Divisão Tridentina que ia à Rússia. Fê-lo para compartilhar o destino dos que estariam mais expostos na batalha. Com o posto de segundo-tenente, Olivelli ali viveu o horror da guerra e constatou por experiência própria a perversidade da seita comunista.

No horror do campo de batalha, auxiliando os capelães do regimento, Teresio Olivelli procurava dar assistência espiritual e conforto aos feridos e moribundos, preparando-os para verem a Deus face a face. Ele não duvidava em arriscar sua vida para resgatar os caídos em combate. Isso se tornou mais dramático durante a desastrosa retirada, na qual ele muitas vezes tinha que abrandar sua marcha para ajudar os feridos e os fatigados, mesmo com o risco da própria vida. Olivelli comentava com eles o Evangelho, levando-os a sofrer com resignação os extremos do angustiante frio, como ocorreu sob as tempestades de neve às margens do rio Don, procurando de algum modo os aliviar.

Entretanto, não estava nos planos divinos que ele caísse no campo de batalha. Olivelli pôde retornar à Itália em 1943, aos 27 anos de idade. Foi então nomeado reitor do prestigioso Colégio Ghislieri, de Pavia [foto ao lado].

Depois do armistício desse ano de 1943 e a consequente invasão alemã de toda a parte da Itália que não havia ainda sido recuperada pelos aliados, Teresio Olivelli não quis jurar lealdade à nova República Social Italiana e tornar-se cúmplice dos crimes nazistas. Foi então detido e enviado a um campo de prisioneiros em Insbruck, e depois para outros dois. Conseguiu escapar do segundo e fugiu a pé para a Itália, onde se juntou à resistência católica.

Para ele, a reconstrução do país depois da guerra não seria plena sem os valores cristãos. Daí a necessidade de uma “rebelião da consciência e do intelecto” em face dos erros vigentes. Nesse sentido, fundou em março de 1944 “O Rebelde”, publicação clandestina de circulação entre os meios católicos. Nela publicou um “manifesto dos rebeldes”, no qual conclamava os católicos para o que chamava de “revolta moral contra o fascismo”, a ser levada avante por meio da oração.
É claro que foi logo descoberto pela polícia alemã e levado para diversas prisões, sendo em cada uma delas torturado e açoitado sem clemência. Chegou assim ao campo de prisioneiros de Flossenbürg, na Baviera. Na prisão, Olivelli se valia de seu domínio da língua alemã para assistir outros prisioneiros, inclusive carregando suas culpas.

Finalmente foi transferido para o campo de concentração de Hersbruck, onde confortou e assistiu em seus últimos momentos o seu amigo Eduardo Focherini, agora também beatificado.

Como verdadeiro apóstolo, Teresio organizou a reza diária do terço às noites no campo de extermínio. Dava conselhos e assistência aos outros prisioneiros, cedendo inclusive parte de sua comida aos mais necessitados. Na ausência de sacerdotes no campo, ele organizava as orações secretas, reuniões para leitura do Evangelho, aulas de catecismo, inclusive em diferentes idiomas. Prestava também assistência religiosa aos moribundos. Seu cuidado com os doentes era extremo: cuidava dos abandonados, levava-os à enfermaria, ajudando-os dia e noite, limpando suas feridas, distribuindo sua magra ração entre eles para fazê-los sobreviver, enquanto ele ia emagrecendo. Desse modo passou a ser conhecido no campo como o “sacerdote substituto”. Foi precisamente ajudando os débeis que Teresio encontrou a morte.

Por tudo isso os agentes da SS o odiavam mais que aos outros prisioneiros, pois viam nele quase um sacerdote. Por isso o maltratavam impiedosamente por qualquer motivo, de modo que, em dezembro de 1944, pouco antes de seu martírio, Teresio já estava com o corpo cheio de contusões e feridas.

Em janeiro de 1945, quando um feroz guarda nazista ia atingir um débil prisioneiro ucraniano, Teresio cobriu-o com seu corpo. Cheio de ódio, o guarda deu-lhe um pontapé no estômago e o cobriu de golpes. Já muito débil, o beato foi levado à enfermaria, aonde chegou quase moribundo. Depois de duas semanas de agonia e sofrimento, durante as quais manteve a lucidez suficiente para rezar, percebendo que seu fim estava próximo, recomendou que suas roupas fossem dadas a um companheiro de prisão. Olivelli consumou o seu martírio aos 29 anos de idade.
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http://www.religionenlibertad.com/lucho-contra-urss-paso-resistencia-catolica–57587.htm. Também consultada: Gianpiero Pettiti Santi i beati, http://www.santiebeati.it/dettaglio/92229

http://www.abim.inf.br/um-heroi-contra-o-comunismo-e-o-nazismo/#.Wqk8RmrwbIU

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