A influência
demoníaca na história humana sempre foi constante e intensa. É a tentativa
satânica de levar os homens para a perdição, como ocorreu com os nossos
primeiros pais nos primórdios da humanidade, quando em forma de serpente o
demônio os tentou, sugerindo-lhes que se comessem o “fruto proibido”
seriam “como deuses”.
Adão e Eva
caíram na tentação, cometeram o pecado original e perderam o estado de
inocência. Toda a sua descendência sofreu a consequência de tal pecado,
tornando-se doravante sujeita à ação do demônio, que procura levar os homens
para o inferno.
A ação
diabólica apresenta-se de modo cada vez mais avassalador nos diversos setores
da sociedade neopagã em que vivemos, sendo numerosas as práticas incentivadas
pelos demônios para se apossarem das pessoas.
O Pe. Luis Escobar, exorcista da Diocese de Rancágua
(Chile), diz que a maioria daqueles que o procuram por se suporem vítimas de
alguma ação preternatural teve contato com questões do ocultismo em algum
momento da vida.
O rock satânico é outro meio pelo qual o demônio
se apodera das almas, segundo a opinião de vários exorcistas. Também a prática
do aborto atrai demônios, pois estes desejam a destruição da criação,
especialmente do gênero humano. Dentre as várias manifestações diabólicas de
que trata o artigo, a possessão é a mais visível.
A TFP norte-americana em campanha contra missa negra
no Oklahoma City Civic Center
A par do notável avanço de atos satânicos, existem também
vigorosas reações, especialmente nos Estados Unidos, onde a TFP norte-americana
tem se destacado em campanhas de combate ao satanismo.
Em face desse quadro terrível, a matéria de capa da
revistaCatolicismo (edição de setembro último [foto no topo])
apresenta vários exemplos de meios utilizados pelo Maligno — como o denominado
“tabuleiro Ouija” — para levar as pessoas a cair nas redes do espiritismo e
iniciarem-se assim em práticas ocultistas.
Na matéria, com o título em epígrafe, o autor recomenda
manter distância de superstições e coisas esotéricas, procurar os cuidados da
Igreja e, sobretudo, recorrer à Santíssima Virgem, invocada como “Terror dos
demônios”. Ela nos protegerá nesta época de tribulações, como ensina o Apóstolo
São Paulo, “contra os dominadores deste mundo de trevas, contra os
espíritos malignos espalhados pelos ares” (Ef 6, 12).
À vista dessa aterradora questão que infesta o mundo, e com
o propósito de auxiliar a todos a se livrarem de qualquer ação de tais
“espíritos malignos”, recomendo a leitura dessa transcendental matéria
publicada em Catolicismo. Ela encontra-se disponível no seguinte
link: http://catolicismo.com.br/
Meu amigo João Ubaldo Ribeiro era das pessoas mais generosas
do mundo — ou pelo menos do balneário do Rio de Janeiro.
Meu escritório é cheio de lembranças dele. Não me refiro só
a livros, que estão em toda a parte, mas a presentes que ele comprava na
esquina ou trazia de viagens, entre os quais uma lamparina made in Bahia, um
canivete suíço, comprado na livraria Letras & Expressões, e uma caneta
Lamy, modelo standard, que veio da Alemanha e se tornou meu talismã.
O problema é que Ubaldo cobrava sempre o uso do presente.
Certa vez me deu um par de binóculos. No dia seguinte, telefonou: “Já usou o
binóculo que eu lhe dei?” Eu, que moro na selva do Jardim Botânico, diante de
uma pedreira, não sabia onde usá-lo. Ubaldo telefonou de novo, insistindo, e me
vi obrigado a ir até a rua para acompanhar, de binóculos, um ciclista, que
ficou preocupadíssimo: desconfiou que eu era detetive particular.
Ubaldo me confessou que cultivava uma prática que aprendera
com Dorival Caymmi: o “não me esqueci de você”. Explico: sempre que voltava de
viagem, Caymmi trazia uma caixa cheia de bugigangas, caixa essa que era uma
espécie de baú da felicidade. Quando um amigo chegava de surpresa, Caymmi abria
a caixa, pescava algum objeto dentro dela — um brinquedo, um chaveirinho, a
réplica de um monumento — e dava-o ao visitante, acompanhado da frase-chave:
“Não me esqueci de você.” O visitante ficava encantado.
Um dia Ubaldo voltou da Europa. Assim que fui visitá-lo, ele
desobedeceu a receita de Caymmi e abriu diante de mim a caixa do “não me
esqueci de você”. Por preguiça de distribuir presentes, pediu que eu escolhesse
mais de uma lembrança. Hesitei. Então ele me entregou, mais ou menos ao acaso,
os que lhe pareceram mais extravagantes: uns óculos de leitura vermelhos; uma
pequena escultura que reproduzia um casal de namorados; um preservativo alemão
feito de material triplamente resistente. Por quê? Não sei.
Cheguei em casa e espalhei os mimos pelos cômodos: o
preservativo na mesa de cabeceira, o casal de namorados num armário perto da
cozinha, os óculos vermelhos na escrivaninha.
Esqueci de dizer que minha musa estava fora da cidade e,
quando chegou, ao se deparar com tais objetos, supôs que uma sirigaita — como
se dizia em séculos passados — teria se introduzido no outrora sacrossanto
recesso do lar.
Imagino que ela deve ter feito fantasias sanguinárias a meu
respeito. Mas quando se deparou com o suposto criminoso — isto é, eu —, com a
cara mais inocente do mundo, ela percebeu que não precisava levar adiante o
inquérito. Só perguntou: “De onde surgiram esses objetos?” Respondi: “Foi o
João Ubaldo que trouxe.
Já ouviu falar no ‘não me esqueci de você’?” Ela
sorriu, cúmplice, e vivemos felizes para sempre.
Geraldo Carneiro- Sexto ocupante da Cadeira 24 da ABL, eleito em 27 de outubro de 2016, na
sucessão de Sábato Magaldi e recebido em 31 de março de 2017 pelo Acadêmico
Antonio Carlos Secchin.
— PROCLAMAÇÃO do Evangelho de Jesus Cristo + segundo Mateus.
— Glória a vós, Senhor.
Naquele tempo, Jesus disse aos sumos sacerdotes e aos
anciãos do povo: “Escutai esta outra parábola: Certo proprietário plantou
uma vinha, pôs uma cerca em volta, fez nela um lagar para esmagar as uvas, e
construiu uma torre de guarda. Depois, arrendou-a a vinhateiros, e viajou para
o estrangeiro.
Quando chegou o tempo da colheita, o proprietário mandou
seus empregados aos vinhateiros para receber seus frutos. Os vinhateiros,
porém, agarraram os empregados, espancaram a um, mataram a outro, e ao terceiro
apedrejaram.
O proprietário mandou de novo outros empregados, em maior
número do que os primeiros. Mas eles os trataram da mesma forma.
Finalmente, o proprietário enviou-lhes o seu filho,
pensando: ‘Ao meu filho eles vão respeitar’.
Os vinhateiros, porém, ao verem o filho, disseram entre si:
‘Este é o herdeiro. Vinde, vamos matá-lo e tomar posse da sua herança!’ Então
agarraram o filho, jogaram-no para fora da vinha e o mataram.
Pois bem, quando o dono da vinha voltar, o que fará com
esses vinhateiros?”
Os sumos sacerdotes e os anciãos do povo responderam: “Com
certeza mandará matar de modo violento esses perversos e arrendará a vinha a
outros vinhateiros, que lhe entregarão os frutos no tempo certo”.
Então Jesus lhes disse: “Vós nunca lestes nas Escrituras: ‘A
pedra que os construtores rejeitaram tornou-se a pedra angular; isto foi feito
pelo Senhor e é maravilhoso aos nossos olhos?’
Por isso, eu vos digo: o Reino de Deus vos será tirado e
será entregue a um povo que produzirá frutos”.
Ligue o vídeo abaixo e acompanhe a reflexão do Padre Roger
Araújo:
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Há uma vinha plantada dentro de nós
“Certo proprietário plantou uma vinha...” (Mt 21,33)
Segundo o relato da Criação, nós viemos da argila, do
húmus... Por isso, carregamos em nosso corpo os mesmos elementos físico
químicos da natureza: minerais, plantas, animais...
O universo inteiro mora, adormecido, dentro de nossos
corpos. Cada ser humano carrega latente em seu íntimo toda a sabedoria do
universo. O poeta americano Walt Whitman nos legou uma frase maravilhosa e
emblemática sobre este tema: "Eu sou contraditório, eu sou imenso. Há
multidões dentro de mim".
Há multidões dentro de nós, não só de animais, plantas,
pássaros, peixes, minerais... como também de homens e mulheres de todas as
etnias, os jardineiros da criação divina. Há um universo inteiro dentro do
corpo, universo mais fantástico, mais colorido, mais belo que o universo que
existe do lado de fora. E o maior desafio é, justamente, a convivência e a
harmonia com todo o universo que carregamos em nosso próprio interior.
Partindo do evangelho de hoje (27º Dom TC), podemos dizer
que há uma vinha em nosso interior, plantada com todo cuidado. A vinha interior
é plantada por Deus em função da vida; por isso ela é sagrada e é lugar de
contemplação e encontro íntimo com o Criador; ela é o teatro da glória de Deus,
isto é, da manifestação da presença divina. Ela deve ser o lugar da fecundidade,
da convivência e da celebração.
A vinha interior é o “mundo” de nossa psique, de nossos
afetos, de nossas energias, de nossa espiritualidade, de nossos sentimentos e
desejos, de nossas relações básicas, quer conosco mesmos e com os outros, quer
com as criaturas e com Deus. Quando todos estes dinamismos estão pacificados e
integrados, cria-se um “cosmos” interior, expressão da “vinha secreta” que
todos carregamos.
Esta vinha é expansiva, acolhedora, aberta a todos,
compartilhando seus frutos abundantes. Ela é lugar de movimento, de encontro,
de desafio, lugar provocativo e criativo..., enfim, lugar carregado de
presenças. Somos a verdadeira vinha a partir da qual Deus nos encontra e se dá
a conhecer; cada um de nós é autêntica vinha da eterna presença de Deus.
Na perspectiva bíblica, a imagem da vinha nos fala de
convivência, harmonia, alegria, de acolhida e da gratuidade, por ela ser dada
em herança. Os homens e as mulheres de todos os tempos e lugares trazem, como
que enraizados nas fendas mais profundas de sua interioridade, sonhos de rara
beleza. São desejos de convívio, de superação da dor e da solidão, sonhos de
fraternidade e da harmonia... O “eu interior” é uma vinha que se desvela e se
revela aos olhos encantados. Toda pessoa possui, nas profundezas de si mesma,
um lugar misterioso onde a vinha se esconde, muitas vezes em meio a entulhos de
feridas, traumas, rejeições.... Ela deve reencontrar a “vinha perdida”, não
fora mas nas profundezas de si mesma. Há dentro dela uma vinha secreta, fechada,
que precisa ser aberta.
Caminhar pelo vinha interior é uma aventura, um desafio...
Essa é a peregrinação interior: ampliar o espaço da vinha para que ela seja
sempre lugar da acolhida e da festa. É nesta direção que a imagem bíblica da
vinha também aponta: torná-la uma fonte de bênçãos, de comunhão com as outras
pessoas e estreitamento de relações com o próprio Criador. A vinha é o lugar no
qual não só existimos e revelamos nossa verdadeira identidade, mas onde somos
chamados a uma plenitude de vida, em aliança e comunhão com Deus e com todos.
No entanto, há sempre em nós uma tendência a delimitar,
defender e fechar-nos em nossa própria vinha. Isso fazemos de maneira tão
zelosa que nem vemos aquilo que está para além da nossa vinha. São grandes os riscos
de vivermos em horizontes tão estreitos. Tal estreiteza atrofia a solidariedade
e dá margem à indiferença, à insensibilidade social, à falta de compromisso com
as mudanças que se fazem urgentes. A própria vinha se torna uma “bolha de
proteção” e o sentido do serviço some do horizonte inspirador de tudo aquilo
que fazemos.
Contemplando o cenário do nosso interior vamos também
tomando consciência que perdemos o sentido da corrente da vida e de sua imensa
diversidade. Esquecemos a teia das interdependências e da comunhão de todos com
a Fonte originária de tudo.
Segundo a imagem bíblica da Vinha, quando rompemos a aliança
com Deus e nos afastamos d’Ele, ela fica estéril. Por nossa atitude de
arrogância e de autossuficiência, nós nos fazemos centro e vamos deixando que
nossos instintos de poder, vaidade, prestígio... ocupem o espaço da vinha
interior. Este autocentramento se revela como uma força de desintegração de nós
mesmos com nossa fonte Original, como força de autodestruição e, por fim, como
ruptura de comunhão com o Todo.
A “centração em nós mesmos”, sem levar em conta a rede de
relações que nos envolve, provoca a quebra da “religação” com tudo e com todos.
Este é o veneno que nos corrói por dentro: a petrificação de nossa
interioridade, o embrutecimento de nossa sensibilidade, a perda do gosto pela
verdade, pelo bem e pelo belo, o extravio da ternura e da transcendência, a
atrofia da comunhão com todos... E nossa vinha interior deixa de ser
fecunda e oblativa.
Deus investiu pesado no plantio e no cuidado desta vinha
interior, esperando frutos saborosos. Uma leitura honesta do texto do evangelho
de hoje nos move a fazer-nos graves perguntas: Estamos produzindo em nossos
tempos os frutos que Deus espera de sua vinha: justiça para com os excluídos,
solidariedade, compaixão para com quem sofre, a vivência do perdão...? No entanto,
quê coisas horríveis fizemos com a vinha interior!
Ferir nossa vinha é ferir o próprio Criador, é atrofiar a
vida e suas possibilidades. Quando observamos esta vinha outra verdejante,
lugar da criatividade, da relação, da comunhão... e agora entulhada de lixo, de
contaminação... uma sensação de violação, de sacrilégio, se manifesta em nosso
interior. E uma voz ecoa das profundezas de nosso ser: “Que fizestes de minha
vinha!”.
Deus não tem por que abençoar uma vinha estéril da qual não
recebe os frutos que espera. Não tem porque identificar-se com nossa
mediocridade, nossas incoerências, desvios e pouca fidelidade. Se não
respondemos às suas expectativas, Deus continuará abrindo caminhos novos para
seu projeto de salvação com outras pessoas que produzam frutos de justiça.
Ampliar a vinha do coração implica agilidade, flexibilidade,
criatividade, solidariedade e abertura às mudan-ças e às novas descobertas.
Algumas fortalezas e seguranças pessoais caem quando a “vinha interior”,
abrasada e iluminada pela força do Espírito, começa a romper as paredes de
proteção e se conecta com a grande “vinha exterior”: lugar da missão, do
compromisso, do empenho em favor do Reino.
Não tem sentido ampliar a “vinha externa” se nossa mente
permanece estreita, se nosso coração continua insensível, se nossas mãos estão
atrofiadas, se nossa criatividade sente-se bloqueada... Vinha ampla é convite a
sonhar alto, a pensar grande..., ousar ir além, rompendo o modo rotineiro de
viver. Por isso, nós e o universo só seremos felizes quando todos formos uma
grande vinha, por onde o Senhor passeia, à hora da brisa fresca da tarde (Gen
3,8) . A vinha é a face graciosa que Deus oferece à humanidade. Na vinha, Deus
realiza seu sonho. E fica feliz.
Texto bíblico: Mt 21,33-43
Na oração: deixe o Espírito transitar pela sua vinha
interior, para que aí Ele estabeleça o “cosmos” (harmonia e beleza”) e crie um
coração novo, de onde brotarão frutos de refinado sabor.