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terça-feira, 3 de dezembro de 2019

“NA VARANDA, COM GILBERTO FREYRE” É O TEMA DA PALESTRA DE ENCERRAMENTO DE 2019 COM A PARTICIPAÇÃO DO ACADÊMICO JOAQUIM FALCÃO


A Academia Brasileira de Letras encerra seu Ciclo de Conferências de 2019 cujo tema é Na Varanda, com Gilberto Freyre e a coordenação geral da Acadêmica e escritora Ana Maria Machado. O Acadêmico e escritor Joaquim Falcão será o palestrante. O evento será realizado no dia 5 de dezembro, às 17h30, no Teatro R. Magalhães Jr., Avenida Presidente Wilson, 203 – Castelo, Rio de Janeiro. Entrada franca.
 Os Ciclos de Conferências, com transmissão ao vivo pelo portal da ABL, têm o patrocínio da Light.
 Serão fornecidos certificados de frequência.
 O Acadêmico
Joaquim Falcão é professor titular de Direito Constitucional da Escola de Direito do Rio de Janeiro da Fundação Getúlio Vargas. Mestre e Doutor por Harvard e Universidade de Genebra. Foi membro do Conselho Nacional de Justiça, da Comissão de Estudos Constitucionais Afonso Arinos. Ex-Presidente da Fundação Nacional Pró-Memória e ex-Secretário-Geral da Fundação Roberto Marinho. Criador do Telecurso 2000, Globo Ecologia e da TV Futura. Autor de livros na área de Direito e Cultura.
 Leitura complementar
Biblioteca Rodolfo Garcia disponibiliza seu acervo para pequisa e leitura de obras relacionadas ao tema desta conferência, como "O imperador das idéias : Gilberto Freyre em questão""Casa-grande & senzala : formação da familia brasileira sob o regime da economia patriarcal" e "Sobrados e mucambos : decadencia do patriarchado rural no Brasil".
Para consultar mais materiais como os citados, acesse o link abaixo e visite os "Levantamentos bibliográficos" realizados para este evento.
 28/11/2019


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O PAPEL DE NOSSA SENHORA NA CRISTANDADE MEDIEVAL – Plinio Maria Solimeo


 27 de novembro de 2019
Segundo renomado historiador protestante, portanto insuspeito, a Santíssima Virgem sempre esteve no centro da vida medieval, sendo a alma da Cristandade

Plinio Maria Solimeo

Durante séculos se criou uma legenda negra a respeito da Idade Média, tachando-a de uma época obscurantista e primitiva. Isso se deveu sobretudo ao ódio de muitos ao papel exercido pela religião nesse tempo, assim descrito por Leão XIII em sua famosa encíclica Immortale Dei, de 1885:

“Tempo houve em que a filosofia do Evangelho governava os Estados. Nessa época, a influência da sabedoria cristã e a sua virtude divina penetravam as leis, as instituições, os costumes dos povos, todas as categorias e todas as relações da sociedade civil. Então, a Religião instituída por Jesus Cristo, solidamente estabelecida no grau de dignidade que lhe é devido, em toda parte era florescente, graças aos favores dos Príncipes e à proteção legítima dos Magistrados. […] Organizada assim, a sociedade civil deu frutos superiores a toda expectativa, cuja memória subsiste e subsistirá, consignada como está em inúmeros documentos que artifício algum dos adversários poderá corromper ou obscurecer”.

         Isso explica o interesse que os monumentos da Idade Média despertam até hoje, pelo número incontável de turistas que vão de todo o mundo à Europa, principalmente à França, para vê-los e admirá-los.

     
É preciso dizer que surgem felizmente de tempos em tempos, nos horizontes mais inesperados, historiadores honestos e eruditos que prestam tributo à Doce Primavera da Fé, como a chamou Montalembert. Um deles é Henry Brooks Adams (1838 – 1918) [foto ao lado], jornalista de renome, editor, escritor e professor de História Medieval na Universidade de Harvard, bisneto de John Adams, primeiro vice-presidente e depois segundo presidente dos Estados Unidos, e neto de John Quincy Adams, sexto presidente americano.

         Grande observador da realidade histórica, Adams se encantou com a Idade Média, desiludido como estava com a vida pública do seu tempo. Depois de tentar a carreira política, “ficou enojado com os políticos demagogos, e com uma sociedade na qual todos se haviam tornados ‘servos do poder’. Escreveu que os americanos ‘não tinham tempo para pensar; só viam, e não conseguiam ver nada além do dia de trabalho; dizia que a atitude deles em relação ao universo exterior era como a dos peixes de profundidade” (Encyclopedia Brittanica), que não se importam a não ser com o que passa ao seu redor.

         O jornalista Carmelo López-Arias, em artigo em Cari Filii, afirma que “o pensador e historiador protestante” descobriu a Idade Média através do papel que nela teve a Santíssima Virgem. Para López-Arias, em suas múltiplas viagens à Europa ele soube “captar a onipresença da Santíssima Virgem em todas as formas da cultura tradicional europeia; e, com uma sensibilidade especial, compreendeu que essa omnipresença era a própria alma da Cristandade, e respondia a uma psicologia humana e razoável”.

         Ainda segundo López Arias, Adams assim explica a relação do homem medieval com a Santíssima Virgem: “‘Seu vínculo com Maria respondia a um instinto de sobrevivência. Sabiam que estavam em perigo. Se havia uma vida futura, Maria era a única esperança’. Ante a lei divina, ‘essencialmente eterna, infinita, imutável’, que não permitia ‘debilidade nem erro’, os homens ‘se viam forçados a ir de esquina em esquina seguindo uma lógica implacável, até cair desvalidos aos pés de Maria […], felizes de encontrar proteção e esperança em um ser que podia entender a linguagem que falavam, e as escusas que podiam oferecer’”.

Para Adams, esse papel de Nossa Senhora na Idade Média pode ser compreendido melhor analisando-se a catedral de Chartres [foto acima]. Ele o fez numa circunstância dolorosa, quando já sexagenário teve a alma despedaçada pelo suicídio da mulher, após 13 anos de feliz matrimônio sem filhos.

         A fim de superar esse trauma, Adams começou a viajar por todo o mundo. “Buscando um ponto no qual focalizar sua vida e seus estudos, encontrou-se com a Cristandade medieval. […] ‘Para apagar sua melancolia e sobrelevar a aceleração dos princípios do século XX, buscou a sabedoria e a beleza do século XII’. A caminho de Chartres, descobriu que quase todas as grandes igrejas dos séculos XII e XIII pertenciam a Maria’”, e que sua presença era insubstituível para o homem medieval.

Crítico do mundo moderno, Henry Adams visitou a tão bafejada Exposição Universal de Paris de 1900. Comenta López-Arias: “Ali, nos pavilhões industriais nos quais se expunham as grandes máquinas a vapor e seus gigantescos dínamos, descobriu a idolatria da força mecânica que anunciava seu domínio na centúria nascente. E ocorreu-lhe uma comparação que faria fortuna: ‘No Louvre e em Chartres […] se encontra a força mais alta jamais conhecida pelo homem [Maria Santíssima], criadora das quartas quintas partes da melhor arte, capaz de exercer uma atração sobre a alma humana maior do que todas as máquinas a vapor e que todos os dínamos concebíveis. […] Todo o vapor do mundo é incapaz de construir Chartres, mas a Virgem o pôde. […] Símbolo ou energia, a Virgem atuou como a maior força que o mundo ocidental jamais experimentou, e atraiu a si as atividades dos homens com mais força que qualquer outro poder natural ou sobrenatural jamais pôde exercer’”. Adams faz esta contundente afirmação no capítulo O dínamo da Virgem, em sua mais famosa obra de caráter autobiográfico, A educação de Henry Adams, escrito em terceira pessoa em 1907.

                 
Em outra de suas obras, Mont Saint Michel et Chartres [capa ao lado], assim fala Adams desta catedral: Ela “é uma fantasia de criança, uma casa destinada a agradar à Rainha do Céu, e a agradar-lhe tanto que Ela pudesse sentir-se feliz nela, para encantar-se enquanto sorri […] [a Virgem] foi a maior dos artistas, dos filósofos, dos músicos e dos teólogos que jamais viveram na terra, exceto seu Filho. Mas em Chartres Ele era ainda um infante sob sua proteção. A igreja foi construída para Ela em um espírito de fé ingênua, prática, utilitária e em pureza de pensamento, em todos os pontos comparável ao da menina que prepara uma casa para sua boneca preferida”.



         López-Arias comenta: Esses “São parágrafos de Adams que recolhe John Senior em ‘A restauração da cultura cristã’ [capa ao lado], e Adams explica que isso é verdade não somente para as grandes catedrais, mas para ‘a cultura cristã absolutamente em todo lugar, e o será sempre, sobre toda a superfície da Terra. E Maria é sua causa, sua consequência e sua medida’”. Pergunta Senior: “Cada uma de nossas roupas, cada uma de nossas diversões, cada uma de nossas conversas, de nossas empresas ou de nossas experiências nos laboratórios, cada um de nossos escritos, Lhe estão dedicados?” E conclui: “A restauração da Cristandade está ligada ao número de corações que estão consagrados ao Imaculado Coração de Maria’”.

       
  Mas não são apenas Adams e Senior que descortinam o papel da Virgem na formação da Idade Média. A professora Rachel Fulton Brown, medievalista da Universidade de Chicago, chegou à mesma conclusão: “Em minhas investigações, prestei uma atenção especial à devoção medieval à Virgem Maria. Por quê? Porque Maria é algo mais do que a Virgem que os cristãos creem que deu à luz ao Filho de Deus. Ela é a clave que explica a própria Idade Média. […] Para se entender o lugar de Maria na devoção medieval cristã, não basta estudá-la como um historiador da arte, um músico, um professor de literatura, um historiador ou um teólogo. Para se entender Maria como A imaginaram os cristãos medievais, tem-se que entender-se tudo. Ela está ali, na arte e na arquitetura, na música. Ela está ali, na literatura, na liturgia e nas artes liberais. Ela está ali, nas mais elevadas expressões da imaginação humana e nas mais humildes orações de petição. Ela está ali, na política, no ideal do matrimônio, nos brados de batalha e nas súplicas de piedade dos oprimidos. A Cristandade medieval é inconcebível sem Ela; e, sem embargo, desde a Reforma os cristãos (protestantes) se tornam loucos para explicar por que Ela está ali”.

         Concluindo: Apesar de toda delicadeza de Henry Adams em descrever o amor do medieval à Virgem, não se nota no que ele diz de um amor especial por Ela. Por isso, apesar de tudo que escreveu sobre Ela, ele nunca se fez católico. Quando Adams morreu, em 1918, sua sobrinha encontrou em uma gaveta um poema intitulado Oração à Virgem de Chartres. Almejamos que a Virgem Mãe nossa tenha obtido de seu divino Filho compaixão para sua alma, tão apreciável em tantos lados.
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Fontes:



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SÃO FRANCISCO XAVIER, APÓSTOLO DO ORIENTE E TAUMATURGO - Plinio Maria Solimeo



3 de dezembro de 2019
São Francisco Xavier – Manuel Henriques, (séc. XVI) – Sé Nova, Coimbra

Abrasado pelo amor a Deus, Francisco Xavier inflamou os lugares por ele evangelizados, com o fogo do amor divino e o brilho de seus milagres. Sua festividade é celebrada pela Igreja no dia 3 de dezembro.

Plinio Maria Solimeo

         Para Santo Inácio de Loyola não havia dúvida. O Papa, para atender ao Rei João III de Portugal, estava pedindo-lhe membros de sua recém-fundada Companhia para evangelizar os domínios portugueses de ultramar. Como Francisco Xavier era o único de seus discípulos disponível no momento para acompanhar Simão Rodríguez, teria que ir. No entanto, dos seus primeiros filhos espirituais, Xavier era o predileto, aquele que planejara ter consigo como conselheiro e provável sucessor. Mas Inácio de Loyola havia escolhido como lema de sua milícia Ad Majorem Dei Gloriam (Tudo para a maior glória de Deus). Se bem que tivesse sentimentos muito profundos, não era um sentimental. Chamou logo Francisco. Sempre pronto a obedecer, o futuro Apóstolo das Índias exclamou: “Pues! Heme aqui!” (Estou pronto! Vamos!).

Braço de prata com relíquia do Santo

         No dia 16 de março de 1540, provido dos títulos de Núncio Papal e Embaixador de Portugal para os países do Oriente, Francisco Xavier foi despedir-se de seu pai espiritual. Santo Inácio, pondo-lhe as mãos sobre os ombros, percebeu que a batina era muito rala. “Como, meu caro Francisco! Ides cruzar as neves dos Alpes com roupa tão leve?” O discípulo sorriu timidamente. “Depressa, desvestindo sua própria batina, o Fundador da Companhia de Jesus tirou uma veste de flanela que estava usando, e fê-la vestir em Xavier. Era como se, com essa parte de sua vestimenta, desse uma parte de si mesmo ao filho que partia”.(1) “Ide: acendei e inflamai todo o mundo”, foram as últimas palavras do antigo capitão de Pamplona ao ex-mestre do Colégio de Beauvais.

         Essas palavras tornaram-se proféticas, pois o que esse hidalgo espanhol fez o resto de sua vida não foi senão inflamar tudo com o ardente fogo de seu amor de Deus.

Reformando a “Goa dourada, a Roma do Oriente”

         Francisco Xavier tinha 35 anos quando cruzou o oceano para chegar a Goa em 6 de maio de 1542. Essa cidade, capital das possessões portuguesas no Oriente, atraíra toda sorte de soldados de fortuna e aventureiros, os quais, longe de sua pátria, família, parentes e conhecidos, tinham caído numa vida licenciosa que escandalizava não só seus correligionários, mas até os pagãos.

         Dom João de Castro, um dos maiores vice-reis das Índias, descreve assim a situação de Goa à sua chegada: “As cobiças e os vícios têm cobrado tamanha posse e autoridade, que nenhuma cousa já se pode fazer por feia e torpe, que dos homens seja estranha”.(2)

         Impelido “pela necessidade de perder a vida temporal para socorrer a espiritual de seu próximo”,(3) São Francisco Xavier atirou-se ao trabalho, começando pelas crianças e doentes. Aos poucos sua fama no confessionário e no púlpito atingiu outras áreas, e gente de todas categorias passou a procurá-lo para purificar sua alma. “Aqui em Goa eu moro no hospital, onde confesso e dou a comunhão para os enfermos. Mesmo assim, é tão grande o número dos que vêm pedir-me para ouvir confissões que, se eu estivesse em dez lugares ao mesmo tempo, não teria falta de penitentes”,(4) escreveu ele a Santo Inácio apenas um mês depois de sua chegada.

Goa, a “dourada” ou a “Roma do Oriente”, era uma cidade cosmopolita e tinha atraído gente de todas as partes do mundo. São Francisco Xavier viu a necessidade de criar uma escola de nível médio para ajudar a evangelização. Menos de um ano depois de sua chegada, tinha já fundado o Colégio da Santa Fé. Sua finalidade, como ele explica, era “para que os nativos destas terras e os de diferentes nações e raças possam ser instruídos na fé. E para que, quando tiverem sido bem instruídos, sejam enviados às suas pátrias, de modo que ganhem fruto com o ensinamento que receberam”.(5)

A história do Cristianismo no Japão inicia-se com a chegada de S. Francisco Xavier e seus companheiros. Depois vieram as perseguições e os martírios.

Os “filhos de São Francisco Xavier”

Sua presença era requisitada também em outras partes: “Num reino longe daqui (Travancore, sudoeste da Índia), Deus moveu muitas pessoas a se fazerem cristãs. De tal modo que, num só mês, batizei mais de dez mil, homens, mulheres e crianças”.(6) Nessa nova área ele foi recebido pelo marajá “com honras, e tratado com gentileza”; o rei deu a ele “permissão para pregar o Evangelho em todo seu reino, e para batizar aqueles de seus súditos que quisessem tornar-se cristãos”.(7)

Como escreveu para os membros da Companhia, em Goa “eu tenho estado ocupado batizando todos os infantes. […] Os mais velhos deles não me dão paz, pedindo-me sempre para ensinar-lhes novas orações. Eles não me dão tempo para rezar meu breviário nem para comer”.(8)

São Francisco Xavier desceu até o extremo sul da Índia para evangelizar os Paravas, quase todos pescadores de pérolas. “Padre Francisco fala desses Paravas como de uma nobre raça, inteligente, trabalhadora e perseverante, a única tribo na Índia que se tornou inteiramente católica. […] Eles se orgulham de chamar-se a si próprios ‘os filhos de São Francisco Xavier’”, escreve um Prelado no início do século passado.(9)

         Foi nessa Costa da Pescaria que o “Padre Francisco” realizou muitos dos seus mais espetaculares milagres. Foram tantos e tão notáveis, que fica difícil a escolha.

Uma vez os ferozes Badagas cruzaram as montanhas, devastando o Travancore. O marajá, mal preparado para fazer face a esse perigo, apelou a São Francisco Xavier. O apóstolo juntou-se ao improvisado exército, colocando-se na primeira fila. Tão logo sua voz pôde ser ouvida do outro lado, “o Padre Francisco, segurando seu Crucifixo, caminhou para o inimigo […] e gritou em alta voz: ‘Em nome de Deus, o terrível, eu vos ordeno que pareis’”.(10) Os badagas das filas dianteiras, aterrorizados, pararam e começaram a recuar. A debandada foi total.

“Eu te ordeno, levanta-te dos mortos!”

         A cidade de Quilon, entretanto, não se impressionava com esses milagres, e as palavras de fogo do apóstolo não penetravam nos corações endurecidos de seus habitantes. Um dia, quando estava rodeado por uma multidão a que não era capaz de tocar, o Santo ajoelhou-se e pediu fervorosamente a Deus que mudasse o coração e a vontade daquele povo obstinado. Depois de um instante, dirigiu-se ao local onde um jovem havia sido enterrado na véspera. Pediu que o desenterrassem. “Verifiquem todos se ele está mesmo morto”, disse à multidão. Alguns, ao abrirem o caixão, recuaram exclamando: “ele não só está morto, mas cheirando mal”. Xavier então ajoelhou-se e, com potente voz para que todos ouvissem, disse: “Em nome de Deus e em testemunho da fé que eu prego, eu te ordeno: levanta-te dos mortos”. Um tremor sacudiu o cadáver e a vida retornou plenamente a ele. O número das conversões foi grande, e a fama do milagre acompanhou Francisco Xavier através das Índias.(11)

Para formar um clero nativo capaz de trabalhar entre seus irmãos, ele fundou mais quatro seminários: Cranganor, Baçaim, Coghim e Quilon.

         Qual era o segredo da eficácia apostólica de São Francisco Xavier? Era uma heróica observância do maior mandamento de Cristo: “Amarás o Senhor teu Deus de todo o teu coração, de toda a tua alma e de todo teu entendimento” (Mt 22, 37). “Tenho tão grande confiança em Deus, cujo amor somente me move, que, sem hesitar, com o único bafejo do Espírito Santo, afrontei todas as tempestades do oceano na mais débil barca”.(12)

O segundo apóstolo da Índia recorre ao primeiro

Procissão portando o corpo de São Francisco Xavier, venerado até por não católicos, pelas ruas de Goa em dezembro de 2004

         Para saber se deveria avançar mais para o Oriente em sua evangelização, Francisco resolve fazer um recolhimento junto ao túmulo de São Tomé, em Meliapor.

         O segundo apóstolo da Índia, em contato com o primeiro, recebeu muitas graças: “Aqui Deus lembrou-se de mim segundo sua costumeira misericórdia; Ele tem consolado infinitamente minha alma, e me fez saber que é sua vontade que eu vá para Málaca, e de lá às outras ilhas da região”.(13)

         O resto da história é muito conhecido. Com o mesmo zelo, São Francisco evangelizou não somente Málaca e as Molucas, mas também muitas outras ilhas vizinhas, e chegou até o Japão, do qual foi o primeiro e mais importante apóstolo. Ele morreu só e desconhecido nas costas da China, com os olhos postos em suas misteriosas terras, cuja antiga e rica civilização queria conquistar para Cristo.

         No processo de canonização do grande Apóstolo do Oriente, a Santa Sé “reconheceu vinte e quatro ressurreições juridicamente provadas e oitenta e oito milagres admiráveis operados em vida pelo ilustre Santo”.(14) Na bula de canonização são mencionados muitos milagres ocorridos em vida e depois da morte de São Francisco Xavier. Um deles foi que as lamparinas colocadas diante da imagem do Santo, em Colate, ardiam muitas vezes tanto com óleo como com água benta.

        O último milagre relacionado a ele foi seu corpo incorrupto por séculos, cujos restos, mumificados e danificados por homens e elementos, podem ainda ser vistos em Goa, coroando um dos mais notáveis exemplos do Evangelho posto em prática.

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Notas:
Fonte: Revista Catolicismo, Dezembro/2005.
1. Mary Purcell, Don Francisco – the story of St. Francis Xavier, The Newman Press, Westminster, Maryland, 1954, p. 108.
2. Cônego Arsênio Tomaz Dias, da Sé Patriarcal de Goa, Memória Histórico-Eclesiástica da Arquidiocese de Goa, Tip. A Voz de S. Francisco Xavier, Nova Goa, Índia, 1933, p. 344.
3. G. Schurhammer – I. Wicki, S.I., Epistolae S. Francisco Xaverii, Romae, 1944, – Epist. 55, t. I., p. 325), citada pelo Papa Pio XII em sua mensagem aos católicos da Índia, in “Boletim do Instituto Vasco da Gama”, Bastora, Goa, Índia, Dez. 1952, p. VIII.
4. Mary Purcell, op. cit., p. 147.
5. P. Rayanna, S.J., St. Francis Xavier and his shrine, 2nd ed., Bom Jesus, Old Goa, Índia, 1982, p. 72.
6. In Dr. E. P. Antony –– The History of Latin Catholics in Kerala, I.S. Press, Ernakulan, Índia, 1992, p. 44.
7. D. Ladislau Miguel Zaleski, Saint François Xavier, Missionaire et son Apostolat en Inde, Ensieldeln, Germany, 1910, p.102.
8. Mary Purcell, op. cit., p. 165.
9. D. Ladislau Zaleski, op. cit., p. 204.
10. D. Ladislau Zaleski, op. cit., pp. 115-116. Ver também “Memória…”, p. 344, Antony, pp. 45-46, P. Thomas, Christians And Christianity In India And Pakistan, London, George Allen & Unwin Ltd., 1954, p. 56 e J.M.S. Daurignac, São Francisco Xavier, Livraria Apostolado da Imprensa, Porto, 5ª ed., pp. 183-184.
11. Cfr. D. Ladislau Zaleski, op. cit., pp. 114-115.
12. Carta de 8 de maio de 1845 para os membros da Companhia, em Goa. In J.M.S. Daurignac, op. cit., p. 215.
13. Mary Purcell, op. cit., p. 182.
14. J.M.S. Daurignac, op. cit., p. 482.



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