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domingo, 24 de janeiro de 2021

A VERDADEIRA FACE DO COMUNISMO



Plinio Maria Solimeo

 

Com o relativismo de nossos dias, as diferenças entre o bem e o mal e a verdade e o erro se diluem cada a vez mais. Há uma crescente tolerância, ou pelo menos grande indiferença diante de coisas que antes nos causavam aversão, como a homossexualidade, o amor livre, e mesmo o comunismo.

Por isso é salutar de vez em quando repisar fatos que nos mostram a maldade que há nisso, e a ofensa que faz a Deus, clamando por punição. Hoje, restrinjo-me ao comunismo, pois se está habituando a vê-lo apenas como uma forma diferente de regime político em vigor na China, Coréia do Norte, Cuba, Venezuela.  

Pouca importância se tem dado ao fato de que essa doutrina ateia, igualitária e antinatural perseguiu e continua a perseguir a Igreja Católica e o que resta de civilização cristã, com todas as suas consequências.



Dou um exemplo: a perseguição feroz e verdadeiramente animalesca que sofreu um seminarista no também comunista Vietnã, por ser fiel à sua fé. Trata-se do Pe. Rafael Nguyen [foto], 68 anos, atual vigário na Diocese de Orange, na Califórnia, como narrado pelo National Catholic Register[i].

*   *   *

O Vietnã foi colonizado pelos franceses em meados do século XIX. Depois da guerra da Indochina, em 1954, o país foi dividido em dois: o Vietnã do Norte, comunista, e o do Sul, mas não houve paz. Veio a guerra do Vietnã que terminou com a vitória comunista em 1975, e a unificação do país sob o comunismo com o nome de República Socialista do Vietnã, que perdura até nossos dias.

O cristianismo fora introduzido na região nos séculos XVI e XVII por comerciantes portugueses e holandeses. Quando chegaram os franceses, já havia algumas pequenas comunidades católicas na península. A partir de então, elas tiveram novo florescimento, de maneira que hoje, apesar do comunismo, 8% da população — seis milhões de habitantes —, professa a verdadeira religião.

Rafael Nguyen pertencia a essa minoria católica vietnamita, tendo nascido no Vietnã do Norte em 1952. A vida para sua família tornou-se muito difícil quando o comunismo dominou o país, pois os católicos eram perseguidos sem piedade. Ele se lembra ainda de que muitos anticomunistas à época eram enterrados até o pescoço, e depois decapitados por máquinas agrícolas que passavam por cima.

Para poder praticar livremente a religião, a família fugiu para o Vietnã do Sul quando Rafael era ainda pequeno. Embora lá houvesse liberdade, havia motivos de preocupação devido a guerra entre o norte e o sul. Aos sete anos, Rafael andava longa distância para acolitar a Missa. Isso despertou nele o desejo de se tornar sacerdote, pelo que, em 1963, aos 11 anos, entrou para o seminário menor. Aos 19 anos, prosseguiu ele os seus estudos no Seminário Maior de Saigon.

Com as contínuas investidas dos comunistas do norte, a situação de guerra se agravava. Explosões se sucediam por toda parte, fazendo com que o seminarista, que dava aulas de catecismo para crianças, tivesse que fazer com que elas se refugiassem embaixo das mesas quando o bombardeamento se avizinhava.


Em 1975 os americanos abandonaram o país, e os comunistas tomaram Saigon, último bastião de resistência, pondo fim à Guerra do Vietnã, e todo o país se tornou comunista. Os seminaristas tiveram de acelerar os estudos visando uma ordenação sacerdotal mais rápida. Rafael completou os três anos de teologia e de filosofia em apenas um, iniciando um estágio de dois anos preparatórios à ordenação.

Entretanto, os comunistas começaram a fazer um controle muito mais rígido sobre a Igreja, não permitindo que os seminaristas fossem ordenados. Na perseguição que se seguiu, Rafael foi preso em 1981 sob a alegação de que ensinava ilegalmente religião às crianças. Durante pouco mais de um ano ele esteve num campo de concentração na selva vietnamita, condenado a trabalhos forçados.

Quando não conseguia concluir a tarefa designada para o dia ou por alguma suposta “infração às regras”, era severamente espancado, além de lhe tirarem a comida. Narra ele que às vezes era obrigado a trabalhar em pé dentro de um pântano, com água até o peito, e onde as árvores densas bloqueavam a luz do sol.

Cobras, sanguessugas e javalis eram um perigo constante para ele e os outros prisioneiros. Entre eles havia dois sacerdotes que celebravam a missa em segredo, e ouviam confissões. Rafael ajudava a distribuir a Sagrada Comunhão aos prisioneiros católicos, ocultando as hóstias sagradas em maços de cigarro.

Libertado em 1986, ele resolveu fugir de seu país prisão. Com amigos, conseguiu um pequeno barco, e rumou para a Tailândia. Mas num mar muito agitado o motor falhou, tendo ele escapado por pouco de um naufrágio, até que conseguiram voltar para a costa vietnamita, e serem capturados pela polícia comunista.

O fugitivo foi novamente preso, e ficou na prisão por 14 meses. Lá ele foi submetido a uma nova tortura — choques elétricos. A dor era tão terrível que o fazia desmaiar. Ao voltar a si, por alguns minutos ficava sem saber quem era e onde estava. Apesar dos tormentos, o futuro padre Rafael descreve o seu tempo na prisão como “muito precioso”, pois rezava “o tempo todo, o que lhe ajudava confirmar a sua vocação”.

Quando foi liberto em 1987, fez nova tentativa de fuga visando chegar à Tailândia. O pequeno barco carregava 33 pessoas, incluindo crianças. Eles partiram e ao longo do caminho encontraram um novo perigo — piratas tailandeses  que roubavam os pobres refugiados, às vezes matando os homens, e estuprando as mulheres.

Se o barco conseguisse chegar à costa tailandesa, seus ocupantes receberiam proteção da polícia; mas no mar eles estavam à mercê dos piratas. Duas vezes o padre Raphael e seus companheiros encontraram os piratas. Eles apagaram as luzes do barco e fugiram deles. Essa tática afastava os atacantes, e o pequeno barco fez um percurso bem-sucedido.

Na Tailândia os fugitivos foram transferidos para um campo de refugiados, onde Rafael viveu quase dois anos esperando aprovação do pedido de asilo feito a diferentes países. Ali, eles tinham pouca comida, os alojamentos apertados e foram proibidos de deixar o lugar. “As condições eram terríveis”, comentou o padre Rafael. “A frustração e a miséria pioraram tanto que algumas pessoas ficaram desesperadas. Houve cerca de 10 suicídios durante meu tempo lá”.

Rafael fazia o que podia para elevar os ânimos, organizando reuniões regulares de oração, e solicitando alimentos para os mais necessitados. Em 1989, ele foi transferido para um campo de refugiados nas Filipinas, onde as condições melhoraram. Seis meses depois, pôde ir para os Estados Unidos.

Em Santa Ana, na Califórnia, depois de tantas vicissitudes e à sua idade, ficou incerto sobre o que fazer. Estudou ciência da computação em uma faculdade comunitária. Resolveu então procurar um sacerdote vietnamita para orientação espiritual. Ele observa: “Rezei muito para saber o que fazer”.

Sua orações foram atendidas, pois sentiu que Deus ainda o chamava para o sacerdócio. Procurou o diretor vocacional da diocese, monsenhor Murray, que comentou: “Fiquei muito impressionado com ele e com sua perseverança na vocação. Confrontado com as dificuldades que suportou; muitos outros teriam desistido”.

Mons. Murray observou que outros padres vietnamitas e seminaristas sofreram um destino semelhante ao do padre Rafael no Vietnã comunista. Rafael entrou para o seminário São João, em Camarillo, em 1991. Embora soubesse um pouco de latim, grego e francês, aprender inglês foi uma luta para ele. Finalmente, em 1996, foi ordenado aos 44 anos.

O Pe. Rafael comenta que demorou para se ajustar ao choque cultural com a mudança para os EUA. Aí ele goza de liberdade, mas sente falta da cultura tradicional vietnamita, que mostra maior respeito pelos anciãos e pelo clero. Aliás, os vietnamitas mais velhos se preocupavam com a moral frouxa e o mercantilismo americano, e seus efeitos funestos sobre seus filhos.

Ele acredita que a forte estrutura familiar vietnamita e o respeito pelo sacerdócio e pela autoridade conduziram um número enorme de padres vietnamitas. Para o Pe. Rafael — sangue de mártires é semente de cristãos —  a perseguição comunista no Vietnã levou a uma fé mais robusta entre os católicos vietnamitas. Pe. Rafael tem alegria em servir como sacerdote: “É incrível que, depois de tanto tempo, Deus me escolheu para ser um sacerdote para servi-Lo e ao próximo, especialmente àqueles que sofrem”.


[i]https://www.ncregister.com/blog/father-raphael-nguyen-profile?utm_campaign=NCR%202019&utm_medium=email&_hsmi=106929876&_hsenc=p2ANqtz-8m8RcXBuYL2lpvM_MPGHSIATtD8wgqg8ycDoRc27qLzKAFlpHwqY2WtsLS-JGRVBrmNLXAvr-gPltqPHrCBeNJF_pWBQ&utm_content=106929876&utm_source=hs_email

https://www.abim.inf.br/a-verdadeira-face-do-comunismo/

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PALAVRA DA SALVAÇÃO (219)

 


3º Domingo do Tempo Comum – 24/01/2021

Anúncio do Evangelho (Mc 1,14-20)


— O Senhor esteja convosco.

— Ele está no meio de nós.

— PROCLAMAÇÃO do Evangelho de Jesus Cristo + segundo Marcos.

— Glória a vós, Senhor!


Depois que João Batista foi preso, Jesus foi para a Galileia, pregando o Evangelho de Deus e dizendo: “O tempo já se completou e o Reino de Deus está próximo. Convertei-vos e crede no Evangelho!”

E, passando à beira do mar da Galileia, Jesus viu Simão e André, seu irmão, que lançavam a rede ao mar, pois eram pescadores. Jesus lhes disse: “Segui-me e eu farei de vós pescadores de homens”. E eles, deixando imediatamente as redes, seguiram a Jesus. Caminhando mais um pouco, viu também Tiago e João, filhos de Zebedeu. Estavam na barca, consertando as redes; e logo os chamou. Eles deixaram seu pai Zebedeu na barca com os empregados e partiram, seguindo Jesus.

— Palavra da Salvação.

— Glória a vós, Senhor.

https://liturgia.cancaonova.com/pb/

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Ligue o vídeo abaixo e acompanhe a reflexão do Pe. Roger Araújo:



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O tempo de Jesus: um tempo novo

 


“O tempo já se completou”
 (Mc. 1,15) 

Não há filósofo que se preze que não lhe tenha dedicado parte de sua reflexão; não há poeta que não o cite em suas obras; não há namorado(a) que não pense que ele “voa”; não há político que não o utilize em suas promessas; não há pregador que não o faça aparecer em seus sermões; não há ser humano que não sinta sua passagem.  Estamos falando do “tempo”.

Tem-se dito tantas coisas sobre o tempo...: que “ele tudo cura”, que “temos todo o tempo do mundo”, que “é preciso fazer as coisas a tempo”, que “há um tempo para cada coisa”, que “não podemos apressar o tempo”, que “o tempo passado foi melhor”...

Quando falamos de tempo, não estamos nos referindo, necessariamente, ao tempo físico, ao tempo cronometrado (“chronos”). Esse tempo não é o mais importante. O verdadeiramente importante é o tempo psicológico, o tempo interior, o tempo espiritual, o tempo tal e como nós lhe damos valor.

A Bíblia não concebe o tempo como uma entidade abstrata, vazia, quantitativa, irreversível e retilínea, medida por anos, dias, horas, minutos e segundos, dentro do qual tudo é contido e tudo acontece.

A ideia bíblica de tempo é algo concreto, vivo, experimental e qualitativo, que incorpora os seres e as coisas, marcado por eventos significativos...

A mentalidade judaica considerava que a natureza do tempo presente era determinada tanto pelos atos de salvação de Deus no passado (Êxodo), quanto pelos atos de salvação de Deus no futuro.

Os profetas tinham a tarefa de contar às pessoas o significado do tempo específico no qual estavam vivendo, em vista do novo ato divino que estava prestes a acontecer.

Este acontecimento futuro iminente qualifica o tempo presente, dá sentido à totalidade da nossa vida no presente e determina aquilo que deveríamos estar fazendo. Se o tempo presente é inteiramente inspirado e qualificado por este ato novo e sem precedentes de Deus, então o próprio tempo presente é tempo totalmente novo, nova era.

Cada coisa, ao ter seu próprio tempo, está numa relação de parceria com outros tempos e outras coisas.

Há uma constante vinculação do tempo ao “ser e acontecer de cada coisa”. Isso porque o tempo é “carregado” da presença de Deus, que continuamente trabalha, realizando a salvação.

É o “Kairós”, tempo de salvação. 

Com Jesus chega um “novo tempo”, um tempo decisivo para a história da humanidade.

É Deus quem irrompe de maneira definitiva na temporalidade. A partir desse momento, a história fica dividida em dois tempos: o anterior e o posterior ao nascimento de Jesus.

Desta maneira, o Senhor do tempo faz de Jesus o centro e o ponto de referência do tempo dos homens. Todos os acontecimentos do mundo, tanto passados como futuros, encontrarão sua localização e sentido a partir do “tempo central”, que é o tempo de Jesus.

Jesus vive cada momento numa relação completamente livre com o tempo.

Com os olhos fixos na “Hora do Pai”, Jesus mostra com sua mobilidade que, participando no tempo humano, não se deixa prender pelas ataduras da preocupação, da ansiedade, da pressa...

tempo de Jesus é kairós, presente, dom, tempo de salvação. É a plenificação de todos os tempos.

É o “tempo esgotado”, capaz de abarcar todas as dimensões da vida e da história.

Jesus acomoda seu tempo ao “tempo de Deus, avança sem pressa nem inquietude e busca viver com alegria e prazer cada momento como um dom inesperado.

É no movimento do “Kairós” de Jesus que acontecem o chamado e o seguimento; por isso, Marcos situa o encontro com os primeiros discípulos nesse momento denso, decisivo, inspirador. É no interior do kairós que o Reino vai se expandindo, e movendo a história em direção à sua plenitude. 

Todos carregamos uma certa visão pessimista que desvaloriza o tempo: vemo-lo como efêmero, passageiro, finito, caduco e, inclusive, como ilusório.

Também existe entre nós uma certa concepção que pretende reduzir toda realidade a tempo, a mero tempo; na maioria dos casos, tempo desabitado, sem presença, sem sentido e sem abertura ao futuro.

Outros colocam um preço no tempo: “time is money”. Muitas pessoas, pressionadas pela agenda desumana do ativismo, não conseguem dar um sentido existencial àquilo que fazem. Nada detém o tempo. Sua dinâmica não se submete a nenhum controle humano. O tempo corre como as águas de um rio. Arrasta tudo.

“tempo novo”, tal como o vive Jesus, é original em cada um de seus momentos, e em nenhum caso torna-se banal. O Pai se mostra propício na temporalidade, e por isso a atitude de Jesus é a de descobrir em cada um dos momentos e dos acontecimentos o dom de seu Pai. 

Cada tempo particular é sinal de um Deus benevolente e deve ser acolhido com gratidão.

A pressa descontrolada, o ritmo frenético, o estresse, a antecipação dos acontecimentos, a impaciência diante do desejado, a falta de respeito pelo tempo interior das pessoas,.., são atitudes que caracterizam o ser humano pós-moderno, mas que estão ausentes na pessoa de Jesus. 

A liturgia cristã nos diz que estamos no “tempo” para tomar consciência de nosso verdadeiro ser e descobrir que estamos já na eternidade, que nosso verdadeiro ser não está no “chronos”, mas no “kairós”. Seremos cada ano mais jovem se formos cada dia mais livres. Nosso verdadeiro ser é constituído do divino que há em nós, e isso é eterno. Não precisamos esperar nada, pois já somos a plenitude e estamos na eternidade. Sem a eternidade da “alma” que pulsa em nós, que nos unifica e nos integra por inteiro, a vida se empobrece. Na “alma”, no nosso interior, o eterno tem seu templo.

Quando alguém fala de “coisas” eternas, bem que poderíamos olhar para dentro de nós mesmos. Aí, no nosso interior, há tanto de eterno. eternidade dialoga com a gente, fala por dentro. Talvez ainda somos a onda que ainda não se despertou de que é oceano. Estamos mergulhados no “hoje eterno” de Deus e isso ilumina e dá sentido a cada gesto, cada ação, cada encontro.

Kairós: eis que irrompe a eternidade – eterna idade. Nesse sentido, a própria eternidade é sentida como o fluir de um presente sem fim, dom para ser vivido a cada instante. 

A espiritualidade cristã, marcada pelo “tempo” de Deus, pode nos ajudar a fazer a “passagem” do “tempo insensato” (sem sentido) ao “tempo sensato” (com sentido). Tal espiritualidade é uma boa notícia com respeito ao modo de “estar no tempo” e nos introduz na dinâmica da vida que se abre às surpresas do “Senhor dos tempos”. Jesus irrompe em nossa história e nos coloca diante de uma decisão inadiável e única que marca de maneira definitiva nossa existência: “convertei-vos e crede no Evangelho!”

Encontramo-nos mergulhados no tempo da história, levados e sustentados por Deus, “Senhor do tempo”, que nos fala no tempo, comunica-se a nós no tempo, nos conduz no tempo, nos perdoa no tempo, nos convida a trabalhar com Ele no tempo...; no tempo, Ele nos sacode e nos interpela, no tempo, Ele nos capacita para anunciá-Lo e transformar o mundo segundo seu desígnio original.

Por isso, o transcurso do tempo, longe de se constituir um peso, é um grande aliado de nosso desejo, de nossa vida e de nossa fé. 

Texto bíblico:  Mc 1,14-20 

Na oração: Tempo é vida e a vida é feita de tempo: ordenar seu uso  nada mais é do que ordenar a própria vida, dando-lhe sentido e direção. A maneira como cada um assume o tempo determina a forma como direciona sua vida.

- Você vive o tempo como dom ou como “inimigo” a ser derrotado? Seu estilo de vida é agitado, sempre de olho no relógio, em permanente estado de ansiedade, ou é marcado pela gratidão que descansa?

 


Pe. Adroaldo Palaoro sj

https://centroloyola.org.br/revista/outras-palavras/espiritualidade/2241-o-tempo-de-jesus-um-tempo-novo

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