Uma Leitora Incrível
Cyro de Mattos
Ao ligar o computador hoje, recebi de tão longe um e mail
que me deixou feliz. Veio de uma leitora jovem de meu livro O Goleiro Leleta e
Outras Fascinantes Histórias de Futebol, que me deu o Prêmio Adolfo Aizen da
União Brasileira de Escritores (Rio). O
nome dela é Mariana Schleetze (marianaschleetz09@gmail.com).
Segue abaixo o que ela disse no e-mail.
“Olá Cyro,
Sou a Mariana, tenho 14 anos, e moro em Três Lagoas-MS.
No meu projeto de leitura, minha professora passou para nós
o seu interessante livro, O goleiro Leleta, uma obra fantástica, cheia de aventuras.
E agora preciso fazer um trabalho sobre o senhor, e fico
lisonjeada de ter a oportunidade de te mandar esse E-mail, pois gostaria de
saber qual foi a sua principal influência para escrever essa obra. Li nas
páginas 62 e 63 um pouco sobre, mas gostaria de saber mais, e apresentar para a
turma um projeto incrível.
Desde já te agradeço muito!!”
Olhe o que respondi:
Prezada Mariana, que boa surpresa receber o seu e mail.
Penso que não fui influenciado por algum escritor em minhas histórias que têm
como tema o futebol. Em O Goleiro Leleta, a história que dá título ao
livro foi invenção minha, na qual o personagem principal é um menino que
agarrava no gol e que atuou na partida final e mais importante do campeonato
enquanto o corpo de seu pai, o fundador do time, estava sendo velado em sua
casa. É uma história triste, em que tento comover o leitor infantojuvenil.
Como o goleiro Leleta, eu gostava de jogar futebol nos campinhos
improvisados dos terrenos baldios espalhados em minha cidade natal, Itabuna, no
Sul da Bahia. Eu não era o goleiro do time de futebol de minha rua, como o
personagem Leleta, mas o ponta direita do nosso time de meninos. Já a história
O Bahia contra o Brasil tem muitos lances que aconteceram comigo na vida real.
Fui um menino apaixonado por futebol, um dos craques do time, bom no drible e
na ultrapassagem do marcador com velocidade. Confesso-lhe que como torcedor só
faço lamentar agora, ando triste, muito, com meus times Vasco da Gama e o
Bahia, que não me dão mais as alegrias quando conquistavam vitórias em tempos
passados. Voltando ao livro O Goleiro Leleta, a história do
Goleiro Galalau foi inspirada em um goleiro de estatura alta, que jogava
na Liga Amadora de Futebol de minha terra. Dizia-se que ele pegava a bola com
uma só mão. Eu nunca vi essa façanha dele, mas disse isso no conto como se
fosse verdade, pois o escritor nada mais é do que um mentiroso de
verdade.
“A história “O dia em que vi Garrincha jogar” é
autobiográfica. O Botafogo carioca jogou contra a Seleção Amadora de futebol de
minha terra. Garrincha deu um show à parte com seus dribles desconcertantes. Os
torcedores iam ao delírio com as jogadas sensacionais daquele jogador, que
tinha a alegria nas pernas. Eu não parava de sorrir e aplaudir o
fenomenal Garrincha, vê-lo jogar em minha cidade foi como num sonho lindo, que
a gente tem e nunca esquece.
“Quer uma ajuda? Vá
no Google e busque meus livros Contos Brasileiros de Futebol, antologia, e
Gabriel García Márquez e Outras Crônicas. Lá você deve encontrar resenhas sobre
o que escrevo sobre o mundo fascinante do futebol. Muito obrigado por se
interessar por meu livro O Goleiro Leleta e Outras Histórias Fascinantes de
Futebol. Fiquei lambuzado de contente, repito.
“Antes de terminar a resposta de seu e mail, vai o abraço
afetivo do autor, antigo craque de bola nas peladas com meus queridos e
saudosos amigos, Tombinha, Bibico, Nei Gaguinho, Daú, Porroló, Vigário,
Catroca e tantos outros, que ficaram jogando bola nos campos da fumaça do
tempo. Melhor dizendo, estão jogando bola lá onde o tempo dorme e continuam
fazendo a vida ser cheia de boas aventuras, tornando-a como a expressão do
sonho e da liberdade.
Beijos do vô Cyro.”
Cyro de Mattos é ficcionista e poeta. Publicado em inglês, francês, italiano, espanhol, alemão, dinamarquês, russo. Premiado no Brasil, Portugal, Itália e México. Membro titular da Academia de Letras da Bahia. Doutor Honoris Causa da Universidade Estadual de Santa Cruz.
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