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domingo, 13 de maio de 2018

À MINHA MÃE - Eglê S machado


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À minha mãe!


É meu tesouro dileto
De carinho e de afeto,
De ilimitadas glórias;
Meu passado de doçuras,
Meu presente de venturas,
Meu futuro de vitórias!

Mamãe és a doce luz!
Em ti vibra e tremeluz
O meu sublime momento!
Sem tua doce presença
Tudo revela descrença,
Tristeza e desalento.

Todos teus gestos singelos
Expressam momentos belos
De ternura angelical;
Com fervor guardo na alma
Todo primor, toda calma
Do teu amor maternal!

Mãezinha, tu és a santa
Bela e meiga que encanta
Todo pulsar do meu peito!
És o florescer fecundo
E enlevo do meu mundo
Radiante, satisfeito!

O orvalho, o mar, a flor
Não possuem o candor
Do teu carinho, mãe querida!
Teu amor é o itinerário
De um éden solidário
A sublimar minha vida!

Mãezinha, o meu ideal
É ter poder afinal
De aumentar os dias teus,
Em vida levar-te ao céu
Envolta em radioso véu
Para o carinho de Deus!

Eglê S Machado
Academia Grapiúna de Letras-AGRAL

* * *

FÁTIMA — Algumas frases para reflexão


12 de Maio de 2018
Aproximando-se a celebração do 101º aniversário da primeira aparição de Nossa Senhora aos três pastorinhos de Fátima, no dia 13 de maio de 1917, seguem algumas frases para refletirmos neste dia a respeito do tema do castigo providencial por Ela anunciado.

“Se os homens não se emendarem, Nossa Senhora enviará ao mundo um castigo como não se viu igual”
(Santa Jacinta de Fátima)

“O que podemos fazer para evitar o castigo anunciado em Fátima, na tênue medida em que ele é evitável? O que podemos fazer para obter a conversão dos homens, na fraca medida em que ela ainda possa ser obtida antes do castigo, dentro da economia comum da graça? O que podemos fazer para apressar a aurora bendita do Reino de Maria, e para nos ajudar a caminhar no meio das hecatombes que tão gravemente nos ameaçam? Nossa Senhora o indica: afervoramento na devoção a Ela, oração e penitência”
(Plinio Corrêa de Oliveira)

“O Senhor castiga misericordiosamente os filhos que erram. Perseverai, pois, na sua disciplina. Se Deus vos poupa o castigo e a correção, temei que vos reserve para o suplício”
(Bossuet)

“Não haverá iniquidade que não tenha o seu castigo apropriado”
(Tomás de Kempis)

“O tempo que precede o castigo esperado é a pior parte desse castigo”
(Sêneca)



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MÃE – Luiz Gonzaga Dias


Mãe

(No Dia das Mães, para D. Aristoteline dos Anjos Dias)


Alma vibrando em hinos de ternura,
De maternal carinho envolto em brilhos,
A mágoa ou o prazer a transfigura,
Vivendo da existência dos seus filhos.

Removendo distâncias, empecilhos,
Indiferente à morte ou à tortura,
Tem na boca os mais ternos estribilhos,
Da canção para o filho ter ventura.

Divino coração onde se abriga,
A essência do amor e da bondade,
A devoção que ao bem a vida instiga.

Guia sublime, redentora e nobre,
Que é feliz, quando a felicidade,
Dos céus descendo todo o filho encobre.


(IMAGENS MUTILADAS - 1963)
Luiz Gonzaga Dias

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EM LUGAR DE PREFÁCIO

            Como um derivativo à luta diária, neste século agitado, nesta época de progresso vertiginoso , aqui estão alguns versos reunidos neste volume, poesias na sua maior parte, dispersas nas publicações brasileiras.

            Sentencia o Evangelho, que nem só de pão vive o homem, sendo portanto estes versos, assim como um oásis, no deserto febril da civilização, da política, da atividade multifária dos seres, na era do avião a jato, dos inventos nucleares e do perene choque de interesse dos homens.

            Um momento de arte e descanso, não faz mal ao corpo ou ao espírito exausto.

            Se o leitor não acha que ler poesia é perder tempo, leia um pouco estes versos.

            Ao contrário, desculpe e passe adiante.

            De qualquer modo, queira aceitar os agradecimentos do autor.


São Felix, Estado da Bahia, Julho de 1962

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OLHAR DE MÃE - Peter Hasslacher



Olhar de Mãe

Há anos conheci um estudante, que de tal forma passava vida ímpia e dissoluta, que um dia foi preso e levado para a cadeia de Ehrenbreistein.

Seu pai, há tempos, morrera em Nancy, de sorte que somente a mãe suportava todo o desgosto que lhe causava um filho de caráter tão perverso. Não se pode exprimir a angústia  de seu materno coração, e quão dolorosas lágrimas derramava.

Mas isto não enternecia o filho criminoso. Nenhum vislumbre de conversão e arrependimento aparecia naquela alma endurecida.

Nada admira que a impressão persistente de tão grande e profunda aflição prostrasse no leito da morte a consternada mãe. Na última extremidade  dirigiu-se ao diretor da prisão, pedindo-lhe para ver  seu filho no transe da morte, e o diretor não pode resistir à súplica.

No dia seguinte, o obstinado preso, levado pelos guardas, chegou ao pé do leito  de sua mãe agonizante.

Ela, macilenta e desfigurada, prestes a exalar o último suspiro, não proferiu palavra, nem fez gesto algum, mas fixou por longo tempo no filho um olhar firme e penetrante; depois, virou-se para o outro lado do leito, e fez sinal para que o levassem. Assim como veio, voltou taciturno e frio, como se já não tivesse a faculdade de se enternecer.

Voltando à prisão, que mudança sobreveio nele! O olhar de sua mãe moribunda, aquele olhar silencioso, em que se resumia a repreensão, exaltação, indignação, temor e afeto, comoveu o filho desvairado mais eficazmente do que poderia fazer a mais eloquente e vibrante linguagem materna, que ela pudesse lhe ter dirigido dias e meses. Que tempestade de encontrados sentimentos então brotou na alma agitada do infeliz mancebo!

Com íntima comoção, que jamais sentira, começou a gemer e suspirar com tal veemência, que lhe parecia que o coração se lhe despedaçava. Pela primeira vez investigando sua consciência, exclamou estremecendo: “Ó Deus, a que grau de maldade cheguei!...” Propôs reparar o mal feito e converter-se verdadeiramente.

Deus misericordioso o manteve nesta resolução. Recuperando a liberdade, entrou para um convento, fez-se jesuíta missionário e agora o vedes diante dos olhos, o mancebo libertino e ímpio de então, o vedes neste púlpito. Sim, o vosso pregador é o próprio filho desapiedado.

Semelhante maravilha e mudança foi obra de Deus, por meio do olhar de sua mãe moribunda.

P. Hasslacher

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Peter Hasslacher (14 de agosto de 1810 - 5 de julho de 1876) foi um pregador católico romano alemão. Ele foi um dos muitos missionários jesuítas que lutaram em toda a Alemanha, de Friburgo a Berlim e Danzig, para despertar e fortalecer as forças católicas do país após o tempestuoso ano de 1846.
(Wikipédia)

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MINHA MAMÃEZINHA LINDA – Marília Benício dos Santos


Minha mamãezinha linda


            Era assim que Renatinha, chorando, expressava toda a saudade que tinha de sua mamãe.

           Marília e Marialva, mãe e avó de Renata, estão numa excursão pela Europa. Antes de viajar, estavam preocupadas com a  Renatinha. Mas se tranquilizaram quando viram que a menina demonstrava muita alegria. Ia ficar na casa da tia Ju, tendo como companheiros os primos Lucas e Mônica. Tia Dedé e o Tio Kaká prometeram leva-la à praia nos fins de semana. E o que mais empolgava a Renatinha: ia pela primeira vez tomar o ônibus do colégio. A cada instante anunciava: “Vou no ônibus do meu colégio”.

            Mas a Renatinha ainda não tinha experimentado tão fortemente a dor da saudade. Fazia pena vê-la chorando. Escorriam dos seus olhos azuis grossas lágrimas. E sem muita cerimônia gritava: “Eu estou com saudades! Quero minha mãezinha linda! Minha vozinha, estou com saudades de você!” Eu, muito aflita,  sem saber o que fazer, disse-lhe: “Telefone para o seu pai”. Paulinho, o pai de Renata, não acompanhou Marília. Estava, portanto, à disposição da filhinha. “Meu papai, vou ligar para ele”. Depois de conversar com o seu papai , melhorou. Ele prometeu um passeio de carro e um gostoso lanche.

            O problema de Renata, pelo menos durante algum tempo, estava resolvido. E, no final do mês, estavam chegando as suas queridas trazendo-lhe muitos presentes, acabando aquele pesadelo da Renatinha.

            Vendo a dor de Renata, lembrei-me do sofrimento de uma criança da idade dela. Aquela menina chorava não de saudade, mas de ansiedade, de tristeza. Estava na iminência de perder o convívio de seus pais.

            Ainda me lembro, era bem menina. Estava à porta da casa de minha avó, em Itabuna. De repente, fomos surpreendidos por um grupo muito grande de pessoas, todos maltrapilhos. Cada qual carregava sua mochila ou trouxa. Paramos a brincadeira. Aquela gente era nordestina, uma família fugindo da seca. Lembro-me que naquela época eram chamados de flagelados. “Lá vêm os flagelados”. E todos chegavam à porta para vê-los passar. Pediam esmola. Muita gente dava. Naquele grupo havia um casal e muitos filhos. Pararam para descansar e comer. Não sei o que comiam. Estavam tristes. Fui lá dentro e pedi um prato de comida para completar aquela refeição. Eles aceitaram e pediram água. Fui buscar. Quando voltei assisti a um diálogo muito triste:

            - Me dê uma menina destas. Esta aqui está num tamanho bom.

            - Esta não; ela me ajuda com os menores.

            - Então esta.

            - Não, mamãe. Não quero.

            - Menina, não seja boba, você vai ter o que vestir e o que comer.

            - Não, mamãe, não me deixe!

            Ainda me recordo do horror daquela criança.

            - Menina, você prefere morrer de fome?

            - Nós “passa” fome “junta”. Deus vai “ajudá”.

            - Gente ordinária! Encontra quem ajuda e não aceita.

            Grande ajuda! Roubando-lhe a filha e, o que é pior, para servir como empregada.

            Este fato aconteceu  muitos anos atrás. Não sei o ano. Não dei importância. O importante é perguntarmos: “As coisas melhoraram?” Aquela menininha também achava sua mamãezinha  linda apesar de tão maltratada. Todo filho acha sua mãe linda. E toda mãe acha que o seu filho é pequeno e precisa de sua ajuda.

            Quando Jesus viu sua mãe e, perto dela, o discípulo amado, disse: “Mulher, eis o teu filho! Depois disse ao discípulo: Eis a tua mãe! E a partir dessa hora, o discípulo a recebeu em sua casa.” (Jo 19, 26-27).

            É maravilhoso ter MARIA por Mãe e saber que ela está atenta a todas as nossas necessidades.

(ARCO-ÍRIS)
Marília Benício dos Santos


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PALAVRA DA SALVAÇÃO (78)


Solenidade da Ascensão do Senhor – Domingo – 13/05/2018

Anúncio do Evangelho (Mc 16,15-20)

— O Senhor esteja convosco.
— Ele está no meio de nós.
— PROCLAMAÇÃO do Evangelho de Jesus Cristo + segundo Marcos.
— Glória a vós, Senhor.
Naquele tempo, Jesus se manifestou aos onze discípulos, e disse-lhes: “Ide pelo mundo inteiro e anunciai o Evangelho a toda criatura! Quem crer e for batizado será salvo. Quem não crer será condenado. Os sinais que acompanharão aqueles que crerem serão estes: expulsarão demônios em meu nome, falarão novas línguas; se pegarem em serpentes ou beberem algum veneno mortal, não lhes fará mal algum; quando impuserem as mãos sobre os doentes, eles ficarão curados”.
Depois de falar com os discípulos, o Senhor Jesus foi levado ao céu, e sentou-se à direita de Deus.
Os discípulos então saíram e pregaram por toda parte. O Senhor os ajudava e confirmava sua palavra por meio dos sinais que a acompanhavam.

— Palavra da Salvação.
— Glória a vós, Senhor.

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Ligue o vídeo abaixo e acompanhe a reflexão do Padre Roger Araújo:
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Ascensão: ampliar nossos atrofiados horizontes

“Os discípulos saíram e pregaram por toda parte” (Mc 16,20)


Na dinâmica do Tempo Litúrgico, após uma longa e criativa caminhada com Jesus, a liturgia nos faz “desaparecer em Deus”, como o Cristo da Ascensão “desapareceu em Deus”. Depois da Ressurreição, Jesus “ascendeu”. E fez isso abertamente. Os discípulos, atordoados, permaneceram olhando para o alto enquanto Jesus partia. Ele deixou claro que começava uma nova maneira de se fazer presente junto aos seus seguidores. De fato, Ele insistiu que os estaria acompanhando todos os dias até o fim do mundo. Portanto, nada de ruptura, mas de uma mudança qualitativa em sua presença, e assim impulsionar um novo vínculo com Ele.

Mas, em que sentido Jesus “foi levado ao céu”? Jesus não se “elevou ao céu” no sentido estrito, senão que “desceu” ao mais profundo de nossa existência, para dentro da nossa história, pois Ele continua “nos ajudando e confirmando sua palavra por meio dos sinais”. Esta nova presença é algo tão misterioso que não é possível defini-la, pois ela não está mais restrita aos limites do espaço e do tempo. Transcende o que se pode ver e tocar. A realidade pascal é muito mais ampla que aquilo que nossos sentidos podem abarcar. 

Naqueles Onze apóstolos primeiros, “catequizados” pelas mulheres que fizeram a primeira experiência de encontro com o Ressuscitado, junto ao sepulcro, nos encontramos refletidos todos os cristãos. A terra inteira é campo de Páscoa de Jesus, espaço onde se expressa seu mistério de Vida plena. Este é o Cristo pascal da montanha da Galileia, que continua se fazendo presente no transcurso dos tempos, no mesmo caminho da história, no processo de missão que dura até o final do mundo.

Jesus não “subiu” para fugir dos problemas deste mundo, senão que, destruindo a morte, fortaleceu o vínculo que nos une, para continuar atuando em nosso favor de um modo diferente. Por isso, quis deixar claro que a ressurreição não supõe “ir mais além”, para viver comodamente e desfrutar de um merecido descanso depois de tanto sofrimento. Com sua presença nova mostrou que ressuscitar significa viver mais, amar mais, compartilhar em plenitude. Uma injeção de ânimo para vacilantes e temerosos.

Dessa forma, o ensinamento pascal se traduz como experiência de gratuidade e doação de vida. Ali onde as pessoas se ajudam a viver gratuitamente uns aos outros, em solidariedade e entrega radical, podem confessar que Jesus ressuscitou e continua presente, animando e inspirando a todos. Assim, quando perguntem onde estão os sinais de que o Cristo triunfou da morte, devemos responder: vejam como creem e atuam os cristãos! Suas obras de amor são reflexo da vida de Jesus, são expressão intensa de sua Páscoa.

Pode-se reconhecer o Senhor ressuscita nos sinais quase imperceptíveis que revelam que de verdade Ele não nos abandonou: pessoas que atualizam seus mesmos gestos, que pronunciam com autenticidade suas palavras, que são como um prolongamento de seu ser. Talvez por isso animou seus discípulos a guardar e propagar tudo o que lhes havia ensinado, para que outros reconhecessem Sua presença neles e acreditassem que o amor e a vida não tem “data de vencimento”.

Portanto, para nós seguidores(as) de Jesus, a Ascensão é abertura para o cotidiano, para a realidade do serviço. É preciso partir e viver o chamado do Mestre ao longo da existência. A festa da Ascensão nos revela que vivemos o “tempo do Espírito”, tempo de criatividade, de ousadia, de novidade... O Espírito não proporciona aos seguidores de Jesus “receitas eternas”. Por isso, não podemos ficar olhando para cima. O Espírito nos dá luz e inspiração para contemplar a realidade, buscando caminhos sempre novos para prolongar hoje a mesma missão de Jesus.

Torna-se necessário descruzar os braços, deixar de olhar passivamente para o céu e, com os pés plantados no chão, ser “presença cristificada” que fermenta e transforma a realidade. O mistério da Ascensão nos sensibiliza e nos capacita para ir ao encontro do nosso mundo com uma visão mais contemplativa. O “subir” até Deus passa pelo “descer” até às profundezas da humanidade. Como contemplativos, movidos por um olhar novo, entramos em comunhão com a realidade tal como ela é.
Ascensão nos convida a olhar o mundo como “sacramento de Deus”. Um olhar capaz de descobrir os sinais de esperança que existem nele; um olhar afetivo, marcado pela ternura, pela compaixão e por isso gerador de misericórdia; um olhar que compromete solidariamente.

A Ascensão de Jesus significa tomar consciência de que Seu tempo se completou e começa o tempo da nova comunidade dos seus(suas) seguidores(as). Trata-se de um “mistério” que revela uma nova pedagogia de Jesus, qual seja, saber “retirar-se a tempo”. E retirar-se a tempo para que os discípulos cresçam, para que os discípulos amadureçam. Porque, enquanto Jesus estava entre eles e com eles, os discípulos viviam como os pintinhos debaixo das asas da galinha.

Saber retirar-se a tempo implica uma grande sabedoria. Os pais, nem sempre sabem retirar-se a tempo; creem que precisam envelhecer sem passar as responsabilidades aos filhos. Os mestres creem que seus alunos ainda não sabem o que eles sabem. Os sacerdotes não sabem abrir passagem para os leigos; consideram que ainda não estão preparados. Jesus soube retirar-se a tempo; era consciente de que os seus discípulos não estavam plenamente maduros e preparados para a missão. O Evangelho reconhece que “alguns vacilavam”. E no entanto, Jesus confiou a eles sua própria missão: “ide pelo mundo inteiro e anunciai o Evangelho a toda criatura”. Não pediu que primeiro se doutorassem, nem que fizessem uma pós-graduação. Enviou-os assim como estavam, com suas dúvidas no coração.
Também eles aprenderão fazendo; também eles aprenderão equivocando-se.

Portanto, a Ascensão de Jesus marca o início de nossa missão, ou seja, um novo modo de presença no mundo. Viver com os olhos voltados para o Senhor glorioso não nos dispensa de estar com os dois pés no chão, plantados na terra da história.

Enfim, a celebração do mistério da Ascensão nos impulsiona, ao mesmo tempo, para Deus e para o mundo. Paixão por Deus e paixão pelo mundo. Podemos assim estar sempre enraizados firmemente em Deus e, ao mesmo tempo, imersos no coração do mundo. O cristão é tão familiar com Deus que admira e se encanta com a variedade e a multiplicidade do mundo, e não teme o mundo com toda sua complexidade. Ao mesmo tempo, é tão familiar com o mundo que sente o Espírito de Deus que trabalha em todos os lugares e da maneira mais inesperada. “Fora do mundo não há salvação” (E. Eschillebeeckx).

Muitas vezes preferimos seguir um Jesus no “céu”. Descobri-lo dentro de si mesmo, nos outros e no mundo é demasiado exigente e comprometedor. Muito mais cômodo é continuar olhando para o céu... e não sentir-nos implicados naquilo que está acontecendo ao nosso redor. A Ascensão de Jesus nos desafia a romper a estreiteza de nossa vida para expandi-la a horizontes mais inspiradores. 

Textos bíblicos:  Mc. 16,15-20
   
Na oração:  Que nossa ascensão seja: romper as cadeias de injustiça e morte; derrubar toda parede e muro; ir pela vida como samaritanos; mostrar os caminhos de vida plena; oferecer razões de esperança; despertar o instinto criativo; interpretar os sinais dos tempos; pôr o coração nas estrelas... 
Pe. Adroaldo Palaoro sj


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MÃE E FILHO – Cyro de Mattos


Mãe e Filho
Crônica de Cyro de Mattos

                 Nada era pior do que saber  que a mãe não  voltaria mais a andar. Ficava prostrada na cama, a doença arrancando-lhe o sorriso do rosto na pele sem cor. O momento de alívio era quando conseguia reconciliar o sono. Na rotina do medicamento, a  agulha furava a veia do pulso, por onde o soro era levado para reforçar o sangue enfraquecido no sistema de defesa do corpo.  O  irmão trazia para junto da cama o suporte de aço  com quatro pés com  rodízios,  o soro no tubo pendurado no gancho, descendo  lentamente pela mangueira, gota a gota. Seguia lentamente  para penetrar no corpo da mãe. O tempo enfadonho se repetia no corpo abatido, lambia os minutos demorados no quarto.
   
             A moça que cuidava da mãe mudava seu corpo com cuidado, de um lado para  o outro.  Limpava as feridas com algodão embebido na água oxigenada. Tentava atenuar as dores nas costas por ter o corpo permanecido tanto tempo na mesma posição. A mãe acordava gemendo, as costas queimando, os olhos umedecidos.

            Tentava consolá-la, não perdesse a fé em Deus, todos nós estávamos  esperançosos de que um dia ela voltasse a  andar com as suas pernas incansáveis,  os passos seguros, dando vida ao corpo.
Os dias voltariam ao ritmo  normal, sua voz esbanjando afeto pelo apartamento, de suas mãos,  até certo ponto divinas,   chegariam até à mesa  as comidas deliciosas,  doces e bolos com confeito,  como  ela gostava de fazer para os dois filhos.
  
             Como não lembrar os ensinamentos que na infância a mãe tanto lhe dera?

            “Menino, já para dentro   Que vem o vento ventoso   Levado, levando cisco! Menino, já para  dentro! Boa romaria faz quem em sua casa está em paz. E essas  adivinhas: O que é,  o que é, o ano todo no deserto o mais quente é?   Responda certo, menino esperto. Como esquecer essa de pura carícia: Da noite o beijo. A melhor sombra de dia. Quem é?

             Em tudo os dias tinham  suas mãos zelosas.  Colocava nos vasos aquelas  rosas, como sonho na manhã  esbanjavam  pelos ares  ternura. Davam vida à máquina de costura suas  pernas ativas. Os bordados, beleza tecida por dedos cativantes,  sempre admirados por quem visse.
   
            Nada era pior do que saber  que a mãe não  voltaria mais a andar.  O tempo usurpava sem dó a beleza da vida, embora não houvesse revolta enquanto durava a agonia. O amor por ela dobrava porque como filho ele  sabia disso.


Cyro de Mattos é escritor e poeta. Membro efetivo das Academias de Letras da Bahia, de Itabuna e de  Ilhéus. Doutor Honoris  Causa pela Universidade  Estadual de Santa Cruz. 

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